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WILSON CUNHA - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS

Carioca nascido em 1941, Wilson Cunha é jornalista de formação. Começou a se interessar por cinema ainda na época de estudante. Foi redator do Caderno B, do Jornal do Brasil, e da revista Manchete. Crítico de cinema, também foi diretor dos canais Multishow (de 1993 a 2009) e do Canal Brasil (de 1993 a 2003). 

Em 2009, foi contratado pela Telecine Productions, marca da Rede Telecine que assina coproduções cinematográficas, passando a exercer a função de consultor para desenvolvimento de projetos nacionais e realizando a análise e seleção de roteiros e novos projetos para coprodução do Telecine. 

Foi conservador adjunto da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre 1964 e 1967, e, ao lado de Fabiano Canosa e Cosme Alves Netto, se tornou um dos responsáveis pela programação do cinema Paissandu, símbolo de uma cinefilia que ficou conhecida como "geração Paissandu".  

Foi o primeiro diretor do departamento de cinema da Rede Manchete, quando criou e apresentou o programa Cinemania e deu grande visibilidade ao cinema brasileiro. No Multishow desenvolveu, pela primeira vez no mercado de TV por assinatura, uma programação sistemática de cinema brasileiro. 

Deu formato ao Canal Brasil, no qual foi o primeiro diretor. O canal, representado por Wilson, foi o ganhador do Prêmio de Contribuição ao Cinema Brasileiro no Grande Prêmio Brasil de Cinema de 2000.

Vamos às 7 perguntas capitais:



1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: sou cinéfilo! 

W.C.: Antes da paixão, foi o fascínio: por volta dos 4/5 anos, o garoto gorduchinho foi ao cinema e, perplexo, viu um "presépio que se mexia". Era uma primitiva "Vida de Cristo". Levou um tempo até Oscarito, Bob Hope, Jerry Lewis & Dean Martin, Errol Flynn e John Wayne entrarem em cena. 

Agora o tal momento do "ferrou" foi quando, no início da adolescência - depois de um sensacional "Torneio Início do Campeonato Carioca" - para quem ainda não estivesse nem aí, eram uma série de partidas entre clubes jogadas no mesmo dia e no mesmo Maracanã, verdadeira maratona de que o Vasco quase sempre se sagrava Campeão!!!! - pedi ao meu pai que, ao voltar do Maraca para casa, parasse o carro no Cine Santa Alice. Os velhos ficaram chocados! (risos).

2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte? 

W.C.: Já tive coleção de Cahiers du Cinéma (desde os de capinha amarela), Sight and Sound, Cadernos de Cinema, páginas e páginas de cinema do Correio de Manhã, até mesmo uma penca de artigos meus da Tribuna de Imprensa, |O Jornal, Jornal do Brasil, Revista Manchete, além de um sem número de trilhas sonoras (primeiro em vinil, depois em CD), centenas de DVDs, paredes do quarto cobertas com cartazes de cinema, camisetas - e tudo mais que se possa imaginar.

Nos últimos anos, tenho cultuado o desapego e distribuído entre amigos a maioria do material, digamos, não fundamental. Por enquanto, continuam guardados comigo alguns remanescentes muito queridos - quem sabe em mais alguns anos de análise...

3) Seu trabalho à frente do Cinemania na TV Manchete foi um dos mais importantes na minha formação cinéfila. Eu não perdia um programa, que apresentou a partir de 1988, se não me engano. Pode contar algumas histórias de bastidores ou mesmo das cartas que os telespectadores enviavam.

W.C.: A televisão é uma série de felizes "acidentes" em minha vida pessoal e profissional. Eu estava na redação da Manchete, envolvido com o fechamento dos layouts, quando o Pedro Jack Kapeller, diretor-superintendente da Rede Manchete de Televisão, se aproximou da minha mesa e me perguntou se eu queria dirigir o Departamento de Cinema da TV Manchete que estava sendo implementado. Aceitei e levei a máquina de escrever(!) da Redação da revista, pois a TV ainda estava no osso...

