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DERSU UZALA (1975) - FILM REVIEW


Antes de falar da criatura, vamos falar do criador...

A obra do mestre Akira Kurosawa inspirou uma geração de cineastas em todo o mundo. Após ter se formado como pintor, decidiu entrar para a indústria do cinema no começo da década de 1930. Começou com pequenos trabalhos como assistente de direção. Em 1936, entrou em um estúdio de cinema respondendo a um anúncio que procurava pessoas para um teste de assistente de diretor. Tentou e ganhou. Aos 33 anos, dirigiu seu primeiro filme, ''Sanshiro Sugata'' (A Saga de Judo). 

Foi um sucesso no Japão, que vivia seus tempos de guerra, mas a visão de Kurosawa chocava-se com alguns sentimentos nacionalistas e suscitou ataques acalorados dos militares. Fã do cinema de John Ford, o jovem Kurosawa chegou a conhecê-lo, e dizia ter se inspirado em sua obra no começo da carreira. 


Em 1948, com O Anjo Embriagado, o cineasta firmou pela primeira vez parceria com o ator Toshiro Mifune, com quem trabalharia mais de uma dezena de vezes depois. Conheceu sucesso internacional dois anos depois com Rashomon. A repercussão desse projeto o levou a ser finalmente reconhecido pela indústria ocidental. Sua paixão pelos grandes épicos e a escala de produção do Oeste levou Kurosawa a adaptar Shakespeare, buscando uma aproximação do cinema oriental daquele praticando na Europa e nos Estados Unidos. 

Se por um lado isso o fez popular em Hollywood e em festivais no velho continente, na sua terra natal era uma tendência mal vista. A crítica e os estúdios o enxergavam com ceticismo, e chegaram a lhe barrar diversas vezes a chance de dirigir sua própria versão de Godzilla, um sonho pessoal do realizador.


Em dezembro de 1971, quando sofria de fadiga mental, tentou o suicídio cortando o próprio pulso 30 vezes. Os cortes não foram profundos, o que permitiu sua recuperação. Com a ajuda de amigos e o envolvimento de nomes como Francis Ford Coppola e George Lucas, lançou depois disso Dersu Uzala (1975), além do premiadíssimo Kagemusha: A Sombra de um Samurai (1980). 

A partir de então, Kurosawa sempre teve o apoio de seus amigos e admiradores do lado de cá do globo, como Steven Spielberg e Martin Scorsese. Seu cinema era tão bem recebido em Hollywood que chegou mesmo a gerar diversas adaptações e obras inteiras inspiradas em seus trabalhos prévios, como Sete Homens e Um Destino (1960), Por Um Punhado de Dólares (1964) e Quatro Confissões (1964).


Akira foi casado por 40 anos com Yôko Yaguchi, e tornou-se pai solteiro de dois filhos depois que ela faleceu em 1985. Em 1995, sofreu um acidente num set de filmagens e quebrou a base da espinha, ficando confinado a uma cadeira de rodas até que sua saúde fosse ficando cada vez mais debilitada, levando-o a falecer em 1998.

A Criatura

Baseado nos escritos do soldado russo Vladimir Arseniev, que participou de expedições na Sibéria no início do século XX, o filme conta a história do capitão Arseniev (Yuri Solomin), enviado pelo governo soviético para explorar e reconhecer as montanhas da Mongólia, juntamente com uma pequena tropa. Em meio a expedição, eles encontram Dersu Uzala (Maksim Munzuk), um caçador que vive apenas nas florestas. Percebendo que Dersu conhece bastante o local, o que pode facilitar o trabalho, o capitão lhe oferece que acompanhe a tropa até o término da missão. É o início de uma forte amizade entre o capitão e Dersu, que aos poucos demonstra suas habilidades.


Dersu é um atestado do renascimento do mestre (após sua tentativa frustrada de tirar sua própria vida). Akira ainda teve que encarar que seu irmão disparou contra o próprio peito após forte processo de depressão, aos 22 anos (o que, certamente, agravou a depressão do renomado diretor). Após este período conturbado, aceitou convite do mais importante estúdio da União Soviética (Mosfilm) para filmar a história do encontro entre o capitão Arseniev e Dersu Uzala. 

Dersu é um exemplo de humildade e sabedoria, e o filme mostra de maneira poética e sensível às diferenças culturais entre ele e o pesquisador russo. O diretor de fotografia aproveitou ao máximo as imponentes paisagens naturais da Sibéria e as registrou em belas imagens. A típica fotografia dos seus filmes, de cores quentes, como se fossem pinceladas por Van Gogh (uma de suas maiores influências artísticas) e toda uma áurea de misticidade na natureza na cena da tempestade, engrandece o cenário belo e hostil do local.


Numa das cenas inesquecíveis do filme, Dersu e o explorador russo se encontram em local aberto, uma estepe, quando uma nevasca os atinge. No frio siberiano (que pode atingir até 60º negativos), o russo se abate, quase que como entregue à morte certa. Dersu o convence a recolher os arbustos da estepe. Mesmo sem entender direito o significado do ato, este, cambaleante, faz o que Dersu lhe pede, até o esgotamento. Dersu então, continua recolhendo a vegetação rala, que mais tarde se transformará numa pequena cabana, cavada na terra. Uma cena digna das melhores do cinema com relação ao embate entre natureza e sobrevivência.

Ele ainda realizou 5 produções, encerrando sua trajetória com Madadayo em 1993.   



 

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