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AFINAL, PORQUE O BLURAY NÃO PEGOU NO BRASIL?

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Afinal, porque o bluray não pegou no Brasil?

Escrevi este post por volta de 2016, mas somente em 2021 postei. Não foi proposital, mas este tempo me deu exemplos interessantes para tentar entender porque o Bluray não pegou no Brasil. 

Neste tempo, o 4K começou a engatinhar no nosso mercado, primeiro com as TVs, que já podem ser encontradas em lojas populares. Mas o bluray 4k ainda é muito caro e o filme, que costuma ser 5 vezes mais caro que a mídia em BD, fora o fato de que, a sensação geral, é que apenas um ou outro filme em 4k supera nitidamente o BD, mas de maneira geral, a melhora da imagem é sutil. Observada mais por pessoas que são mais antenadas nas características da imagem.


Mas tentar responder por que o bluray não pegou é uma pergunta difícil de ser respondida afinal, a mídia é muito melhor. Por causa da diferença gigantesca do espaço da mídia  (DVD, 4.7 Giga enquanto o BD, 25 ou 50 GIGA) a imagem é incomparável. E o preço hoje é pouca coisa diferente do DVD. E mais notável ainda, que as promoções estão “bombando” na internet, chegando a oferecer blurays a 4,90. Eu mesmo comprei um a 0,99. Inacreditável, não?

Conversei com alguns cinéfilos (as), colecionadores (as) e especialistas no assunto afim de tentar chegar em um denominador comum sobre o tema. Eles vão tentar desvendar a pergunta: Porque o bluray não pegou?

Perguntei para Carlos Quintão (Colecionador e cinéfilo) e ele fez a seguinte consideração: Pergunta bem complexa essa Marcus. Acho que é uma combinação de fatores. Um deles é que o avanço do VHS para o DVD foi não apenas de qualidade, mas também de praticidade. Isto influenciou bastante na adesão ao novo formato. Já o BD é fisicamente idêntico ao DVD, portanto não representou um avanço nesse aspecto. Com relação à qualidade, realmente a do BD é muito maior do que a do DVD, mas para a maioria do público, que tá acostumado com filmes baixados da internet ou DVD pirata, isto não faz diferença. 


O que não entendo é aquele que se diz cinéfilo não dar o devido valor à qualidade superior do BD. Coloque aí também o custo de equipamentos, já que para apreciar completamente o BD não basta ter um player, mas também uma TV ou projetor Full HD e um sistema de áudio mais moderno. E este sistema de vídeo e áudio deveria ser devidamente calibrado para extrair ao máximo do formato. Ou seja, um custo considerável para o consumidor médio, que só quer assistir ao filme pela história. Sempre considerei o BD um formato de nicho. Nunca tive a ilusão de substituir o DVD.

Verdade Carlos. Eu não substituí a coleção, mas comprei BD de quase tudo que gosto, mas mantenho os DVDs e até os VHS. Um amigo meu (William Salgado  - colecionador e cinéfilo), que me cedeu a coleção de VHS dele por falta de logística de manter tudo, acha que são três fatores que explicam a pergunta do título: 

Primeiro, preço, bem mais caro que o DVD. Segundo a aceitação de que as mídias evoluem e que em algum momento virá algo melhor que o blu ray, como o 4k. E em terceiro a disponibilidade de ótimas cópias gratuitas na internet, com resolução de 1080.


Uma opinião bastante importante para ilustrar o post é de alguém que participa diretamente do processo de trazer filmes em BD para o Brasil. Neste caso, o curador da Versátil, Fernando Brito, é a pessoa indicada. Ele pensa que bluray não pegou porque o salto tecnológico foi pequeno em relação ao DVD, que em relação ao VHS foi gigantesco (corroborando com a opinião do Quintão). 

O custo de replicação do Bluray é altíssimo, todas as empresas brasileiras cobram no mínimo quase 3 vezes para replicar um Bluray e a autoração também é 3 vezes mais cara, só que o preço está depreciado e muitos colecionadores nem compraram aparelhos de Bluray. No caso do filme clássico é mais difícil ainda vender bluray.


Conversei também com Carlos Primati (Jornalista, crítico, historiador e pesquisador dedicado a tudo que se refere ao cinema de horror mundial). Ele também entende que é caro de adquirir, além das pessoas já terem centenas de DVDs em casa, e em muitos casos, sem terem visto todos os filmes, além de ser desanimador ter que renovar a coleção inteira. No nosso bate papo, ele completou dizendo que estuda profundamente o cinema do mestre Alfred Hitchcock, tem mais de 200 DVDs dos filmes dele, quase todos importados dos mais diferentes países, e não animou a repor a coleção.

