MASCULINO, FEMININO (1966) - FILM REVIEW
Alguns diretores são tão vanguardistas, que se perdem tentando se encontrar. E neste processo, se reencontram em momentos para então se perderem novamente em outros. Com esta linha temporal, ganha admiradores e haters. Não incomum, ele próprio faz uma auto crítica severa. É o caso de Jean Luc Godard.
Godard é um cineasta francês, um dos principais nomes da Nouvelle Vague que revolucionou a forma de fazer e pensar cinema, no final da década de 50 e nos anos 60. E o filme que vamos tratar hoje é Masculino, Feminino, mais notável trabalho dentro do período e é considerado pelos críticos como bastante representativo para o país naqueles anos. Feito dois anos antes dos movimentos de maio de 1968 (no dia 2 de maio de 1968, estudantes franceses da Universidade de Nanterre fizeram um protesto contra a divisão dos dormitórios entre homens e mulheres. Na verdade, esse simples motivo vinha arraigado de uma nova geração que reivindicava o fim de posturas conservadoras.), o filme explora a sexualidade na juventude e as transformações pelas quais a França (e o mundo) estavam passando.
A trama segue a "tradicional" linha não linear (acho que esta seria uma definição que o próprio usaria) de suas histórias, com inserções de sub-tramas (que muitas vezes nada acrescentam à história sendo contada, mas que faz parte de um todo), aparições de personagens sem link com o que foi contado ou que inicie algo de importante (Brigitte Bardot, por exemplo).
Sua visão de mundo singular conflita com o próprio mundo a que se destina. Devido ao retrato contundente da juventude (e do sexo) retratado no filme, a obra foi proibido para menores de 18 anos na França . Godard certa vez diste que o filme foi realizado pensando justamente na faixa etária proibida.
Na história, Paul tem 21 anos. Tendo acabado de prestar o serviço militar, ele é um jovem tímido, desajeitado, mas preocupado em se integrar, um idealista simpatizante do movimento contra a guerra do Vietnã. ,Seu amigo, Robert, é politicamente engajado, seguro da legitimidade de suas convicções, militante entusiasta que só se acha à vontade com aqueles que, como ele, pretendem mudar o mundo.
Madeleine, que deseja tornar-se cantora, tem a mesma idade dos dois rapazes. Ela é um produto perfeito da sociedade de consumo, seguindo cegamente todas as modas e solicitações do meio em que vive. Elisabeth parece um pouco com Madeleine, de quem tem ciúmes principalmente pela atração que ela exerce sobre os rapazes. Catherine-Isabelle tem um posicionamento próximo ao de Robert, que se sente atraído por ela. Mas é Paul quem a atrai, embora este só tenha olhos para Madeleine.
Esses jovens, 'filhos de Marx e da geração Coca-Cola', confrontam-se com os problemas do mundo dos anos anos 60: a violência cotidiana, a guerra do Vietnã, a revolução sexual, o racismo, a confusão dos valores. Entre anarquia, lirismo e utopia, Godard sempre (tenta, no mínimo) da seu recado de forma que seus fãs
Um curiosidade curiosa (eu sendo Godard de novo) que se formou apenas com o tempo. Imediatamente antes de Paul conhecer Elisabeth, ele comenta como os tempos mudaram e agora é "... a era de James Bond e do Vietnã". Elisabeth é interpretada por Marlène Jobert, que deu à luz a Eva Green em 1980, futura estrela do filme de ... James Bond, Cassino Royale (2006). O mundo dá voltas não?
Enquanto filmavam a cena do cinema, os atores tiveram que reagir a uma tela em branco, como se estivessem realmente assistindo a um filme. Chantal Goya (Madeleine) perguntou a Jean-Luc Godard que filme eles iriam assistir, e ele disparou " E o vento levou". Como tal, Goya interpretou como se estivesse assistindo um filme épico e romântico. Somente depois que Goya soube que o filme no qual sua personagem estava assistindo era um filme de arte pseudo-pornográfico.
O filme foi rodado na Suécia. Ingmar Bergman , não sendo fã de Jean-Luc Godard, descobriu sobre o filme, foi vê-lo e o chamou de "um caso clássico de um Godard: entediante demais". O diretor sempre carregou um estigma do ame ou odeie. Curiosamente, Berman também.
A Versátil lançou "O Cinema de Jean-Luc Godard", digistack com 3 DVDs que reúne 6 obras-primas em inéditas versões restauradas do genial Jean-Luc Godard, um dos diretores mais revolucionários da história do cinema, além de duas horas de vídeos extras, incluindo especiais e análises críticas. Edição Limitada com 6 cards.
DISCO 1:
A Chinesa (La Chinoise, 1967, 96 min.)
Formato de tela: Fullscreen 1.33:1 (4x3)
Com Anne Wiazemsky, Jean-Pierre Léaud, Juliet Berto.
No verão, cinco estudantes ocupam um apartamento emprestado para estudar e colocar em prática as ideias do líder comunista Mao Tsé-Tung. Um dos filmes mais emblemáticos de seu tempo. Prêmio Especial do Júri em Veneza.
Salve-se Quem Puder (A Vida) (Sauve qui peut (la vie), 1980, 88 min.)
Formato de tela: Widescreen anamórfico 1.66:1 (16x9)
Com Isabelle Huppert, Jacques Dutronc, Nathalie Baye.
Uma análise brilhante das relações sexuais, na qual os três protagonistas do filme interagem de diferentes maneiras. Obra-prima que marcou "a volta" de Godard após o experimentalismo dos anos 70.
DISCO 2:
Masculino, Feminino (Masculin Féminin, 1966, 104 min.)
Formato de tela: Fullscreen 1.33:1 (4x3)
Com Jean-Pierre Léaud, Chantal Goya, Marlène Jobert.
O jovem pesquisador Paul se torna amante da cantora Madeleine, mas se encanta também por Elisabeth. Godard lança um olhar cativante sobre a juventude francesa dos anos 60. Prêmio de Melhor Ator no Festival de Berlim.
Infelizmente Para Mim (Hélas pour Moi, 1993, 83 min.)
Formato de tela: Fullscreen 1.33:1 (4x3)
Com Gérard Depardieu, Laurence Masliah, Bernard Verley.
Numa cidadezinha da Suíça, Deus encarna em Simon, dono de uma oficina mecânica, a fim de seduzir sua mulher, Rachel. Inspirado no mito de Anfitrião e Alcmena. Belíssima alegoria existencial de Godard.
DISCO 3:
Week-End à Francesa (Week-End, 1967, 104 min.)
Formato de tela: Widescreen anamórfico 1.66:1 (16x9)
Com Mireille Darc, Jean Yanne, Jean-Pierre Kalfon.
Um casal burguês faz uma viagem de fim de semana ao interior da França atrás de uma herança. No caminho, se deparam com um cenário de violência crescente. Filme surrealista, político e apocalíptico que antecipa maio de 68.
Paixão (Passion, 1982, 88 min.)
Formato de tela: Fullscreen 1.33:1 (4x3)
Com Isabelle Huppert, Hanna Schygulla, Michel Piccoli.
Enquanto seu país vive uma crise política, cineasta polonês tenta rodar na França um filme no qual imitia quadros de grandes pintores, como Goya e Rembrandt. Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes.
EXTRAS::
Especiais e trailers (38 min.); Análises críticas (80 min.).