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O MACACO (2025) - FILM REVIEW

 

Passado, presente, futuro

É necessária uma pequena viagem no tempo para chegarmos em "O Macaco". E a necessidade se faz pela curiosidade do nome Perkins do diretor. Osgood Robert Perkins II veio ao mundo no dia 2 de fevereiro de 1974, em Manhattan, Nova York. Ele é filho da atriz Berry Berenson (1948–2001) e do ator Anthony Perkins (1932–1992). Sim, o Macaco tem raízes hitchcockianas.

Ele tem um irmão mais novo, Elvis Perkins, que seguiu carreira na música. Sua família tem fortes ligações com o meio artístico: seu avô foi o ator Osgood Perkins e sua tia é a atriz Marisa Berenson. Apesar de Anthony Perkins ter revelado mais tarde ser homossexual, ele e Berry permaneceram casados até o falecimento dele, em setembro de 1992, em decorrência da AIDS.

Por parte de mãe, Perkins possui uma mistura diversa de origens, incluindo raízes francesas, italianas, judaicas (tanto polonesas quanto russas) e suíças. Entre seus ancestrais maternos estão o astrônomo Giovanni Schiaparelli e a estilista Elsa Schiaparelli. Tragicamente, sua mãe estava a bordo do voo 11 da American Airlines e perdeu a vida durante os atentados de 11 de setembro de 2001. Seu nome foi gravado no painel N-76 do Memorial Nacional do 11 de Setembro, em Nova York.

Do lado paterno, suas origens são predominantemente inglesas. Entre os antepassados de seu pai estão figuras históricas como o gravurista Andrew Varick Stout Anthony, o colonizador Roger Conant e passageiros do navio Mayflower, como William Brewster, John Howland e Myles Standish.

Psicose, 11 de setembro. Stephen King, James Wan.

A estreia de Perkins como ator aconteceu em Psicose II (1983), onde interpretou uma versão jovem, com cerca de 12 anos, de Norman Bates, personagem imortalizado por seu pai. Desde então, ele participou de diversas produções cinematográficas, incluindo Seis Degraus de Separação (1993), Legalmente Loira (2001), Secretária (2002), Star Trek (2009) e Não! Não olhe! (2022). Ele também fez aparições em séries de televisão, como Alias e outras.

Sua primeira experiência como diretor veio com o terror Enviada do Mal (2015). A partir daí, Perkins passou a ser reconhecido por sua contribuição ao gênero do horror, seja escrevendo, dirigindo ou ambos. Entre seus trabalhos notáveis estão Maria e João - O Conto das Bruxas (2020) e Longlegs - Vínculo mortal (2024).

A origem do mal.

"Skeleton Crew" (Tripulação de Esqueletos aqui no BR) é uma coletânea de contos de Stephen King, publicada originalmente em 1985. É a segunda antologia do autor (a primeira foi Night Shift, de 1978) e reúne 22 histórias, além de um prefácio. A coletânea abrange uma variedade de gêneros e temas, incluindo horror, ficção científica, fantasia e drama psicológico.

Lista de contos em Skeleton Crew: The Mist (O Nevoeiro), Here There Be Tygers (Aqui Há Tigres), The Monkey (O Macaco), Cain Rose Up (Caim Se Levantou), Mrs. Todd's Shortcut (O Atalho da Sra. Todd), The Jaunt (A Excursão), The Wedding Gig (O Casamento), Paranoid: A Chant (Paranoico: Um Cântico), The Raft (A Balsa), Word Processor of the Gods (Processador de Palavras dos Deuses), The Man Who Would Not Shake Hands (O Homem Que Não Apertava Mãos), Beachworld (Mundo de Areia), The Reaper's Image (A Imagem da Morte), Nona, (Idem), For Owen (Para Owen), Survivor Type (Tipo de Sobrevivente), Uncle Otto's Truck (O Caminhão do Tio Otto), Morning Deliveries (Milkman #1) (Entregas Matinais), Big Wheels: A Tale of the Laundry Game (Milkman #2) (Rodões: Uma História do Jogo da Lavanderia), Gramma (Vovó), The Ballad of the Flexible Bullet (A Balada da Bala Flexível), The Reach (A Travessia).