Na TV, aconteceu outro feliz "acidente": o convite de Luiz Gleiser para criar especiais de cinema - "50 anos de Balangandãs", em torno de Carmen Miranda, "A Magia do Cinema", etc. - possibilitando a minha incursão pelo "fazer TV". O próximo passo foi o nosso Cinemania - e eu nunca cansei de dizer para a equipe que quanto mais nos divertíamos, mais o espectador entraria na nossa vibe. Sempre buscamos o lúdico e, isto, inclusive, creio, atraiu um público muito jovem. Levávamos informação, mas, ao mesmo tempo, evitávamos qualquer ar professoral.

As cartas são um caso à parte. Houve um tempo em que um jornal semanal, Shopping News, era entregue gratuitamente, de casa em casa. Alex Viany era o responsável pela parte de cinema e lançou um concurso: a cada semana publicaria uma crítica do leitor - e, para mim, ainda adolescente, foi uma tremenda emoção quando vi minha primeira crítica publicada. Acreditei que envolvendo, de alguma forma, o emotivo dos espectadores, o "Cinemania" estaria chegando mais perto do espectador. Deu certo.

M.V.: Foi uma época, realmente, memorável. Lembro que foi no Cinemania que vi, pela primeira vez na vida, uma cena de bastidores, que no caso foi do filme Máquina Mortífera.

W.C.: Agora, uma curiosidade: muitas vezes, quando um daqueles clipes especiais do programa não ficava muito bom, eu mesmo escrevia uma carta reclamando, pedindo que fosse refeito, e ia postar no correio aqui perto de casa... e o clipe era refeito... Hoje nem a agência do correio existe mais...)

Outra de bastidores: para colocar o primeiro programa no ar, selecionar aquelas vinhetas era uma coisa de louco. Passei 36 horas na emissora...

M.V.: Sério? Meu Deus...

4) Quem trabalha no meio artístico costuma acumular histórias curiosas, inusitadas e, muitas vezes, divertidas. Qual foi a experiência mais marcante que viveu nesse universo?

W.C.: A realização. Ter sido assistente de direção do Paulo Cesar Saraceni em "Capitu", produtor associado do Maurício Gomes Leite em "A Vida Provisória", me fez mergulhar, profundamente, nos intrincados processos de criação, na dificuldade, muitas vezes, dos realizadores em perceber as armadilhas em que estariam caindo. 

Ao mesmo tempo, consolidou em mim a certeza de que ao crítico não cabe levar em consideração as dificuldades dos meandros criativos. Cada um dos espectadores também tem seus problemas e, na bilheteria, além da meia-entrada (nem sempre devida, é verdade), não fica pedindo misericórdia.

5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?

W.C.: Esta é, sempre, a parte mais difícil. Citarei alguns: "Dois Destinos", de Valério Zurlini, "30 anos esta noite", de Louis Malle, "A Marca da Maldade", de Orson Welles, os filmes de Blake Edwards - sem dúvida meu diretor favorito e a quem tive o prazer de entrevistar em Londres, "O Homem do Sputnik", de Carlos Manga, "O Professor Aloprado" (e uns tantos outros de Jerry Lewis), "Oito e Meio" (e uns tantos outros) de Fellini, os westerns de Howard Hawks, os musicais de Minnelli... e a lista continuaria infinita até filmes tão fortes quanto os atuais "O Insulto" ou "Três Anúncios para um Crime". 

Só lamento que o prazer pela aventura de um "Superman, o filme" tenha sido esmagado pela pasteurizada e tonitruante produção em massa da Marvel.

M.V.: Bom, em minha opinião, o Superman do Donner continua sendo o melhor e mais charmoso filme de herói já feito.

6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos...

W.C.: Atualmente, após mais de 50 anos de trabalho, de escrever mais que um escravo egípcio às voltas com os papiros, desenvolvo apenas o projeto de tentar viver o melhor possível, nestes tempos tão impossíveis em que todos parecemos ter perdido o juízo. Buscar o equilíbrio já me parece um esforço tantálico.

Neste período, que chamemos de sabático, redescobri um prazer adolescente: frequentar as matinês dos cinemas em dia de semana. É a quintessência da felicidade.

7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?

W.C.: Viver intensamente o cinema, abrindo os olhos para tudo o que a tela nos oferece - saber "ver" um filme é mergulhar na diversidade que tem a nos oferecer e, a partir dele, perseguir as pistas - intelectuais, emocionais - que ali nos são apresentadas. O cinema me salvou de uma possível vida medíocre: deu-me amigos e, acima de tudo, um amor.

M.V.: Obrigado, amigo... Foi um prazer.


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