ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (1988) FILM REVIEW
Para quem não conhece a história, a produção conta a vida de Jesus (Willem Dafoe), um carpinteiro que vive um grande dilema, pois é quem faz as cruzes com as quais os romanos crucificam seus oponentes. Resumindo, Jesus se sente como um judeu que mata judeus. Vivendo um terrível conflito interior ele decide ir para o deserto, mas antes pede perdão a Maria Madalena (Barbara Hershey), que se irrita com Jesus, pois não se comporta como uma prostituta e sim como uma mulher que quer sentir um homem ao seu lado. Ao retornar, Jesus volta convencido de que é o filho de Deus e logo salva Maria Madalena de ser apedrejada e morta. Então reúne doze discípulos à sua volta e prega o amor, mas seus ensinamentos são encarados como algo ameaçador, então é preso e condenado a morrer na cruz. Já crucificado, é tentado a imaginar como teria sido sua vida se fosse uma pessoa comum.
O diretor Martin Scorsese leu pela primeira vez o romance "A Última Tentação de Cristo", de Nikos Kazantzakis, depois de receber uma cópia de Barbara Hershey , enquanto a dirigia em Sexy e Marginal (1972), seu segundo longa-metragem. Quando ela leu em um jornal comercial, muitos anos depois, que Scorsese estava finalmente tendo a oportunidade de dirigir uma adaptação para o cinema, ela implorou que ele a deixasse fazer o papel de Maria Madalena. Para ter certeza de que ela não sentia que ele estava dando a ela o papel como um favor por ter recomendado o livro, ele fez o teste dela.
Scorsese sonhava em levar a vida de Jesus desde a infância ao cinemas. Ele optou pelo romance "A Última Tentação" no final de 1970, e ele entregou a Paul Schrader para fazer a adaptação. O filme era para ser realizado logo após "O Rei da Comédia", com previsão de ser rodado em 1983 pela Paramount, com um orçamento de cerca de 14 milhões de dólares e filmado em Israel. O elenco original incluía Aidan Quinn como Jesus, Sting como Pôncio Pilatos, Ray Davies, como Judas Iscariotes, e Vanity (falecida precocemente em 2016) como Maria Madalena. A gestão da Paramount e sua controladora Gulf+Western ficou desconfortável com o investimento no filme, bem como os protestos religiosos que este causava antes mesmo da realização. O filme foi cancelado e Martin assumiu o filme "Depois de horas".
3 anos depois, 1986, a Universal Studios se interessou no projeto. Scorsese ofereceu-se para rodar o filme em 58 dias por 7 milhões de dólares, e a Universal deu sinal verde à produção. O crítico e roteirista Jay Cocks trabalhou com Scorsese para revisar o roteiro de Schrader. Scorsese reformulou o elenco, trocando as peças principais. As filmagens começaram em outubro de 1987. Como elas foram corridas, muitas cenas foram improvisadas. A trilha sonora do filme, composta por Peter Gabriel, recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor trilha sonora original, em 1988, e foi lançada em CD com o título Passion: Music for The Last Temptation of Christ, que ganhou um Grammy em 1990 para Melhor Álbum New Age.
Em meio às filmagens, Willem Dafoe ficou três dias sem conseguir enxergar por ter exagerado na utilização de lentes oculares para dilatar suas pupilas ao brilho do sol.
O jeito Scorsese
Martin Scorsese proibiu fumar no set, tanto por ser asmático grave, quanto para evitar que fossem tiradas fotos de atores e atrizes interpretando personagens bíblicos, principalmente Willem Dafoe, que fumava na época, com cigarros pendurados na boca. Devido a várias ameaças de grupos religiosos, Martin teve que ser acompanhado por guarda-costas durante as aparições públicas por um tempo após o lançamento do filme.
Filme versus Bíblia
A sequência final de A Última Tentação de Cristo retrata Jesus crucificado, tentado por Satanás na forma de uma bela criança andrógina, passando por um sonho ou realidade alternativa onde ele desce da cruz, casa-se com Maria Madalena, e vive a sua vida como um homem completamente mortal. Ele entende no seu leito de morte que foi enganado por Satanás e implora a Deus para deixá-lo "ser o filho [de Deus]", no ponto em que ele se encontra mais uma vez sobre a cruz. Em outros pontos do filme, Jesus é retratado construindo cruzes para os romanos, sendo atormentado pela voz de Deus, e lamentando os muitos pecados que ele acredita ter cometido.
