SEM MEDO DE VIVER (1993) - FILM REVIEW
"Sem medo de viver" é um filme que começa de forma tão atordoante quanto o personagem de Jeff Bridges, perdido nos escombros de um monstruoso acidente de avião, lembrando um pouco outro personagem que ele interpretou em Starman, o homem das estrelas, dirigido por John Carpenter.
Passada a cena inicial vertiginosa, descobrimos que Max Klein (Jeff Bridges) é um dos únicos sobreviventes. Ele passa por um comportamento pós-traumático, levando-o ao limite, sentindo-se indestrutível, autoconfiante, e completamente diferente de como era antes da tragédia. Ele é levado a procurar um psiquiatra, que se vê incapaz de ajudá-lo e recomenda que ele faça amizade com Carla Rodrigo (Rosie Perez), outra sobrevivente que perdeu seu filho no vôo.
O filme é dirigido por Peter Weir, um cineasta cuja carreira é bastante respeitada. Durante mais de 30 anos de carreira, seus reconhecidos filmes, trataram de mais diversos temas, com a mesma qualidade. Seu interesse pelo cinema foi despertado por seu encontro com outros estudantes. Depois de deixar a universidade em meados dos anos 1960, ele se juntou à estação de televisão ATN-7 de Sydney, onde trabalhou como assistente de produção no inovador programa de comédia The Mavis Bramston Show. Sua carreira na Austrália começou no final dos anos 60. E depois de quase 20 anos, migrou para os EUA para realizar A testemunha, iniciando assim, uma segunda fase de grandes filmes.
A cena inicial do acidente, ainda que curta, é de grande impacto visual. O local do acidente do avião foi recriado em um campo no centro da Califórnia no sul de San Joaquin Valley e foi exatamente modelado em um acidente que ocorreu em Sioux City, Iowa, em 1989 (O voo 232 da United Airlines, um DC-10, sofreu uma grande perda hidráulica após uma explosão do motor. Ao tentar pousar no aeroporto de Sioux City, o avião veio muito rápido e no ângulo errado, resultando em um acidente devastador nos campos de milho próximos à pista).
O "acidente" do filme, de tão realista, foi relatado por vários voos sobrevoando o local. O campo foi primeiro plantado com 85 acres de milho, que foi então repaginado para recriar o efeito do impacto do avião no terreno.
Um campo de algodão adjacente também foi comprado para fazer o acidente parecer maior. Uma das principais estradas da cidade ficou fechada por uma semana, e a companhia de eletricidade local foi convencida a derrubar vários postes e enrolar 800 metros de cabo elétrico para criar um cenário de devastação quase total. O local do acidente levou um total de 10 dias para ser preparado e incluiu o lançamento de 600 malas e seu conteúdo (todos os itens comprados em brechós locais) livremente pelo local.
Para ajudá-lo a se familiarizar com seu personagem Max, Jeff Bridges passou algum tempo com seu amigo Gary Busey, que, anos antes, sofrera um grave acidente de moto que o colocara em coma. O filme acabou se tornando um dos favoritos do ator Jeff. Ironicamente, o diretor Peter Weir afirmou que fazer este filme o curou de seu medo de voar.
Tanto Max (Jeff Bridges) quanto Carla (Rosie Perez) apresentam sinais de Transtorno de Estresse Pós-Traumático. No caso de Max, isso é mais evidente em sua personalidade alterada (um sintoma comum de soldados gravemente traumatizados retornando da guerra ou civis após eventos que não sabem lidar), sua distância de sua esposa e filho e sua preocupação com o acidente. No caso de Carla, seu trauma mental é mostrado em grande parte por sua culpa de ser sobrevivente e obsessão por sua incapacidade de salvar seu bebê.
A fim de realçar o paralelo religioso, Jesus, morte e ressurreição, Max sofreu uma lesão no acidente, um pequeno corte no lado direito do peito abaixo da axila. No momento em que eles vão a uma igreja, a estátua de Jesus tem o mesmo corte no mesmo local exato, que como sabemos, foi causado por um soldado na crucificação que o espetou com uma lança para ver se ele estava morto.
O filme foi feito e lançado no mesmo ano em que seu romance original de Rafael Yglesias foi publicado pela primeira vez em 1993. Yglesias também escreveu o roteiro do filme. Rafael nasceu em Nova York em 1954, filho do romancista e jornalista José Yglesias, começou a escrever roteiros em 1980.
A Mel Gibson foi oferecido o papel de Max. Gibson já havia trabalhado com o diretor Peter Weir em Gallipoli (1981) e O Ano que Vivemos em Perigo (1982). A associação de Gibson ao personagem era imediata. Além do papel principal "Mad Max" em três filmes, Gibson já havia feito um suicida três vezes em Máquina Mortífera. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante com Rosie Perez, mas perdeu para Anna Paquin por O Piano (1993).
O produtor Mark Rosenberg finalizava este filme e A Casa dos Espíritos e A Força de um Passado (todos lançados em 1993), quando teve um ataque cardíaco, falecendo em 6 de novembro de 1992 aos 44 anos. Como "Sem medo de viver" estava mais adiantado, foi "A Força de um Passado" que carregou a dedicatória ao produtor. A pós-produção do filme foi realizada na Austrália, terra natal do diretor Peter Weir.
Como dito acima, o avião do acidente é o Voo 202 A duração do filmes é de 2 horas e 2 minutos e a duração do trailer é de 2 minutos e 2 segundos. E isto não foi uma coincidência. Foi uma forma do diretor exorcizar seus próprios demônios.