google-site-verification=21d6hN1qv4Gg7Q1Cw4ScYzSz7jRaXi6w1uq24bgnPQc

HELLRAISER - SAGA REVIEW

 

🔷Hellraiser: Renascido do Inferno (1987)

Correntes, torturas, gore, cenobitas, sexo e prazer. Não há uma forma de definir melhor o espetáculo de sangue que vemos na tela. Pinhead nasceu clássico e é um dos grandes personagens que o cinema de horror produziu em sua história. 

Na trama, em busca de novas experiências de prazer, Frank Cotton manipula um cubo misterioso que o leva à dimensão dos cenobitas: criaturas deformadas, repletas de cicatrizes, que impingem às suas vítimas sessões de tortura e mutilação. Anos depois, seu irmão Larry decide voltar com a esposa, Julia, para a então abandonada casa da família. Todavia, o insólito reaparecimento de Frank transforma tudo num pesadelo crescente, claro, com a presença horripilante dos cenobitas.

O filme deveria se chamar "The Hellbound Heart", em homenagem à novela (de Clive Barker) em que foi baseado. O estúdio decidiu que o título parecia muito com um romance e pediu a Clive Barker para mudá-lo. Barker ofereceu "Sadomasoquistas do Além do Túmulo", que foi rejeitado pelo conteúdo abertamente sexual. 

Ele acabou abrindo espaço para que a equipe de produção apresentasse suas próprias sugestões, levando um dos integrantes da equipe, de 60 anos, a dar uma ideia infame: "O que uma mulher fará por uma boa foda". Como sabemos, ficou Hellraiser, e Hellbound se tornou o subtítulo do segundo filme. 

O termo cenobite é uma palavra que significa "membro de uma ordem religiosa comunitária"; O Hellbound Heart especifica que eles são membros da Ordem do Gash. O texto também se refere a eles como Hierofantes. Clive Barker inspirou-se para os designs dos cenobitas na moda punk, no catolicismo e nas visitas que fez aos clubes S&M de Nova York e Amsterdã. 

Para Pinhead especificamente, Barker se inspirou em esculturas fetichistas africanas. Inicialmente, Barker pretendia que Pinhead fizesse um piercing no umbigo, sugerindo que o personagem tinha piercings genitais.

Doug Bradley foi originalmente oferecido escolher entre o papel de um dos caras que está movendo o colchão e o Cenobita Líder. Ele quase recusou o papel de Cenobita, pois originalmente pensava que era importante que, como um ator novato no cinema, o público precisaria ver seu rosto. 

E curiosamente, aconteceu uma situação constrangedora na festa de encerramento da produção envolvendo justamente este problema. Durante a confraternização, boa parte da equipe, que só conhecia Doug maquiado, não o reconheceu.

O personagem de Doug Bradley foi nomeado "Priest" nos primeiros rascunhos do roteiro e acabou se tornando simplesmente "Cenobita líder" no roteiro durante as  filmagens. "Pinhead" originou-se como um apelido para o personagem dado pela própria equipe, só que ele pegou e começou a ser usado nas sequências. 

O diretor Clive Barker não gostou do nome, achando-o indigno, e em sua série de quadrinhos Hellraiser produzida para BOOM! em 2011, os personagens se referiram a Pinhead como "Priest". Da mesma forma, a Cenobita Feminina foi designada "Garganta Profunda" no set, embora a natureza abertamente sexual do apelido tenha feito com que ela simplesmente fosse chamada de "Cenobita Feminina" novamente na sequência.

O conceito de um cubo sendo usado como um portal para o inferno tem sua base na lenda urbana de The Devil's Toy Box, que diz respeito a um cubo de seis lados construído com espelhos voltados para dentro. Segundo a lenda, os indivíduos que entrarem na estrutura e depois a fecharem passarão por um fenômeno surreal e perturbador que, ao mesmo tempo, concederá a eles uma experiência reveladora e deformará permanentemente sua mente.

Barker conseguiu cravar seu nome no imaginário dos fãs de horror criando não só um filme, mas uma mitologia. E ainda que os filmes tenham ido para um caminho ruim, a mitologia vive e sempre haverá espaço para o retorno de algum cenobita disposto a levar personagens para o inferno.


🔷 Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988)

Sequências diretas favorecem muito a empatia por elas. Este segundo filme começa com uma recapitulação dos eventos anteriores. Na história, após enfrentar os monstros sadomasoquistas do inferno que mataram sua família, a jovem Kristy (Ashley Laurence) está em um hospital psiquiátrico, onde não acreditam em sua história.

Mas mal sabe ela que o diretor da clínica, Dr. Channard (Kenneth Cranham) é um profundo estudioso do apavorante mundo que Kristy conheceu. Disposto a conhecer tudo por trás dessa história, ele traz de volta a terrível madrasta de Kristy, Julia (Clare Higgins), que passa a matar inocentes. Agora, a jovem se vê novamente correndo risco de passar a eternidade no pior de seus pesadelos.

Continuar a história com o personagem principal em um hospital psiquiátrico virou lugar comum nestas produções, mas é um fato aceitável, considerando os traumas. Uma subtrama detalhando as origens de Pinhead (Doug Bradley) foi roteirizada, mas excluída na pré-produção devido a cortes no orçamento de última hora. Mesmo assim, eles incluíram um prólogo mostrando o capitão Spencer abrindo a caixa e se transformando em Pinhead.

Clive Barker desenvolveu elaboradas histórias de fundo para os Cenobitas no primeiro filme, embora suas origens nunca tenham sido exploradas. Nesse filme, ele queria ter certeza de que, no mínimo, o público entendia que os Cenobitas já foram humanos e que seus próprios vícios os levaram a se tornarem demônios. Clive Barker voltou como produtor executivo para esta sequência.

O diretor Tony Randel afirma que o tom sombrio do filme refletia sua própria mentalidade sobre o mundo da época. Curiosamente, ainda que o filme seja a continuação mais bem lembrada, o realizador não fez mais nada de relevante na direção.

O que é...

O interesse do Dr. Channard pelo ocultismo fica claro nas cenas ambientadas em um cômodo peculiar de sua casa, apelidado pela equipe de produção de "sala da obsessão". O ambiente é repleto de elementos perturbadores: paredes cobertas por desenhos e pinturas de símbolos ocultistas, um quadro negro tomado por inscrições astrológicas e esotéricas, além de frascos, contendo órgãos preservados.

Espalhados pelo local, há também esboços de rostos em agonia, representações de pirâmides e símbolos egípcios, sem contar três réplicas da Configuração do Lamento guardadas em redomas de vidro. A atmosfera macabra é reforçada por um pôster anatômico de um corpo humano sem pele, um altar enigmático e até uma réplica em tamanho reduzido de um cadáver sem pele, deitado de forma solene sob outra redoma.

Entre os pertences de Channard está ainda um álbum de recortes intrigante, recheado de desenhos da Configuração do Lamento feitos à mão e matérias de jornal com manchetes sugestivas, como "Filhos do Vórtice", "Puberdade e Fenômenos Psíquicos", "O Labirinto da Mente" e "A Morte é a Quarta Dimensão?". Dentro desse álbum, uma peça chama atenção: uma fotografia antiga do Capitão Elliot Spencer, o homem que um dia foi Pinhead.