Devido a estas diferenças coma bíblia e, principalmente uma breve cena em que Jesus e Maria Madalena consumam o casamento, vários grupos fundamentalistas cristãos organizaram protestos e boicotes ao filme antes e após o seu lançamento. Um protesto, organizado por uma estação de rádio religiosa californiana, reuniu 600 manifestantes com um piquete na sede da empresa-mãe da Universal Studios, a MCA. Bill Bright da Campus Crusade for Christ ofereceu-se para comprar o negativo do filme, a fim de destruí-lo. Os protestos foram eficazes em convencer várias redes de cinema a não exibir o filme. Tempos depois, uma dessas redes, a General Cinemas, se desculpou com Scorsese por fazê-lo.
Em alguns países, incluindo a Turquia, México, Chile e Argentina, o filme foi proibido ou censurado por vários anos. Até julho de 2010, a obra continuou a ser proibida nas Filipinas e Singapura. No Brasil, foi notório o fechamento momentâneo de diversos cinemas que iam colocar o filme em cartaz, fechados pessoalmente pelo então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, alegando ele ser ofensivo a fé cristã. Tal censura não seguiu adiante por tanto tempo, pois na prefeitura seguinte, da então petista Luiza Erundina, estes cinemas exibiriam o filme sem maiores problemas.
Embora o filme tenha sido lançado em VHS na época, muitas locadoras de vídeo, incluindo a então dominante Blockbuster Video, recusou-se a levá-lo a locação como resultado da recepção controversa do filme.
O autor, Nikos Kazantzakis, fez esta declaração em um prólogo de "A Última Tentação de Cristo": "Este livro não é uma biografia; é a confissão de todo homem que luta. Ao publicá-lo, cumpri meu dever, o dever de uma pessoa que lutou muito, estava muito amargurada em sua vida e tinha muitas esperanças. Tenho certeza de que todo homem livre que ler este livro, tão cheio de amor, será mais do que nunca, melhor do que nunca, ame a Cristo. "
O Atentado
Em 22 de outubro de 1988, um grupo fundamentalista cristão francês lançou coquetéis molotov no interior do cinema parisiense Saint Michel enquanto ele estava passando o filme. Este ataque feriu treze pessoas, quatro das quais foram gravemente queimadas. O cinema Saint Michel foi bastante danificado, e foi reaberto somente três anos depois, após a completa restauração.
Após o ataque, alguns líderes se manifestaram:
Um representante da distribuidora do filme, a United International Pictures, disse: "Os inimigos do filme em grande parte venceram. Eles massacraram o sucesso do filme, e eles têm medo do público."
Jack Lang, ministro da Cultura da França, foi para o cinema St.-Michel após o incêndio, e disse: "A liberdade de expressão está ameaçada, e não devemos ser intimidados por tais atos."
O Arcebispo de Paris, Jean-Marie Cardeal Lustiger, disse: "Um não tem o direito de chocar a sensibilidade de milhões de pessoas que veem Jesus como mais importante que o pai ou a mãe." Após o incêndio, ele condenou o ataque, dizendo: "Vocês não se comportam como cristãos, mas como inimigos de Cristo. Do ponto de vista cristão, não se defende Cristo com armas. O próprio Cristo proibiu isso."
O líder da Solidariedade Cristã Mundial, um grupo católico que havia prometido parar o filme de ser mostrado, disse: "Nós não hesitaremos em ir para a prisão, se for necessário."
O ataque foi posteriormente atribuído a um grupo fundamentalista cristão ligado a Bernard Antony, um representante do partido de extrema-direita Frente Nacional ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, e os seguidores do arcebispo Marcel Lefebvre. Ele foi excomungado pela Igreja Católica em 2 de julho de 1988. Houve ataques semelhantes contra cinemas incluído pichações, desencadeando conflitos contra a polícia e agressões a telespectadores.
Pelo menos nove pessoas que se acreditam serem membros do grupo fundamentalista católica foram presas. O historiador Rene Remond disse que os católicos de extrema-direita são os mais resistentes da Frente Nacional e são motivados mais pela religião do que pela política. Eles tem uma filosofia política coesa com suas convicções, e que não mudou nos últimos 200 anos, que é a rejeição da revolução, da república e do modernismo.
Muito barulho por nada?
Afinal, que poder tinha o filme? Ele mudaria a opinião das pessoas em que direção? Em minha opinião, foi só um filme com uma história a ser contada, com grandes talentos envolvidos. A controvérsia gerada, no final, me pareceu apenas muito barulho por nada.
O filme não muda opinião de ninguém (até porque a história passa longe disto) e toda esta confusão funcionou para chamar mais atenção para a produção, da época até os dias atuais. Scorsese é um cineasta, que sem dúvidas, sabe das coisas...

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