PAULO TELLES - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Carioca do bairro cultural e boêmio da Lapa, no Rio de Janeiro, nascido em 8 de maio de 1970, Paulo Telles é locutor e radialista, com formação pela Escola de Rádio do Rio de Janeiro. Também é escritor e está prestes a publicar, no próximo ano, seu primeiro livro, em parceria com Saulo Adami.
É editor do blog Filmes Antigos Club – A Nostalgia do Cinema, espaço ao qual se dedica há anos, publicando matérias sobre o cinema antigo e clássico, seja por meio de resenhas de grandes filmes ou biografias de astros e estrelas do passado.
Vamos às 7 perguntas capitais:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
P.T.: Meu interesse por cinema começou ainda na adolescência, por volta dos 13 ou 14 anos de idade, ou seja, já se vão mais de 30 anos desse cultuado prazer. Mas, ainda na infância, eu já curtia os filmes clássicos exibidos nas matinês da TV. Infelizmente, não vivi na época em que grande parte dessas produções passava nas salas de cinema do país, muitas das quais hoje já nem existem mais. Talvez o que mais tenha me influenciado a gostar tanto de cinema e de filmes antigos tenha sido assistir às superproduções épicas, como Ben-Hur (de William Wyler, 1959) e Quo Vadis (de Mervyn LeRoy, 1951).
Mesmo num televisor de tubo de 20 polegadas, a primeira TV colorida que tivemos em casa, eu não deixava passar despercebidos os cenários suntuosos, os figurinos e as cenas com multidões. Também fui um assíduo espectador da “Sessão Bang Bang”, exibida aos sábados na televisão, onde passei a admirar grandes ícones do faroeste americano, como Randolph Scott, Audie Murphy e Joel McCrea, além dos cowboys italianos Franco Nero e Giuliano Gemma.
Entretanto, de simples espectador, passei a querer me aprofundar no universo do cinema, dos filmes, dos astros e estrelas. Em suma, queria conhecer o cinema como arte, e sua “magia”. Por isso, comecei a comprar revistas especializadas, como a saudosa Cinemin, publicada por muitos anos pela extinta Editora EBAL. Devorei os artigos assinados por grandes colaboradores da revista, como João Lepiane, Fernando Albagli, Gil Araújo, Salvyano Cavalcanti de Paiva, A. C. Gomes de Mattos e Saulo Adami, que hoje é meu amigo e com quem tenho um projeto em comum. Infelizmente, todos, com exceção de Adami e Gomes de Mattos (que mantém o formidável site Histórias de Cinema), já faleceram.
Além das revistas, comecei a adquirir livros nacionais e importados, que me ajudaram a construir um conhecimento mais sólido sobre a Sétima Arte e, com isso, descobrir grandes diretores e suas obras. Até hoje conservo o primeiro livro que comprei sobre cinema, em 1985: O Western Clássico – A Gênese e a Estrutura de Shane, de autoria do finado crítico Paulo Perdigão. Nele, o autor relata suas experiências visitando as locações do célebre faroeste e seu encontro com o diretor George Stevens.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
P.T.: Coleciono filmes antigos desde 1988, ainda nos áureos e saudosos tempos do VHS. Acompanhava a programação televisiva pelos jornais e marcava os filmes que me interessavam para gravar e guardar, podendo assisti-los novamente quando quisesse. Fiz isso por um bom tempo, exceto quando entrei para a faculdade, no período da manhã, e precisei conciliar com meu antigo emprego, que ia da tarde até a noite. Nessa época, diminui o ritmo como colecionador. Mas, mesmo assim, percebi que já havia reunido um bom número de filmes.
Com o advento do DVD, transferi algumas matrizes para essa nova tecnologia. De outras fitas VHS, acabei me desfazendo para conseguir cópias melhores em DVD, seja comprando em lojas, seja trocando com outros colecionadores, na simpática base do intercâmbio. Ao longo dos anos, consegui até formar um catálogo pessoal. Ainda conservo alguns bons títulos em VHS original.
Além dos filmes, tenho CDs com trilhas sonoras de grandes produções, nas quais compositores como Alfred Newman, Jerry Goldsmith, Miklós Rózsa, Dimitri Tiomkin, Ennio Morricone, Elmer Bernstein, entre outros, ocupam lugar de honra na minha “vitrola”. Possuo também livros sobre cinema, nacionais e importados, que não chegam a formar uma “grande coleção”, mas que são de extrema importância e utilidade quando preciso consultá-los para elaborar matérias no blog.
Posso dizer, ainda, que coleciono gibis antigos, alguns até já encadernados. Curiosamente, foram justamente os quadrinhos que também me influenciaram, de certa forma, a gostar de cinema.
3) A criação do seu blog "Filmes Antigos Club – a Nostalgia do Cinema" veio de uma necessidade pessoal de se comunicar sobre a 7ª Arte? E em que momento essa ideia tomou forma?
P.T.: Realizando uma pesquisa para um trabalho na internet, há seis anos, deparei-me com alguns blogs pessoais que falavam sobre cinema. Um era mais fascinante que o outro, e para mim, até então, tudo aquilo era uma novidade. Lembrei que tinha muito material e informações sobre filmes clássicos, artistas e cineastas, e pensei: por que não compartilhar esse conhecimento com outros fãs da Sétima Arte? De que adianta ter tanta informação se você não a divide com quem também se interessa pelo assunto? E mais: por que não criar conexões com essas pessoas?
Foi com esse pensamento que criei o espaço Filmes Antigos Club – A Nostalgia do Cinema, em 2010. Nele, publico matérias sobre o cinema antigo, com resenhas de grandes filmes e biografias de atores e atrizes que contribuíram para essa verdadeira “máquina de sonhos”.
