QUAIS SÃO OS FORMATOS DE TELA
A relação de aspecto de uma imagem é a proporção entre a sua largura e a sua altura. Ela é expressa no formato x:y, em que x representa a dimensão horizontal e y a vertical. Esse cálculo independe da unidade de medida: pode ser milímetros, centímetros, pixels ou qualquer outro padrão de comprimento.
Em termos práticos, a relação de aspecto pode ser expressa em números inteiros, algo comum em televisores, ou como um valor decimal com duas casas, prática frequente na indústria cinematográfica. O cálculo é simples: basta dividir a largura pela altura e, se desejado, simplificar a fração.
Por exemplo, uma imagem cuja largura mede 200 unidades e cuja altura é de 150 unidades apresenta uma relação de aspecto de 4:3, porque a fração 200:150, quando simplificada, torna-se 4:3. Se preferirmos a forma decimal, basta efetuar a divisão: 200 ÷ 150 = 1.33. Assim, a mesma imagem pode ser descrita como 1.33:1.
Diversidade de Formatos ao Longo da História do Cinema
Desde os primórdios do cinema mudo, diversos formatos foram utilizados. O filme de 35 mm, por exemplo, inicialmente adotava a proporção 1.33:1, que posteriormente foi levemente ajustada para 1.37:1. Foi justamente a partir desse padrão que a televisão, em seus primeiros anos, estabeleceu o clássico 4:3.
Com o avanço da indústria, novos formatos surgiram. Atualmente, entre as produções em película de 35 mm, predominam os aspectos 1.85:1 e 2.39:1, este último oriundo do sistema anamórfico conhecido como CinemaScope. Até a década de 1970, a referência para o formato anamórfico era 2.35:1, razão pela qual ainda hoje encontramos citações que confundem os números. Em muitos contextos, o 2.39:1 é arredondado para 2.40:1 por mera conveniência. Na Europa, muitos longas-metragens de 35 mm seguem a proporção 1.66:1.
HDTV e Fotografia
A relação de aspecto que se tornou padrão para a HDTV, o 16:9, foi proposta nos anos 1980 por Kerns H. Power, integrante da SMPTE (Society of Motion Picture and Television Engineers). Power analisou uma grande quantidade de formatos usados até então e concluiu que a maioria se aproximava de 1.78:1, precisamente o valor correspondente a 16:9.
No campo da fotografia, o filme de 35 mm adota o aspecto 3:2. Já a maioria das câmeras digitais foi projetada inicialmente para 4:3, mas passou gradualmente a oferecer a opção de captura em 16:9, acompanhando a evolução das telas e monitores.
Polyvision: O Gigante de 4:1
A maior relação de aspecto já exibida comercialmente foi a Polyvision, impressionante 4:1. Em 1927, Abel Gance produziu o épico Napoléon em três rolos de 35 mm (cada um com 1.33:1), projetados lado a lado para formar uma imagem única que quadruplicava a largura do quadro padrão. Essa experiência é considerada um marco e um precursor do que mais tarde se tornaria o Cinerama.
CinemaScope
O CinemaScope foi uma tecnologia revolucionária de filmagem e projeção com lentes anamórficas, criada pela Twentieth Century Fox em 1953. Até 1967, quando seu uso começou a declinar, o sistema marcou o início da moderna era das telas largas. Ele permitia capturar imagens com relação de aspecto de até 2.66:1, quase o dobro do então dominante 1.37:1, proporcionando uma sensação de amplitude inédita para o público da época.
Cinerama
O Cinerama, também chamado de Cinema Panorama, surgiu no começo da década de 1950 e levou o conceito de imersão a um novo patamar. Sua relação de aspecto era de 2.59:1 (inicialmente 2.89:1), obtida a partir de três câmeras de 35 mm operando em sincronia e projetadas lado a lado em uma enorme tela curvada, com arco de 146 graus. O som acompanhava a grandiosidade: sete canais discretos de áudio surround.
Apesar do impacto visual, o alto custo de produção restringiu o Cinerama a documentários de viagem (travelogues), a poucas obras de ação e a apenas dois longas de ficção, O Mundo Maravilhoso dos Irmãos Grimm e A Conquista do Oeste.
Com o tempo, a filmagem passou a ser realizada em uma única câmera de 65 mm (MGM Camera 65). Durante os anos 1960 e início dos 1970, diversos filmes foram rodados em Ultra Panavision 70, com 2.76:1 e lente anamórfica, ainda que sem a projeção em tela curvada. Para exibição em salas de Cinerama, utilizava-se uma lente especial. Alguns títulos também empregaram o Super Panavision 70, de 2.20:1, com lente esférica.
No Brasil, a experiência chegou a São Paulo com o Cine Comodoro, onde muitos cinéfilos se lembram de ter assistido, por exemplo, a 2001: Uma Odisseia no Espaço, uma vivência inesquecível.
Super Panavision e IMAX
Embora o Super Panavision 70 apresente uma relação de aspecto de 2.20:1, menor que o 2.39:1 do CinemaScope em 35 mm, cada quadro é fisicamente maior, possibilitando projeções em telas de dimensões colossais. Esse princípio abre caminho para o IMAX, um sistema desenvolvido pela IMAX Corporation, do Canadá.