Adaptações para cinema e TV:

"The Mist" (O Nevoeiro, 2007, filme). Dirigido por Frank Darabont, esta é a adaptação mais famosa da coletânea. Em 2017, foi feita uma série baseada na história, mas sem relação direta com o filme.

"The Raft" (A Balsa, adaptado como um dos três segmentos do filme Creepshow 2, 1987)

"Word Processor of the Gods" (Processador de Palavras dos Deuses, adaptado para um episódio da série Contos da Escuridão, 1984)

"Gramma" (Vovó, Adaptado para um episódio de Além da Imaginação, em 1986, TV). Em 2014, foi feita uma nova adaptação chamada Mercy, estrelada por Chandler Riggs.

"Survivor Type" (Tipo de Sobrevivente), adaptado como parte da série Creepshow (temporada 3, episódio 1) em 2021.

O conto do Macaco.

Hal Shelburn, um homem adulto, descobre um velho macaco de brinquedo enquanto está organizando as coisas da família. Esse macaco mecânico, que bate os pratos de metal ao ser acionado, traz à tona memórias assustadoras de sua infância.

Quando era criança, Hal encontrou o macaco no sótão de sua casa. Ele logo percebeu que, sempre que o brinquedo começava a bater os pratos sozinho, alguém próximo morria de forma inesperada. Apavorado, ele tentou se livrar dele diversas vezes, jogando-o fora ou escondendo-o, mas o macaco sempre reaparecia.

Agora adulto e pai de família, Hal percebe que o brinquedo voltou a funcionar e teme que sua maldição continue. Determinado a acabar com a influência do macaco de uma vez por todas, ele o leva para um lago e o afunda, esperando que, dessa vez, ele desapareça para sempre.

O conto mistura terror psicológico e sobrenatural, explorando a ideia de objetos amaldiçoados e o medo de que o passado nunca realmente nos abandona.

O filme.

Como vimos nas suas realizações anteriores, O Macaco é uma produção de personalidade. Desde a abertura, que flerta com filmes do Quentin Tarantino ao início, na cena em que o personagem vivido por Adam Scott está em uma loja de quinquilharias (já tradicional nas adaptações de King).

A trama acompanha os gêmeos Bill e Hal (Theo James), que descobrem um antigo macaco de brinquedo no sótão de seu pai. A partir desse momento, uma série de mortes terríveis começa a acontecer. Tentando se livrar do brinquedo e seguir em frente, os irmãos decidem descartá-lo e, com o tempo, distanciam-se desse passado sombrio.

No entanto, o terror parece não os abandonar. O elenco também inclui Elijah Wood (Senhor dos Anéis), Tatiana Maslany (Mulher Hulk) e Christian Convery (Sweet Tooth). Stephen King assina o roteiro ao lado de Perkins, garantindo que o filme capture a essência aterrorizante de sua obra original.

Seguindo a tradição de Stephen King, a maior parte do filme se passa em uma cidade no Maine, EUA.

Nuances e o Kingverso da loucura.

No começo do filme, um jovem Hal está assistindo a uma aula quando percebe, para seu desespero, que o macaco amaldiçoado de alguma forma apareceu dentro de sua mochila. Chocado, ele abre a bolsa para confirmar seu pior medo. Nesse momento, um colega interrompe a aula com uma piada obscena à custa de Hal, chamando a atenção da professora. O nome dela é Sra. Torrance, referência ao clássico O Iluminado, de Stephen King.

Há um personagem chamado no filme de "Torrance", em alusão à família Torrance em 'O Iluminado'. Um dos personagens se chama Duchamp, como outro protagonista dos contos de Stephen King, especificamente da novela "O Corpo", que inspirou o filme "Conta Comigo", de Rob Reiner. Já a placa do hotel "Proibida comida depois da meia-noite" é uma referência a Gremlins (1984). Ela aparece em torno de 47 minutos.

