ALIX BÉNÉZECH - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Alix Bénézech, nascida em 25 de setembro de 1991, Alsácia, França, é uma atriz francesa formada em Letras Modernas, com mestrado dedicado a Marcel Proust. Sua trajetória artística começou no teatro, com destaque para papéis em O Fantasma da Ópera e A Megera Domada, além de atuações no Théâtre Artistic ao lado de nomes da Comédie-Française.
No cinema, transitou de participações em filmes como Vênus Negra, de Abdellatif Kechiche, até papéis premiados em produções independentes como Tom e Luce e La Vie en Roses, que lhe renderam mais de 20 prêmios de interpretação em festivais internacionais.
Sua projeção internacional veio em 2018 com Missão Impossível: Efeito Fallout, ao lado de Tom Cruise, seguido de trabalhos sob direção de Clint Eastwood (15h17: Trem para Paris) e de produções de sucesso para TV e streaming, incluindo Emily in Paris e Daryl Dixon. Em 2025, interpretou Juliette Gréco em Nouvelle Vague, de Richard Linklater, em competição oficial em Cannes, além de estrelar Carjackers (Prime Video) e L’Infiltrée. Também atua como jurada em festivais e mantém forte ligação com a literatura, especialmente a obra de Proust.
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
A.L.: Sou apaixonada por cinema desde criança. Meu pai costumava me levar ao cinema todas as quartas-feiras para assistir aos novos filmes adequados para crianças, e minha avó, que ainda tinha fitas VHS, me apresentou a muitos clássicos cult. Nunca cheguei a viver muito a experiência das locadoras de vídeo ou das lojas de DVD, para mim, cinema sempre significou ver filmes na tela grande.
Com meu passe ilimitado, houve até um período antes da Covid em que eu assistia a um ou dois filmes por dia em Paris, tanto em pequenos cinemas de bairro como o Le Saint-André-des-Arts quanto em grandes salas. Mais tarde, com a ascensão das plataformas de streaming e minha agenda cheia, passei a assistir a mais filmes online, claro, na Netflix, mas também em plataformas mais nichadas, especializadas em cinema clássico.
Dito isso, ainda vou regularmente ao cinema, especialmente à Cinemateca. Gosto de dizer que sou cinéfila antes de ser atriz.
2) "Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.", diria Benjamin Button em seu filme. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte como foi seu início de carreira.
A.L.: Atuo no teatro desde os sete anos. Mais tarde, tive aulas de teatro tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, e já fazia parte de produções semiprofissionais durante o colégio, sempre com um forte foco na disciplina artística e no rigor cênico. Depois mergulhei nos estudos de Literatura Moderna — a literatura, especialmente a do século XIX, é outra das minhas paixões — em classes preparatórias, até concluir um mestrado sobre Marcel Proust.
Um dia, me deparei com um teste para uma peça, O Fantasma da Ópera, e consegui o papel de Christine Daaé. Foi assim que tudo começou: encontrei meu primeiro agente e passei a trabalhar com cinema.
3) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
A.L.: As Pontes de Madison, Os Incompreendidos, Dança com Lobos, O Poderoso Chefão, Os Infiltrados, Manon das Fontes, Nascido em 4 de Julho, O Castelo de Meu Pai, Túmulo dos Vagalumes, Em Chamas, La La Land, Encontros e Desencontros, Polissia.
Eu poderia facilmente citar dezenas de outros que assisto regularmente.
4) Há uma frase muito citada do filme Na Natureza Selvagem: “A felicidade só é verdadeira quando compartilhada.” Fazer cinema não é somente uma profissão, mas é também uma forma de compartilhar o amor pela arte e até um pouco de si. Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?
A.L.: Sim, tenho muitas histórias porque minha vida muitas vezes parece um filme, e coisas improváveis continuam acontecendo comigo.
Lembro-me do primeiro dia de filmagem de Missão: Impossível – Efeito Fallout. O diretor da equipe francesa havia esquecido de mandar me buscar, então esperei e ninguém apareceu. Pensei: “Bom, devem ter me substituído…” Depois lembrei que a Place de la Concorde estava cheia de carros de produção e que a equipe de figurino/maquiagem/cabelo deveria estar lá. Na época, eu morava na Rue Saint-Honoré, a literalmente três minutos a pé dali. Então pensei: “Tudo bem, vou até lá.”
Acabei parando em frente a um segurança que me bloqueou. Eu disse: “Olá, sou a atriz que vai contracenar com o Tom Cruise hoje”, e ele respondeu: “Sim, sim, claro, tenha um bom dia.” Ele estava apenas fazendo seu trabalho perfeitamente, ninguém me conhecia, e a situação toda parecia absurda.
Também me lembro que, pouco antes do teste para Missão: Impossível, eu não falava uma palavra de inglês. E em uma festa da GQ para a qual fui convidada, estava o Gerard Butler, e eu queria dizer a ele: “Eu te admiro”, mas com meu sotaque francês catastrófico, ele entendeu outra coisa e respondeu: “O quê, você quer se casar comigo!?” Nós rimos, e ele até me deu algumas dicas para melhorar meu inglês, ele foi realmente muito simpático!