Meu propósito também é interagir com os leitores por meio da seção de comentários. Muitas vezes, me deparo com contribuições valiosas de quem comenta os artigos, sempre há algo a acrescentar às matérias. Acho isso muito bacana, porque também aprendo com quem compartilha suas opiniões e pontos de vista sobre os temas abordados no blog.
4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?
P.T.: Em 1996, fui convidado por um amigo para assistir a dois grandes clássicos durante um evento cultural no Paço Imperial, na Praça XV, que durou um mês. Na primeira semana, vi em tela panorâmica o clássico de Joseph L. Mankiewicz, A Malvada (All About Eve, 1950), estrelado por Bette Davis. Na semana seguinte, assisti a Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution, 1957), de Billy Wilder, com Marlene Dietrich e Tyrone Power.
O simples fato de ver essas duas grandes relíquias da cinematografia mundial em uma verdadeira tela de cinema não teve preço, ainda mais para mim, que não vivi a época de lançamento dessas obras nas salas de projeção. Pode não ter sido uma experiência dentro do mundo do cinema, mas, sem dúvida, foi uma experiência com o cinema. Algo semelhante ocorreu anos depois, em 2000, quando fui ao Ciclo Noir no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Lá, assisti a Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951), de Nicholas Ray, estrelado por Robert Ryan (um dos meus atores favoritos) e Ida Lupino, e também a Amarga Esperança (They Live by Night, 1948), do mesmo cineasta, que está entre os meus diretores preferidos.
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
P.T.: Listas? Sim, claro! Mas devo confessar que, com o passar dos anos, estou sempre revisitando e, às vezes, acabo alterando uma coisa ou outra, dando preferência a um título em detrimento de outro. Entretanto, algumas obras permanecem inalteráveis, verdadeiras marcas-rubras na minha listagem. Entre elas, Ben-Hur, do grande diretor William Wyler (1959), com Charlton Heston. Sem dúvida, uma obra insuperável e inesgotável, e o remake não chega nem perto, não dá nem para um carretel.
Rastros de Ódio (The Searchers), de John Ford (outro dos meus diretores favoritos), produzido em 1956, está entre meus dez westerns favoritos. É o melhor desempenho de John Wayne, uma das maiores lendas do cinema. Embora fosse um ator de recursos interpretativos limitados, ele era o “cara”. Ainda entre os westerns, não posso deixar de destacar Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), um faroeste divisor de águas no cinema americano, dirigido pelo “poeta da violência” Sam Peckinpah, onde os mitos do Oeste caem em completa desgraça.
Matar ou Morrer (High Noon), de Fred Zinnemann (1952), merece minhas mais profundas reverências. Gary Cooper conquistou seu segundo Oscar pelo papel do xerife Will Kane, que considero o herói mais humano já apresentado no gênero. A Face Oculta (One-Eyed Jacks), único filme dirigido por Marlon Brando, em 1961, e estrelado por ele próprio, também está entre os meus favoritos do estilo.
No campo da comédia, Um Convidado Bem Trapalhão (The Party), de Blake Edwards (1968), e Deu a Louca no Mundo (It's a Mad, Mad, Mad, Mad World), de Stanley Kramer (1963), estão carinhosamente marcados em minha lista. Por fim, O Expresso da Meia-Noite (Midnight Express), de Alan Parker (1978), ocupa lugar importante entre os filmes mais realistas e dramáticos que já assisti. É claro que há muitos outros títulos entre os meus preferidos, muitos mesmo, mas se eu listasse todos, não sobraria espaço para esta entrevista (risos).
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos.
P.T.: Nos dias 4 e 11 de dezembro, publicarei no blog uma matéria especial em duas partes dedicada à biografia de Kirk Douglas, em celebração ao centenário dessa lenda viva das telas, que completará 100 anos no próximo dia 9 de dezembro. A matéria será focada na vida e na obra de Douglas, incluindo sua filmografia completa.
Para o próximo ano, lançarei meu primeiro livro em parceria com Saulo Adami: Paladino do Oeste, projeto já em andamento, que trará diversas informações e curiosidades sobre uma das séries de TV mais populares de todos os tempos, estrelada por Richard Boone.
Ainda para o ano que vem, pretendo produzir dois programas de rádio voltados ao universo do cinema. Um deles será dedicado às trilhas sonoras, uma ideia que retoma a experiência do Cineclube, programa que produzi em 2014 para uma estação de rádio web. O outro será uma espécie de “revista” radiofônica sobre cinema, no qual pretendo abordar, por meio de um giro de notícias, os principais acontecimentos que cercam o mundo da Sétima Arte moderna e suas celebridades.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
P.T.: Não sei se tenho exatamente uma “trajetória”. Tudo o que sei é que sou um amador apaixonado pelo cinema antigo, e por um período que, curiosamente, não vivi. Acho o passado mais interessante que o presente, mas não deixo de manter os pés no chão e seguir em direção ao futuro.
Contudo, se apreciar essa fase, que, na minha opinião, foi talvez a mais produtiva da história do cinema, é uma forma de “dedicação à Sétima Arte”, então posso dizer que a lição que fica é o legado que desejo deixar para a posteridade: uma contribuição cultural por meio do meu blog, ou de quaisquer outros meios que venham a surgir.
Seja no cinema, no teatro, na música, na pintura ou em qualquer outra expressão artística e cultural, se você tem algum conhecimento e se dedica, ainda que como amador, divida com os outros o que sabe. Não tenha vergonha! Compartilhe seu saber, porque é justamente ao ensinar que também aprendemos, e muito.
Como dizia a grande Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”
M.V.: Obrigado Paulo. Sucesso sempre.