Pouco depois, um cortador de grama ataca um pobre indefeso, referência a Comboio do Terror (1986) e claro, O Passageiro do Futuro (não o filme, mas o conto de 1975, The Lawnmower Man ou O Cortador de Grama).

Segundo o diretor, a escolha de fazer o macaco tocar um tambor em vez de bater címbalos (como no conto) foi motivada por questões de direitos autorais. A versão do macaco com címbalos pertence à The Walt Disney Company, pois o brinquedo foi incluído como personagem em Toy Story 3.

No funeral da babá, é revelado que seu nome é Annie Wilkes. Este é o mesmo nome da personagem Kathy Bates de Louca Obsessão (1990), também escrito por Stephen King. E um detalhe: a razão para sua presença no filme da Pixar está no fato de que o diretor, Lee Unkrich, é admirador do trabalho de Stephen King.

E esta "ironia" permeia o filme, tornando a história um teatro do absurdo, tirando parcialmente o impacto das chocantes mortes, e imprimindo nelas o tom da surpresa com a dificuldade de entender o que aconteceu. É como se aquelas mortes da franquia "Premonição" acontecessem na vida real. De tão loucas, o choque sobre como aconteceram é maior que o horror ao vê-las.

Osgood Perkins revelou sua visão sobre a adaptação: "Eu fiz mudanças sem medo. O roteiro original da Atomic Monster era extremamente sério, e isso não funcionava para mim. O conceito do macaco de brinquedo é que ele está sempre cercado por mortes bizarras. E, de certa forma, eu já sou especialista nisso. Meus pais faleceram de maneiras que viraram notícia.

Passei boa parte da minha vida tentando superar tragédias e lidando com a sensação de que tudo era injusto. No começo, a dor parece algo pessoal: 'Por que isso aconteceu comigo?'. Mas, com o tempo, percebi que isso é parte da vida. Todos morrem, alguns de forma tranquila, outros de maneira absurda, como eu vivi na pele. Então, pensei: talvez a melhor forma de explorar essa loucura seja com um toque de ironia."

No conto de Stephen King, embora os nomes dos personagens e das cidades permaneçam em grande parte os mesmos, a narrativa e o tom diferem bastante. A história é apresentada de maneira mais séria, e Hal e Bill não são gêmeos, mas irmãos com uma diferença de idade de vários anos.

Hal é retratado como um homem casado e pai de dois filhos, Dennis e Petey. A contagem de mortes associadas ao macaco é significativamente alta, com pelo menos dez vítimas confirmadas, incluindo seu pai (um marinheiro mercante desaparecido), sua mãe (que teve o mesmo destino), seu tio Will, a tia Ida, o amigo Johnny McCabe, a babá Beulah McCaffery, Charlie Silverman (amigo de Bill), um lixeiro, além dos animais Daisy (cachorro) e o gato de Ida. Além disso, o próprio macaco sugere que houve muitas outras mortes ao longo do tempo.

A influência de Stephen King marcou Osgood Perkins desde cedo. Ele recorda segurar uma cópia antiga e bastante manuseada de O Cemitério Maldito, que pertencia a seu pai, e perceber que o terror poderia ser assustador, mas também fascinante. Sua primeira experiência com uma adaptação da obra de King aconteceu na infância, quando viu sua babá assistindo Vampiros de Salém na televisão. Justamente... a babá introduzindo o horror na vida do garoto Perkins. Este, prontamente, "se vingou" na primeira oportunidade, ou seja, no filme O Macaco.

Entre diferenças e semelhanças, Oz fez sua versão da franquia Premonição, apadrinhado pelo próprio King e pelo diretor de Jogos Mortais/Invocação do Mal/Sobrenatural. Para o bem e para o mal, não tinha como dar errado.

O final do filme é caótico, beirando o surreal. O diretor ousa até colocar a tela preta nos créditos finais, afinal, todo mundo morre. O Macaco não é, e nem tenta ser, uma obra-prima. O diretor apenas empresta seu belo estilo para contar uma história sobre a inevitabilidade do acaso. E às vezes, ele pode ser bem ruim...

 

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