LESLIE EASTERBROOK - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Leslie Easterbrook é uma atriz e produtora, nascida em 29 de julho de 1949 em Los Angeles, Califórnia, EUA. Ela interpretou a Sargento Debbie Callahan nos filmes Loucademia de Polícia.
Easterbrook foi adotada quando tinha nove meses de idade. Seus pais adotivos, Carl e Helen Easterbrook, a criaram em Arcadia, Nebraska. Ela frequentou e se formou na Kearney High School e na Stephens College. Seu pai era professor de música e sua mãe era professora de inglês na Universidade de Nebraska em Kearney.
Boa sessão:
1) “Ninguém vai bater mais forte do que a vida. Não importa como você bate e sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando; o quanto pode suportar e seguir em frente. Assim é a vida.” disse Rocky Balboa. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte como foi seu início de carreira.
L.E.: Eu estava trabalhando na produção da Broadway de "On the Twentieth Century" quando um diretor de elenco que conheci anteriormente chamado Joy Todd me deteve enquanto eu estava saindo do teatro após o show. Ele perguntou se eu teria interesse em fazer um papel pequeno, sem falas, para um filme no dia seguinte.
Eu sempre tive curiosidade de como era trabalhar em um filme, então eu disse "- Claro". Perguntei que horas, onde e o que devo usar? Ele me deu os detalhes, e assim ficou combinado. Cheguei no Queens na manhã seguinte, bem cedo e entusiasmada! Recebi um uniforme de enfermeira, uma etiqueta com nome que dizia "Cookie".
Então foi me dito para trocar de roupa e pegar uma cadeira perto da mesa de biscoitos cenográficos. Havia duas mesas de lanche: uma para 'Extras' e outra para 'Principais'. Depois de olhar aquelas duas mesas, tive a determinação de me tornar uma "Principal" na próxima vez que trabalhasse em um filme!
M.V.: Jura?
L.E.: Sério!!! Nada poderia atenuar minha excitação naquele dia! Eu estava no filme "Diga-me o que Você Quer (1980)" com Alli McGraw, Alan King, Dina Merrill e Myrna Loy, para citar apenas alguns dos grandes atores do filme.
Sentei-me lá o dia inteiro, esperando, conversando e comendo lanches. Quando chegou minha hora de ir embora para fazer o meu show naquela noite, eu ainda não tinha sido chamada para trabalhar no set. Não há palavras para descrever minha decepção!
Mas, quando eu disse ao Assistente de Direção, que tinha que sair, e ele simplesmente me deu o meu horário para retornar no dia seguinte. E pensei: 2 DIAS? Eu ia ser paga por 2 dias? Eu tenho que voltar? A vida não poderia ser melhor... Cheguei cedo na manhã seguinte e com certeza a "Cookie" trabalhou !!!
O grande Sidney Lumet foi meu diretor, e ele mesmo deu a "Cookie" uma linha de diálogo! Ele era delicioso, e essa simples linha de diálogo foi o momento mais cômico no filme! Foi risada geral. Não tinha nada a ver comigo sabendo o que estava fazendo, acredite. Foi meio no susto. Lumet foi brilhante! E assim começou meu caso de amor com a produção de filmes.
2) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.". Considerando a reflexão, há alguma experiência em sua vida dedicada à arte que foi especialmente marcante?
L.E.: Existe muitas, como você pode imaginar. Mas o dia em que me pediram para cantar nosso hino nacional no Superbowl XVII foi provavelmente o melhor dia da minha vida na arte. Comecei minha carreira como cantora de ópera, mas fui rapidamente direcionada para teatro quando pagaram salário em dinheiro vivo.
Cantar era minha especialidade, e "A Bandeira Estrelada" é uma canção muito difícil de cantar. O desafio me surpreendeu, e a tarefa me assustou, mas fui honrada além da medida. O jogo é provavelmente o evento de televisão mais visto nos EUA. Eu tinha que participar, não??!!
Meu motorista (fui de limusine) se perdeu no caminho para o Rose Bowl. Eu me atrasei tanto que quase perdi meu número e o jogo. Fui literalmente correndo pela quadra com botas longas e derrapando com o microfone. Eu cantei o hino com entusiasmo, e nunca mais esquecerei a emoção de ser convidada a compartilhar minha arte nesse maravilhoso dia em 1983!
3) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
L.E.: Esta é uma pergunta difícil para mim. Eu sou altamente crítica com o meu trabalho, e muitas vezes me arrependo de não fazer um pouco mais nas produções. Dar um pouco mais de suor pelo personagem. Provavelmente posso dizer que a maioria dos profissionais pensam da mesma forma.
A única maneira que eu posso julgar meu trabalho é da minha própria reação quando eu assisto, quando o filme é concluído e eu posso vê-lo em contexto. Lembre-se, um ator (atriz) é tão bom (boa) quanto o material com o qual ele (a) tem que trabalhar. Quando vi pela primeira vez "Rejeitados pelo Diabo", houve momentos em que esqueci que estava me observando.
Eu estava perdida dentro do personagem da Mãe Firefly. E estou falando somente da cena de interrogatório e da cena de minha morte. O roteiro era excelente! Rob Zombie me deu um excelente material para trabalhar, e a única maneira de atuar foi da maneira mais alucinante possível. Propus-me e fiz. Rob me deu a oportunidade e a liberdade de fazer o melhor trabalho da minha carreira! Fiz, sem arrependimentos...
4) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Se lembra de alguma história divertida que tenha acontecido durante as filmagens de Loucademia de Polícia, especialmente os cinco primeiros?
L.E.: (Risos!) Sim, Loucademia de Polícia 6 e 7 não são os mesmos hits que os outros! Apenas uma palavra rápida sobre a 7º parte. Nós filmamos em Moscou durante o golpe em 90. Foi quase impossível terminar, mas resistimos ao momento e, para mim, foi a experiência mais profunda da minha vida.
Nunca poderíamos contar com a possibilidade de filmar em locais previamente assegurados, havia pouca comida disponível para nós ou para o povo russo, fomos interrompidos e ameaçados pela polícia todas as noites após a filmagem e, portanto, não conseguimos fazer o filme como escrito.
Contudo, conhecer e trabalhar com tantos profissionais russos, aquecia e partia meu coração diariamente. São pessoas maravilhosas, artísticas, calorosas, amigas e altamente educadas, enfiadas naquele governo louco sem coração!
M.V.: Eu costumo dizer que filmes não podem ser julgados. Há tantas histórias envolvidas, que qualquer filme, de alguma forma, é especial, mesmo que somente para os envolvidos.
L.E.: Fazer o primeiro filme da Loucademia de Polícia foi verdadeiramente a melhor experiência criativa da minha vida. O roteiro me fez rir em voz alta, os personagens foram divertidos, o tema anti-bullying foi inovador, e eu adorava ser Debbie Callahan. O elenco foi perfeito. Pessoas adoráveis, engraçadas e atores altamente dotados.
Nosso diretor, Hugh Wilson, sempre teve razão sobre tudo, mas nos deu muita liberdade para criar. Todos chamamos de making of de um filme de comédia "Camp"! Nós nos tornamos muito, mas muito próximos durante este filme e permanecemos bons amigos por todos esses anos.
Perdemos alguns amigos muito queridos e membros do elenco: Bubba Smith (Hightower), David Graf (Tackleberry), Debralee Scott (Sra. Fackler) e, recentemente, George Gaynes (Comandante Lassard), aos 98 anos, e Christopher Lee (Comandante Rakov em Missão a Moscou) aos 93. Lamentamos todos eles diariamente.
Nosso diretor, Hugh Wilson, nos chamava para trabalhar todas as manhãs, e se não estivéssemos no primeiro grupo, ele nos dizia para trabalhar mais nossas cenas. Então, nós dividimos e trabalhamos em nossas cenas para o dia. Nós conversávamos sobre elas e, de fato, encenávamos.
Então, quando ele estava pronto para filmar nossas cenas, ele nos chamou e pediu para mostrar o que tínhamos inventado. 9 vezes em cada 10, ele dizia "Perfeito". Agora mova a câmera aqui e vamos filmar, dizia. Ele confiou em nós para encenarmos nossas próprias cenas - é claro que ele as ajustaria, mas todos nós nos sentimos parte importante no todo.