O que era para ser...

Este segundo filme estava programado para ter um orçamento muito maior, mas diminuiu consideravelmente depois a New World Pictures (fundada por Roger Corman e Gene Corman) comprou o estúdio independente Highgate Pictures em 1987 (ano em que Hellbound foi filmado).

Julia (Clare Higgins) deveria originalmente se levantar do colchão como a "rainha do inferno" no final do filme, a teoria é que ela seria a personagem contínua da série. Assim que Hellraiser: Renascido do Inferno (1987) estreou, no entanto, Pinhead provou ser o personagem mais popular entre o público, tanto que os pôsteres sempre dão ênfase ao personagem, mesmo sendo Julia uma grande vilã capaz de sacrificar inúmeras vítimas só para satisfazer seus desejos sexuais com o irmão.

Oliver Smith, que interpretou Frank sem pele no original devido à sua magreza (permitindo que a maquiagem corporal fosse realista), reprisou seu papel junto com dois papéis extras como Browning, o paciente mental com parasitose delirante e como a figura sem pele que Kirsty vê no hospital e escreve com sangue "Estou no Inferno, Me Ajude".

Ironias da vida...

Em uma entrevista, a atriz Ashley Laurence relembrou com carinho sua participação no filme, descrevendo a experiência como o melhor período de sua vida, principalmente pelas memórias de ter trabalhado no exterior. Jovem e inexperiente na época, Ashley percebeu certa tensão entre seus colegas Clare Higgins e William Hope, mas não entendia o motivo do desconforto entre eles.

Só anos depois, em 1995, durante um encontro casual com Higgins no aeroporto de Heathrow, a verdade veio à tona: Clare revelou que, embora Hope talvez não se lembrasse, ambos haviam sido colegas de classe na mesma faculdade no fim dos anos 1960. Clare tinha uma forte afeição por ele desde então e, para proteger seus sentimentos, se comportava de forma fria e distante.

Durante essa conversa, Higgins confidenciou a Ashley que lembrava de muitos detalhes daquela época, como o fato de que William alimentava gatos de rua e das discussões bobas que os dois tinham típicas de pessoas que, no fundo, sentem algo mais forte uma pela outra. Entre provocações, como dizer que Clare cheirava a meias sujas ou reclamar da pontaria de William, a tensão emocional sempre esteve presente.

Somente em 2010, anos depois desse encontro revelador, Ashley contou toda a história a William Hope. A revelação o abalou profundamente, pois ele admitiu que os sentimentos eram recíprocos, ele também era apaixonado por Clare Higgins naquela época, embora nunca tivesse demonstrado.

De certa forma, Hellraiser é isso: frustrações, desencontros, dor e sofrimento.


🔷 Hellraiser III: Inferno na Terra (1992)

A década de 90 marcou o ponto baixo dos ícones do cinema de horror que surgiram no final dos anos 70 e anos 80. E Pinhead começa aqui seu caminho tortuoso e questionável. Na trama, ele está aprisionado no cubo que, acidentalmente, vai parar nas mãos de J.P. Monroe (Kevin Bernhardt), um playboy dono de uma boate.

Após um acordo, o demônio é liberto e começa a matar pessoas inocentes. Ele também planeja destruir o cubo, para que nunca mais precise voltar para o inferno. Mas em seu caminho está Joey Summerskill (Terri Farrell), uma jovem repórter que está investigando os terríveis assassinatos.

Originalmente, o roteirista Peter Atkins ia dirigir o filme, mas quando a Miramax comprou a série, eles sentiram que ele não tinha experiência suficiente. Tony Randel foi escalado então para dirigir, mas os produtores o removeram após se preocuparem com a falta de entusiasmo de sua visão para o filme. Peter Jackson também foi convidado para dirigir, mas recusou porque ele não conseguia se ver dirigindo um filme de terror tão sério.

Ele gostou do produto final e disse que, se ele tivesse feito, teria piadinhas por todo filme, o que iria contra o propósito da trama. O filme acabou caindo nas mãos de Anthony Hickox, que havia feito "A Passagem", sua continuação chamada "Perdidos no Tempo" e "Vampiros em Fuga". Curiosamente, os filmes de Hickox tinham muito humor. O próprio Barker acreditava que ele não se encaixava bem na série Hellraiser.

Tony Randel, que dirigiu Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988), co-escreveu a história com Peter Atkins, que completou o primeiro rascunho do roteiro em 1991. Muitos elementos importantes permaneceram inalterados desde o roteiro de filmagem. Este foi o primeiro filme Hellraiser a se referir ao personagem de Doug Bradley como Pinhead dentro do filme.

A Trans Atlantic Entertainment deu a Anthony Hickox seis semanas para rodar o filme. Hickox já havia estabelecido um cronograma de filmagens muito rápido que consumia longas horas, o que significava que o elenco tinha que se ajustar ao seu estilo pouco ortodoxo e às demandas dos estúdios.

Doug Bradley disse que trabalhou 17 horas seguidas em um dia, e o grande número de cenas filmadas diariamente significava que eles tinham pouco tempo para aperfeiçoá-las. A preferência de Hickox pela edição na câmera acelerou a produção, mas limitou a visão dos atores do filme completo, uma vez que limitou a fase de edição.

Bradley relembrou com carinho sua experiência de filmar sob a direção de Anthony Hickox em uma entrevista, embora tenha admitido ter enfrentado alguns desconfortos durante as gravações. Logo no início, Bradley precisou interpretar Pinhead preso dentro da estrutura conhecida como Pilar das Almas, o que limitava sua atuação apenas às expressões faciais e à voz.

Ele também comentou que a maquiagem utilizada em Hellraiser III foi a que menos lhe agradou em toda a franquia. Para agilizar o processo de aplicação e remoção, o design da maquiagem foi modificado, mas essa mudança trouxe um efeito colateral: o figurino se tornou ainda mais desconfortável de usar.

Apesar disso, Bradley conseguiu uma solução prática para um dos maiores incômodos do personagem: encontrou um oftalmologista que adaptou as icônicas lentes de contato pretas para sua prescrição visual, permitindo que ele permanecesse caracterizado como Pinhead por períodos muito mais longos sem sofrimento extra.

Histórias que a vida conta...

Doug, descendente de veteranos da Primeira Guerra Mundial, ficou profundamente comovido com as cenas dos soldados lutando nas trincheiras. Mais tarde, ele comentaria que, ao testemunhar os figurantes vestidos como soldados britânicos e alemães, amontoados ao redor de fogueiras para se aquecerem na luz do amanhecer, aquilo deixou de ser um filme para ele, simplesmente parecia tão real.

Este foi o primeiro filme lançado pela Dimension Films, então selo da Miramax Films usado para o lançamento de filmes de gênero. E foi um dos três filmes lançados pela Dimension enquanto a Miramax era uma empresa independente, um mandato que terminou menos de um ano após o lançamento do filme, quando a Disney comprou a Miramax.

