ROBERTO BIRINDELLI - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Roberto Francisco Schlesinger Birindelli é um ator e diretor nascido em Montevidéu, no Uruguai. Formado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde 1989 e em Artes Cênicas pela mesma instituição desde 1992, Roberto se divide há alguns anos entre a carreira no teatro, cinema e televisão no Brasil e no exterior.
Ganhou destaque na TV ao interpretar o Josué, capanga de José Alfredo, papel de Alexandre Nero, na novela da TV Globo exibida no horário das 21h "Império". Ainda na televisão, atuou em novelas e séries como "Chamas da Vida" e "Poder Paralelo", da Record, "Duas Caras", "Viver a Vida", "Passione", "Sangue Bom" e "O Astro", da TV Globo, além das séries "Dicas de um Sedutor", "A Teia" e "O Caçador".
No teatro, ficou em cartaz por cerca de 20 anos com o monólogo "Il Primo Mirácolo", de Dario Fo, após passar por oito países e mais de 150 cidades brasileiras. Atuou ainda no espetáculo "Citta Invisibile" e também nas montagens de "Amadeus" e "A História do Homem que Ouve Mozart e da Moça do Lado que Escuta o Homem".
Já no cinema, participou das produções brasileiras "Colegas", "O Tempo e o Vento", "Jonas e a Baleia", "Isolados", entre outros. Atuou ainda em filmes internacionais, entre eles "Trash", de Stephen Daldry, "Brazil Red", do canadense Sylvan Archambault, e protagonizou o filme argentino "A Quién Llamarías?", de Martin Viaggio, além de ser premiado em "Simone", de Juan Zapata.
E hoje, é Roberto Birindelli.
Boa sessão:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é um apaixonado por cinema? Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.
R.B.: Houve épocas em que o ponto de encontro da galera, para começar o final de semana, era a sessão da meia-noite de sexta. Não perdíamos um filme. Pit-stop na locadora e prontos. Sempre gostei do cinema francês, um cinema de atmosfera. Claude Lelouch, Jean-Luc Godard, François Truffaut, Louis Malle, tinham uma distribuidora muito bacana, Gaumont, que nos permitia acesso aos lançamentos.
Teve filmes como Blade Runner que devo ter assistido 12 ou 13 vezes no cinema. Lembro-me de Olhos Negros, com Marcello Mastroianni, que terminou a sessão e fiquei no cinema para ver a sessão seguinte, extasiado. Mantenho até hoje uma coleção de vinis com trilhas de cinema.
Na faculdade de arquitetura, tive contato com grupos de teatro e coletivos de cinema. Na minha turma, vários colegas largaram a faculdade para se dedicarem a outras atividades. Por exemplo, Pitz, Maltz e Humberto criaram “Os engenheiros do Hawaii”. Jaime Arturo Marin foi para a Alemanha e virou um grande mímico. Cheguei a ter aulas com ele. Depois lancei livro de poesia marginal e, junto com Mario Pirata e outros parceiros, criamos um espetáculo poético teatral. Foi o gostinho do palco. Daí para o teatro foi um pulo.
Formei-me em Artes Cênicas e fui estudar na França, Dinamarca, Itália. Teatro físico, mímica, Commedia Dell’Arte, etc. Em Porto Alegre, em 1994 / 95, recebi os primeiros convites da casa de Cinema para curtas do Jorge Furtado, e depois os primeiros longas. Um ambiente maravilhoso de trabalho. Tomara que um dia possa voltar a trabalhar com eles. De lá para cá já se vão uns 45 filmes...
3) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante?
R.B.:10???
M.V.: Pode citar quantos quiser.
R.B.: Dificuldade, mas vamos lá: Cidadão Kane; ao menos um Fellini (La nave va, Amarcord ou La dolce vita); um Bergman, Fanny e Alexander, O Sétimo Selo, ou Morangos Silvestres; um Kubrik (Laranja Mecânica ou 2001, Uma Odisseia no Espaço); Apocalypse Now, e O Poderoso Chefão, do Francis Ford Coppola; Os Sete Samurais; um Chaplin (O Grande Ditador); Quanto Mais Quente Melhor; Glauber (Deus e o Diabo na Terra do Sol); Hiroshima meu Amor; Testemunha de Acusação. Para mim, foram muito importantes os filmes do cinema mudo de Harold Lloyd e Buster Keaton.
