O BURACO DA AGULHA (1981) - FILM REVIEW
A história (e resultado) da Segunda Guerra Mundial não está atrelada somente aos tiros disparados e soldados mortos, mas o direcionamento, conquistado (ou não) por espiões e espiãs, além de estudos e pesquisas estratégicas, como da atriz gênio Heddy Lamar e de nomes reconhecidos como Richard Sorge (oficial da inteligência militar soviética), Dusko Popov (agente sérvio que inspirou Ian Fleming a criar James Bond) e Noor Inayat Khan (muçulmana que foi a primeira operadora de rádio feminina infiltrada na França ocupada). Apenas alguns exemplos numa infinidade de nomes notórios ou não.
O filme "Buraco da agulha" trata justamente deste tema. Na história, Henry Faber (Donald Sutherland) é um espião alemão que está na Inglaterra em busca de informações dos Aliados, que ele pretende entregar diretamente a Hitler. Na viagem de volta à Alemanha, ele acaba se abrigando numa ilha isolada na costa escocesa. Lá conhece uma mulher, por quem irá se apaixonar e que irá mudar sua vida e o destino da Guerra.
O filme foi feito e lançado cerca de três anos após seu romance original de mesmo nome, ter sido publicado pela primeira vez em 1978. O romance foi o primeiro best-seller de Follett, com mais de três milhões de cópias vendidas antes da produção deste filme. A obra recebeu o Prêmio Edgar de 1979. O romance foi originalmente intitulado com o título "Ilha da Tempestade", cujo cenário representa a segunda metade do romance e do filme.
Curiosamente, até 2021, Buraco da agulha é o único filme feito para o cinema de um trabalho do autor Ken Follett. Todas as outras adaptações foram feitas para a TV (como filme, série ou minissérie). O significado do título do filme "Eye of the Needle" é que ele é uma referência ao olho da lâmina de estilete que o espião nazista Henry Faber usa para matar seus inimigos. A agulha do título é, neste caso, uma metáfora para a lâmina de estilete. O título representa uma ligeira reformulação do texto e uma alusão ao aforismo "Eye of a Needle". O buraco de uma agulha é a parte superior de uma agulha (oposta à picada ou ponta) que tem uma laçada oval feita para a linha, a forma oval circular sendo uma metáfora para um "olho". Além, claro, de o personagem ser chamado de O Agulha.
Foi esse filme que levou George Lucas a contratar Richard Marquand para dirigir O Retorno do Jedi (1983). Lucas ficou impressionado principalmente como Marquand foi capaz de terminar uma produção difícil no prazo e no orçamento, um fator determinante em uma grande produção como Star Wars. Lucas também teve que contratar alguém que não era membro do Sindicato dos Diretores de Hollywood estava vivendo tempos conflitantes na época.
O espião que me amava
A Operação Fortitude, usada como pano de fundo da história foi um blefe, uma verdadeira fake news para enganar os possíveis espiões de Hitler. Os aliados criaram uma engenhosa campanha de desinformação. Em 6 de junho de 1944 (numa daquelas mega coincidências, estou revendo "Buraco da agulha" e escrevendo sobre ele exatamente dia 6 de Junho), a Normandia seria imortalizada na história (e nos cinemas) por se tornar o cenário de uma operação que iria ser determinante na Segunda Guerra Mundial para o avanço dos Aliados contra Hitler.
E esta Operação Fortitude, criada por Winston Churchill, se tratava de posicionar aviões, tanques e até soldados falsos, dando ideia de que aquele exército fantasma atacaria em outro lugar. E junto com este exército de mentira, uma rede de agentes duplos, a maioria deles fictícios, direcionando as notícias para o lado errado. Genial e visionário. Funcionou tão bem que, mesmo depois de 6 de junho, os alemães mantiveram muitas forças estacionadas em Calais, na expectativa de um segundo ataque de onda lá.
Considerações finais
Eu assisti ao filme em uma Sessão de gala, em algum ponto do final dos anos 80 e início dos anos 90. E revendo 30 anos depois, pude perceber como a obra melhorou com o tempo. Tem um ritmo admirável, tensão adequada á história e atuações competentes de um ótimo elenco. A direção segura faz lamentar a partida tão cedo do diretor Richard Marquand, aos 49 anos de infarto. Ele realizou poucos filmes, mas muito marcantes.
A fotografia da ilha é belíssima, bem como a escolha dos cenários (na Escócia). A trama entrega diversas dualidades, traçando um paralelo com a função do Agulha, que é ser um agente duplo. Por exemplo, sempre ficamos na dúvida se ele realmente gosta da mulher ou se está a usando.
Buraco da Agulha é para ser visto, revisto e reconhecido como um dos melhores exemplares do gênero.