ERNANI SILVA - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Nascido em 6 de novembro de 1963, o mineiro Ernani Silva é um empresário brasileiro com mais de 30 anos de experiência no mercado audiovisual. Iniciou sua carreira como proprietário de uma rede de locadoras e atuou no segmento de distribuição de filmes. Lançou diversos selos em DVD (como London Films), cada um dedicado a um gênero específico, como comédias, animações, faroestes e musicais.
Posteriormente, ingressou no Blu-ray com a 1Films, bastante conhecida dos colecionadores por incluir um CD com a trilha sonora do filme, apresentado em uma embalagem de papel. Em 2009, iniciou um projeto que mais tarde se transformaria na DarkFlix, plataforma de streaming especializada nos gêneros de terror, suspense e ficção científica.
“Assista se tiver coragem”.
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
E.S.: Sim. O cinema está diretamente ligado às minhas melhores memórias afetivas. Desde os meus 7 anos de idade, sou apaixonado por essa arte. Passei a infância sonhando com o dia em que existiria uma caixa cheia de filmes para assistir. Na adolescência, pulava os muros do colégio para ir ao cinema e assisti a muitos filmes na tela grande antes mesmo do surgimento do VHS.
Posso citar alguns que me marcaram: Star Wars (assisti numa noite de réveillon e perdi a festa da virada), Carrie, a Estranha (vi com minha primeira namorada), Carne para Frankenstein (assisti usando uma carteirinha de estudante falsificada por causa da censura, a mesma estratégia que usei para ver Decameron), De Volta para o Futuro, A Hora do Espanto, O Dragão Chinês, Operação Dragão (dormi no meio do filme), entre outros. Vi muitos filmes no cinema.
Quando o cinema da minha pequena cidade em Minas Gerais (Paraguaçu) fechou, eu sempre reservava um tempinho para ver um filme quando vinha a São Paulo. Foi numa madrugada em Sampa que assisti Kickboxer, com Van Damme (um dos piores filmes que vi na vida). Logo cedo comecei a trabalhar com filmes, representando distribuidoras de home vídeo. Tive laboratório de duplicação de VHS, rede de locadoras e empresa de licenciamento para cinema, home vídeo e TV.
2) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
E.S.: Drácula – O Príncipe das Trevas (o filme de terror mais vendido na história do mercado de home vídeo brasileiro) foi o primeiro longa do gênero a me impactar, e, mais tarde, também por motivos comerciais.
Mas o meu filme preferido de todos os tempos é O Exterminador do Futuro. Não vou citar O Senhor dos Anéis, porque ele não se encaixa em nenhuma categoria. Está acima de absolutamente tudo o que já foi produzido na história do cinema.
3) A criação do seu streaming, Darkflix, surgiu de uma necessidade de preencher uma lacuna? E em que momento a ideia de criar uma "Netflix do horror" tomou forma?
E.S.: Não considero a Darkflix uma “Netflix do horror”. Nosso projeto é mais abrangente. A Darkflix é uma plataforma multimídia dedicada ao cinema fantástico, que inclui distribuição em home vídeo, uma editora de livros e quadrinhos, um canal de TV, um serviço de streaming pago, uma plataforma de leitura de HQs e uma produtora de eventos relacionados ao gênero fantástico.
Esbocei o projeto inicialmente como um canal de TV aberta voltado ao gênero. No entanto, devido a obstáculos comerciais e estruturais, tive que abortar a ideia, e só retomei o desenvolvimento com o surgimento do streaming.
4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?
E.S.: Lancei pela London Films 4 filmes da franquia Drácula produzida pela Hammer. Os outros 3 filmes da série de 7 pertenciam ao catálogo da Warner. O filme Drácula - O Príncipe das Trevas era o segundo da franquia, e eu já havia vendido mais de 100.000 cópias em DVD até então.
Procurei a Warner para licenciar os demais filmes, principalmente o primeiro da série, O Vampiro da Noite. Eles foram muito atenciosos, mas o negócio não avançou. Depois, soube que não acreditaram nos meus números, pois haviam vendido apenas 3.000 cópias do primeiro filme. Posteriormente, a própria Warner encomendou uma pesquisa pela Nielsen, e, entre os 10 títulos mais vendidos no mercado brasileiro naquele ano, 5 eram nossos, incluindo os 3 primeiros.
E, pasme: o título mais vendido era Missão Laser/Missão Resgate, estrelado por Brandon Lee.
5) Imagine o cenário: você é um diretor (de qualquer país) no set de filmagem de um filme memorável. Quem seria, em qual filme, e por que essa experiência seria tão marcante para você?
E.S.: Eu gostaria de ser o James Cameron quando ele fez “O Exterminador do Futuro”, pois eu optaria pelo final alternativo que ele chegou a filmar e está no Blu Ray.
6) Trabalhar com cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor? E em contrapartida, faria algo diferente?
E.S.: Para chegar onde estou e no momento em que me encontro, tive que passar por bons e maus momentos. Tudo me serve como aprendizado e inspiração. Não sei se tive mais alegrias do que decepções, mas procuro não esquecer as decepções, pois me baseio nelas para não cometer os mesmos erros.
O trabalho que realizo hoje é o que mais me deixa orgulhoso, pois eu havia planejado me aposentar este ano. No entanto, estou começando um novo ciclo, com uma equipe de jovens talentosos e inspirados.
7) Para finalizar, deixe uma frase ou pensamento envolvendo o cinema que representa você.
E.S.: O cinema é fantasia e ilusão, então essa frase do filme O Homem que Matou o Facínora, de John Ford, cai perfeitamente nesta entrevista: "Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda."
M.V.: Muito obrigado amigo.