KING DINOSAUR (1955) - REVISITANDO FILMES "B"
FICHA TÉCNICA
King Dinosaur (1955, EUA)
Direção: Bert I. Gordon
Elenco: William Bryant, Wanda Curtis,
Douglas Henderson, Patti Gallagher e
um monte de répteis!
LEIA-ME , ASSISTA-ME
Muitos leitores devem conhecer uma
engraçadíssima comédia dos anos 80 chamada "As Amazonas na Lua",
dirigida por um time de feras (Joe Dante, John Landis, Carl Gottlieb,
Peter Horton e Robert K. Weiss), e dividida em quadros que satirizavam,
entre outras coisas, comerciais e programas de televisão. Um dos
momentos mais hilariantes era a exibição de um filme falso, supostamente
uma ficção científica classe B da década de 50, chamada "Amazon Women
on the Moon". Essa parte, claro, ironizava os clichês, as interpretações
canastronas e principalmente os defeitos técnicos (e absurdos
científicos) das produções daquela época.
Para quem já viu "As Amazonas na Lua", torna-se ainda mais engraçado topar com uma ficção científica classe B da década de 50 que se leve a sério, por mais ridículo que ela possa parecer nos dias hoje. É o caso dessa pequena gema trash chamada KING DINOSAUR, de 1955, que não passa de uma versão séria de "As Amazonas na Lua" - também dá para perceber que foi uma grande inspiração para os realizadores da sátira, que inclusive fizeram piada com várias cenas outrora sérias deste filme! A produção é de um nome conhecido para os que curtem "cinema alternativo": Bert I. Gordon, ou Mister BIG (olha a pretensão do sujeito), o responsável por coisas como "The Amazing Colossal Man", de 1957, e o clássico do SBT "O Império das Formigas" (aka "A Invasão das Formigas Gigantes"), de 1977. KING DINOSAUR é seu primeiro filme, e, vendo-o hoje, ninguém apostaria que o sujeito conseguiria chegar tão longe - e olha que o Mister BIG dirigiu filmes até o começo dos anos 90, embora atualmente esteja sumido.
Para quem já viu "As Amazonas na Lua", torna-se ainda mais engraçado topar com uma ficção científica classe B da década de 50 que se leve a sério, por mais ridículo que ela possa parecer nos dias hoje. É o caso dessa pequena gema trash chamada KING DINOSAUR, de 1955, que não passa de uma versão séria de "As Amazonas na Lua" - também dá para perceber que foi uma grande inspiração para os realizadores da sátira, que inclusive fizeram piada com várias cenas outrora sérias deste filme! A produção é de um nome conhecido para os que curtem "cinema alternativo": Bert I. Gordon, ou Mister BIG (olha a pretensão do sujeito), o responsável por coisas como "The Amazing Colossal Man", de 1957, e o clássico do SBT "O Império das Formigas" (aka "A Invasão das Formigas Gigantes"), de 1977. KING DINOSAUR é seu primeiro filme, e, vendo-o hoje, ninguém apostaria que o sujeito conseguiria chegar tão longe - e olha que o Mister BIG dirigiu filmes até o começo dos anos 90, embora atualmente esteja sumido.
Esta ficção científica é tão trash e ingênua que poderia muito bem rivalizar com o posterior "Plan 9 From Outer Space", de Ed Wood, pelo prêmio de "pior filme de todos os tempos" - na verdade uma injustiça, já que tem coisa bem pior e menos divertida do que ambos os filmes. A verdade é que KING DINOSAUR é tão ruim e mal-feito que para o espectador contemporâneo já funciona automaticamente como comédia na mesma linha de "As Amazonas na Lua". Alguém poderia exibi-lo nos cinemas hoje dizendo que é uma sátira aos filmes B dos anos 50, e não uma produção séria!
Eu nem sei por onde começar a falar sobre as "qualidades" do filme. Só sei que qualquer produção que tenha uma frase como "Eu trouxe a bomba atômica. Essa parece uma boa hora para usá-la..." merece entrar com louvor para o panteão dos clássicos do cinema trash. KING DINOSAUR inicia com uma tonelada de cenas de arquivo (espírito de Ed Wood?) e uma narração explicando que foi descoberto um novo planeta em nosso Sistema Solar, batizado, sem qualquer originalidade, de "Planeta Nova". Os Estados Unidos formam um time com quatro cientistas para uma missão de reconhecimento no novo astro. Tal equipe conta com o zoogeógrafo Richard Gordon (Douglas Henderson, que havia feito uma pontinha no "A Guerra dos Mundos" original), com a especialista em minerologia Norah Pierce (Patti Gallagher), com o médico Ralph Martin (William Bryant, que ironicamente faria uma ponta em "As Amazonas na Lua"!!!) e com a química Patricia Bennett (Wanda Curtis). Os quatro são os únicos atores "humanos" do filme, que certamente não entrou para a história do cinema pelo seu numeroso elenco... A narração interminável dura mais de 10 minutos, com uma voz cavernosa explicando todo detalhe possível e imaginável sobre a missão, da construção do foguete que levará os quatro intrépidos aventureiros ao Planeta Nova até a explicação minuciosa dos testes feitos para assegurar o sucesso da viagem espacial ("Novos metais precisam ser criados para resistir à pressão atmosférica. Fraquezas estruturais também são estudadas e testadas... Cada teste possível é feito por máquinas e homens. Não há margem para erros", e por aí vai...). Finalmente, o foguetinho em miniatura preso por um fio de nylon chega a Nova, e você percebe que a produção é furreca simplesmente porque não há qualquer cena no interior da nave (talvez não houvesse dinheiro para construir o cenário!). Já o momento que mostra dois dos astronautas improvisados descendo do foguete é hilariante: percebe-se claramente que uma miniatura de metal foi colocada bem pertinho da lente da câmera para dar a impressão de que existe uma estrutura imensa ali, e não apenas os atores descendo por uma escada de lugar nenhum!
