UWE BOLL - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Nascido em 22 de junho de 1965, em Wermelskirchen, Alemanha, Uwe Boll tinha apenas 10 anos quando começou a filmar curtas-metragens com sua câmera Super 8. Sua motivação para se tornar um cineasta era inegável. No entanto, foi somente em 1995, quando começou a trabalhar com a Taunus Film Production GmbH como produtor e diretor, que a carreira cinematográfica de Boll realmente decolou.
Ele ficou conhecido por produzir adaptações de videogames para o cinema, quase todas recebidas com intensas críticas negativas. Alguns de seus filmes, como Seed: Assassino em Série, Postal, Alone in the Dark e House of the Dead estão entre os 100 piores filmes de todos os tempos, segundo a avaliação do público do Internet Movie Database; por isto em 2009 foi indicado ao "prêmio" Framboesa de Ouro de pior carreira cinematográfica (categoria na qual foi o único concorrente).
E hoje com vocês, Uwe Boll.
Boa sessão:
1) “Ninguém vai bater mais forte do que a vida. Não importa como você bate e sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando; o quanto pode suportar e seguir em frente. Assim é a vida.” disse Rocky Balboa. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte como foi seu início de carreira.
U.B.: Comecei como assistente em filmagens para a televisão, aprendendo ali a base de como funcionava um set. Depois, em 1991, consegui rodar meu primeiro longa-metragem independente na Alemanha, chamado German Fried Movie. O orçamento foi de apenas 60.000 marcos, o que já mostra como tudo era feito com muito improviso e paixão. Foi a partir dessa experiência que realmente percebi que queria continuar fazendo cinema, não importava o tamanho das dificuldades.
2) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
U.B.: Entre os trabalhos da minha carreira, destaco Darfur: Deserto de Sangue, um filme que considero importante por abordar um tema humano e político sério. Também gosto muito de Stoic, que foi feito em condições muito limitadas, mas conseguiu transmitir intensidade e realismo. Já a trilogia Rampage (1, 2 e 3) é especial porque tive total liberdade criativa, sem restrições de estúdio, e pude explorar questões sociais e políticas de forma direta. E claro, Postal, que é provavelmente o meu filme mais polêmico e provocador, mas, ao mesmo tempo, um dos mais divertidos de fazer.
3) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.". Considerando a reflexão, há alguma experiência em sua vida dedicada à arte que foi especialmente marcante?
U.B.: Muitas experiências foram marcantes, mas talvez a mais intensa tenha sido filmar as cenas em Auschwitz. Estar dentro das câmaras de gás é algo que não dá para descrever totalmente. O lugar carrega um peso quase físico, você sente a energia, a tristeza, a dor impregnada ali. É um ambiente que deprime, que te envolve de maneira sufocante. Para mim, foi impossível separar a parte artística da realidade histórica. Aquilo mudou minha forma de ver o cinema e a responsabilidade que temos como contadores de histórias.
M.V.: Deve ser macabro.
U.B.: É um peso inacreditável. O lugar é deprimente. Te deprime. É físico. Real.
4) Você tem algo a dizer sobre as terríveis críticas que seus filmes recebem? Como lida com bullying? Muitos não demonstram qualquer respeito com a pessoa e o profissional Uwe Boll, que é apenas um diretor fazendo seu trabalho da melhor forma possível.
U.B.: É injusto. Os críticos costumam nem ter visto os filmes, e julgam por um ou outro que viram e não apreciaram. O inverso ocorre com diretores renomados, que recebem notas altas instantaneamente, e muitas vezes, antes mesmo do filme ser lançado. Mas finalmente as críticas estão ficando melhores nos últimos anos.
M.V.: Por qual motivo? Os seus filmes ficaram melhores ou cansaram de te bater?
U.B.: Cansaram de apanhar...
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante?
U.B.: Um Top 10 dos filmes da minha vida, começaria com Apocalypse Now, uma obra monumental sobre a loucura da guerra. Depois, Laranja Mecânica, que é perturbador e brilhante na forma como fala sobre violência e sociedade. Tubarão, porque Spielberg redefiniu o cinema de entretenimento.
Dança com Lobos, pela poesia e pela força histórica. Claro, não dá para deixar de fora O Poderoso Chefão 1 e 2, talvez os maiores épicos do cinema moderno. Também coloco Bons Companheiros e Touro Indomável, onde Scorsese e De Niro levaram o cinema a outro patamar.
Mais recentemente, O Lobo de Wall Street, que mostra o excesso e a decadência do capitalismo de uma forma brutalmente divertida. J.F.K. de Oliver Stone, pela coragem política. E, por último, Postal, porque é o meu filme mais pessoal e o que melhor traduz meu espírito de provocação no cinema.
6) Agora vamos falar de futuro. Tem projetos engatilhados?
U.B.: Acabei de fazer Rampage 3... e agora é aposentadoria.
M.V.: Espere um pouco!!! Aposentadoria? Já?!
U.B.: Sim. Filmes com orçamento entre 1 e 10 milhões estão MORTOS... nenhum refinanciamento é possível mais. Somente em TV e orçamentos de 150 milhões nos cinemas, filmes sobrevivem.
M.V.: Mas justo agora que as críticas melhoraram?
U.B.: Sim. Cansei de jogar este jogo.
M.V.: Bom, talvez surja alguma opção em que os grandes estúdios percam força. Talvez pelo streaming.
U.B.: Mesmo assim. Para mim acabou.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
M.V.: Curta sua aposentadoria amigo. Sucesso em seus novos projetos.













