EXTERMINADOR DO FUTURO - A SALVAÇÃO (2009) - CRÍTICA DESTRUTIVA
O Exterminador do Futuro – A Salvação: quando 200 milhões de dólares não salvam o roteiro.
Saí de uma sessão de cinema de O Exterminador do Futuro – A Salvação completamente embasbacado com o espetáculo visual. Explosões, perseguições, robôs gigantes, helicópteros caindo, poeira para todo lado. McG, o diretor (sim, esse é o nome dele, parece apelido de fast food), entregou duas horas de ação frenética com cara de superprodução. Mas, passados uns cinco minutos, veio aquela pergunta incômoda: “Tá, e daí?”. Pouco depois, já me sentia meio idiota por ter engolido aquilo tudo sem mastigar.
É que, amiguinhos e amiguinhas, esse quarto filme da franquia Terminator pode até divertir durante a sessão, mas, quando você começa a pensar com calma, descobre que ele não apenas subestima a inteligência do público — ele chama você de burro na cara dura. E isso não é exclusividade dele: já vinha desde o terceiro filme, A Rebelião das Máquinas (2003), dirigido por Jonathan Mostow.
O peso do terceiro filme
A Parte 3 já mostrava que não havia mais história a ser contada. Era basicamente um repeteco do segundo filme, que, por sua vez, era um repeteco turbinado do primeiro. Mais do mesmo, só que mais caro. E, para piorar, terminava com aquele “golpe baixo”: o destino já estava traçado, não havia como alterar, apenas adiar. Em outras palavras, todo o sacrifício de Sarah Connor em O Exterminador do Futuro 2 foi em vão. Skynet surgiria de qualquer jeito, uns anos depois.
Pense comigo: se o destino é imutável, qual a graça? Se mesmo matando Sarah ou John nos primeiros filmes, a Resistência surgiria com outro líder, então a tensão vai pelo ralo. É como jogar xadrez sabendo que, não importa o que você faça, o adversário vai sempre dar xeque-mate.
O charme perdido.
Chegamos então a A Salvação (2009). Sim, como entretenimento, ele é melhor que o 3. Mas convenhamos: isso não significa muita coisa. E, pior, ele continua sem acrescentar nada ao que já tínhamos visto. A guerra entre humanos e máquinas já tinha aparecido em flashbacks lá no filme de 1984, com efeitos jurássicos e muito mais criatividade. Agora, só colocaram 200 milhões de dólares em CGI para mostrar aquilo em escala maior.
John Connor, vivido por Christian Bale (o Batman da vez), ainda não é o líder lendário da Resistência. Está a caminho, mas não chegou lá. Só que nós, espectadores, já sabemos de antemão que ele não vai morrer. A própria lógica temporal da franquia não permite: em 2029, ele ainda estará vivo para enviar Kyle Reese de volta ao passado. Então, onde está a tensão?
O segundo protagonista
Além de Connor, entra em cena Marcus Wright (Sam Worthington), um homem que descobre ser um cyborg com coração humano. Ele é quem protege o jovem Kyle Reese (Anton Yelchin) — que no futuro será enviado ao passado para engravidar Sarah e garantir o nascimento de John. Complexo, né? Mas, até aí, tudo bem. O problema é que o filme passa a empilhar explosões e perseguições justamente para que você não tenha tempo de pensar muito naquilo. Porque, se parar para refletir, a coisa desanda.
E é aí que começam os absurdos. São tantos que dariam para escrever uma tese.
Os grandes furos de roteiro.
1. O alvo errado.
As máquinas sempre tiveram John Connor como alvo número um. Faz sentido: ele é o líder da Resistência. Mas aqui o alvo passa a ser Kyle Reese, ainda adolescente. Ok, parece lógico: mate Reese e John nunca nasce. Mas calma: como a Skynet já sabe, em 2018, que Reese será o pai de John? Só em 2029 Connor o enviaria de volta ao passado. Então, a Skynet, por acaso, prevê o futuro também?
2. O prisioneiro intocado.
Vamos supor que a Skynet realmente saiba da importância de Reese, talvez por interceptar alguma gravação de Sarah Connor. Ainda assim, quando conseguem capturá-lo, o que fazem? O prendem numa cela e o deixam lá, vivinho, até o final. Mas, pelo amor de Deus, não era só matar e pronto? Resolveria a franquia inteira em cinco minutos.
3. John Connor desconfiado demais.
Quando descobre que Marcus é um cyborg, Connor entra em modo “destrua imediatamente”. Estranho, porque ele já tinha lidado com dois modelos reprogramados que lutaram ao lado dele (Schwarzenegger nos filmes 2 e 3). Não faria sentido dar, ao menos, o benefício da dúvida?