Chegando a Nova, a coisa só vai ficando mais e mais engraçada, com
direito a todos os diálogos toscos e cientificamente imprecisos que se
espera de uma ficção dos anos 50: os quatro aventureiros descobrem que a
atmosfera de Nova tem oxigênio (uma desculpa para eliminar as roupas de
astronauta), e resolvem explorar o planeta.
É quando descobrem que o lugar é habitado por criaturas gigantescas, que
se materializam através de tosquíssimos efeitos especiais de
sobreposição de imagens (bichos filmados em seu tamanho real são
"aumentados" sobre os fotogramas para os atores parecerem bem menores).
Saiba, por exemplo, que o "rei dinossauro" do título é um tiranossauro
rex "interpretado" por uma iguana comum. Através de truques fotográficos
simples, a pobre iguana "interage" com os atores humanos como se fosse
um bicho gigantesco - o que obviamente não é.
E tome cenas da iguana andando de lá para cá num cenário em miniatura
para parecer gigantesca. E tome cenas da iguana lutando com outros
"gigantescos dinossauros", neste caso um lagarto e um filhote de
crocodilo! (As lutas dos bichinhos são verdadeiras, com direito à morte
dos pobres seres, décadas antes dos produtores italianos exterminarem
animais em seus clássicos filmes sobre canibalismo.)
KING DINOSAUR é rápido e rasteiro, com 63 minutos de duração e um
número tão expressivo de risadas por minuto que bate tranqüilamente
qualquer "comédia" contemporânea do Will Ferrell ou do Adam Sandler.
Acredite: o filme do Mister BIG é engraçadíssimo, não só pela tosquice
dos seus efeitos especiais e pelos répteis comuns "interpretando"
dinossauros, mas especialmente pelos diálogos sem noção escritos anos
antes da conquista do espaço, quando a mente fértil dos roteiristas de
ficção científica ainda podia voar bem longe.
Vejamos alguns diálogos que dão uma bela idéia do que estou tentando explicar. Que tal este, entre um dos casais da expedição:
- Você tem idéia da hora?
- Talvez umas três da tarde no horário da Terra...
- Mas não sabemos quantas horas têm o ciclo do dia aqui. Talvez o tempo aqui passe mais rápido do que o nosso.
- Bem, vamos chutar três da tarde de qualquer jeito. Isso nos dá umas quatro horas antes de escurecer.
Ou este, que começa quando uma das moças faz uma pergunta inocente a um dos rapazes:
- Você tem idéia da hora?
- Talvez umas três da tarde no horário da Terra...
- Mas não sabemos quantas horas têm o ciclo do dia aqui. Talvez o tempo aqui passe mais rápido do que o nosso.
- Bem, vamos chutar três da tarde de qualquer jeito. Isso nos dá umas quatro horas antes de escurecer.
Ou este, que começa quando uma das moças faz uma pergunta inocente a um dos rapazes:
- Talvez você possa me ajudar. Lembra algo de química?
- O bastante para saber da química entre nós!
Ou ainda a reação de um dos casais ao topar com a "iguana rex":
- O que é aquilo?
- Não sei. Algo pré-histórico!
- Ai, é horrível! Atire nele...
- Pra quê? Não vai ajudar.
E por aí vai... Se fosse para elencar todos os diálogos antológicos de KING DINOSAUR, eu poderia muito bem publicar o roteiro na íntegra. Além disso, o diretor Gordon mostra que é realmente muito fácil e barato fazer um filme de ficção científica usando imagens de arquivo e até cenas roubadas de outra produção ("One Billion B.C.", dirigida por Hal Roach e Hal Roach Jr. em 1940). Não bastasse toda a ruindade natural da coisa, KING DINOSAUR ainda brilha pela "intrépida" atuação de Douglas Henderson, que, sem qualquer jeitinho para lidar com as moças que dividem a cena com ele, acaba empurrando as pobres coitadas de um lado para o outro, isso quando não as arrasta brutalmente pelo chão, visivelmente machucando as atrizes. E é por esse conjunto de brilhantismo que essa película merece seu lugar de honra entre os grandes trash movies jamais produzidos! PARA ENCERRAR, UM SPOILER: Nada, mas nada mesmo, pode preparar o espectador para a conclusão, quando, após explodir Nova com uma bomba atômica portátil que levavam em sua nave, os astronautas declaram, sem o menor constragimento: "Acabamos de trazer a civilização para o Planeta Nova". hahahahahahaha. Genial genial...