AMERICAN INTERNATIONAL PICTURES - HISTÓRIA
A American International Pictures, conhecida como AIP, foi uma produtora de cinema norte-americana criada em abril de 1956 a partir da antiga American Releasing Corporation. Fundada por James H. Nicholson, ex-gerente comercial da Realart Pictures, e Samuel Z. Arkoff, advogado ligado ao setor de entretenimento, a companhia nasceu com uma meta clara: fazer filmes independentes, de custo reduzido, mirando especialmente o público jovem das décadas de 1950 a 1970.
A dupla já havia lançado a ARC em 1955, começando com o filme Velozes e Furiosos, sem relação com a famosa franquia estrelada por Vin Diesel. Nicholson e Arkoff atuavam como produtores executivos, enquanto nomes como Roger Corman e Alex Gordon estavam à frente da produção e, por vezes, da direção. Charles B. Griffith assinou os primeiros roteiros ao lado de Lou Rusoff, cunhado de Arkoff. Mais tarde, roteiristas como Ray Russell, Richard Matheson e Charles Beaumont reforçaram o time. Floyd Crosby, vencedor do Oscar por Matar ou Morrer e conhecido por documentários exóticos, era o responsável pela fotografia.
Os filmes da AIP chamavam atenção pelo uso criativo de cores, ângulos inusitados de câmera e monstros de borracha idealizados por Paul Blaisdell. As trilhas sonoras ficavam a cargo de Les Baxter e Ronald Stein, ajudando a criar uma estética própria.
Após enfrentar prejuízos nos primeiros lançamentos, Arkoff percebeu, ao ouvir exibidores, que os adolescentes eram o público mais promissor, já que os adultos preferiam ficar em casa vendo televisão. Assim, abandonaram os faroestes, inviáveis sem grandes estrelas e orçamentos altos, e passaram a investigar o que os jovens queriam ver.
Títulos, elenco e enredos eram definidos com base em pesquisas junto a donos de cinemas, que também investiam parte do capital da empresa. O cartaz era criado antes mesmo do roteiro, garantindo impacto visual para vender a ideia.
Samuel Z. Arkoff descreveu sua fórmula para produzir sucessos de baixo orçamento, durante uma entrevista em um talk show na década de 1980. Suas metas para o filme incluem:
Nos anos 50, a produtora investiu pesado no cinema de drive-in, ignorado por outros estúdios. Temas como delinquência juvenil ganharam força em títulos como Daddy-O, High School Hellcats, Female Jungle, Reform School Girl, Runaway Daughters e Girls in Prison. Filmes sobre carros e corridas também eram comuns, como Hot Rod Gang, Hot Rod Girl, estrelado por Chuck Connors, Road Racers, Drag Strip Girl e Ghost of Dragstrip Hollow, que continuava a história de Hot Rod Gang.
O rock and roll também entrou em cena com Shake, Rattle & Rock! e Rock All Night. Mas foi no terror adolescente que a AIP mais inovou, com produções como Eu Fui um Lobisomem Adolescente, que revelou Michael Landon, Eu era um Frankenstein Adolescente e O Homem das Cavernas Adolescente, de Roger Corman, com Robert Vaughn.
A ficção científica e o horror, muitas vezes dirigidos por Corman, formaram uma marca registrada do estúdio, com títulos como Ameaça espacial, A Criatura do Mar Assombrado e A Guerra do Homem Colossal.
A partir de 1963, a AIP reinventou o gênero com a série de filmes de praia inaugurada por Festa na Praia. Annette Funicello e Frankie Avalon se tornaram ídolos, com a “Turma da Praia” aparecendo em várias sequências, encerrando o ciclo em 1966 com Fantasma de Biquíni. Esses atores também migraram para comédias de espionagem como A Máquina de Fazer Biquínis e filmes de corrida como Bola de Fogo 500 e A Pista do Trovão. Paralelamente, a AIP lançou os famosos filmes de horror de Roger Corman, como O Homem dos Olhos de Raios X, O Corvo e Sombras do Terror.
