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M. V. PACHECO - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS

Escrever sobre si mesmo parece fácil, mas na prática é bem complicado. Quando chega a hora de se descrever, seja para um perfil profissional, uma bio de rede social ou uma apresentação pessoal, simplesmente nos perdemos. Às vezes falta clareza sobre o que destacar, outras vezes bate aquele receio de parecer pretensioso ou, ao contrário, de parecer simples demais. Encontrar o tom certo, escolher as palavras que realmente dizem quem somos e, ao mesmo tempo, considerar quem vai nos ler… tudo isso torna esse tipo de escrita um verdadeiro desafio.

Eu acredito que nossa melhor descrição vem de pessoas próximas e que realmente nos conhecem. Quando falamos de nós mesmos, não conseguimos fugir de lugares comuns, como falar pontos que para nós parecem interessantes ou escrever de uma maneira robótica, fria. Eu entendo que somente suas ações dizem sobre quem você é, como age em diversas circunstâncias, enfim, as ações falam por você. Portanto, nas minhas respostas a seguir, pode-se notar diversas características minhas.

Mas, de uma maneira resumida, meu nome é Marcus Vinícius Pacheco, sou mineiro, nasci em 1 de fevereiro de 1976. Sou formado em Administração pela UFJF e em inglês (Cambridge). Leio críticas e guias de cinema desde criança, e minha formação na área é autodidata. Escrevi 18 livros sobre cinema, um de ficção, fiz um longa-metragem e três curtas (Ataque do Alien Maldito, Entidade da Floresta e Os 3 Fantasmas), colaborei no último dicionário de Cineastas do Rubens Ewald Filho, escrevi para livretos de muitas edições lançadas em Blu-ray no Brasil, incluindo a celebrada primeira edição em 4K do país e criei os sites Tudo sobre seu filme, que depois de 11 anos, mudei o nome para Pipoca 3D e 1001 entrevistas.

No primeiro, já são mais de 4 mil posts escritos e no segundo, publico entrevistas com personalidades ligadas ao cinema, de alguma forma.

Vamos às 7 perguntas capitais:


1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema? 

M.V.: A paixão por cinema nasceu com 6 anos, vendo filmes no cinema, principalmente desenhos e produções dos Trapalhões. Mas acho que o cinéfilo nasceu a partir do momento em que decidi anotar os filmes que eu assistia. Eu lembro que pegava papéis aleatórios e ia anotando. Até que um dia, resolvi comprar 24 cadernos e colocar tudo em ordem.

E a partir daí, eu vivia de listas e guias. Os Guias eram do Rubens Ewald Filho, que tive o prazer de entrevistar anos mais tarde, e ajudaram bastante a me direcionar para os títulos que eu queria ver. E as listas, eu fazia de filmografias de diretores, e com isto, eu ia vendo tudo. Tudo mesmo.

O cinema sempre foi meu melhor amigo e meu maior amor. Era onde eu me perdia e me encontrava. Viajava por galáxias, conhecia aventuras, horrores da guerra, enfim... vivia por duas horas, numa sala escura, a vida de outras pessoas... e personagens que me marcariam para sempre.

2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte? 

M.V.: O colecionador nasceu meio que por acaso. Eu não colecionava filmes, mas sempre colecionei coisas (latinhas, chaveiros, cartas de magic) e, como amo cinema, foi um caminho natural. Eu comecei a comprar DVDs dos filmes que amo. Daí veio um CD aqui e ali, um vinil aqui e ali, mas sem me colocar como colecionador...

Aí vieram os Action figures, Blurays, livros, e juntando tudo, ao longo dos anos, se formou uma grande coleção de cinema. Hoje tenho em torno de 12 mil títulos, entre VHS, DVDs, Blu-rays, Super 8, e muitos filmes gravados em CDs e outros muitos em HDs.

3) Conte como foi a experiência de dirigir e atuar em um longa-metragem, entre 1999 e 2001, chamado "O último homem da terra". 

M.V.: Eu comecei querendo fazer um filme sobre drogas, estilo "Réquiem para um sonho". Depois, parti para a adaptação do conto de Richard Matheson, que foi levada ao cinema 3 vezes até hoje. Só que, por razões logísticas, eliminei os zumbis da trama e coloquei a questão do conflito pessoal.

E foi um desafio monumental filmar numa cidade inteira, vazia. Shoppings, clubes, estádio de futebol, praças, ruas. Foram 2 anos para realizá-lo. Um dos meus câmeras (Leandro Pullig) chegou a surtar, por repetir a mesma cena 50 vezes, numa estrada. Contei com várias pessoas que faziam tudo com o máximo de boa vontade. Sem falar que eu engordei 20 quilos para o início do filme e perdi 25 para as demais cenas que se passam meses depois. Deixei o cabelo crescer, a barba, as unhas. Até a roupa que usei foi a mesma durante todo o tempo.

