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MASSACRE 1976 (2025) - FILM REVIEW

Massacre 1976 (Brute 1976) é talvez o melhor filme de terror que não verá nos cinemas ou com grande publicidade nos streamings. Poucos filmes recentes abraçam de maneira tão decidida a estética brutal do terror setentista quanto Massacre 1976. Produzido de forma independente, dirigido por Marcel Walz e escrito por Joe Knetter, o longa é uma carta de amor ao cinema grindhouse e às obras que redefiniram o gênero nos anos 1970, como O Massacre da Serra Elétrica e Quadrilha dos Sádicos. 

Ao mesmo tempo, evita ser apenas uma colagem de referências: constrói sua própria identidade, com ritmo feroz, personagens que parecem saídos de uma fotografia da época e um olhar consciente para o período em que se passa. A história começa no calor escaldante do verão de 1976, ano do Bicentenário dos Estados Unidos. 

Um grupo de modelos e amigos atravessa o deserto em uma van para realizar um ensaio fotográfico com espírito patriótico, celebrando a data com um toque de ousadia artística. O figurino, em tons terrosos, laranja e marrom, remete imediatamente ao guarda-roupa típico dos anos 70 e reforça a sensação de viagem no tempo. 

Entre os integrantes, destacam-se Roxy (a talentosa Adriane McLean), a maquiadora Sunshine (Sarah French, que não perco um filme sequer), o motorista viciado Charlie (Robert Flested Jr.), o fotógrafo Jordy (Adam Bucci) e outros companheiros que se encaixam nos arquétipos clássicos do slasher.

Quando Raquel (Gigi Gustin), uma das modelos, desaparece antes do ensaio, Sunshine é convocada para substituí-la. O trabalho fotográfico transcorre sem incidentes graves, mas a inquietação paira no ar. Empolgados com a paisagem, o grupo decide seguir para Savage, uma cidade fantasma cercada de lendas sobre violência e abandono. As ruínas, o cemitério de carros e uma imensa caverna parecem o cenário perfeito para novas fotos. No entanto, aquilo que começa como curiosidade estética rapidamente se transforma em pesadelo: Savage não está tão deserta quanto imaginam.

O que o grupo desconhece é que a cidade serve de refúgio para uma família de psicopatas mascarados, habitantes grotescos que reivindicam o local como lar. Uma vez dentro desse território, os visitantes tornam-se presas fáceis. Distantes de qualquer sinal de civilização, sem meios de pedir ajuda, os jovens são caçados em uma espiral de violência que mistura arte, obsessão e carnificina. A tensão aumenta a cada cena, com mortes sangrentas distribuídas para manter o suspense constante. O espectador é conduzido a um terror cru, sem pausas para alívio.

Marcel Walz demonstra precisão ao recriar a atmosfera dos anos 70. A direção de fotografia de Marcus Friedlander aposta em granulação intensa, cores saturadas e enquadramentos que lembram filmes em 16 mm. Os cenários desérticos, captados em locações remotas dos Estados Unidos, dão sensação real de isolamento. O calor, a poeira e as dificuldades logísticas enfrentadas pela equipe de filmagem ajudaram a compor a verossimilhança: quem assiste sente que está ali, respirando o ar seco, vulnerável ao perigo. A trilha sonora, com riffs ásperos e batidas que remetem ao rock e ao country da época, complementa a imersão.

Os efeitos de maquiagem, comandados por Robert Kern III, são um espetáculo à parte. Todo o gore é prático: cortes profundos, mutilações, sangue em abundância. Entre as sequências mais comentadas está uma cena envolvendo um “glory hole”, já considerada uma das mais graficamente chocantes do cinema recente. É o tipo de violência que, longe de ser gratuita, reforça a sensação de perigo inescapável, homenageando os clássicos sem parecer apenas uma repetição. A família de vilões, com máscaras grotescas e uma estética que mistura sucata e podridão, também merece destaque. A identidade visual assusta de verdade e se encaixa perfeitamente no conceito de horror cult.

Um dos elementos mais interessantes é a relação do filme com seu próprio contexto histórico. Massacre 1976 reconhece a existência de O Massacre da Serra Elétrica dentro de sua narrativa, citando-o como um título baseado em fatos reais que teria assustado os personagens. Essa autorreferência cria um jogo curioso: os protagonistas já ouviram falar de um horror semelhante, mas não desenvolveram a malícia ou os instintos de sobrevivência que décadas de filmes slasher dariam aos heróis do gênero. Ambientado em um momento em que a desconstrução do terror ainda não existia, o longa captura a ingenuidade de jovens que não veem o perigo até ser tarde demais.

Com cerca de uma hora e quarenta e cinco minutos, o filme mantém um ritmo preciso. As mortes e perseguições surgem em intervalos que impedem a narrativa de se arrastar, enquanto pequenas interações entre os personagens garantem que não sejam apenas corpos à espera de seu destino. As atuações de Sarah French, Adriane McLean e Dazelle Yvette se destacam, oferecendo nuances de medo, coragem e desespero que elevam a experiência além do mero espetáculo visual.

A estreia ocorreu em 29 de agosto de 2025, em lançamento limitado nos Estados Unidos, com distribuição da Cinephobia Releasing. Poucos dias depois, em 26 de agosto, o longa chegou ao vídeo sob demanda, tornando-se rapidamente assunto entre fãs de terror independente. A crítica especializada tem recebido a obra como um tributo eficaz ao cinema grindhouse: sujo, brutal, com fotografia saturada e mortes inventivas. Muitos elogiam a capacidade de Walz de equilibrar reverência ao passado e originalidade, criando um filme que agrada tanto a nostálgicos quanto a espectadores em busca de choque genuíno.

Em última análise, o filme é mais do que um simples exercício de estilo. É um filme que respira a poeira e o medo de sua época, oferecendo um terror que não depende de truques digitais ou ironia pós-moderna. Com sua brutalidade explícita, atmosfera densa e respeito pelas raízes do gênero, prova que ainda é possível surpreender e perturbar em pleno século XXI. Para quem valoriza o horror em sua forma mais crua e autêntica, esta é uma experiência indispensável, um verdadeiro massacre à moda antiga, que honra o passado enquanto abre espaço para um futuro igualmente sangrento.

O filme incorpora elementos e ecos do passado, mas surpreende ao usar esse material de maneira imprevisível. Em vez de se limitar a repeti-los, o filme constrói uma identidade própria e trilha um caminho completamente seu.

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