O IMAX utiliza filme de 70 mm rodado horizontalmente em 15 perfurações. A relação de aspecto é de 1.44:1, próxima ao 4:3, e cada quadro mede 69,6 mm × 48,5 mm, quase dez vezes a área de um quadro tradicional de 35 mm (22 mm × 16 mm). Como não há trilha sonora óptica para ocupar espaço, o som é gravado separadamente em seis canais de altíssima qualidade.
Graças a essa resolução, é possível projetar imagens em telas com altura de até oito andares, em 2D, 3D ou em cúpulas (IMAX Dome), proporcionando uma experiência verdadeiramente imersiva. O IMAX Dome, específico para projeções em cúpula, tornou-se atração de destaque em parques temáticos, como o famoso “Back to the Future” da Universal Studios.
A maior tela IMAX do mundo fica no LG IMAX de Darling Harbour, em Sydney, Austrália, medindo 35,73 m de largura por 29,42 m de altura. Logo atrás vem a sala do Suntory Museum, em Osaka, Japão, com 27,6 m por 20,2 m. No Brasil, o formato estreou com o IMAX Bourbon, em São Paulo, em janeiro de 2009, seguido pelo IMAX Palladium, em Curitiba, em julho do mesmo ano.
Conversões de Relação de Aspecto
A enorme variedade de proporções trouxe desafios para exibir filmes em televisores, principalmente os mais antigos. Para preservar o formato original, utiliza-se o letterbox, que insere faixas pretas horizontais quando a tela é 4:3, mantendo a integridade da imagem.. Outra alternativa é o cropping, que corta as laterais para preencher a tela 4:3, ou o Pan & Scan, que “passeia” pela imagem para enquadrar apenas a área mais importante, movendo o recorte conforme a ação. Em diálogos, por exemplo, o enquadramento alterna entre os interlocutores.
Diz-se que o maior letterbox em DVD é o de Ben-Hur (1959), filmado em MGM Camera 65 com 2.76:1. Outros citam A Conquista do Oeste (1962), rodado em Cinerama (2.89:1). Existe ainda o processo inverso, que adapta filmes 1.37:1 para 16:9 sem faixas laterais, conhecido como Tilt & Scan ou Reverse Pan & Scan. Com a popularização de televisores widescreen e a valorização da integridade artística, essas práticas tornaram-se cada vez menos comuns. Hoje, “Pan & Scan” é muitas vezes usado genericamente para qualquer corte lateral.
Apresentação em Diferentes Displays
Dada a variedade de formatos originais, televisores e projetores 16:9 precisam oferecer múltiplas opções de ajuste, enquanto aparelhos 4:3 tradicionais são mais limitados.
Televisores 4:3 - Ainda que a transmissão analógica tenha sido desligada no Japão em julho de 2011, milhões de aparelhos continuam em uso. Nessas TVs, a imagem é exibida como recebida, e o DVD player pode ser configurado para letterbox ou Pan & Scan, embora o comando gravado no disco sempre tenha prioridade. Quando o DVD é gravado em 4:3, a exibição se restringe a esse aspecto.
Displays 16:9 - Telas planas e projetores digitais oferecem modos como Auto, Normal, Full, Zoom e Wide (ou Just Scan). Em conexões HDMI, algumas funções podem ser limitadas:
Auto - ajusta automaticamente ao aspecto original.
Normal - mantém sinais 4:3 com faixas laterais (pillarbox).
Full - exibe 16:9 se o conteúdo for 4:3, a imagem é esticada horizontalmente, causando deformação.
Zoom - amplia imagens 16:9 em letterbox gravadas em 4:3; em 4:3, preenche lateralmente, mas corta partes superior e inferior.
Wide/Just Scan - expande 4:3 para 16:9, com maior deformação nas bordas; difere do Full, que estica por igual. Muitos usuários escolhem Wide para preencher a tela, mas a forma mais fiel ao material original é o modo Normal, mesmo que isso signifique conviver com faixas laterais.
Mídia Física e Cuidados de Reprodução
Ao adquirir DVDs ou Blu-rays, é fundamental observar a embalagem para confirmar o formato de gravação. Alguns discos indicam apenas “widescreen anamórfico” e a proporção original (1.85:1, 2.39:1, etc.). Quando um DVD 16:9 é gravado em um quadro 4:3, surge o windowboxing, faixas em todos os lados da imagem, exigindo zoom e comprometendo a qualidade.
Blu-rays seguem normalmente a resolução de 1920 × 1080, mas podem conter diferentes formatos de proporção, respeitando a obra original.
Conclusão
A evolução das relações de aspecto reflete a contínua busca por melhor adaptação entre a criação cinematográfica e os diferentes meios de exibição. Do cinema mudo à HDTV, passando pelo CinemaScope, Cinerama, IMAX e as modernas telas digitais, cada formato procurou equilibrar a fidelidade da imagem com a imersão do espectador.
As técnicas de conversão, letterbox, Pan & Scan, Tilt & Scan, surgiram como soluções práticas, mas sempre com o desafio de preservar a intenção original do diretor. Hoje, com displays widescreen e tecnologia de alta definição, é possível exibir filmes em seus formatos originais, respeitando enquadramentos, proporções e estética, garantindo que o público experimente a obra como foi concebida.
Em síntese, compreender a relação de aspecto não é apenas um exercício técnico, mas também uma chave para apreciar o cinema em sua totalidade, reconhecendo a interação entre formato, narrativa e experiência visual.


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