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SUZANA UCHÔA ITIBERÊ - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS


Suzana Uchôa Itiberê é jornalista e crítica de cinema, paulista, nascida em 7 de outubro de 1971. Com mais de 25 anos de experiência na cobertura de cultura e entretenimento, iniciou a carreira no jornal O Estado de S. Paulo, onde atuou em diferentes cadernos e firmou sua trajetória na crítica cinematográfica. É formada em Comunicação e Jornalismo pela PUC-SP e possui especialização em cinema pela UCLA e pelo AFI (American Film Institute), em Los Angeles.

Foi editora-chefe da revista Preview por uma década, publicação que ajudou a fundar, e desde 2019 lidera o portal OQVER Cinema & Streaming, onde publica críticas, entrevistas em vídeo e sugestões de produções imperdíveis nos cinemas e nas plataformas digitais. Suzana também atua na edição e coordenação de projetos editoriais e é membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), além de ter participado como Jurada Internacional na 81ª e 82ª edições do Globo de Ouro.

Vamos às 7 perguntas capitais:



1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema? 

S.U.I.: Acho que nasci cinéfila! Lembro que minha cama, na infância, tinha uma grade verde com barrinhas de madeira. Antes de dormir, eu apertava uma dessas barras para “escolher” o tipo de sonho que queria ter: aventura, comédia ou drama, terror, não! Minha mãe conta que, quando ia me acordar, eu respondia: “Só um minuto, meu filme está acabando” (vê se pode!). Acho que era do tipo que sonhava acordada o tempo todo.

Mais tarde, meu apelido na família virou Suzy Plim Plim, porque eu não saía da frente da TV, assistindo aos filmes da Sessão da Tarde. “Plim Plim” é o barulhinho da vinheta dos comerciais da Globo. Nas férias, eu chegava a assistir até aos filmes do Corujão, que passavam bem tarde da noite.


2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte? 

S.U.I.: Sim! Tenho muitas biografias de astros e estrelas, livros teóricos sobre cinema e obras que inspiraram filmes. Também coleciono edições da revista SET, desde os tempos em que eu sonhava trabalhar lá, além, é claro, da minha coleção da PREVIEW.

Mas há itens relacionados ao cinema espalhados por toda parte. Enquanto escrevo, estou olhando para uma mini estatueta de vidro amarelo em formato de Kikito, que ganhei por ter sido jurada da mostra de Curtas Nacionais no Festival de Gramado, no ano passado.


3) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante? 

S.U.I.: Com certeza vou deixar centenas de títulos de fora, e vou me lembrar de vários só depois de ter enviado as respostas. Mas vamos lá: E.T., Grease, Cinema Paradiso, A Profecia, Blade Runner, De Volta para o Futuro, Crepúsculo dos Deuses, Assim Caminha a Humanidade, A Felicidade Não Se Compra, Cidadão Kane, Tubarão...

Que difícil! Se eu começar a escrever títulos, não paro mais!


4) "Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.", diria Benjamin Button em seu filme. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte como foi seu início de carreira.

S.U.I.: Sempre soube que o cinema teria de fazer parte da minha vida de alguma forma, pois era uma paixão muito grande. Fiz o curso de Jornalismo pensando em unir o prazer de escrever com o amor pelo cinema. Comecei como estagiária no Estadão nas férias do primeiro ano da faculdade, na PUC-SP. Meus primeiros passos foram no caderno Cidades, onde tive chefes que nunca esquecerei, Paulo Campo Grande, que é um amor de pessoa, e a maravilhosa Cecília Thompson, que foi uma professora e uma mãezona.

Eu fazia atendimento ao leitor na seção São Paulo Reclama e precisava reduzir cartas imensas de leitores. Pode parecer bobo, mas foi assim que desenvolvi uma grande habilidade de síntese. Claro que já estava de olho no Caderno 2, e o Hamilton dos Santos me deu meu primeiro livro para resenhar. Na faculdade, uma professora comentou que gostava das minhas resenhas, e a ideia de ser crítica floresceu a partir daí.

Fiquei no Estadão por seis anos e, quando finalmente migrei para o C2, trabalhei como assistente do editor do Suplemento Cultura (publicado aos sábados, mais focado em literatura). O Caderno 2 já era o reduto do Merten (adoro!!!) e do Zanin, e eu sabia que precisava me especializar se realmente quisesse investir no cinema. Consegui que me demitissem para poder sacar o FGTS e fui estudar por uma temporada na UCLA e no AFI, em Los Angeles. Foi uma imersão transformadora.

Durante o dia, lia livros teóricos e assistia a todos os filmes possíveis (ficava enlouquecida nas locadoras!) e, à noite, estudava cinema. Já havia tentado trabalhar na SET na época do Estadão, mas foi só na volta de LA, com um portfólio mais robusto (fiz freelas para o Caderno, como a entrevista com o filho do Humphrey Bogart e com o biógrafo de Tom Cruise), que a oportunidade se concretizou.