4. Marcus atacado sem sentido.
Outro detalhe: na primeira metade do filme, Marcus é atacado sem parar pelas máquinas, como se fosse humano. Só depois é que o público descobre que ele é cyborg — e a Skynet sempre soube disso. Então, por que diabos os exterminadores tentaram matá-lo antes? Um furo daqueles de fazer cair o queixo.
5. O T-800 adiantado no tempo.
O filme se passa em 2018. Só que já aparece um T-800 novinho em folha, com a cara digitalizada do Schwarzenegger. Bonito visualmente, mas incoerente: em 2029 ele ainda era o modelo mais avançado. Então a Skynet ficou mais de dez anos sem evoluir nada? E como explicar que, em pouquíssimos anos depois, já existiriam o T-1000 e o TX?
6. O erro dos T600.
Kyle Reese, em 1984, explica para Sarah que os primeiros exterminadores eram T600, cobertos de pele de borracha, fáceis de identificar. Só que, em A Salvação, os T600 aparecem todos como esqueletos metálicos. Cadê a tal pele de borracha?
7. Reese esqueceu o Schwarzenegger.
Outro detalhe gritante: o jovem Reese enfrenta um T-800, já com a cara do Schwarzenegger. Mas, em 1984, ele dizia não saber como eram esses modelos, precisando esperar o Exterminador se revelar para protegê-la. Então... ele simplesmente esqueceu o rosto do sujeito mais musculoso do planeta? Faça-me o favor.
8. A fábrica lotada de robôs.
O clímax acontece dentro da fábrica da Skynet, com Connor e Reese presentes — dois alvos fundamentais para o futuro/presente/passado. A Skynet tinha dezenas de exterminadores prontos, mas manda apenas um T-800 atrás deles. Um único. Meu Deus do céu, é de chorar.
Explosões que não fazem sentido.
E nem vou me aprofundar na lógica temporal, porque aí a dor de cabeça é garantida. Mas tem outras pérolas. Por exemplo: logo no início, um helicóptero cai por causa da onda de choque de uma explosão relativamente pequena. Mas, no final, outro helicóptero voa tranquilo ao lado de uma explosão nuclear que forma um cogumelo atômico. Nem um ventinho para desestabilizar. Coerência zero.
200 milhões e um roteiro furado.
É esse tipo de coisa que irrita. Você até perdoa em produções trash, aquelas italianas de baixo orçamento dos anos 80. Mas, num blockbuster de 200 milhões de dólares, não dá. O roteiro é uma colcha de retalhos. John D. Brancato e Michael Ferris, que já tinham escrito a desastrosa Parte 3, assinam o original. Mas o texto passou pela mão de meio mundo: Paul Haggis, Shawn Ryan, Anthony Zuiker, Jonathan Nolan... e ainda assim ficou cheio de buracos. Como pode um roteiro reescrito tantas vezes continuar tão ruim?
O lado bom que não foi aproveitado.
O personagem Marcus Wright até poderia render algo interessante. Uma máquina em conflito com sua própria humanidade — dá pano para muita reflexão. Mas o filme prefere ignorar isso entre uma explosão e outra. Acaba lembrando Keruak – O Exterminador de Aço, um trash italiano de 23 anos antes, que custou 199 milhões a menos, mas tinha a mesma ideia. E de forma quase mais coerente.
E o que dizer de Kate Connor (Bryce Dallas Howard)? Está lá, mas podia ter ficado em casa vendo TV. Papel sem função, sem relevância, sem graça.
O futuro da franquia.
No fim das contas, A Salvação ainda foi sucesso de bilheteira e abriu caminho para mais continuações. E a gente já sabia: em 2032, John Connor seria morto por um T-850, conforme a Parte 3. Ou seja, o destino já estava escrito.
Era por isso que eu torcia para que a Resistência finalmente vencesse a guerra. Afinal, não era esse o subtítulo? “A Salvação?” Mas não. Veio aquele discurso batido de “vencemos a batalha, mas não a guerra”. E a esperança de ver a saga encerrar com dignidade se perdeu de vez.
Conclusão:
Resumindo: O Exterminador do Futuro – A Salvação é bonito de ver, impressiona pela ação, mas é vazio. Um espetáculo caro que, quando você pensa um pouquinho, desmorona. É como um castelo de areia cinematográfico. James Cameron deve rir (ou chorar) toda vez que lembra do que fizeram com sua criação.
Se a franquia tivesse parado no segundo filme, seria perfeita. Mas insistiram. Resultado: explosões, incoerências e uma legião de fãs saindo do cinema perguntando: “Tá, e daí?”.
Ah, meu Deus do céu...
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