Foi uma grande experiência, ainda na era VHS. Imagino como teria ficado bem melhor hoje em dia, com estas câmeras em HD.  Eu sempre tive vontade de fazer uma continuação, mas desisti justamente pela diferença de qualidade. Eu, inclusive, filmei algumas cenas e sempre tive a ideia de romper fronteiras e fazer em outros países. Mas abandonei a ideia definitivamente com os anos.

Fazer o filme foi uma experiência única. Proporcionou-me visualizar o trabalho enorme que é a realização de um filme e dar um valor maior ao esforço que os diretores têm. Passei a respeitar muito mais os resultados ruins, erros de continuidade, falta de talento... porque entendi como é fazer, sem recursos, mas com motivação e paixão. E, como na maioria das vezes, apontar o erro é mais fácil e cômodo do que entender como tudo tomou forma.

4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?

M.V.: Cinéfilo tem suas experiências malucas. Vou citar algumas:

A primeira e talvez a mais conhecida foi quando ganhei meu primeiro VHS, lá em 1988 (tenho ele até hoje, um JVC). Gravei um filme aleatório que passou na “Sessão da Tarde” chamado Tubarão. Eu tinha mania de rever filmes, e como foi meu primeiro (gravei na velocidade SP), assisti durante um ano. Todo dia. Foram 196 vezes. Como eu fiquei conhecido por esta maluquice, eu comecei a ver o filme nas viradas de ano, a fim de que ele seja o último (e o primeiro) filme a ser assistido. E assim permanece até hoje. Já assisti até na virada mesmo (00.00), mas o normal é assisti-lo dia 31 e rever dia 1. Está em 252 vezes (assistido na virada de 2020/21).

Segunda: Uma vez fui para uma boate magnífica em Niterói (Rio de Janeiro), chamada Le Village. Eu adoro dançar, mas ao chegar na boate, tinha uma baita tela de cinema na pista, e ia começar a passar um filme (E.T.). E, para completar, no segundo andar, tinha mesa com fone de ouvido. Não resisti e fui ver o filme. Quando acabou, começou Rambo 2. Também não resisti. Fui embora sem dançar nenhuma música.

Terceira: Na época em que as sessões de cinema na TV eram limitadas, as estreias da Tela Quente e do Cinema em Casa, em 1988, foram marcantes. Tudo era gostoso de acompanhar, até mesmo as chamadas. Neste período, num belo dia, passou no mesmo horário Platoon e Mad Max (tipo numa quarta ou quinta-feira, eu acho). Um na Globo e outro no SBT. E eu precisava ver os dois, não é? Então, pedi ao meu pai para pegar uma TV e colocar do lado da minha. Lembro até que os filmes começaram com um pequeno intervalo de diferença. Eu priorizei o áudio do Mad Max e assisti os dois, simultaneamente.


Quarta: Num sábado, eu saí para uma festa, destas que acontecem em pátios de igreja. Estava ótimo, eu estava acompanhado com uma namorada e as amigas dela. Mas às 22.00 iria passar o filme "Os sete samurais" na TVE. Bom, dá para imaginar que eu a deixei na festa e fui ver o filme, não é? E dá para imaginar que ela não demorou muito para terminar comigo, visto que minha paixão por cinema era maior...

Quinta: Esta foi terrível... Baixei o filme 21 gramas, com Sean Penn. Isto em 2003. Naquela época, a gente acessava o PC só sábado depois das duas e domingo. Era uma luta. Então, quando fui ver o filme, ele estava de cabeça para baixo (problemas de codec), mas eu não sabia resolver e adotei uma solução caseira: coloquei um espelho em cima da tela do computador e vi o filme. Foram duas horas segurando um espelho com uma das mãos...

Sexta: Fui ver o Indiana Jones e a última cruzada no cinema, em 1989, no finado cine Excelsior. Ai, como eu fui curtindo o filme, fui ficando (na época podia ficar mais de uma sessão sem pagar extra). Vi uma...duas...três... Na quarta sessão, apareceu uma pessoa da minha família no cinema perguntando se eu estava lá... Os funcionários sabiam até a poltrona em que eu me sentava.

Sétima: Durante uns dois anos, desde o filme Máquina Mortífera 2 (1989), eu vi TODOS os filmes no cinema, sempre duas sessões. Todos, incluindo os que, eventualmente, eu não gostasse. Não me pergunte o motivo.