Resumindo: pois lá se vão mais de 20 anos, a SET me aproximou do universo da TV por assinatura, que ainda engatinhava. Fizemos um encarte, um guia de programação dos poucos canais existentes na época, e acabei sendo chamada para trabalhar na Editora Zem, responsável pela Revista TVA, então terceirizada pela Abril. Fiquei seis anos na redação, mas continuei como colaboradora da SET.

Mais tarde, saí da Zem, pois a Abril decidiu internalizar a produção da Revista TVA, e fui junto. Pouco depois, pediram que eu abrisse uma empresa para seguir produzindo a revista como terceirizada. Assim foi, até que, dois anos depois, decidiram levá-la de volta para a redação da Abril. Como eu estava com meu segundo filho bebê, preferi me arriscar como freelancer para ter mais autonomia nos horários.

Continuei firme na SET e passei a colaborar com a IstoÉ Gente. Só que veio a crise: a Gente fechou, depois a SET também encerrou as atividades. Então, decidimos (eu, Ricardo Matsumoto, Mariane Morisawa, Márcia Chicaoka) correr contra o tempo e lançar a PREVIEW, não podíamos ficar sem uma revista de cinema. Isso foi em 2009, e já são oito anos de uma estrada esburacada, como é o universo editorial brasileiro.

A PREVIEW é uma produção totalmente independente, então você já pode imaginar a dificuldade de sobreviver sem uma grande editora por trás. Não é fácil, mas a paixão pelo cinema ainda fala mais alto!

M.V.: E para deixar registrado: colecionei a revista SET desde o número 1. Passei a comprá-la quando descobri a edição com a capa da Jodie Foster (Ano 3 - Ed. 22 - Nº 4) e, depois, fui atrás dos números anteriores. Mais tarde, comecei a colecionar também a Preview, e tive a honra de escrever uma matéria nela chamada "Pais do Cinema", além de duas críticas de filmes (O Primeiro Homem e Bohemian Rhapsody).


5) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?

S.U.I.: No quesito emoção, foi marcante quando a Isabela Boscov, então editora da SET, apostou em mim e me chamou para trabalhar lá. Foi um sonho realizado, e aquele foi um dos períodos mais felizes da minha vida.

Imagine: de um lado, a Isa, uma mestra, mulher admirável, visionária e adorável como pessoa. Quem, hoje, colocaria a Marilyn Monroe na capa de uma revista por conta de um perfil? Quem daria uma semana para uma repórter se debruçar sobre nomes como Alfred Hitchcock e John Wayne para escrever um perfil de 10 a 12 mil toques? A Isabela. Só ela. Bons tempos...

E, do outro lado, o Christian Peterman (meu querido e saudoso amigo), responsável pela seção de Home Video, com quem eu tinha papos incríveis sobre cinema. No quesito desafio, sem dúvida, fundar uma revista sem apoio algum, mas com muito amor e idealismo, e poder comemorar seus 8 anos de existência. A edição número 100 será lançada em dezembro.


6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos. 

S.U.I.: Meu sonho é ver a PREVIEW crescer, se fortalecer e conquistar recursos e estrutura para realizar um trabalho ainda melhor. Estou feito louca, as distribuidoras parceiras já não aguentam mais meus pedidos de publicidade (risos), em busca de apoio para manter a revista viva e investir ainda mais no site - revistapreview.

Quero aumentar o número de páginas da revista, ampliar a redação (hoje trabalhamos em esquema de home office, com uma equipe mínima) e chamar um monte de gente talentosa para escrever em todas as nossas plataformas. 

Os sonhos são muitos, os recursos ainda curtos, mas eu não desisto fácil!


7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?

S.U.I.: Muitas vezes desejei não ser tão apaixonada pelo cinema e pelo que faço. Amo profundamente tudo isso, mas é uma profissão muito mal remunerada e pouco valorizada. Sou idealista, mas apanho bastante da vida por isso. São poucos os que acreditam em cultura neste país, e é extremamente frustrante (para não dizer desesperadora) a falta de interesse de grandes empresas, fora desse universo, em apoiar projetos como a PREVIEW.

Se não houver um ganho direto por trás (como isenção ou desconto de impostos), a resposta quase sempre é não. O grupo Ipiranga foi o único que nos apoiou por acreditar genuinamente no projeto. Não vou ficar de "mi mi mi" aqui, mas, sem algumas distribuidoras parceiras, Paramount, Sony, Universal, Warner, Fox, Mares, Paris, Supo Mungam, Cineart, Downtown, Lume, Kinoplex e Imagem (faço questão de citar!), já teríamos fechado as portas.

Por isso, seria hipócrita deixar uma lição do tipo: “Faça o que ama que vai dar tudo certo.” Não é bem assim. Meu conselho para quem está começando é ser muito pé no chão na hora de escolher uma profissão. Paixões podem ser hobbies, e conseguir pagar as contas faz bem à saúde mental.

Pode parecer um pouco amargo, mas não dá para dourar a pílula nesse caso. É por amor ao cinema que eu continuo sonhando acordada. E, se já realizei alguns sonhos, quem sabe não realizo mais este: ver a PREVIEW prosperar.

M.V.: Obrigado. Sucesso para você.


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