E quanto à história...

Mais uma vez, a trama gira em torno da ressurreição de alguém através do sacrifício alheio. Porém, até este terceiro filme, trata-se de pessoas diferentes (no primeiro, Frank; no segundo, Julia; e neste terceiro, Pinhead). Uma crítica comum aos filmes antológicos é que, com o passar das produções, os produtores tendem a contar histórias de origem e isto tira o mistério do personagem. 


🔷 Hellraiser IV: Herança Maldita (1996)

O Artista.

Como produtor executivo, Clive Barker desejava trazer uma nova abordagem para a franquia após duas continuações do filme original de 1987. A ideia inicial girava em torno de uma estrutura que pudesse mudar de forma para capturar Pinhead, conceito inspirado na cena final de Hellraiser III: Inferno na Terra (1992), onde um edifício refletia o design da Configuração do Lamento.

Barker propôs desenvolver um filme dividido em três partes, cada uma ambientada em um período histórico diferente. A partir disso, Peter Atkins, que já havia co-escrito Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988) e Hellraiser III, ampliou a trama, incorporando o enredo de L'Merchant, um retorno às ideias da novela original de Barker. Animados com o conceito, Atkins e Barker apresentaram a proposta para a Miramax, que aprovou o projeto sem sequer exigir um rascunho inicial.

O Desastre

Na trama do filme, que se passa em 2127, na Base Espacial Minos, o cientista Dr. Paul Merchant (Bruce Ramsay) sente-se culpado, já que seu antepassado Phillip foi o responsável pela abertura das portas do inferno. Merchant sequestra uma nave projetada por ele mesmo e é surpreendido pela equipe de segurança no momento em que invoca Pinhead (Doug Bradley).

O cientista é preso e, ao ser interrogado, conta a história de sua família e sua herança maldita, revelando ser descendente direto do homem que inventou a Configuração do Lamento, capaz de abrir os portões do inferno. Ele tenta convencer a líder do tal grupo sobre a urgência de terminar o que ele havia começado, tentando a todo custo deter, antes que Pinhead e suas legiões dominem a humanidade.

Não há como ver os cenários e não se lembrar da série Emmanuelle no Espaço. Não há como olhar para o robô do início do filme e não associá-lo diretamente ao O Exterminador do Futuro e, num segundo momento, ao Mark 13 de Hardware, o destruidor do futuro. Não há como ver o nome Alan Smithee no pôster e entender que se trata de um bom filme. Aqui, todo possível clima de horror se esvai, deixando para o público apenas um filme para assistir, não odiar, mas também para não ser lembrado.

Novas cenas foram filmadas em abril e maio de 1995. Doug Bradley disse que consistiam em material totalmente novo, e não eram refilmagens. A origem e as relações de Angelique com Pinhead e a linha L'Merchant foram alteradas. Muitas cenas foram removidas durante a edição, especialmente do enredo de L'Merchant. Angelique e Pinhead originalmente tinham uma relação mais violenta e adversária.

Angelique representou uma versão mais antiga e caótica do Inferno que favorece a tentação prolongada, e Pinhead representou uma ordem ascética baseada em resultados que assume o controle. A versão de cinema substitui parte de sua hostilidade por tensão sexual. O corte original tinha 111 minutos de duração, mas o corte final tinha 82 minutos. Quando Kevin Yagher viu o filme finalizado, sentiu que se distanciava muito de sua visão original e pediu para seu nome ser removido dos créditos, usando o pseudônimo de Alan Smithee.

A versão de Yagher continha muito mais imagens gráficas, enredo e explicava tudo o que acontecia no filme. Os produtores discordaram e exigiram que Pinhead aparecesse antes, apesar de todas as versões do roteiro até então o apresentarem por volta dos 40 minutos. Quando Yagher não conseguiu satisfazer seus desejos, renegou a versão e nunca terminou de filmar algumas cenas finais.

Joe Chappelle foi contratado para finalizar o filme, filmando novas cenas a partir de reescritas, incluindo o dispositivo de enquadramento narrativo. Algumas cenas do roteiro original, portanto, nunca foram filmadas.

Chappelle foi a primeira escolha do estúdio para dirigir o filme e, na verdade, concordou em dirigir Halloween 6: A Última Vingança (1995), sob a condição de que lhe fosse permitido dirigir este filme (no qual ele estava mais interessado) em seguida, mas acabou recusando a oferta por se sentir esgotado após a produção problemática daquele filme.

Devido ao fracasso crítico e financeiro deste novo capítulo, este seria o último filme de "Hellraiser" a ter um amplo lançamento nos cinemas, embora algumas das últimas sequências tenham sido exibidas em festivais de cinema e em várias outras exibições limitadas antes de irem direto para vídeo. Aliás, a história se passa em 1796, 1996 e 2127.

Doug Bradley, que havia interpretado Pinhead em todos os filmes anteriores, foi o primeiro ator contratado. Bradley concordou que o filme deveria focar mais nos outros personagens e em vários atores menos conhecidos ingressando em papéis principais, incluindo Bruce Ramsay e Valentina Vargas.

A Walt Disney Pictures foi criticada pela mídia, quando comprou a então polêmica e descolada Miramax Films. O clamor se deve ao fato de que a Disney, um estúdio de cinema familiar, estaria diretamente envolvida no marketing e no lançamento de filmes de terror, apesar do fato de a Miramax ser apenas uma empresa subsidiária e os filmes não ostentarem o logotipo da Disney. A Lionsgate acabaria comprando a Miramax da Disney nos anos 2000.

Gratidão...

Adam Scott (de Ruptura) sempre demonstrou gratidão por ter sido escalado, considerando o filme uma oportunidade significativa em sua carreira, a qual ele encarou com muita seriedade. Ele lembra que, no primeiro dia de filmagem, foi conduzido até sua cadeira, que, para sua surpresa, estava etiquetada incorretamente com o nome "Adam Craig". Segundo Scott, essa foi uma típica recepção à realidade de Hollywood.

Mesmo enfrentando os desafios de uma produção conturbada e o posterior fracasso nas bilheteiras, Scott não se deixou abalar, para ele, o importante era estar trabalhando. Anos depois, em busca de novas oportunidades, chegou até a fazer um teste para a sequência do filme.

Ele torcia para que os responsáveis pela seleção de elenco não o reconhecessem do longa anterior. Durante a audição, ninguém comentou nada, mas Scott suspeita que alguém, sim, tenha se lembrado, afinal, ele não foi escolhido para o novo projeto.

Snyder's cut

Há uma versão do filme no YouTube que se assemelha bastante à visão original de Yagher. Chama-se Hellraiser IV: Bloodline (Reconstruction Workprint). Quem quiser se arriscar, pode se surpreender.

Ou não...


🔷 Hellraiser V: Inferno (2000)

Logo após o lançamento nos Estados Unidos de Hellraiser IV - Herança Maldita, Clive Barker confirmou que a Dimension Films já estava planejando um quinto capítulo da franquia. O roteirista Peter Atkins também revelou que algumas cenas foram refilmadas justamente para abrir espaço para possíveis continuações, pelo menos mais duas.

