PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL (1957) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
É bem comum apaixonados por cinema terem vontade de dirigir um filme algum dia na vida. Dependendo do país que reside e oportunidades que surgem, isso pode mesmo acontecer. E só quem dirigiu ou participou de uma produção, de alguma forma, tem acesso ao quanto é difícil conceber um projeto. Durante o caminho, são tantas situações que dão errado, que alguns nem retornam mais na função.
Eu mesmo fiz um filme, longa-metragem. E como era bancado por mim, eu fazia quase tudo: iluminação, edição, direção de arte, cenários... Foi um desafio de dois anos, mas que foi enriquecedor, pois percebi como evoluímos no processo. Alguns até nascem gênios, mas a maioria, aprende pelo caminho mesmo.
E uma vez o trabalho pronto, julgá-lo como melhor ou pior do ano, é uma covardia. Por exemplo, se o lobby for bem feito, um filme razoável pode ganhar o Oscar de melhor filme do ano. Mas e se uma obra-prima, que por falta de apadrinhamento, não chegar ao grande público? Possivelmente, nunca a veremos. E provavelmente, aquele diretor será também esquecido.
Mas vamos imaginar que todos os filmes feitos, tivessem iguais oportunidades. Ainda assim, a escolha do que é bom e do que não é, é completamente subjetiva. Dito isso, como o filme Plano 9 do Espaço Sideral foi alçado ao inglório reinado vitalício de pior filme já feito? Da mesma forma, como Edward D. Wood Jr.. foi eleito o pior diretor do cinema? Michael Medved é o culpado.
Entre 1957, ano do lançamento e 1980, ano em que Michael entra na história, Plano 9 era só mais um filme que rondava as noites, sendo visto e esquecido, como tantos outros. Com orçamento ínfimo, pouca inspiração e elenco amador, o filme pode ser considerado tão ruim como qualquer outro (e ainda assim, é subjetivo). Mas eis que, o crítico de cinema, Michael Medved, que apresentava o semanal na CNN (1980-83) e um programa na rede britânica Channel 4 , The Worst of Hollywood, jogou luz no filme.
Seus comentários centraram-se no que ele considerou filmes ruins, tendo especialmente o seu livro "The Golden Turkey Awards" como base. O filme selecionado como O Pior Filme de Todos os Tempos foi Plano 9 do Espaço Sideral. Ou seja, a lenda urbana nasceu de uma pessoa. Uma opinião. É inegável que Michael Medved era bom. Até crítico-chefe de cinema do New York Post ele foi.
Mas ele rotulou o filme de maneira tão definitiva, que o título de pior filme se tornou indissociável. Isto fez com que ele se tornasse cult, com o passar dos anos. Então, se não fosse pelo crítico, nem saberíamos quem foi Edward D. Wood Jr.
Ed Wood foi um cineasta, ator e escritor americano. Ele nasceu em 10 de outubro de 1924, em Poughkeepsie, Nova York, e faleceu em 10 de dezembro de 1978, em North Hollywood, Califórnia. Wood é mais conhecido por seu trabalho na década de 1950, durante o qual fez uma série de filmes de baixo orçamento.
Apesar de sua falta de sucesso crítico durante sua vida, os filmes de Wood desenvolveram uma base de fãs dedicada devido às suas qualidades únicas e muitas vezes excêntricas. Wood era apaixonado por cinema e era conhecido por sua determinação em levar suas visões para a tela, muitas vezes trabalhando com recursos limitados e métodos não convencionais.
Nos últimos anos, a vida e a obra de Wood foram tema de um filme biográfico chamado "Ed Wood" (1994), dirigido por Tim Burton e estrelado por Johnny Depp como Wood. O filme retratou as lutas e aspirações de Wood como cineasta, enfatizando sua paixão pelo ofício, apesar da falta de sucesso.
Edward D. Wood Jr. nasceu em uma família de classe média. Quando criança, ele desenvolveu um fascínio por filmes e muitas vezes faltava à escola para assistir a filmes no cinema local. Aos 17 anos, alistou-se no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Wood serviu como fuzileiro naval, principalmente como operador de rádio, e trabalhou no Pacific Theatre.
Depois de deixar o exército em 1946, Wood seguiu carreira no show business. Mudou-se para Hollywood e começou a trabalhar como ator, assumindo pequenos papéis em vários filmes. No entanto, ele lutou para ter sucesso como ator e acabou fazendo a transição para escrever e dirigir seus próprios filmes.