Em 1966, Anjos Selvagens com Peter Fonda colocou novamente em alta os filmes de gangues de motociclistas, influenciando obras como Anjos do Inferno, Sociedade Violenta com Dennis Hopper e Nascidos para Perder, que apresentou Billy Jack. O clima psicodélico do final dos anos 60 também teve espaço em títulos como Viagem ao Mundo da Alucinação e Busca Alucinada com Jack Nicholson.
Numa viagem à Itália, Arkoff fechou uma parceria com Fulvio Lucisano, resultando na produção de 25 filmes no país. Era mais barato filmar na Europa, e assim nasceram produções de guerra, giallo e aventuras com elencos mistos de americanos e italianos, incluindo estrelas de comédias como Franco Franchi e Ciccio Ingrassia. O faroeste spaghetti, no entanto, ficou de fora. Muitos desses filmes receberam roteiros adaptados e trilhas de Les Baxter.
Nos Estados Unidos, a AIP se tornou a principal distribuidora de filmes japoneses como Godzilla e Gamera, além de animações como Alakazam, o Grande e longas de ficção científica como Frankenstein Contra o Mundo e O Monstro das Profundezas. Até Woody Allen se envolveu ao reescrever e transformar um suspense japonês em comédia, batizado de O Que Há, Tigresa?.
Produções do Leste Europeu também ganharam versões dubladas e reeditadas pela AIP, como o soviético Planeta das Tempestades, relançado como Planeta Pré-Histórico e Viagem ao Planeta das Mulheres Selvagens, além do filme tcheco Ikarie XB-1, transformado em Viagem ao Fim do Universo.
Um marco da AIP foi o chamado Ciclo Poe, iniciado quando Roger Corman, Vincent Price e os contos de Edgar Allan Poe se uniram em filmes que marcaram o terror gótico. O primeiro, A Queda da Casa de Usher, lançado como O Solar Maldito, abriu caminho para outras adaptações. Os cenários e efeitos eram reaproveitados para reduzir custos. Quase todos os filmes foram estrelados por Price, exceto Obsessão Macabra, com Ray Milland.
A fórmula foi ganhando humor em O Corvo, inspirado no famoso poema, reunindo Price, Boris Karloff e Peter Lorre. Corman chegou a adaptar Lovecraft em The Case of Charles Dexter Ward, mas a AIP trocou o nome para O Castelo Assombrado para vender como Poe. O penúltimo título, A Orgia da Morte, foi rodado na Inglaterra e teve inspiração em O Sétimo Selo de Ingmar Bergman.
Há quem diga que a ideia do ciclo não partiu de Corman, mas de Mark Damon, que afirmou ter sugerido o conceito e dirigido sem créditos O Poço e o Pêndulo. Corman nunca comentou isso oficialmente.
Em 1964, a AIP abriu sua divisão de televisão, a AIP-TV. Foram produzidos pilotos, especiais e pacotes de filmes dublados, além de séries animadas como Príncipe Planeta e Sinbad Jr.. Para não competir com os cinemas, a empresa só liberava filmes antigos para TV. Dois especiais televisivos com Vincent Price ajudaram a promover lançamentos.
Na década de 70, a AIP mergulhou no cinema blaxploitation com títulos como Blácula e Foxy Brown, revelando Pam Grier. O estúdio também tentou produções mais caras como Bunny O'Hare, Amor à Primeira Mordida, Meteoro, A Ilha do Dr. Moreau e a versão americana de Mad Max. O aumento dos gastos, porém, levou a empresa a dificuldades financeiras.
Em 1979, com a saída de Arkoff, a AIP foi vendida à Filmways e virou Filmways Pictures em 1980. Dois anos depois, a Filmways foi comprada pela Orion Pictures, que assumiu o catálogo da AIP. Hoje, a maior parte desse legado pertence à Metro-Goldwyn-Mayer, que detém os direitos da marca American International por meio da Orion.