Uma das ideias descartadas foi Hellraiser: Hellfire, projeto idealizado por Stephen Jones e Michael Marshall Smith. Nele, Kirsty Cotton enfrentaria um culto que planejava trazer o Leviatã e os Cenobitas ao nosso mundo, culminando em um clímax com uma gigantesca Configuração do Lamento no coração de Londres. O conceito acabou sendo abandonado por causa de limitações orçamentárias, especialmente após a decisão de lançar o filme diretamente em home video.

Em 1999, Barker chegou a iniciar negociações para retornar como produtor executivo, mas se afastou após conflitos criativos com o estúdio, sendo formalmente excluído de qualquer participação na produção.

Foi então que Bob e Harvey Weinstein contrataram Paul Harris Boardman e Scott Derrickson para escrever o novo roteiro. Derrickson recebeu US$ 10 mil para filmar uma cena de teste e, impressionando os executivos, foi promovido a diretor. Segundo Doug Bradley, o roteiro original de Boardman e Derrickson não era uma sequência de Hellraiser, sendo posteriormente adaptado para se encaixar na franquia. Derrickson, no entanto, nega isso e afirma que o projeto sempre foi pensado como parte da série.

Este quinto filme, surpreendentemente, melhora com o tempo, sendo bem mais interessante que o anterior. Com um personagem mais reflexivo e uma trama mais bem centrada no universo criado por Clive Barker, esta produção agradará mais aos fãs do gênero, com um tom que se assemelha mais a um terror psicológico. Não à toa, o diretor estreante Scott Derrickson faria depois sucessos como O Exorcismo de Emily Rose, A Entidade e Doutor Estranho.

Na trama, o perturbado detetive Joseph Thorne (Craig Sheffer) descobre um enigmático cubo que traz do inferno o terrível Pinhead. Uma série de assassinatos começa a acontecer, além do desaparecimento de uma criança, fazendo com que Joseph corra contra o tempo para salvá-la. Ele mergulha em um mundo de mortes, sadismo e loucura, lidando com criaturas que só se satisfazem com a dor dos seres humanos.

O maior mérito do filme é não copiar as tramas dos três primeiros ou ir pelo ensandecido mundo espacial do quarto. E sua melhor característica gerou incompreensão do público, tal como Halloween III, que é um ótimo filme, mas não foca no personagem título. Os próprios roteiristas tiveram na mão a chance de fazer um filme mais parecido com o primeiro, mas optaram por um caminho original.

O tom do filme é mais voltado ao terror psicológico noir, com forte influência de obras como Alucinações do passado (1990) e Seven (1995). O dito "inferno" não é uma dimensão física tradicional como nos filmes anteriores, mas sim uma representação psicológica do estado interno do protagonista, o detetive Joseph Thorne.

Desde o início, Thorne é mostrado como um homem corrupto: ele usa drogas, trai a esposa, manipula colegas e explora testemunhas. Sua decadência moral cria uma espécie de "prisão mental", o verdadeiro inferno do filme é sua culpa internalizada.

Cada evento sobrenatural que ele enfrenta, cada figura grotesca que encontra, são projeções de seu remorso e autodestruição. O filme sugere que ele não pode fugir de quem realmente é: seus pecados se tornam seus carrascos. O labirinto em que Thorne se perde simboliza a mente dele, cheia de caminhos falsos, decepções e impossibilidades de redenção.

É um filme que merecia um orçamento melhor, elenco melhor, porque a ideia foi ótima e a execução tão boa que abriu caminhos importantes para o diretor explorar.


Não há maior tristeza do que relembrar a felicidade em tempos de miséria.

Dante Alighieri


🔷Hellraiser – Caçador do Inferno (2002)


O primeiro Hellseeker.

O roteirista Michael Lent chamou a atenção de Hollywood com um roteiro especulativo (é um roteiro escrito sem haver uma encomenda ou pedido prévio de um produtor, estúdio ou executivo), o que lhe rendeu um convite dos irmãos Weinstein para colaborar em um novo capítulo da franquia Hellraiser. Intitulado The Hellseeker, seu enredo começava com um incêndio devastador em uma estação de rádio isolada, que havia sido convertida em laboratório hacker.

Entre os destroços, apenas um sobrevivente é encontrado: um homem gravemente queimado e inicialmente identificado como John Doe, mais tarde rebatizado como Miller Rix. Um game designer chamado Blink também desaparece no incidente. Enquanto Rix se recupera lentamente, sofre de amnésia, sem lembranças de sua identidade ou do que ocorreu.

No entanto, um fragmento de garra de um Cenobita alojado em seu corpo começa a despertar visões perturbadoras, desencadeando lembranças fragmentadas. À medida que tenta reconstruir sua identidade, Rix se vê perseguido tanto pelas autoridades quanto pelas entidades demoníacas da Ordem de Lemarchand. Diante disso, ele precisa escolher entre se reinventar ou sucumbir aos horrores de seu passado.

O retorno de Blink traz revelações: ele e Rix haviam hackeado um jogo digital inspirado no universo de Hellraiser e planejavam lançá-lo mundialmente. O roteiro de Lent passou por diversas revisões, e Doug Aarniokoski chegou a ser contratado como diretor, mas acabou abandonando o projeto para assumir Highlander: Ultimato.

Após mudanças internas na Miramax/Dimension, com a demissão de executivos envolvidos, o filme foi postergado, cogitou-se até transformá-lo no sexto capítulo da série. Lent cumpriu seu contrato e se disponibilizou para colaborar em futuras versões, mas nunca mais foi procurado.

Sua última notícia sobre o projeto foi o anúncio da produção de um filme chamado Hellseeker, em andamento no Canadá. Apesar do título em comum e de algumas semelhanças iniciais, o longa lançado pouco tinha a ver com sua ideia original. Lent comentou: “Tudo o que acontece depois dos primeiros oito ou dez minutos não é nada que eu jamais teria imaginado”.

Após o desempenho positivo relativamente de Hellraiser: Inferno em 2000, a Dimension Films decidiu avançar com uma nova sequência. Carl V. Dupre e Tim Day foram contratados como roteiristas, e a direção ficou por conta de Rick Bota. A pedido de Bota, o roteiro foi alterado para incluir a personagem Kirsty Cotton, protagonista do filme original e ausente desde uma breve aparição no terceiro longa. 

Inicialmente, havia dúvidas sobre o retorno de Ashley Laurence ao papel, mas Doug Bradley a informou sobre o projeto e ela aceitou participar. Curiosamente, Bradley chegou a escrever o clímax original do filme, mas essa versão acabou sendo removida na edição final.

O segundo Hellseeker.

Este sexto filme marca o retorno de Ashley Laurence (que aparentemente morre 4 minutos depois!!!) Na história, mais uma vez Pinhead está de volta para torturar alguns humanos. Desta vez, o escolhido é Trevor, um cara comum que se envolve com as forças do mal depois de um grave acidente envolvendo sua esposa.

