Laurent Tissier é um diretor francês de cinema independente que realizou (escreveu e produziu também) uma trilogia sobre o assassino Edmund Kemper em 2001, e depois de um hiato de 17 anos, atuou no filme "Freak in the Basement", de Alex Wesley e evaporou.
Não há um traço sobre ele na internet a não ser a filmografia no IMDB. Talvez ele apareça daqui a uns 17 anos, para me dizer onde nasceu, aí, sim, atualizo sua bio aqui...
E hoje, com vocês, Laurent Tissier
Boa sessão:

1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é um apaixonado por cinema? Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.
L.T.: Minha relação com a sétima arte começou bem cedo. Ainda criança, tive a sorte de poder ir ao cinema regularmente e, pouco depois, de ter em casa um videocassete assim que ele foi lançado. Isso abriu um mundo inteiro para mim, porque de repente eu podia rever filmes e descobrir títulos que talvez nunca chegassem à minha cidade. Naturalmente, mergulhei de cabeça no gênero que mais me fascinava: o terror.
Assistia a tudo o que encontrava. Um dos momentos que nunca esqueci foi ver Frankenstein, com Boris Karloff, na televisão, quando eu tinha apenas seis anos. Aquela experiência foi assustadora e encantadora ao mesmo tempo, e me marcou profundamente.
M.V.: Para mim, Frankenstein é o melhor filme da era Universal Monsters. Me impactou mais que Drácula ou A Noiva de Frankenstein, que são os normalmente escolhidos.

2) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante?
L.T.: O meu filme favorito é, sem a menor sombra de dúvidas, Laranja Mecânica, dirigido pelo mestre Stanley Kubrick. Desde a primeira vez que o vi, fiquei impressionado com a força das imagens, a forma como ele aborda temas tão perturbadores e atuais, e o equilíbrio entre estética e reflexão. Kubrick tinha esse dom de provocar, de incomodar e, ao mesmo tempo, de hipnotizar o espectador com uma narrativa visual impecável.

3) Sendo um cineasta independente, qual conselho deixaria para a geração que está
começando na área? Quais são os erros mais comuns que um diretor iniciante
deveria evitar?
L.P.: Não dê ouvidos a quem tenta convencê-lo de que fazer cinema é perda de tempo. Esse é um dos erros mais comuns de quem começa: deixar-se abater por vozes externas que desmotivam. O que realmente faz diferença é a paixão pelo que você faz e a paciência para suportar os altos e baixos. No cinema independente, as coisas raramente acontecem rápido, mas se você se mantiver fiel ao seu trabalho, em algum momento uma boa surpresa vai chegar e ela costuma valer todo o esforço.
Outro ponto importante é evitar cair na armadilha de uma co-realização. Pode parecer atraente dividir responsabilidades, mas muitas vezes isso leva a conflitos de visão e a um resultado sem identidade clara. É fundamental assumir a direção sozinho, mas, claro, cercando-se de pessoas sérias e comprometidas, que estejam dispostas a dar o melhor de si pelo projeto.
E, por fim, um aspecto prático que muitos iniciantes subestimam: a regularidade. Organize-se para filmar as cenas de forma contínua, mantendo um ritmo consistente. Isso não apenas ajuda a manter a energia do elenco e da equipe, como também garante uma coerência maior ao filme. Fazer cinema independente é um exercício de persistência e clareza de visão e quem consegue equilibrar esses elementos, cedo ou tarde, encontra seu espaço.

4) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Se lembra de alguma história divertida que tenha acontecido durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar?
L.T: .: Evidentemente, há muitas. Uma das últimas foi quando
um amigo, o co-produtor de Edmund Kemper 3, viria com vísceras que estavam no freezer...
Mas ele errou e levou uma couve-flor congelada!!! (risos)
M.V.: Deve ter sido hilário...
L.T: Concordamos em adiarmos a cena para alguns dias depois de tanto que rimos dá situação.

5) Imagine o cenário: você é um diretor (de qualquer país) no set de filmagem de um filme memorável. Quem seria, em qual filme, e por que essa experiência seria tão marcante para você?
L.T.: Sem dúvida, eu escolheria ser Alfred Hitchcock durante as filmagens de sua obra-prima Festim Diabólico (Rope). Esse filme sempre me fascinou porque dá a impressão de ter sido rodado em um único plano-sequência, como se estivéssemos acompanhando os acontecimentos em tempo real. Para mim, foi um dos grandes marcos na história do uso do plano-sequência no cinema, um recurso que exige não apenas enorme precisão técnica, mas também uma confiança absoluta entre diretor, equipe e elenco.
Imaginar estar presente naquele set é como testemunhar um verdadeiro laboratório de cinema: cada movimento de câmera milimetricamente pensado, cada troca de rolo escondida de forma criativa, cada ator mantendo a energia e a tensão dramática sem espaço para erros. O cenário fechado e teatral também contribui para transformar o espaço em um personagem vivo, algo que Hitchcock dominava com maestria.
Ver Hitchcock conduzindo isso tudo, um verdadeiro monstro sagrado do cinema, seria uma experiência transformadora. Ele tinha uma visão tão clara e uma capacidade de manipular o suspense e a atenção do público como poucos na história da sétima arte. Estar ao lado dele nesse processo não seria apenas inspirador, mas também uma aula definitiva de como a técnica pode se tornar arte.

6) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço,
investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado.
Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
L.T.: Tenho orgulho de tudo o que realizei até hoje. Cada
projeto, independentemente de sua dimensão ou alcance, foi fruto de escolhas
conscientes e de um processo criativo que me moldou como cineasta.
M.V.: E quanto a arrependimentos? Ou, caso não tenha,
faria algo diferente?
L.T.: Não carrego arrependimentos, porque acredito que
cada etapa da minha trajetória teve o seu propósito e contribuiu para o meu
crescimento.
7) Para finalizar, deixe uma frase ou pensamento envolvendo o cinema que representa você.
L.P.: "Eu nunca bebo... vinho!" Drácula de Bram Stoker.
M.V.: Obrigado amigo.