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AMISTAD (1997) - FILM REVIEW

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Amizade.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Resumidamente, a arte é uma forma de manifestação que combina estética, comunicação e ideologia. Estética na forma; Comunicação no que é dito; A ideologia depende da formação de cada um. Mesclando estes três, uma forma de arte toma forma, como pintura, teatro e cinema.   

E como podemos deduzir, elas são parciais. Mesmo um documentário pode ser parcial na edição, deixando de fora elementos necessários para uma possível mudança de opinião. Ao longo das décadas, fatores como preconceito e censura foram determinantes para o telespectador ser norteado para longe da realidade. Hoje nos causa surpresa um filme que mostre homossexualidade em épocas que em que a arte os escondia, mas do lado de cá das telas, eram uma realidade ignorada. Mais surpresa ainda quando descobrimos um casal gay, casados há 30 anos, sem que soubéssemos disto. 

Se a humanidade não pode ser corrigida, a arte faz suas manifestações. Ainda que parcial, expõe mazelas sociais. A escravidão é um destes capítulos da história que é pouco mostrado nas telonas e raramente contam histórias relevantes, que mostram diversos aspectos de um problema vencido, em teoria. Amistad é uma obra que se encaixa no hall de exceções.

Dirigido por Steven Spielberg, o filme se situa em 1839, quando dezenas de escravos negros se libertam das correntes e assumem o comando do navio negreiro La Amistad. Eles sonham retornar para a África, mas desconhecem navegação e se veem obrigados a confiar em dois tripulantes sobreviventes, que os enganam e fazem com que, após dois meses, sejam capturados por um navio americano, quando desordenadamente navegaram até a costa de Connecticut. 

Os africanos são inicialmente julgados pelo assassinato da tripulação, mas o caso toma vulto e o presidente americano Martin Van Buren (Nigel Hawthorn), que sonha ser reeleito, tenta a condenação dos escravos, pois agradaria aos estados do sul e também fortaleceria os laços com a Espanha, pois a jovem Rainha Isabella II (Anna Paquin) alega que tanto os escravos quanto o navio são seus e devem ser devolvidos. Mas os abolicionistas vencem, no entanto, o governo apela e a causa chega a Suprema Corte Americana. Este quadro faz o ex-presidente John Quincy Adams (Anthony Hopkins), um abolicionista não-assumido, sair da sua aposentadoria voluntária, para defender os africanos.

Assassinato ou Dano à propriedade?

Não demora muito para que o barril de pólvora seja aceso. E o diretor mostra sua hábil destreza em ser sutil jogando pedras. Em uma cena, um negro de boa aparência numa carroça, possivelmente livre, tem sua atenção chamada pelo grupo de escravos, as diferenças culturais se escancaram, afinal, por que a realidade enfrentada pelos escravos na África seria diferente em outros países? Para Cinqué (Djimon Hounsou) e o grupo, aquela imagem não fazia sentido. E menos sentido ainda, serem ignorados por um "irmão". 

O filme funciona, não só pela direção de um mestre em sua função, acompanhado por uma trilha lindíssima de John Williams, mas também pelo elenco estelar. Um elenco particularmente bem escolhido, que traz dignidade a uma cena desumana. Anthony Hopkins, por exemplo, surpreendeu a equipe ao fazer o discurso de sete páginas no tribunal em uma única tomada.

Liberdades criativas foram tomadas, como de costume, para trazer fluência à história, ou dar algum destaque a um tema específico. Theodore Joadson (Morgan Freeman) é uma criação fictícia. Na realidade, foi Josiah Willard Gibbs, Sr. (Austin Pendleton), um professor de teologia e literatura sagrada de Yale, que descobriu o alferes James Covey (Chiwetel Ejiofor), o marinheiro mende que serviu como tradutor para os cativos de Amistad. Conforme retratado neste filme, Gibbs aprendeu a contar até dez em Mende e vagou pelas docas da cidade de Nova York repetindo os números, até que Covey ouviu e reconheceu sua própria língua e falou com o professor. 

Um apelo não é sinal de fraqueza. 

Na realidade, Roger Sherman Baldwin (Matthew McConaughey), era um advogado mais velho e experiente do que seu personagem no filme. Neto de Roger Sherman (signatário da Declaração de Independência e da Constituição), Baldwin tinha quase 40 anos e era membro do Senado do Estado de Connecticut quando defendeu os prisioneiros de Amistad. Após o caso Amistad, Baldwin foi eleito governador e, posteriormente, senador dos EUA pelo estado de Connecticut. Ele morreu em 1863. Matthew tinha feito um papel semelhante em Tempo de Matar, lançado um ano antes, e foi mais uma chance de mostrar seu talento em defender causas impossíveis.

Spielberg mirava um reconhecimento no Oscar, mas como grandes diretores no cinema, ele veio mais pelo legado do que pelos prêmios. Já em 1998, o diretor deveria ter no mínimo uns 8 prêmios de direção. Mas só A Lista de Schindler lhe deu. Uma vergonha. O diretor inclusive estava envolvido em outro filme que deveria ter sido premiado como melhor do ano, O Resgate do Soldado Ryan (1998). A pós-produção foi raramente feita com Steven Spielberg, devido ao seu compromisso, que lhe rendeu outro Oscar. 

De acordo com ele, alguns atores americanos ficaram furiosos com ele por escalar um ator galês para o presidente, pois achavam que o papel deveria ter sido atribuído a um ator americano. Spielberg fez o mesmo novamente ao lançar Daniel Day-Lewis em Lincoln (2012). Mas naquela época, escalar britânicos como presidentes americanos havia quase se tornado comum (por exemplo, Anthony Hopkins em Nixon (1995), Michael Gambon em Bastidores da Guerra (2002), Alan Rickman em O Mordomo da Casa Branca (2013), e Tom Wilkinson em Selma: Uma Luta Pela Igualdade (2014)). 

La Amistad, a história real

Como no filme, em 1839, nas águas da costa de Cuba, um grupo de 49 africanos foi destinado ao tráfico. Eles foram capturados, vendidos como escravos, levados para o outro lado do oceano, vendidos novamente e foram sendo transportados. Um deles, um homem que o mundo conheceria como "Cinque", que trabalhava livre em sua terra natal, liderou uma revolta a bordo da embarcação, batizada ironicamente como "Amizade". Os africanos tentaram forçar dois sobreviventes cubanos a levá-los de volta à África, mas o Amistad acabou em águas dos Estados Unidos, logo após o estreito de Long Island, onde os africanos foram novamente presos. 

A Espanha prontamente exigiu sua extradição. Mas sua situação chamou a atenção dos abolicionistas americanos, que montaram uma defesa legal em nome dos africanos. O caso passou pelo sistema judicial americano até o Supremo Tribunal, onde o ex-presidente John Quincy Adams se juntou à equipe jurídica dos abolicionistas. Finalmente, em março de 1841, o Supremo Tribunal manteve a liberdade reivindicada pelos africanos para si próprios. Dez meses depois, em janeiro de 1842, trinta e cinco africanos sobreviventes do Amistad voltaram para suas terras natais. 

Dizem que durante a escravidão, os negros eram tratados como animais. Assistindo ao filme, percebemos que os verdadeiros animais eram os outros. A escravidão acabou. E quanto a outra parte? Continuam sendo animais? A história contada, dia a dia, mostra que sim.

 Quem somos é quem nós fomos...



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