Donavan Scott (Leslie Barbara) trouxe uma câmera de vídeo velha e desajeitada, mas pense que era em um distante 1983. Ele encontraria um ponto para filmar as cenas, pois ele não estava apenas no set de cada cena, mas para fazer seu próprio filme caseiro. Um daily vlog, comum hoje em dia.
Então, tivemos nossos próprios "diários" para assistir todas as noites, no meio das quinquilharias de Andrew Rubin (George Martin). A maioria de nós ficava no Holiday Inn no centro de Toronto, mas Andrew teve um alento, um apartamento. Donavan nunca esteve realmente no melhor local para filmar tais cenas ... pois lá tinha pouca luz (ou nenhuma).
Mas, foi tão divertido assistir tudo. GW Bailey geralmente nos preparava um quiabo e Brant Von Hoffman e Scott Thomson traziam a cerveja. Nós éramos uma grande família feliz, e acho que isso é mostrado no filme. O primeiro foi e é o meu favorito de todos os tempos!
Eu não estava no segundo. Eu tinha um compromisso anterior, meu Deus! "Férias do Barulho"... Eu estava no pior filme já feito, e venho repelir por muitos motivos, mas eu tenho que trabalhar com um Johnny Depp de 19 anos - e ele era um garoto tão doce que compensou a qualidade podre do roteiro. Mesmo assim, percebi que ele seria uma grande estrela de cinema... ele simplesmente tinha aquela coisa maravilhosa... uma pessoa tão boa e talentosa, em todos os sentidos.
M.V.: Pode brigar comigo, mas assisti ao filme mais de 50 vezes!!! Não que eu o reconheça como um grande filme, mas era aquele momento adolescente de desabrochar do cinema. Eu amava filmes bobos, talvez pelo que representavam, e não por sua qualidade. Aqueles filmes, da segunda metade dos anos 80 principalmente, são as produções que me despertaram o amor pelo cinema.
L.E.: Sério? Não consigo me imaginar vendo um filme deste 3 vezes (risos). Bom, mas eu estava na Loucademia de Polícia 3, 4, 5, 6 e 7, graças a Deus. O grupo PA (Police Academy) é uma quadrilha que eu sempre quis fazer parte. O primeiro foi o mais emocionante para filmar e teve o melhor roteiro, mas todos foram bons de trabalhar. As sequências nunca foram exatamente com mesma qualidade e inspiração, mas cada uma teve seus momentos.
5) Bom, já que estamos falando de Loucademia de Policia, e eu adorando escutar suas histórias, pode contar algumas relacionadas aos outros filmes da franquia?
L.E.: Claro meu querido. Sobre o terceiro filme, o elenco fez uma viagem para Niagara Falls. Nós fizemos uma viagem repleta de passeios turísticos nas cataratas e como não poderia deixar de ser, quase virou o barco! Eles tiveram que enviar um barco de resgate para nos salvar!
Sobre o quarto filme - O elenco veio a uma festa no meu apartamento, que é junto ao um lago. Juntos, Bubba Smith, Steve Guttenberg e Michael Winslow subiram no meu colchão d' água e começaram a pular. Imagina o que aconteceu, não é?! O colchão estourou. Eu morava no 5º andar. Foi uma grande confusão... e muitas desculpas caras!
Sobre o quinto filme - Tivemos uma sequência que foi filmada no aeroporto de Palm Beach. No final do dia, depois de me arrumar, peguei minhas roupas e desci as escadas para pegar o ônibus de elenco, de volta para o hotel. E para minha surpresa, não tinha ônibus! Nenhum transporte de qualquer tipo na porta de saída... (Isso foi antes dos telefones celulares!) Caminhei cerca de 3 quarteirões até que uma van chegasse. Enquanto subia, todos gritavam e davam risada. Não teve graça, não foi bom... (mas hoje, sou obrigada a rir desta situação).
Sobre o sexto filme - Filmamos em Hollywood e descobrimos que as coisas realmente loucas só acontecem quando você filma no local!
Sobre o sétimo filme - a experiência de trabalhar e brincar em Moscou foi extraordinária, mas dolorosa. Nós testemunhamos a história em construção e formamos amizades que durarão para sempre. A lembrança do dia em que a casa de Yeltsin foi incendiada ficará sempre comigo. Foi muito assustador. Arruaceiros realmente puxaram George Gaynes e Christopher Lee dos carros de turismo quando passavam por uma ponte perto de locais pegando fogo, e tentaram jogá-los no rio. Eles desvencilharam do ataque e por um triz não caíram.
