HELIO NASCIMENTO - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Helio Nascimento, nascido em 30 de setembro de 1970, é um cinéfilo apaixonado desde sempre. Formado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, nunca atuou na área, pois já era servidor público federal efetivo, cargo que ocupa até hoje com satisfação, principalmente por permitir atividades como pesquisa, escrita, investigação e análise. Antes disso, trabalhou como bancário por cerca de dois anos.
Sua verdadeira vocação sempre foi o cinema. Sonhava cursar a graduação na área, mas a inexistência de um curso superior em seu estado o impediu. Ainda assim, levou sua paixão ao TCC, que abordou a montagem como elemento essencial da linguagem cinematográfica, incluindo um projeto prático ambicioso: um longa-metragem construído exclusivamente com cenas de filmes diversos, de diferentes diretores, épocas e estilos, uma montagem complexa que exigiu um trabalho meticuloso, inclusive na trilha sonora.
Durante a era das locadoras, cogitou abrir a sua própria. Como colecionador dedicado, acompanha de perto o mercado de home video no Brasil e no exterior. Esse interesse culminou na criação do blog e da página "A Eternidade e Um Dia de Um Cinéfilo", onde compartilha descobertas, reflexões e informações sobre cinema com outros apaixonados pela sétima arte.
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
H.N.: Aprendi a amar o cinema desde o início da adolescência, quando passei a acompanhar diariamente os lançamentos de filmes de arte, mostras e críticas no jornal local. Cresci frequentando semanalmente os cinemas da capital. Mas o que mais me fascinava era o cineclube, pois funcionava como um oásis no deserto. Mesmo com tanta dificuldade de atrair o público, devido à escolha de títulos pouco populares, resistia bravamente e trazia filmes de todos os continentes.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
H.N.: Minha coleção de cinema começou na forma de CDs de trilhas sonoras de filmes, pois sempre fui apaixonado por música, especialmente a clássica. Prestava bastante atenção às trilhas dos filmes que eu via e anotava os títulos que sobressaíam. Na primeira oportunidade, eu adquiria. A maioria é importada, pois as trilhas lançadas no Brasil, geralmente, são de filmes blockbusters, que não me interessam muito.
Devo ter comprado meus primeiros CDs de cinema por volta dos 20 anos de idade. Hoje, diminui bastante o ritmo da importação, por conta da alta cotação do dólar e do imposto de importação. Tenho acima de 300 CDs de trilhas sonoras, a maioria de filmes europeus. Uma raridade atrás da outra. Michael Nyman, Zbigniew Preisner, Eleni Karaindrou, Goran Bregovic, René-Marc Bini e Wojciech Kilar são os meus compositores prediletos.
Em relação aos filmes em home vídeo, meu primeiro DVD foi adquirido em 1998, ano em que o formato foi lançado em nosso país. Nem aparelho eu tinha ainda, pois continuava com o meu videocassete. Títulos importantes começaram a ser disponibilizados e, em algum momento, eu percebi que valeria a pena criar a minha coleção, pois gosto muito de rever filmes que admiro.
Não cheguei a comprar ou colecionar filmes em fitas de VHS, pois o formato era bem limitado, uma vez que facilmente mofava ou travava. Demorei um pouco a aderir ao Blu-ray, devido ao alto custo inicial (aparelho e discos) e à escassez de bons títulos lançados no Brasil. Com o tempo, decidi substituir parte da minha coleção de DVDs por Blu-rays e passei a adquirir apenas o formato em alta definição, na medida do possível, considerando que vários títulos chegam por aqui apenas em DVD, infelizmente. Entre blu-rays e DVDs, possuo mais de 1.000 filmes, vários deles não lançados no Brasil.
3) A criação do seu blog "A Eternidade e um dia de um cinéfilo" veio de uma necessidade de suprir uma lacuna na internet? E em que momento essa ideia tomou forma?
H.N.: Há vários anos que eu me atualizo regularmente pela internet sobre as novidades nos cinemas e mercado de home vídeo, seja em nível nacional ou internacional. Então, do interesse meramente pessoal, resolvi expandir e compartilhar as informações obtidas com as demais pessoas interessadas na área. Como os cinéfilos e colecionadores, de modo geral, têm bastante expectativa sobre as novidades do mercado cinematográfico, senti que deveria divulgar uma lista mensal dos blu-rays e DVDs prometidos pelas distribuidoras, para facilitar o acesso mediante a visualização num lugar só, pois as informações ficavam muito dispersas na web.