5) No filme Missão: Impossível – Efeito Fallout, que assisti no cinema, sua personagem me passou a impressão de estar hipnotizada pelo Tom Cruise. Isso me marcou muito porque senti a mesma coisa naquele momento, vendo você na tela.
A.L.: Ah, obrigada, isso foi algo tão gentil.
M.V: Como foi atuar no filme? Imagino que seu tempo no set tenha sido curto. Quais foram as situações mais interessantes que aconteceram durante as filmagens? E o que a levou a participar do filme?
A.L.: Acho que estava no meu personagem, mas no momento em que fiquei frente a frente com Tom Cruise, meus olhos perdidos no seu olhar azul-turquesa, eu era também completamente a atriz, fascinada pelo momento presente. Tive um flash de todos os filmes que já tinha visto dele e de quanto ele me inspirou.
Foi irreal contracenar com ele e, ainda assim, era verdade. Eu deveria ter apenas um dia de filmagem e acabei ficando três. Me lembro de quase pular nos braços do Tom Cruise quando soube que voltaria para mais um dia, mas me contive, pensando que seria “muito francês” fazer isso, (risos).
Henry Cavill também pediu que eu voltasse para uma cena em close, o que me emocionou muito. Sei que isso é algo profissional, mas também significava que eu tinha feito um bom trabalho. Também lembro do calor humano e do humor de Christopher McQuarrie e Simon Pegg, rimos bastante entre as tomadas.
Mais tarde, fui até convidada a Londres para observar um dia de filmagens nos lendários Pinewood Studios.
Houve também momentos carregados de emoção, pois estávamos em meio a um alerta de terrorismo. Um policial havia sido morto nos Champs-Élysées duas semanas antes, e eu tinha que usar um colete amarelo entre as tomadas para não ser confundida como alvo e para deixar claro que eu era uma falsa policial.
Quanto ao processo de seleção, tive apenas algumas horas para enviar uma self-tape (há um clipe no meu YouTube e Vimeo) em inglês, mais tarde descobri que era um monólogo de Alien, que aprendi foneticamente no metrô. Depois houve uma improvisação de emergência em francês; imaginei-me no Bataclan.
Foi horrível imaginar isso, mas sabia que precisava me colocar em uma situação de vida ou morte. Por destino, Chris e Tom queriam prestar homenagem a Paris após os atentados, então acredito que a fita, mesmo sem eu mencionar o lugar explicitamente, deve ter ressoado.
Fui escolhida sem callbacks, apenas a partir de três vídeos. Isso quase nunca acontece, como me contou Toby Whale, o diretor de elenco e de fato nunca mais aconteceu comigo em um filme tão importante. Mais uma vez, o destino sorriu para mim.
6) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor? E quanto a arrependimentos? Ou, caso não tenha, faria algo diferente?
A.L.: Tenho orgulho de cada passo da minha jornada e hoje entendo que é apenas o começo. Tenho um orgulho especial de ter sobrevivido na indústria audiovisual francesa, que nem sempre é fácil para as mulheres. Sempre fui respeitada como mulher e como atriz nos sets no exterior e em produções internacionais.
Na França, infelizmente, embora eu não queira entrar em detalhes nem citar nomes, e felizmente tenha sido apenas uma pequena parte da minha carreira, já vivi situações muito delicadas no passado, para dizer o mínimo. Isso poderia ter me feito desistir. Como vimos com o movimento #MeToo, muitas atrizes acabaram desistindo. É triste e inaceitável. Eu chamo essas pessoas de “quebradores de sonhos”, e ninguém deveria ter seu sonho destruído.
Hoje, tenho consciência da minha força e resiliência, tanto por mim quanto por todas as outras mulheres. Felizmente, já faz muito tempo que não passo por situações estranhas, porque na França instituições como o CNC e a Audiens fazem muito para proteger todos contra o assédio durante a realização de filmes. É uma alegria enorme poder simplesmente exercer meu trabalho. e apenas o meu trabalho, sem comentários sexistas ou comportamentos inapropriados.
Engraçado, porque atualmente estou estrelando Nouvelle Vague, dirigido por Richard Linklater, interpretando Juliette Gréco. Ao me preparar para o papel, descobri que Juliette era uma feminista à frente do seu tempo, uma mulher forte, cheia de humor e amor. Ela também me transmitiu muita energia, e tenho certeza de que continuará inspirando novas gerações.
7) Para finalizar, deixe uma frase ou pensamento envolvendo o cinema que representa você.
A.L.: “Sempre dependi da bondade de estranhos.” – Blanche DuBois, Um Bonde Chamado Desejo
Essa frase ressoa em mim não como desespero, mas como uma aceitação da nossa vulnerabilidade humana e um lembrete para mantermos o coração aberto — hoje mais do que nunca — para estender a mão a quem precisa de ajuda.
M.V: Obrigado pelo carinho e pela bela entrevista.
A.L.: Muitooo obrigado por me ouvir.
M.V: Obrigado por me hipnotizar.
A.L.: Muito obrigada! Significa muito para mim ✨Com muita consideração.

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