Oitava: Uma das melhores recordações da minha vida foram as férias que eu passava na casa da minha madrinha, em Niterói. Ela alugava 15 filmes, para entregar em 3 ou 4 dias. Eu surtava quando chegava lá, porque eu me sentia na obrigação de ver tudo. As duas principais locadoras de lá eram a Video Cia e a Duvideodó. Foram grandes momentos que passei lá. Enquanto o pessoal da casa ia para a praia, eu estava no quarto vendo um filme atrás do outro.

Oito e meio: Assistir 11 filmes em 24 horas foi sem dúvidas uma das maiores maluquices que eu fiz. Foram 5 Loucademia de policia e 6 Sexta Feira 13 em sequência.

Nona: Sem dúvidas, um dos momentos mais emocionantes da minha vida, que remeteu a um dos filmes que mais amo (Cinema Paradiso), foi voltar no Cine Excelsior, em 2014, antes de ser transformado em estacionamento (e depois em um banco). Durante a retirada das cadeiras, num domingo, eu entrei lá na hora do almoço, como se eu fosse um funcionário, peguei minha câmera e filmei tudo. Inclusive, sentei na cadeira em que eu havia sentado em 1982, com minha mãe, para assistir ao filme E.T. Eu tinha 6 anos na época. Foi um filme que passou na minha cabeça, lembrando de diversos momentos, como Totó faz em Cinema Paradiso. Foi emocionante. A vida real e a magia do cinema se fundiram naquele dia.

Décima: Por fim, a criação do meu site foi uma experiência incrível. Conversei com tanta gente bacana. Entrevistei diversas pessoas importantes nas suas áreas de atuação, além de conversar com diversos atores e atrizes que remetem diretamente à gênese do meu cinema, nos anos 80. Um dos momentos mais marcantes desta jornada foi receber autógrafo de Steve Carver, diretor de Mcquade: lobo solitário, o melhor filme em que Chuck Norris atuou.

5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante? 

M.M.: Claro, ainda que não respeite uma ordem, a lista consiste nestes 10 filmes: Lawrence da Arábia, Poderoso chefão 1 e 2, Apocalypse now, Senhor dos anéis - o retorno do rei, Sete Samurais, Três homens em conflito, Era uma vez na América, Era uma vez no oeste, Bons companheiros.

Saindo dos 10, tem ainda Cinema Paradiso, Blade Runner, Fogo contra fogo, Taxi driver, Touro indomável, Senhor dos anéis 1 e 2, 2001 - uma odisseia no espaço, E o vento levou, Exorcista.

Eu citaria ainda a melhor série que eu assisti (5 vezes até agora): Família Soprano.

O melhor filme feito para a TV: 1900, do Bertolucci.

E o ator que mais aparece na minha lista dos filmes da minha vida (que são 100) é o Robert de Niro, com 15 filmes.

Gostaria de citar também a espinha dorsal do cinema de horror, que amo, revejo sempre: Nosferatu (1922), Frankenstein (31), Psicose (60), Bebê de Rosemary (68), Noite dos mortos vivos (1968), Massacre da serra elétrica (74), Tubarão (75), A profecia (76), Despertar dos mortos (1978), Alien (79), Nosferatu (79), O iluminado (80), Lobisomem americano em Londres (81), Morte do demônio (81), Poltergeist (82), A hora do espanto (85), A bruxa (2015), Hereditário (18), Nós e Midsommar de 2019. 

6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos. 

M.V.: Vou tocar o projeto do site, que fez 9 anos em dezembro/2021, e ver aonde ele vai me levar. Conquistei muita coisa bacana e espero ir além. Mas se eu encerrá-lo hoje, teria valido a pena e sido uma das melhores experiências da minha vida.

7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?

M.V.: Deixo lições valiosas que aprendi com o cinema, e que vivo no meu dia a dia.

" - Faça ou não faça, tentativa não há." Yoda em Império Contra-Ataca (1980)

"- Não importa quanto tempo temos. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado." Gandalf em Senhor dos Anéis (2001).

" - Ou você morre herói, ou vive o suficiente para se tornar o vilão."  Harvey Dent em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008).

" - Eu nasci quando me beijou e morri quando me deixou. Eu vivi apenas algumas semanas enquanto você me amou."  Humphrey Bogart em No Silêncio da Noite (1950).

"- Espero que você leve uma vida da qual se orgulhe. Ou que tenha força para começar tudo de novo."  Benjamin em O Curioso Caso de Benjamin Button (2008)

"- Que a força esteja com você." Guerra nas Estrelas (1977).


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