O ÚLTIMO TUBARÃO (1981) - CRÍTICA DESTRUTIVA
E a bagunça não para por aí.
Uma cópia descarada (e orgulhosa disso)
Sabe aquele filme de uma cidadezinha litorânea aterrorizada por um tubarão branco gigante? Onde várias pessoas morrem, mas o prefeito prefere abafar o caso para não perder turistas? Onde um sujeito corajoso se junta a um velho marujo cascudo para encarar a fera? Pois é, você deve ter pensado: “Ah, claro, é o Tubarão do Spielberg”.
Acertou. Mas também errou. Porque essa é exatamente a sinopse de O Último Tubarão, uma das maiores picaretagens italianas dos anos 80.
O roteiro é basicamente um xerox de Tubarão (1975) e de Tubarão 2 (1978), com direito a personagens reciclados e situações copiadas sem o menor pudor. E, para completar a salada, ainda rouba elementos do livro Tintorera, do mexicano Ramón Bravo. Ou seja, não bastava copiar Spielberg e Jeannot Szwarc, tinha que meter mais uma “inspiração” no meio.
Resultado: quando tentaram lançar o filme nos Estados Unidos em 1981, a Universal Pictures, dona da franquia original, processou sem dó nem piedade. A corte decidiu rapidinho: parecia demais com os filmes americanos. O longa foi retirado de cartaz e até hoje segue proibido por lá. Dizem até que a Universal ficou mais irritada porque a produção italiana estava fazendo mais dinheiro que o próprio Tubarão 2! Aí já era demais para o orgulho ianque.
O tubarão genérico e as cenas em câmera lenta
A direção ficou a cargo de Enzo G. Castellari, especialista em westerns e filmes de ação, e que resolveu brincar de Spielberg sem a mesma delicadeza. O cara adora uma câmera lenta — qualquer mergulho, explosão ou mordida, lá vem ele jogando tudo em slow motion.
O tubarão em si é um espetáculo à parte… de risadas. Metade das vezes aparece um bicho mecânico com cara de boneco inflável, que nunca fecha a boca; na outra metade, cenas de documentário de tubarões reais, de cores e tamanhos diferentes, cortadas de qualquer jeito. Realismo? Zero. Diversão? Dez.
E não é só o tubarão que tem superpoderes. Em certo momento, a fera puxa um helicóptero para dentro da água — e o que vemos na tela é basicamente um brinquedo de plástico afundando na banheira. Em outra, ele empurra pedras gigantes para prender mergulhadores numa gruta submarina. “Mas que diabos é isso?” Um tubarão pedreiro, engenheiro civil?
Os personagens e suas pérolas
O protagonista é Peter Benton, um escritor “especialista em tubarões”. Só o nome já entrega a homenagem descarada a Peter Benchley, autor do romance que originou o Tubarão do Spielberg. Ao lado dele está o marinheiro Ron Hammer, um clone baratíssimo do Quint, até no figurino.
E o prefeito? Claro, não podia faltar: William Wells, a versão italiana do prefeito de Amity. O sujeito passa metade do tempo preocupado com sua candidatura a governador e a outra metade fingindo que tubarão não existe. Até que… bom, até que o tubarão resolve provar o contrário, de forma sangrenta.
E os diálogos? Pérolas impagáveis. Em certo momento, perguntam ao velho Hammer o que poderia ter destruído uma prancha de surfe em pedacinhos. A resposta dele: “Uma coisa é certa: não foi uma serra elétrica marinha!” Pelo amor de Deus!
Do riso ao trash supremo
A graça de O Último Tubarão está justamente aí: é tão exagerado e tão sem noção que acaba sendo divertido. As cenas de ataque parecem explosões no mar, com vítimas voando em câmera lenta como se fossem bonecos de pano. O roteiro repete três vezes a mesma ideia de tentar “pescar” o tubarão com carne num anzol. E, quando falta criatividade, jogam um cadáver cheio de explosivos na trama, porque sim.
O final é digno de levantar da cadeira e bater palma. O herói só precisava apertar um botão para explodir o bicho. Fácil, né? Mas não: ele resolve pular dramaticamente na água em câmera lenta, gritar um “Maldito seja!” e detonar o tubarão no ar. Uma cena que não faz o menor sentido — mas que traduz perfeitamente o espírito do filme.
Conclusão
O Último Tubarão não é clássico, não é cult, não é nada além de um belo exemplar de cinema picareta italiano. Mas é justamente isso que o torna tão saboroso. Enquanto Spielberg serviu um hambúrguer com gosto de caviar em 1975, Castellari nos entrega um prato de macarronada de boteco. Pode não ser refinado, mas enche a barriga e garante a risada.
E no fim das contas, entre tubarão mecânico, atores canastrões e helicópteros de brinquedo, a gente só pode dizer: “Meu Deus do céu, que maravilha de tosqueira!”