Minha pesquisa inicial era para saber quais os títulos aos quais eu iria assistir no cinema ou adquirir em vídeo. Agora, os demais títulos previstos também fazem parte da minha lista, com o intuito de colaborar com os amigos virtuais. A lista facilita bastante o planejamento de futuras compras, ainda mais agora que as tiragens de home vídeo estão bastante limitadas, provocando o rápido esgotamento do estoque nas lojas. A página do Face também é uma forma de fazer amizade, ainda que apenas virtual. É prazeroso conversar com pessoas que têm a mesma paixão, independentemente do estilo de filme preferido.
Dessa forma, meu singelo objetivo com o blog e a página do Face é poder compartilhar informações, impressões, desejos e sentimentos sobre cinema, blu-rays, DVDs e trilhas sonoras de filmes. Nesse sentido, eu falo sobre os lançamentos e pré-lançamentos, sugiro lojas virtuais de home video (nacionais ou estrangeiras), dedico algumas matérias sobre tributação e frete, ofereço dicas sobre promoções em lojas, indico filmes em cartaz nos cinemas ou disponíveis em vídeo (com links para trailers), analiso fatos relevantes sobre a situação do mercado de cinema e vídeo, faço cobertura sobre os festivais importantes (concorrentes, vencedores, trailers etc.) e o que mais valer a pena a respeito dos temas abordados.
4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?
H.N.: A fase mais marcante foi justamente a inicial, na adolescência, quando apenas sozinho ou com outros poucos cinéfilos na sala do cineclube, eu assistia a Ingmar Bergman, François Truffaut, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Wim Wenders, Carlos Saura, Luis Buñuel, Jean-Luc Godard e tantos outros expoentes do cinema mundial. Excêntrico ou não, eu não me importava. Não perdia nenhuma semana.
Além disso, fiz várias maratonas de cinema em casa, no início da juventude. Alugava vários filmes de uma vez só e assistia a todos eles com apenas pequenos intervalos para refeição e descanso. Também não posso me esquecer do Corujão e das várias outras sessões de cinema na TV aberta, quando se valorizava o cinema de qualidade. A madrugada era uma criança...
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
H.N.: Minha lista não é nem um pouco econômica, mesmo depois de muita triagem e deixar ótimos filmes de fora. As obras cinematográficas que mais me atraem são aquelas que retratam o relacionamento humano de forma especial e mais aprofundada, geralmente de origem europeia, mas sem nenhuma limitação a respeito.
São filmes que eu não canso de ver e sempre percebo um detalhe a mais a cada visualização. Com frequência, eu me pego lembrando de alguma cena memorável, impactante ou arrebatadora, sem falar da trilha sonora. Os títulos incluem, sem preocupação com ordem de preferência, Morangos Silvestres; Minha Vida de Cachorro; Ratos e Homens; O Clube da Felicidade e da Sorte; A Fraternidade é Vermelha; Não Matarás; Longa Jornada Noite Adentro; Amores Brutos; Ondas do Destino; A Paixão de Cristo; Vidas Amargas; Sindicato de Ladrões; O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
O Caçador de Pipas; A Cor Púrpura; Império do Sol; O Piano; Virgina; Gosto de Cereja; Tão Longe, Tão Perto; Sociedade dos Poetas Mortos; Veludo Azul; Rocco e Seus Irmãos; A Terra Treme; Cinema Paradiso; A Felicidade Não se Compra; Abril Despedaçado; Lavoura Arcaica; Central do Brasil; Blader Runner - O Caçador de Androides; A Rainha Margot; Gattaca: A Experiência Genética; Um Homem Meio Esquisito; O Marido da Cabeleireira; Sangue Ruim; Em Um Mundo Melhor; Era Uma Vez na América; A Última Sessão de Cinema; O Retorno (2003); Hábito Negro e Paisagem na Neblina. Ainda bem que eram “pelo menos”...
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos.
H.N.: Muito em breve, pretendo incrementar o blog e a página do Face com várias postagens temáticas e séries especiais, além de outra novidade que vai aumentar a interação dos amigos virtuais. Os detalhes serão divulgados possivelmente até o mês de maio.
Também tenho o desejo de ir à Europa até o ano que vem, quando aproveitarei para adquirir vários títulos em blu-ray não lançados no Brasil ou disponibilizados por aqui apenas em DVD. Espero, ainda, assistir pelo menos dois festivais internacionais de cinema, possivelmente o de São Paulo e Cannes, e compartilhar minhas impressões sobre a experiência e detalhes sobre os filmes exibidos.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
H.N.: O cinema é uma oportunidade de conhecer novos horizontes, expandir a visão sobre as coisas, visitar países (sem ao menos pisar os pés fora do Brasil), atualizar-se sobre o pensamento e temas relevantes de outras comunidades e nações... O cinema é uma forma de empatia com o outro, uma maneira de interagir com o semelhante. Ou seja, a diversão é apenas um aspecto do filme. Quanto mais pudermos extrair dos filmes, melhor.
M.V.: Obrigado amigo. Sucesso.