M.V.: Da sua lista, Apocalypse Now, 2001, Uma Odisseia no Espaço, O Poderoso Chefão e Os Sete Samurais estão entre meus 10 preferidos também.
4) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Recentemente, o público brasileiro te acompanhou na novela Império (2015), no papel do Josué (um dos mais marcantes da novela), e na série 1 Contra Todos (2016), que é sensacional. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
R.B.: Bem, você citou dois dos mais importantes. Josué foi importante pela abrangência e visibilidade que uma novela dá. O trabalho de composição de Pepe, na série 1 Contra Todos, foi dos mais gratificantes. Desde a caracterização até as descobertas que o processo de trabalho maravilhoso com Breno Silveira permite.
Em 2010, atuei em Poder Paralelo, novela da TV Record ambientada na máfia italiana. Fiz o mafioso Tucci, o matador da história. Tinha um viés cômico e perguntei ao autor e ao diretor se dava para me aprofundar nisso. Decisão arriscada: acabei fazendo um clown numa telenovela. Matava as pessoas erradas, só se ferrava. E o retorno nas ruas foi incrível! As pessoas adoravam, mesmo sendo um contraventor, um assassino. Diziam que ele era do bem. Clowns têm isso...
5) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Se lembra de alguma história divertida que tenha acontecido durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar?
R.B.: Hum, várias também. Dolores, de Juan Dickinson, coprodução Argentina. Um longa ambientado nos pampas, anos 40. Roteiro cheio de nuances, tempos e detalhes. Construído em filigranas de uma história quase real. Fiz um trabalho de preparação bem delicado com Sergio Penna, transitando entre a rudeza do campo e a sofisticação de um fazendeiro descendente de alemães que mora nos pampas durante a segunda guerra.
O olho e a faca, longa de Paulo Sacramento, que fala da vida de amigos petroleiros. Como ficaríamos 12 dias embarcados numa plataforma de petróleo em alto-mar, tivemos que passar por severos treinamentos de segurança, fuga de helicópteros caídos no mar, de combate a incêndio, sobrevivência no mar, combustíveis e gases tóxicos, etc. Vivenciamos o dia a dia dos petroleiros, num ambiente de alto risco, e onde a natureza manda. A preparação da Fátima Toledo foi essencial para os estados de risco e de impulsos instintivos que enfrentaríamos.
Humanpersons, longa de Frank Spano, em Chicago, Panamá e Medellín. Uma história familiar, humana, em meio ao tráfico de órgãos. Um desafio de transitar entre culturas tão diferentes, línguas (rodado em inglês, português e espanhol) e idiossincrasias. Um mega elenco. Atores norte-americanos, espanhóis, venezuelanos, colombianos, panamenhos, brasileiros e um uruguaio...
6) Fale um pouco sobre seus próximos projetos...
R.B.: Dia 07 de setembro vamos lançar “Polícia Federal – A lei é para todos”, longa de Marcelo Antunez sobre a Lava Jato. Dia 11 de setembro vai ao ar a segunda temporada da série “1 contra todos”, na FOX, enquanto gravamos a terceira temporada. Dia 01 de outubro vai ao ar “A vida secreta dos casais”, série de Bruna Lombardi para a HBO. Atualmente, estou iniciando as gravações de Apocalipse, novela de Vivian de Oliveira para a TV Record.
Início de 2018 vai estrear: “Teu mundo não cabe nos meus olhos”. Longa de Paulo Nascimento; “Proibido para maiores”, série de Felipe Lesbick; “Conselho tutelar” (terceira temporada da série), TV Record.
Estou escrevendo uma série e participando da roteirização de outra. E devo voltar ao teatro no segundo semestre, se conseguir coordenar as datas.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
R.B.: É insano, mas vale a pena...
M.V.: Obrigado amigo. Foi um grande prazer.