Aqui a trama psicológica ganha novamente espaço, explorando trauma e memórias com o mundo infernal de Pinhead. Os personagens do filme anterior e deste estão ligados muito mais à tentativa de compreensão de suas jornadas errantes. Já nos três primeiros, o que move os personagens principais é a identificação com o inferno de Pinhead.

Esta diferença não é nada sutil e muitos fãs reclamaram. O mais problemático em relação aos outros é que a história apenas sugere uma continuação, voltando com a atriz principal, mas seu arco não se desenvolve para lado nenhum, relegando a sua participação a um mero fan service.

O próprio diretor justificou a não continuidade, dizendo que os fãs não buscavam isto. Mas para que trazer Ashley então? Outro detalhe: mesmo que sua imagem apareça com destaque nos pôsteres do filme, Pinhead tem menos de 5 minutos de tela. A história, inclusive, é nitidamente um roteiro de um filme de horror psicológico que não veio ao mundo e foi filmado com pequenas alterações, colocando os cenobitas e Ashley.

Como os cineastas não tinham certeza se Ashley Laurence reprisaria seu papel como Kirsty, Sarah-Jane Redmond foi cotada provisoriamente para interpretar o papel. Quando Laurence se comprometeu com o filme, os cineastas ficaram tão impressionados com Redmond que ela foi escalada para interpretar Gwen.

Esta foi a quarta e última aparição de Ashley Laurence como Kirsty Cotton na série de filmes Hellraiser. Ela já havia aparecido em Hellraiser - Renascido do Inferno (1987), Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988) e Hellraiser III: Inferno na Terra (1992).

E foi a segunda vez na série em que Doug Bradley interpreta um personagem diferente de Pinhead, ou seu alter-ego humano, o Capitão Elliot Spencer. A primeira foi quando ele interpreta o pai de Joey, quando ela é enganada e entrega a caixa a Pinhead em Hellraiser III.

O curioso é que o criador da série, Clive Barker, assistiu a uma cópia em andamento do filme antes do seu lançamento. Segundo o diretor Rick Bota, Barker elogiou o longa, mas sugeriu que o diretor inserisse imagens mais grotescas.

Bom, ele não ouviu. E, para o bem ou para o mal, fez o filme que quis.

 

🔷 Hellraiser - O Retorno dos Mortos (2005)

O Retorno dos Mortos que não foi... 

Em 2002, a Dimension Films contratou o roteirista Peter Briggs para desenvolver o sétimo filme da franquia Hellraiser, impressionada por seu roteiro não produzido para Freddy vs. Jason. O projeto de Briggs, intitulado Hellraiser: Lament, buscava dar continuidade aos quatro primeiros filmes da série, ignorando os eventos de Inferno e Hellseeker. Entre os subtítulos alternativos considerados estavam Jihad, Nemesis e The New Order. 

No entanto, o roteiro acabou sendo descartado por exceder o orçamento previsto. Em seu lugar, o estúdio decidiu reaproveitar um roteiro especulativo de Neil Marshall Stevens, intitulado Deader, originalmente enviado à Dimension Films em 2000, enquanto Stevens trabalhava em 13 fantasmas (2001). O projeto havia sido concebido para ser produzido por Stan Winston.

A trama de Deader girava em torno de uma repórter enviada à Romênia para investigar um culto clandestino que teria descoberto o segredo da imortalidade e acessado uma dimensão sobrenatural. Elementos semelhantes ao filme lançado, embora a versão original não tivesse qualquer relação com o universo Hellraiser. 

Enquanto isso, o roteirista Tim Day expressou interesse em criar uma sequência direta de Hellseeker, centrada em um confronto final entre Pinhead e Kirsty. No entanto, Bob Weinstein interveio, instruindo-o a transformar Deader em uma continuação da série Hellraiser, com uma abordagem mais próxima do estilo de filmes de terror japoneses como Ring e Pulse.

A produção de Deader sofreu um breve atraso durante o desenvolvimento do remake americano de Pulse, em 2006. Antes disso, o diretor Scott Derrickson foi sondado para comandar o projeto, mas recusou o convite. Assim, Rick Bota, que havia dirigido o filme anterior, foi novamente contratado. 

O roteiro passou por diversas revisões, inicialmente ambientado em Londres e depois no Lower East Side de Manhattan, até que os produtores decidiram filmar na Romênia. A decisão teve fins econômicos, permitindo que Deader fosse rodado simultaneamente com outra sequência da franquia, Hellraiser 8: O Mundo do Inferno (2005), entre outubro e dezembro de 2002. A produção, porém, enfrentou dificuldades logísticas, especialmente com a comunicação entre a equipe americana e os atores e técnicos locais romenos.

O Retorno dos Mortos que foi... 

Manter o diretor costumeiramente é uma boa escolha para manter a qualidade, identidade e visão de uma saga. Porém, manter Rick Bota, diretor do filme anterior, que passou longe de ser original, foi um erro absoluto. O roteiro de Neal Marshall Stevens não tinha nada a ver com a mitologia de Hellraiser. 

Quando ficou decidido que o roteiro seria usado para a produção de um novo filme da série, o roteirista Tim Day fez com que o personagem Winter fosse um descendente do criador de brinquedos LaMerchant. Ele também deixou de lado a questão entre Pinhead e Kirsty no final do filme anterior. 

Na trama, Amy Klein (Kari Wuhrer) trabalha como repórter em um jornal de Londres e está atualmente investigando um culto underground que prega o suicídio. Atraída para o mundo místico do culto, Amy descobre que os artefatos utilizados nas cerimônias podem abrir as portas para o inferno.

Sem dúvidas, estes cinco últimos filmes são muito inferiores. Mas até este sétimo, são, pelo menos, “assistíveis”. Aliás, uma última observação. Fica claro que o diretor utilizou como base a trama de Coração Satânico nos filmes 6 e 7: no sexto filme, o protagonista interage com pessoas que aparecem mortas na sequência, sugerindo ele ser o assassino. 

E no sétimo, o roteiro segue a detetive que investiga um caso envolvendo mortes, e quanto mais ela se aproxima da verdade, mais se enfia no meio da verdade, fazendo uma verdadeira descida ao inferno. Se juntarmos os dois personagens, eles executam a jornada de Harry Angel (Rourke) no filme de Alan Parker.

Mas Rick Bota não é  Alan Parker.

E o resultado não é nem o rascunho do que foi Coração Satânico. 


🔷 Hellraiser 8: O Mundo do Inferno (2005)

Apesar de começar com um tom religioso, focando em imagens, usando letras nos títulos que lembram uma cruz e música sacra, a trama segue um caminho mais moderno. Nela, um grupo de jovens se torna obcecado por um jogo online chamado Hellworld, inspirado no universo da franquia Hellraiser. Entre eles, Adam se aprofunda demais no jogo, perdendo o contato com a realidade. A fixação extrema o leva ao suicídio, deixando seus amigos devastados e cheios de culpa por não perceberem os sinais a tempo.