O estilo de filmagem de Wood foi caracterizado por sua desenvoltura e capacidade de trabalhar com orçamentos limitados. Ele costumava usar sua própria casa, casas de amigos ou adereços e fantasias baratos para criar seus filmes.
Wood trabalhava frequentemente com um grupo de atores e membros da equipe que ficaram conhecidos como seus "tocadores de repertório". Isso incluiu atores como Bela Lugosi, que estrelou os filmes de Wood, "Glen or Glenda" (1953) e "A Noiva do Monstro" (1955). O envolvimento de Lugosi nos projetos de Wood trouxe um nível de reconhecimento ao seu trabalho, embora a saúde de Lugosi tenha piorado durante este período.
Em Plano 9, Bela Lugosi aparece em imagens filmadas pouco antes de sua morte, mas sem roteiro em mente. Edward D. Wood Jr. escreveu o roteiro para acomodar todas as filmagens filmadas em um cemitério e fora da casa de Tor Johnson. Lugosi teve um dublê nas cenas que ele já havia falecido, Tom Mason, o quiroprático da esposa de Wood, que era significativamente mais alto que Lugosi, e desempenhou o papel com uma capa cobrindo o rosto.
Por muitos anos, muitas fontes afirmaram que Bela Lugosi morreu durante a produção. Na realidade, Wood filmou imagens aleatórias de Lugosi sem nenhum enredo em mente. Após a morte de Lugosi, Wood simplesmente escreveu um roteiro que pudesse incorporar as filmagens existentes.
Você é a única coisa que importa para mim. Esqueça os discos voadores.
E afinal, o filme é bom? Mesmo com título injusto, e a opinião ser pessoal, ele é simplesmente, horrível. Indescritível de ruim. A narrativa é inconsistente, os atores que parecem nunca terem atuado na vida, a história quase incompreensível, e convenhamos, o ator escondendo o rosto porque não era Bela Lugosi é ridículo em todos os níveis possíveis.
De acordo com Maila Nurmi (também conhecida como Vampira), ela colocava sua maquiagem e fantasia de vampiro em casa e depois pegava um ônibus para o estúdio do Quality Studios, onde suas cenas eram filmadas. Ela recebeu 200 dólares por sua participação no filme, e insistiu que a personagem ficasse muda porque seus diálogos eram muito ruins.
Quando Gregory Walcott leu o roteiro, ele disse a Edward D. Wood Jr. que era o pior roteiro que ele já havia lido. Ed sempre afirmou que este filme era seu orgulho. Por este comentário, podemos concluir que ele realmente amava cinema. E como sabemos, o amor é cego...
Plano?
O filme abre com a introdução do médium Criswell: “Saudações, meus amigos! Estamos todos interessados no futuro, pois é onde você e eu passaremos o resto de nossas vidas!” Na época das filmagens, Criswell era a estrela da série de televisão Criswell Predicts (1953) do KLAC Channel 13 (mais tarde KCOP-13). Outra frase da introdução, "Eventos futuros como esses irão afetá-lo no futuro", era a assinatura de Criswell, usada em suas colunas de jornais e revistas.
O filme foi financiado por uma igreja batista. Vários membros do elenco se deixaram batizar. J. Edward Reynolds, um dos financiadores, e o produtor associado Hugh Thomas Jr., interpretaram os coveiros.
A maquiagem foi supervisionada pelo veterano maquiador freelancer Harry Thomas (sem créditos). No ano anterior, ele trabalhou na produção de muito mais prestígio, "Os Dez Mandamentos" (1956), de Cecil B. DeMille, sendo a produção mais cara de Hollywood até então. Após uma discussão com Edward D. Wood Jr., o veterano maquiador insistiu que seu nome não fosse usado nos créditos do filme. Seu assistente, Tom Bartholomew, recebeu o crédito exclusivo.
E afinal, o que era o tal Plano 9?
Foi um plano alienígena para ressuscitar os mortos da Terra. Ao causar o caos, os alienígenas esperam que a crise force a humanidade a ouvi-los; caso contrário, os alienígenas destruirão a humanidade com exércitos de mortos-vivos. Fora, claro, um vampiro que esconde a cara e uma vampira que lembra manequim de loja.
Há muitos equívocos na produção. Mais do que virtudes, sem a menor dúvida. E tudo foi piorando conforme o filme era rodado, com tensões e muito amadorismo. Mas o amor de Ed Wood merece reverência, ainda que ele não soube traduzi-lo em seus projetos.