O SENHOR DAS MOSCAS (1963-1990) - FILM REVIEW
O Senhor das Moscas (1963)
A história bíblica de Noé é basicamente, durante um momento em que Deus entendeu que o hediondo comportamento do ser humano precisava ser literalmente lavado. Em Gênesis, é mostrado o arrependimento de Deus em ter criado o homem, devido à maldade que este espalhara na Terra. Deste arrependimento, Ele envia um dilúvio, fazendo desaparecer tudo que havia sido criado até então. Porém, decide poupar Noé, por este ter agido bem, e lhe recomenda fazer uma arca de madeira, e abrigar, com sua família, um casal de cada espécie existente.
Não importa qual religião siga, crendo ou não nesta história, somos capazes de extrair ensinamentos dela. Grandes lições que podem ser aplicadas em nossas vidas. Mas uma em particular nos leva ao livro e filmes "O Senhor das Moscas". Conforme a Bíblia, Deus não poupou nem a pureza das crianças porque sabe (nem precisa ser onisciente para isso) que as elas crescerão e a partir daí, residirá o problema.
A "maravilhosa" criação de Deus era perfeita só quando vivia só, tanto que segundo a Bíblia (e não faço dela as minhas palavras), Adão estava só e ao criar Eva (da costela de Adão), a tranquilidade do Paraíso começou a ser sabotada. Mais misógino e machista que isto é impossível.
Portanto, o Dilúvio era inútil por um simples motivo: sobreviveu a ele uma família. Dela, novos membros iriam nascendo e conforme a evolução, os problemas retornariam por um simples motivo: o homem. "O Senhor das Moscas" nos traz esta ideia de separação, com um grupo pequeno, aparentemente inocente, isolado. E que até em um grupo de crianças, os lados contrários surgem, a luta pela sobrevivência perde espaço, e a ideologia se torna o fim, não um auxílio. Hoje, mesmo em nosso país, não percebo qualquer preocupação com o País. Os candidatos se tornaram clubes de futebol, que as pessoas torcem de forma irracional. Não há cuidado com o espetáculo ou com o próprio esporte. É uma relação passional doentia.
"Kyrie eleison"
Na história, um grupo de crianças fica perdido numa ilha deserta depois de um acidente de avião. Com as dificuldades, eles se unem, mas, a medida que vão dominando a Ilha, um sentimento de competição vai crescendo e começa uma luta pelo poder, que os divide em dois grupos. Ralph (James Aubrey) lidera um dos grupos, que defende a pureza civilizada e a união, já Jack (Tom Chapin) comanda os caçadores bárbaros. Eles entram em guerra e crianças que eram apenas crianças se transformam em meninos cruéis.
Não é sobre discutir pontos de vista. É sobre impor sua forma de ser como a certa e guerrear com os que pensam de forma diferente.
O filme é um reflexo social tão autêntico que assim que as filmagens começaram, o diretor Peter Brook dispensou amplamente o roteiro e encorajou seu jovem elenco a improvisar. Ele filmou mais de 60 horas de filmagem que foi então editada em um filme de 90 minutos. Consequentemente, não há crédito de roteiro. Ele sabia que o comportamento seria intuitivo, principalmente por não se tratar de um elenco experiente.
Em 1996, 35 anos após a realização do filme, a BBC realizou um documentário sobre o filme chamado "Time Flies", que reuniu o elenco principal e a equipe nas praias do Caribe onde foi filmado; um artigo escrito por um dos atores, Tom Gaman, mencionou que dos meninos, apenas aquele que interpretou Ralph (James Aubrey) e Nicholas Hammond, que interpretou Robert, seguiram carreira de ator. Nich teve uma carreira bastante extensa no cinema e na TV, interpretando, entre outros papéis, um dos filhos em A Noviça Rebelde (1965) e o papel-título da série Homem-Aranha (1977-79).
Gaman tornou-se um silvicultor freelancer em Inverness, Califórnia; Hugh Edwards (Piggy) tornou-se engenheiro de uma empresa russa; Tom Chapin tornou-se um geólogo de minas de ouro em Nevada e os gêmeos David Surtees e Simon Surtees (Samaneric) permaneceram juntos, morando com suas famílias no Reino Unido e trabalhando como orientador e administrador político, respectivamente.
Curiosamente, dois anos depois do lançamento do filme, uma situação similar aconteceu quando seis estudantes tonganeses decidiram passear com o barco de um pescador e naufragaram na ilha deserta de 'Ata e foram abandonados lá por 15 meses enquanto sua comunidade estava convencida de que estavam mortos. A arte imitou a vida...
Porém, ao contrário da história fictícia de William Golding, os meninos se mantiveram em boa ordem durante a estadia na ilha, mesmo quando um deles foi gravemente ferido com uma perna quebrada. Eventualmente, eles foram encontrados ainda vivos e resgatados pelo capitão Peter Warner, que não apenas os ajudou a lidar com as consequências legais de pegar o barco, mas os contratou como sua tripulação para seu barco de pesca.
Em tempo, O Senhor das Moscas, nada mais é que a cabeça de um porco espetada num pedaço de pau. Apodrecendo e cheio de moscas. Filmado em 1961, dois anos antes do lançamento em 1963. O mesmo aconteceu com a versão de 1990 assim como foi filmada em 1988.
Parece exagerado, mas tanto a Bíblia quanto a história "O Senhor das Moscas", nos mostra que não precisa mais do que um bando de crianças para instalação do caos.
O Senhor das Moscas (1990)
Peter Brook faleceu recentemente aos 97 anos (2 de julho de 2022). Além de O Senhor das Moscas (1963), dirigiu filmes marcantes como Duas Almas em Suplício (1960), A Perseguição e o Assassinato de Jean-Paul Marat Desempenhados Pelos Loucos do Asilo de Charenton Sob a Direção do Marquês de Sade (1967), Rei Lear (1970) e O Mahabharata (1989). Mas talvez, O Senhor das Moscas continue sendo sua obra mais revisitada.
Ele foi baseado no popular livro (lançado em 17 de setembro de 1954) de William Golding, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1983. E com este pedigree, era de se esperar (pelo menos) uma refilmagem.
Matem o porco! Cortem a garganta! Batam nele!
A história, evidentemente, continuou a mesma. Até a duração. Mesmo assim, há algumas diferenças pontuais. Algumas semanas antes do início das filmagens, o ator Balthazar Getty caiu de uma árvore e quebrou os dois pulsos. O diretor decidiu escrever seus ferimentos no roteiro e colocou o braço de seu personagem Ralph em uma tipoia durante metade do filme.
Curiosamente, tal como a primeira versão, as crianças eram relativamente inexperientes. E somente Balthazar Getty (Ralph) e James Badge Dale (Simon) tiveram carreiras de sucesso, exatamente como James Aubrey, que interpretou Ralph, e Nicholas Hammond, que interpretou Roger, na versão cinematográfica de 1963.
A abordagem difere um pouco. O grupo de crianças parece muito adulto no início do filme, com ótimo senso de organização até que se tornam um bando de moleques mimados fazendo molecagens. A cena da pedra neste filme é mais violenta. Da mesma forma, o bullying sofrido. Inclusive o elenco gera mais empatia que o filme de 63. É sempre interessante maratonar duas versões e perceber melhorias e falhas.
E mais interessante ainda é perceber que o caos nasce da necessidade de cessá-lo.
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