Dois anos depois, os cinco amigos sobreviventes recebem convites misteriosos para uma festa exclusiva do Hellworld, marcada para acontecer em uma antiga mansão gótica. Mike, Derrick e Allison demonstram empolgação com o evento, enquanto Chelsea vai a contragosto. Jake, ainda profundamente abalado pela morte de Adam, só decide comparecer após ser incentivado por uma colega do jogo com quem havia desenvolvido uma amizade online, que promete encontrá-lo pessoalmente.

Na mansão, os jovens são recepcionados por um anfitrião carismático de meia-idade, que lhes oferece drinques, os guia por um tour pela propriedade, que ele afirma ter sido, no passado, um convento e asilo construído por Philip LeMarchand, e lhes entrega celulares para se comunicarem durante a celebração.

Conforme a noite avança, o clima festivo dá lugar ao terror. Um a um, Allison, Derrick e Mike são separados do grupo, trancados em diferentes áreas da casa e brutalmente assassinados. Seus algozes incluem o enigmático anfitrião, o icônico Pinhead e os cenobitas Chatterer e Bound, que executam os jovens com o sadismo ritualístico característico da ordem de Leviathan.

O último traço de Pinhead.

Este é o último filme em que Doug Bradley, amigo de infância de Clive Barker, retrata o famoso Cenobita Pinhead. O filme é estrelado por Lance Henriksen no papel do anfitrião. Henriksen foi originalmente chamado para interpretar o papel de Frank Cotton no primeiro filme da série, Hellraiser, mas recusou a oferta em favor de um papel principal no thriller de vampiros Quando Chega a Escuridão (1987).

Quando o personagem de Lance é confrontado pelos Cenobitas e morto pelo Chatterer e pelo Bound logo em seguida, ele é cortado horizontalmente ao meio. A cena seguinte, que mostra seu torso e sua cabeça divididos, lembra como outro personagem que ele interpretou, Lance Bishop, teve uma morte muito semelhante no famoso filme Aliens: O Resgate (1986).

Dimensão do problema.

Convenhamos, depois que os filmes da saga passaram a levar o nome da Dimension Films, as produções são a cara da empresa. E o que dizer do roteirista? Joel Soisson foi responsável por coisas como Drácula 2000, Drácula 2: A Ascensão, Highlander 4: A Batalha Final, O Homem sem Sombra 2, Colheita Maldita: Gênesis e Piranha 2.

A história é, sem dúvidas, diferente de tudo o que foi mostrado até aqui. Só que o diretor, mais uma vez, não deu sorte em suas realizações. Incluir o universo Hellraiser em camisas, jogos e itens que podem ser encontrados pelos personagens na esquina aproxima o inferno de Pinhead do ridículo.

Imagine se for ao acampamento Crystal Lake e encontrar numa loja as roupas de Jason para vender, chaveiro com a miniatura da cabeça da mãe de Jason ou camisas com fotos dos atores e atrizes?

Este Hellword é por aí... mas com um diferencial: Henry Cavill na época pré-Superman. E Pinhead matar um dos personagens com uma faca foi simplesmente o fim.

Anos depois do lançamento deste filme, um fã perguntou a Lance Henriksen sobre ele em uma convenção, mas Henriksen ficou completamente confuso, pois não se lembrava de ter feito um filme de Hellraiser, e lembrou que Hellworld era um projeto original, sem relação com uma série.

Se nem o ator que fez o filme se lembrou, não me sinto obrigado a gostar...


🔷 Hellraiser: Revelações (2011)

Nada pode ser tão ruim que não possa ficar pior. Mesmo assim, é interessante, para quem maratona, ver que a maioria dos filmes da série tenta fugir do formato original, mesmo que falhando miseravelmente. Este Hellraiser começa com o artifício de "câmera da mão", o popular found footage, para inserir na trama o cubo e Pinhead.

Na história, Nico Bradley e Steven Craven, dois amigos próximos, decidem fugir de casa e viajar para o México, onde planejam registrar vários dias de festas e excessos em vídeo. No entanto, após um período de desaparecimento, as autoridades mexicanas devolvem aos pais dos garotos uma fita gravada por Steven e uma estranha caixa de quebra-cabeça ornamentada. O conteúdo da gravação permanece oculto da maioria, alimentando o mistério em torno do destino dos rapazes.

Um ano depois, as famílias de Nico e Steven se reúnem para um jantar tenso, onde ressentimentos e dúvidas ainda pairam. Emma, irmã de Steven e ex-namorada de Nico, rompe o silêncio, frustrada com a falta de respostas. Ela insiste para que sua mãe revele o conteúdo da fita, a qual Emma tem assistido secretamente. A gravação mostra os dois jovens abordando uma garota em um bar. 

Em um flashback revelador, vemos Nico assassinando a garota durante o sexo no banheiro e, depois, chantageando Steven para que ele continue ao seu lado, ameaçando envolvê-lo no crime. Pouco depois, Nico recebe a misteriosa caixa de quebra-cabeça de um mendigo, que a apresenta como um meio de alcançar uma nova forma de prazer.

Revistando os pertences do irmão, Emma encontra a mesma caixa e, ao tentar manipulá-la, Steven reaparece de repente, ensanguentado e em estado de choque. Quando tentam levá-lo ao hospital, a família descobre que está inexplicavelmente presa dentro da casa. Steven alerta que os Cenobitas estão a caminho. E com eles, o inferno para todos ali presentes.

Hell

Os nomes das duas famílias principais, Craven e Bradley, são referências às figuras do gênero terror Wes Craven (A Hora do Pesadelo) e Doug Bradley, que interpretou Pinhead nos oito filmes anteriores de Hellraiser.

Com o eminente fim dos direitos de exploração dos personagens, a produção foi feita “a toque de caixa”, sendo programada para ser filmada em onze dias. E todo o processo (com pré e pós, 3 semanas). A ausência de Doug Bradley como Pinhead é também muito sentida.

Bradley foi convidado para reprisar o papel de Pinhead, mas hesitou ao ser informado de que não haveria uma segunda versão do roteiro, que ele acreditava não ser nem bom, nem ruim, apenas "inacabado". Bradley acabou recusando após ser informado de que seu salário de filmes anteriores seria, em suas palavras, reduzido ao "preço de uma geladeira". Mais tarde, ele se referiu ao filme como "uma cópia cinematográfica de um rascunho".

Um anúncio para os lançamentos em DVD e Blu-ray aclamou o filme como vindo "da mente de Clive Barker". Em resposta, Barker, que não teve nenhum envolvimento oficial com a série desde Hellraiser IV: Herança Maldita (1996), postou uma mensagem indignada em uma rede social: "Olá, meus amigos. Quero deixar registrado que o filme que está por aí usando a palavra Hellraiser NÃO É FILHO MEU! Eu NÃO tenho NADA a ver com essa porra. Se eles dizem que é da mente de Clive Barker, é mentira. Não é nem mesmo da minha bunda."

Se a opinião dele não for um alerta, confira o filme e tire suas conclusões.



🔷 Hellraiser: O Julgamento (2018)

Chega ao décimo filme a série criada por Clive Barker. Nele, os detetives policiais Sean (Damon Carney) e David Carter (Randy Wayne) fazem parte de um caso investigando uma série de assassinatos que assolam uma cidade. Juntos da detetive Christine Egerton (Alexandra Harris), eles passam a acreditar que talvez esses assassinatos possam ter origem além desse mundo.

