THIAGO AMORA - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
O cinéfilo e colecionador Thiago Amora merece uma apresentação diferenciada, no mínimo, curiosa. Ao longo do tempo, entrevistei pessoas ligadas aos mais diversos ramos relacionados ao cinema, e diria que ele foi, de certa forma, um prestador de serviços. Thiago criou a Start Home Video, empresa por meio da qual ele autorava filmes que muitos desejavam ter em suas coleções, mas que nenhuma distribuidora se interessava em lançar.
Realizei a entrevista com ele e, anos depois, certo dia, Thiago me procurou dizendo que havia encerrado a empresa e não queria mais qualquer associação com ela. Pediu, inclusive, que eu retirasse as fotos dos produtos, o que fiz prontamente. No entanto, alguns meses depois, ele simplesmente desapareceu do mapa. Desde então, não tive mais acesso a nenhum dado seu, exceto a paixão em comum: o amor pelo cinema.
Vamos às 7 perguntas capitais:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
T.A.: Desde criança, eu amava cinema, especialmente entrar em uma locadora de vídeo. Anos atrás, o acesso a filmes pela internet não era como é hoje, então as referências de filmes e suas continuações só eram descobertas ao adentrar o paraíso que era uma locadora. Lembro da sensação fabulosa ao ver uma vídeo locadora, fosse uma grande, de dois andares, ou uma pequena, em um bairro mais isolado.
Eu rodava Curitiba, minha cidade natal, que tinha várias. Ao entrar em uma delas, me perdia naquele mundo, era a melhor sensação da vida. A partir disso, minha paixão por cinema só aumentava, especialmente pelo gênero de terror, meu favorito. Quando cheguei aos 15 anos, comecei a colecionar filmes de terror em VHS, os quais tenho até hoje. É uma lembrança tão boa da minha vida que guardo com muito carinho.
2) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
T.A.: Puxa, que pergunta difícil! Há vários filmes que marcaram a minha vida. Um deles, que por incrível que pareça não é de terror (risos), é Labirinto – A Magia do Tempo. Aquela dublagem maravilhosa lançada pela Mundial Filmes em VHS é incrivelmente nostálgica. Eu e meu irmão adorávamos assistir a esse filme. Acredito que ele representa um dos bons momentos da minha infância.
3) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida relacionada ao cinema que foi especialmente marcante? Afinal, cinéfilos fazem suas loucuras...
T.A.: Olha, fazem mesmo! (risos) Inclusive, já cometi algumas loucuras por causa da coleção. Às vezes, pegava um ônibus à meia-noite para chegar cedo em São Paulo e visitar as locadoras que encontrava por lá, tudo para garimpar relíquias! Passava o dia inteiro rodando a cidade e, no fim da tarde, pegava outro ônibus para voltar para casa.
Fiz isso também indo até Porto Alegre. Não tem como esquecer: foram momentos cansativos, mas que guardo com muito carinho. O mais legal é que, nessas aventuras, eu sempre tinha amigos que topavam ir junto, em especial uma grande amiga de infância, que estava presente em quase todas (risos)!
4) Imagine o cenário: você é um diretor (de qualquer país) no set de filmagem de um filme memorável. Quem seria, em qual filme, e por que essa experiência seria tão marcante para você?
T.A.: Tem tantos filmes que considero verdadeiras obras-primas, que nem sei como responder à sua pergunta (risos). Mas, citando uma obra inesquecível e mais recente, acho que o Sam Raimi realizou algo incrível em Arraste-me para o Inferno. É um trash movie atual, superdivertido, e eu adoraria ter visto esse filme com os olhos dele!
5) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
T.A.: Coleciono filmes desde os meus 15 anos, mais ou menos! Comecei com VHS. uma mídia pela qual sou apaixonado até hoje. Acredito que o VHS marcou gerações, e talvez por isso esse meu apreço tão grande por ele. Quando o DVD começou a se popularizar, no início dos anos 2000, uma grande leva de filmes de horror passou a ser lançada, o que gerou muita expectativa entre nós, colecionadores do cinema de terror. Achávamos que muita coisa chegaria por aqui também... Mas, infelizmente, não foi bem assim.
E sim, quem realmente curte cinema tem suas relíquias guardadas em casa! Tenho um quartinho muito especial onde montei algo como uma “locadora de vídeo”: prateleiras no corredor e nas paredes sustentam minha coleção de VHS de filmes de horror, DVDs e Blu-rays, além de action figures de personagens marcantes, como o Palhaço Assassino do Espaço Sideral e alguns da turma da saga O Mestre dos Brinquedos, da Full Moon.
Também guardo pôsteres de cinema da época, como os superclássicos Dia dos Namorados Macabro e Psicose 2. Ambos são enormes, e ainda preciso mandá-los para enquadrar!
M.V.: Dos objetos que possui, há algum que precisou fazer alguma loucura para possuir?
T.A.: Já passei por algumas histórias (risos). Na época em que eu colecionava fitas, ainda existiam algumas locadoras de vídeo por aí... Eu costumava ir para Porto Alegre e São Paulo atrás de filmes, às vezes fazia apenas bate-volta. Era um cansaço sem fim!
Teve uma vez em que eu tinha uma luva do Freddy Krueger, do primeiro filme, linda! Ganhei de presente, mas estava louco pelo DVD de O Ataque dos Vermes Malditos, lançado aqui em 2001. É um item bem difícil de encontrar, e hoje tem gente vendendo por 300 reais ou mais... Acabei trocando a luva pelo DVD do filme (risos)!
6) A criação do seu selo "Start Home Vídeo", que faz um trabalho esplêndido, veio de uma necessidade de suprir uma lacuna? E em que momento essa ideia tomou forma?
T.A.: Obrigado pelo elogio! Fico muito contente que você aprecie meu trabalho. Minha maior motivação surgiu ao ver vários filmes sendo lançados lá fora, principalmente de terror, em edições lindas, enquanto aqui no Brasil muitos deles jamais chegaram. Mesmo na época de ouro dos DVDs, diversos títulos nem sequer foram lançados nesse formato.
M.V.: Verdade, até filmes mais óbvios como Perdidos na noite (1969) e 12 Anos de Escravidão (2013), vencedores do Oscar, foram esquecidos.
T.A.: Filmes importantes recentes, como o que você citou, são lançados apenas nos cinemas, enquanto a mídia física está praticamente em extinção. Acho isso uma total falta de respeito, pois existem muitos colecionadores no Brasil, mas as produtoras estão, no momento, focadas apenas no streaming. Pelo meu trabalho, percebo claramente o quanto ainda há pessoas interessadas na mídia física.
Infelizmente, há quem pense que meu trabalho prejudica as produtoras e o rotulam de falsificação, o que é um equívoco. Falsificação, para mim, seria duplicar diretamente um produto lançado oficialmente em mídia física no Brasil. E meu trabalho está totalmente fora desse contexto.
Tanto que, a partir do momento em que um filme tem lançamento oficial em mídia física, eu retiro a minha versão do catálogo de vendas. Ainda assim, continuo motivado pela paixão e pelo amor que tenho por todo o processo, desde a criação da capa até a finalização do produto.
7) Para finalizar, deixe uma frase ou pensamento envolvendo o cinema que representa você.
T.A.: Bem-vindo ao horário nobre, Perua! Freddy Krueger em A hora do pesadelo 3
M.V.: Obrigado amigo. Sucesso.