Eu, particularmente, coleciono filmes desde o VHS. E um fato me marcou. Um dos primeiros BDs que adquiri foi do filme "Sete homens e um destino". Eu já havia visto o filme inúmeras vezes na TV, em VHS e DVD. Mas quando assisti a primeira vez em Bluray, foi um choque. Lembro até hoje como foi a sensação de ver imagens que eu não lembrava quando via o DVD, tamanha a nitidez. Acho que trocar a coleção toda, não compensa para ninguém. Mas para seus filmes do coração, penso que sempre que sai uma qualidade melhor, vale o investimento.


O jornalista mais nerd do Brasil, Roberto Sadovski, me acompanha nesta ideia. Ele disse que trocou muitos dos filmes de sua coleção. Ele tinha uns 5 mil DVDs e já tinha adquirido mais de mil filmes em BD. Ele acha que, ainda que muita gente passou a usar mídia digital, o blu ray continua forte. Pelo menos lá fora... 

Já crítico de cinema, também jornalista,  e curador de festivais de cinema, Marcelo Miranda, me disse que, na sua opinião,  o BD não pegou por conta do preço. Ele entrou no mercado brasileiro como um "luxo" de classe média, com preços altíssimos, porém o consumidor em geral nunca se importou tanto com a questão da qualidade de imagem e som.


Acho que a troca do VHS pelo DVD teve impacto maior porque era uma mudança "física", de mídia mesmo (trocou-se uma fita magnética pesada e complexa por um disquinho compacto e simpático). Quando veio o BD, a "troca" não existia, de fato: pra massa de consumidores, era um disco  barato (o DVD) por um disco  caro (BD).

Com o fim das locadoras, resta, então, o consumo direto. E com exceção de colecionadores, ter filmes em casa não é uma prática no Brasil, ainda mais quando veio a ascensão da web banda larga (e os torrents) e sistemas streaming (como Netflix, Amazon). O BD chegou em hora inapropriada nesse mercado e ficou como um fetiche de poucos.


A produtora audiovisual e professora Milena Maganin, também deixou sua opinião para engrandecer o post. E que resume bem, tudo que foi dito acima. Para ela, a mudança, para os menos apegados à qualidade full HD, foi sutil, se comparar a diferença de qualidade gritante entre o  VHS e o DVD.  Como cinéfila e exigente com a qualidade, ela reconhece a diferença de qualidade do DVD para o BD, mas a "massa" não iria trocar um DVD que "acabou" de comprar por um Bluray. Principalmente por conta da diferença de preço, que também é um fator em sua opinião. Para ela, o "povão" assiste TV e nem liga se está ou não em HD. Baixam filmes até em qualidade CAM (daquelas horríveis gravadas no cinema).

As pessoas se contentam com pouco e para a maioria, o DVD está top ainda. Mesmo sendo mais caro por ser melhor, este preço alto  contribuiu pra não ser um sucesso como foi o DVD.

Outro relato importante é da Crítica de Cinema, Jornalista, Curadora de festivais de cinema Clarissa Kuschnir. Ela disse que o BD na época em que trabalhou em distribuidora, era uma novidade que parecia que iria substituir o DVD. Mas aí com o tempo eles viram que o custo era muito maior, gerando um preço final alto e as pessoas não compravam tanto quanto foi na transição do VHS para o DVD.  Sem contar que o aparelho era muito mais caro, além dos custos de autoração e repicagem dos BDs. Mesmo assim a Focus e a Flashstar, lançaram um número razoável de filmes em BD na época.  Mas realmente,  aqui no Brasil não emplacou. por causa do custo alto e a consequente pouca procura. 



Conclusão: só um milagre salva o Bluray no Brasil e este milagre veio por um motivo triste: a Pandemia, que inflou as compras on-line, gerando fluxo de caixa para as empresas investirem em pré-vendas que garantiam parte do pagamento dos custos de um filme no formato. 2020 foi incrível, atípico e dificilmente terá uma sobrevida em 2021, caso a Pandemia se encerre.

E as pessoas se endividaram com muitas e muitas compras parcelas, gerando um efeito nos filmes dos meses que se seguiram. Eu mesmo, comprava o que aparecia no início, mas depois, passei a escolher mais. O triste é saber que a Pandemia apenas postergou o fim dos Bds no nosso país, que acontecerá já nos próximos anos, se um novo milagre não acontecer.

Aguardamos cenas dos próximos e decisivos capítulos... 
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