FERNANDO ALVES PINTO - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Fernando Alves Pinto, ator brasileiro nascido em São Paulo em 6 de maio de 1969, é filho do cartunista Zélio Alves Pinto e sobrinho de Ziraldo. Iniciou no teatro ainda jovem, no colégio São Luís, montando peças como Pluft, o Fantasminha e Merlin e a Demanda do Santo Graal. Em 1987, mudou-se para Nova York, onde estudou interpretação, fez trabalhos manuais e atuou no grupo de teatro físico LaMama. Sua estreia no cinema foi em Terra Estrangeira (1995), de Walter Salles e Daniela Thomas.
E hoje, com vocês, Fernando Alves Pinto
Boa sessão:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é um apaixonado por cinema? Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.
F.A.P.: Cinema é uma união da arte visual, musical e poética. Sim, sou adepto à cinefilia. Não coleciono filmes, aprecio o ritual de ir ao cinema, acho que mesmo se tivesse um cinema em casa, preferiria ainda ir ao cinema. Tenho alguns DVDs que não poderia evitar, e assisto muito na TV, já que a cinematografia em cartaz é pequena por aqui.
2) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Se lembra de alguma história que tenha acontecido durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar?
F.A.P.: Sem dúvida, as filmagens do “Tônica Dominante” serão sempre um marco. Os filmes da Lina Chamie são poemas cinematográficos lindos, nesse, minha personagem é um clarinetista de orquestra. Lina é clarinetista e me dava aulas para as filmagens.
O que ocorreu é que, nos supostos últimos dias da filmagem, saindo de uma aula de clarineta com Lina, indo encontrar o grupo de dança novaiorquino Stump, que trabalhava como tradutor, tive um acidente grave, minha bicicleta prendeu a roda num buraco escondido pela água da chuva e eu voei protegendo minha clarineta e caí de cabeça na quina de um carro estacionado.
Convulsões, coma e incerteza de volta. As filmagens pararam e retomaram só 3 anos depois, quando voltei a funcionar. O coma foi uma viagem enorme, como se tivesse entrado em um foguete que quebrou nos limites do sistema solar e tivesse que voltar a pé, sem mapa… Posso dizer que a ajuda do meu estudo musical para o filme, a clarineta e outros instrumentos, o cinema e a música, me ajudaram a voltar a pensar e mesmo a existir.
3) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
F.A.P.: Cada um tem sua história, o Terra Estrangeira é muito importante, em muitos sentidos, a retomada da autoestima do país pelo renascimento do cinema, é meu primeiro filme, com um time de mestres, a Dani Thomas, os Walters, o Salles e o Carvalho, a Fernandinha Torres, o Luis Mello, enfim.
M.V.: Houve algum que foi mais prazeroso de fazer?
F.A.P.: Acredito que, como ator, meu mais forte é o “Para Minha Amada Morta” do Aly Muritiba, um personagem muito denso e com uma das minhas sequências favoritas, no começo, quando ele tem o choque assistindo o vídeo.
M.V.: E no teatro?
F.A.P.: No teatro, tenho algumas favoritas que acredito ter me divertido também, o muito especial “Esperando Godot”, direção do Zé Celso, “As Três Irmãs”, inesquecível montagem de Bia Lessa, e outra queridíssima, que pode até voltar, que é muito amada pelo elenco todo, “A Mulher Que Ri”, de Yara Novaes, de um texto de Paulo Santoro.
4) "Dois coelhos" é um dos melhores, mais engenhosos e bem montados filmes nacionais que assisti. Pode me dizer algumas curiosidades da produção?
F.A.P.: Pois, 2 Coelhos, sim, ia até falar dele na última pergunta, é muito importante também. Afonso é muito talentoso, e ele tinha tudo muito claro na cabeça filmando. Foram peculiares as filmagens também, porque o meu personagem é o protagonista, mas acredito que não está em mais da metade das cenas. Então as minhas filmagens foram um pouco saltadas, não filmava todos os dias.
Foi muito bom quando fui gravar a narração, contando a história, foi delicioso como eu me diverti, como nos divertimos, acho, no estúdio! Foi aí que eu finalmente senti, como se eu abraçasse, o filme inteiro, contando a história do Edgar como o Edgar.
M.V.: É um filme inspiradíssimo. Eu ia citar justamente sua narração como um ponto alto. Uma das mais memoráveis dos últimos tempos, juntamente com a do Wagner Moura em "Tropa de Elite".
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante?
F.A.P.: "Funny & Alexander", “Macunaíma", "Em Busca do Cálice Sagrado - Monty Python", qualquer um do Peter Sellers e mais antigo, do Buster Keaton!
M.V.: Buster Keaton era um gênio. Curioso é que ele faleceu dia 1 de fevereiro, dia do meu aniversário, e exatamente 10 anos antes (risos).
F.A.P.: Ele era mesmo um mestre.
6) Fale um pouco dos seus próximos projetos.
F.A.P.: Saindo do forno temos o "Rio-Santos" do Klaus Mitteldorf, que deve ser lindo, e o “Legalidade” do Zeca Britto, muito importante de memória nacional. Também em VOD pelo Canal Brasil, o “Quando o Galo Cantar Pela Terceira Vez, Renegarás Sua Mãe”, muito ousado do Aaron Torres, no qual eu faço uma personagem que também gosto muito, um esquizofrênico funcional que me surpreendeu na primeira sessão, onde tínhamos um time de psicanalistas que muito apreciaram! Em VOD do Canal Brasil/Net/Now também temos uma produção muito corajosa de Inez Viegas chamada “Desabafo”, onde eu e Inez fazemos 3 personagens muito distintos.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
F.A.P.: Nada faz sentido, tudo é, ou vira contraditório. Mas tudo só faz sentido através da Arte. Enfim, arte é essencial como o ar, mais até que a comida. Mesmo que todo o resto insista na superfluidade da arte, que ela não é essencial, é ela que nos faz entender o Todo, ver que as coisas nunca são o que parecem. Nada não é fácil.
A vantagem da arte da interpretação é que tudo, toda e qualquer atividade, gosto, apetite, profissão, tudo vai ser matéria-prima para os personagens e situações. A arte faz muito bem para quem vê e para quem faz. Amplia os sentidos, é como ir para uma academia e fazer alongamento de sensações e fortalecimento de caráter.
M.V.: Obrigado, amigo. A gente se vê nos filmes.