Mais uma vez, um filme da série segue uma narrativa diferente, porém mal aproveitada. Mesmo o gore e a estranheza da sequência inicial não salvam o resultado final. O filme se salva por este início, uma aparição surpresa e uma curiosidade. Por volta dos 28 minutos, a atriz Heather Langenkamp (de A Hora do Pesadelo) aparece em uma ponta de 1 minuto.

E a curiosidade fica por conta do diretor Gary J. Tunnicliffe, um ávido fã de Doutor Estranho, esculpiu o símbolo do famoso 'Olho de Agamotto' no figurino usado por Pinhead (Paul T. Taylor), além de adicionar uma forma de diamante em homenagem a 'Leviathan' (o Deus que os Cenobitas servem) no torso.

Coincidentemente, Scott Derrickson, que dirigiu a adaptação cinematográfica de Doutor Estranho (2016), iniciou sua carreira como diretor de longas-metragens com a primeira sequência direta para vídeo de "Hellraiser", Hellraiser V: Inferno (2000).

Quando Doug Bradley, o Pinhead original, foi questionado em uma entrevista sobre qual seria seu conselho para Paul T. Taylor, que interpreta Pinhead em Hellraiser: Judgment (2018), respondeu sarcasticamente: "De acordo com Gary (Tunnicliffe, o diretor do filme), o Sr. Taylor tem a presença de tela de Peter Cushing e Ralph Fiennes, então ele não precisará de nenhuma ajuda minha, não é?"

Gary J. Tunnicliffe respondeu, dizendo que, "como sempre", alguém estava citando errado. Ele afirmou que, na verdade, o que disse foi que achava que havia uma "sugestão de Cushing e Fiennes" em Taylor em seu teste de tela, esclarecendo que se referia mais ao físico do que a qualquer outra coisa.

Durante as filmagens, porém, Tunnicliffe e Taylor se divertiram usando a interpretação do falecido Peter Cushing como Grand Moff Tarkin em Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança (1977) como uma espécie de guia; sempre que Tunnicliffe queria uma leitura de fala mais sutil ou matizada, ele simplesmente sussurrava "Você é muito confiante" (uma fala dita por Tarkin para a Princesa Leia) para Taylor, que então imitava a fala.

Paul T. Taylor descreveu interpretar Pinhead como um sonho realizado. Segundo Taylor, Pinhead sempre foi seu ícone favorito do terror, porque ele era o mais pervertido e inteligente, em sua opinião. O ator americano usou um sotaque britânico falso ao interpretar o personagem devido à sua crença de que "Pinhead tem que ser britânico".

Gary J. Tunnicliffe deu a Taylor espaço para criar sua própria interpretação de Pinhead, já que Taylor trouxe uma vulnerabilidade intencional ao papel. Além do conhecimento prévio, Taylor usou os quadrinhos de Hellraiser como preparação para o filme.

Gênese de Hell 10

Décadas antes da produção, a Dimension Films adquiriu os direitos das franquias Hellraiser e Colheita Maldita. Os primeiros filmes produzidos pelo estúdio sob essas licenças foram Hellraiser III e Colheita Maldita II, ambos filmados em sequência na Carolina do Norte, em 1991. Desde então, para manter os direitos de ambas as propriedades, a empresa foi obrigada a continuar produzindo filmes regularmente para cada série.

Por volta de 1996, na época do lançamento de Hellraiser IV - Herança Maldita, Gary Tunnicliffe, responsável pelos efeitos especiais em Hellraiser III e IV, apresentou a Bob Weinstein, executivo da Dimension, uma proposta para um novo capítulo da saga, intitulado Holy War.

A ideia incluía uma cena de abertura em que um padre buscava alcançar o paraíso através do sofrimento, e chegou a ser transformada em storyboards. Apesar de continuar trabalhando nos efeitos especiais das sequências subsequentes até Hellraiser: Mundo do Inferno (2005), Tunnicliffe manifestava crescente insatisfação com a direção criativa da série, que desde Herança Maldita vinha sendo lançada diretamente para vídeo.

Com a Dimension mais uma vez enfrentando um prazo legal para manter os direitos sobre as duas franquias, Tunnicliffe foi convidado a escrever e possivelmente dirigir um novo filme de Hellraiser. Ele escreveu o roteiro de Hellraiser: A Revelação (2011), mas não pôde dirigir o projeto devido a conflitos de agenda com Pânico 4.

Cinco anos após não conseguir dirigir A Revelação, a Dimension, diante de um novo prazo iminente para manter os direitos da franquia, ofereceu novamente a Tunnicliffe a chance de escrever e dirigir um novo Hellraiser. Ele apresentou Julgamento à Dimension três vezes, sendo rejeitado em todas elas.

Para demonstrar versatilidade, também escreveu um tratamento para um filme mais convencional da série, intitulado Enter Darkness, cuja trama envolvia pacientes psiquiátricos com experiências compartilhadas com a Configuração do Lamento, reunidos por um médico-chefe que buscava explorar os encontros com os Cenobitas.

O estúdio aprovou Enter Darkness, mas Tunnicliffe insistiu em realizar Julgamento. A Dimension, então, propôs que ele escrevesse o roteiro do filme com a condição de que, caso não fosse aprovado, ele dirigiria Enter Darkness sem remuneração. Após ler o roteiro de Julgamento e solicitar revisões, o estúdio finalmente deu sinal verde para a produção.

Segundo Tunnicliffe, Hellraiser: Julgamento teria "momentos diferentes de qualquer outro filme já visto" e foi fortemente influenciado pelas obras de Hieronymus Bosch, Francis Bacon, David Cronenberg, David Lynch, David Fincher e, é claro, pelo próprio criador da série, Clive Barker.

Enfim, minha visão geral é de que só o primeiro filme vale mesmo a pena rever e até mesmo ter na coleção. Os demais foram tentativas de levar algo novo, mas fracassaram. Pinhead sempre cita sofrimento em seus discursos. Mas mal sabia ele que sofrimento mesmo é acompanhar sua trajetória cinematográfica.  

 

🔷 Hellraiser (2022)

O cinema vive uma falência de ideias. E voltar a filmes dos anos 80 é a ordem da vez. E não digo simplesmente continuações, mas uma trama que retome especificamente um clássico. Esta persistência, juntamente com a insistência, por vezes, dá resultados positivos.

Planos para um remake de Hellraiser foram divulgados em outubro de 2007, quando Julien Maury e Alexandre Bustillo foram relatados como diretores, com Barker produzindo e Marcus Dunstan e Patrick Melton escrevendo o roteiro. A Dimension Films inicialmente pretendia acelerar a produção de seu reboot de Hellraiser para evitar possíveis interrupções causadas pelas greves previstas no setor cinematográfico no final de 2008.