M.V.: Uau. Não consigo nem imaginar como foi.
6) Agora vamos falar de futuro. Tem projetos engatilhados?
L.E.: Eu tenho! No entanto, você terá que realmente olhar à sua volta para encontrá-los. Tive a sorte de trabalhar em vários filmes independentes. Com o advento de câmeras de vídeo de alta qualidade, as filmagens se tornaram menos caras. Há muitos bons filmes de baixo orçamento sendo filmados aqui, agora. Eu tenho trabalhado em filmes "menores" para jovens e talentosos cineastas que procuram se posicionar na indústria. Eles nunca serão grandes lançamentos.
No entanto, um filme "maior" virá. Eu acho que vai sair mais tarde, porém ainda este ano. Baseia-se na história verdadeira de um jogador de futebol, Brandon Burlsworth, que se tornou uma lenda de futebol e também foi vítima de Transtorno Compulsivo Obsessivo. Eu faço a sua mãe. É uma bela e emocionante biografia estrelada por Neal McDonough, e também é abençoada com uma atuação do meu velho amigo da Loucademia de Polícia, Scott Thomson (Copeland). Você pode ver meu website no IMDb.com?
M.V.: Claro!
L.E.: Quase todos os meus filmes recentes estão listados lá. É uma boa ferramenta de referência para filmes que foram filmados, estão filmando ou filmarei no futuro. Você pode procurar o artista que está interessado e/ou títulos de filmes individuais. Se você não tem acesso ao IMDb, avise-me que lhe enviarei uma lista completa dos meus títulos mais recentes. Alguns foram filmados em 2013, 14 e 15, mas serão fáceis de encontrar quando você souber onde procurar por eles.
M.V.: Sim. Cinema independente é mais complicado mesmo. Normalmente os filmes figuram em festivais e não saem em home video. Mas vou procurar todos.
7) Para finalizar, deixe uma lição ou dica para os que pretendem seguir carreira na atuação.
L.E.: Não tenho certeza se isso é uma "lição de vida", mas há um lema que usei no meu trabalho no cinema que vem do mundo da comédia improvisada (que sempre te cobra algo de alguma forma, ou talvez eu tenha tido apenas sorte de fluir?). De qualquer forma, quando você está se apresentando no improviso, a regra é "apenas dizer sim!" Se você diz "não" em um exercício de improvisação, o exercício acabou.
Não tem para onde ir. Então, como atriz no cinema, uso a mesma filosofia, apenas digo SIM. Você nunca sabe como o diretor, o operador de câmera, o artista de som, o técnico de som ou mesmo os outros atores estão se sentindo, por isso, sendo tudo um jogo e dizendo que sim, você não retarda o processo.
Se isso significa ficar desconfortável por um tempo em um set apertado, ou trabalhar no almoço, ou ser forçado a fazer uma cena que você realmente não conhece, porque originalmente foi agendada para a próxima semana, apenas diga SIM, e você ajuda a manter as coisas em movimento para a frente, e muitas vezes recebe a suprema benção de ser espontâneo e fora de equilíbrio!
Uma pequena improvisação pode apagar todos os sinais de conversa direta de ensaios excessivos. Muitas vezes não são os momentos de rotina e bem ensaiados, que criam arte cinematográfica. Na maioria das vezes, são as mudanças, surpresas e erros que o fazem!
M.V.: Muito obrigado, Leslie! Foi uma honra.
L.E.: Obrigada, Marcus por essa oportunidade. Você fez perguntas muito interessantes e intrigantes. Muito obrigada pelo seu interesse na minha carreira! Eu tenho lido um pouco sobre a vida no Brasil agora. Estou preocupada com a segurança de todos. Estamos atualmente passando por um processo eleitoral que está evocando muita hostilidade nos EUA. Para onde vai o mundo? Desejo-lhe saúde, felicidade e, acima de tudo, segurança. Sinta-se à vontade para me ligar quando desejar.
M.V.: Ligando em 4, 3, 2...