O estúdio chegou a anunciar uma data de lançamento para 5 de setembro daquele ano. No entanto, em janeiro de 2008, o projeto, então com o título Clive Barker Presents: Hellraiser, foi adiado para 9 de janeiro de 2009. A decisão veio após a Dimension demonstrar insatisfação com o roteiro entregue pela dupla de diretores e roteiristas franceses Alexandre Bustillo e Julien Maury, conhecidos pelo filme de terror A Invasora (2007).

Em outubro de 2008, o diretor francês Pascal Laugier, conhecido por seu trabalho no polêmico Martyrs, foi anunciado como diretor de um novo filme da franquia Hellraiser. A produção, inicialmente programada para ser lançada em janeiro, foi adiada ainda em dezembro daquele ano. Em março de 2009, Laugier revelou que o projeto havia começado com a colaboração de um co-roteirista cujo nome ele não podia divulgar na época.

A proposta de Laugier era desenvolver um filme com um tom muito mais sombrio e sério do que o esperado pelos produtores da Dimension Films, que preferiam algo mais comercial e voltado ao público adolescente. Esse impasse criativo levou à saída de Laugier do projeto em junho de 2009.

Ainda em outubro do mesmo ano, surgiram rumores de que o filme seria lançado em formato 3D, alinhando-se à tendência da época. Durante o ano de 2010, outras propostas de reinicialização foram apresentadas por roteiristas como Christian E. Christiansen, Cory Goodman, e pela dupla Josh Stolberg e Peter Goldfinger.

Em agosto de 2010, o reboot foi colocado em segundo plano com a aprovação apressada de Hellraiser: A Revelação, uma produção de baixo orçamento lançada principalmente para que a Dimension mantivesse os direitos da franquia. Em outubro, Christiansen voltou a ser cogitado como diretor, e a atriz Amber Heard foi considerada para o papel principal.

Poucos dias depois, a Dimension anunciou oficialmente que Patrick Lussier (diretor) e Todd Farmer (roteirista) assumiriam o novo reboot de Hellraiser. A dupla optou por não recontar diretamente a história do filme original por respeito ao trabalho de Clive Barker. Em vez disso, queriam expandir o universo da Configuração do Lamento com novas abordagens.

Entre as ideias exploradas estavam uma prequela estrelada por William Fichtner como Pinhead e uma versão do personagem interpretada por uma mulher. Apesar das propostas inovadoras, em 2011, Farmer confirmou que ele e Lussier foram retirados do projeto.

Em outubro de 2013, Clive Barker anunciou sua intenção de escrever e dirigir uma nova versão de Hellraiser, com o retorno de Doug Bradley como Pinhead. No ano seguinte, Barker revelou que havia concluído um segundo rascunho do roteiro, descrevendo o projeto como um remake "muito solto" do original. No entanto, ele admitiu que talvez não dirigisse o filme. Em março de 2017, Barker afirmou que o roteiro havia sido entregue à Dimension anos antes, mas que não houve mais retorno desde então.

Com o sucesso do reboot de Halloween (2018), a Miramax anunciou interesse em reviver a franquia Hellraiser. Em maio de 2019, Gary Barber declarou que o Spyglass Media Group desenvolveria uma nova versão do filme, com roteiro e coprodução de David S. Goyer. Em abril de 2020, o diretor David Bruckner foi confirmado para comandar o remake, com Ben Collins e Luke Piotrowski responsáveis pelo roteiro. Os três já haviam colaborado no filme A Casa Sombria (2020), que também foi produzido por Goyer.

Em dezembro de 2020, após uma disputa legal, Clive Barker recuperou oficialmente os direitos autorais da franquia Hellraiser nos Estados Unidos. Uma verdadeira novela.

O novo Hellraiser perde no ineditismo de sua narrativa, algo que não aconteceu com o aclamado Predador - A Caçada. Mas ganha terreno na ótima ambientação, aproximando-se um pouco do clássico Candyman (inclusive, por volta dos 29 min. e 40 seg., quando Matt está no banheiro depois de ser cortado pela caixa do quebra-cabeça, o autógrafo de Tony Todd pode ser visto como grafite na parede atrás dele).

As seis configurações da caixa representam seus seis dons: Lamento ("vida"), Conhecimento ("conhecimento"), Lauderant ("amor"), Liminal ("sensação"), Lázaro ("ressurreição") e Leviatã ("poder").

O filme não é um remake. Nem continuação. É um Hellraiser de um mundo paralelo, disposto a ser sangrento como os fãs gostam e trazer os cenobitas mais fantásticos desde o primeiro filme. Dirigido por David Bruckner (de O Ritual e A Casa Sombria) e filmado em Belgrado, na Sérvia, o filme mostra uma jovem que está lutando contra o vício e acaba encontrando uma caixa de quebra-cabeças, sem saber que, na verdade, estaria convocando os seres sobrenaturais conhecidos como Cenobitas, criaturas demoníacas de outra dimensão que são uma grande ameaça aos humanos.

Produção original do streaming norte-americano Hulu (mesma de Predador: A Caçada), este é o primeiro Hellraiser a ter uma Pinhead. Com esta reinicialização, todos os principais filmes da Era de ouro dos Slashers (que fica entre os anos 70 e 80) foram refeitos: Leatherface em 2003, Michael Myers em 2007, Jason Voorhees no ano 2009, Freddy Krueger em 2010, Chucky em 2019 e agora Pinhead em 2022. E quase todos ainda apostaram numa continuação ou remake tempos depois, provando que é possível reciclar o reciclado.

A ideia de que o Cenobita com cabeça de alfinete seja uma mulher não é tão nova quanto alguns espectadores pensavam. Já na novela original, "The Hellbound Heart", o Cenobita correspondente era descrito como tendo uma voz feminina, a única pista para um possível gênero que um humano poderia perceber (tornando este filme mais fiel ao texto), mas ainda mais recentemente, nos quadrinhos Hellraiser da Boom! Studios, escritos pelo próprio Clive Barker e lançados na década de 2010, Kirsty Cotton acabou se transformando em uma versão feminina de Pinhead ao assumir seu lugar como líder dos Cenobitas.

Bruckner e a equipe entraram em contato com Bradley para fazer uma participação especial no filme, mas Bradley recusou por dois motivos: primeiro, possíveis complicações com a pandemia de COVID-19 em andamento e, segundo, seu desejo de deixar o legado de sua atuação em Pinhead intacto, uma decisão que Bruckner e sua equipe aceitaram.

As filmagens ocorreram na Bulgária em 2021, com o elenco viajando e fazendo uma pausa de quarentena naquele ano por causa da variante Ômicron da Covid-19.

Eu tive a honra de entrevistar alguém do elenco ou produção de todas as franquias de horror, mas, curiosamente, o último que fiz foi o roteirista do primeiro Hellraiser, Peter Atkins, que roteirizou também outros filmes da série.

Hellraiser, no final das contas, representa mais um caso que reforça a importância do original. E, ao mesmo tempo, mostra como nós, fãs, não podemos desistir nunca de nossas franquias favoritas, porque vez por outra, eles "erram a mão" e acertam, fazendo bons filmes.

Este Hellraiser é um filme que vale a pena ver de novo. E recomendar.



Tecnologia do Blogger.