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MIRAMAX - A HISTÓRIA

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O início sangrento

Uma das maiores e mais celebradas produtoras de cinema encerrou suas atividades em meio a um dos escândalos mais devastadores de Hollywood. Mas sua caminhada de sucesso começou com um slasher: Chamas da Morte.

Naquele período, Harvey Weinstein tentava abrir espaço na indústria do cinema. Inspirado por sucessos como O Massacre da Serra ElétricaHalloween: A Noite do Terror e Sexta-Feira 13, ele quis algo original e encontrou a história perfeita numa lenda local. Quando era jovem, em acampamentos no interior de Nova York, ouviu falar do Cropsy, uma figura assustadora que virou base para o roteiro. Weinstein levou a ideia a Michael Cohl, também produtor, que aprovou na hora.

A trama se apoia em um incidente terrível: um grupo de garotos provoca, sem querer, o incêndio que deixa um zelador desfigurado. Anos depois, o tal zelador, Cropsy, ressurge em busca de vingança, perseguindo Todd, um dos responsáveis pela tragédia, que agora trabalha em outra colônia de férias. Antes de chegar a Todd, Cropsy faz várias vítimas.

Criador e monstro

Harvey Weinstein poderia ser lembrado apenas como o cérebro por trás da Miramax, mas se tornou o próprio monstro da sua história. Ele representa uma face dupla: Dr. Jekyll e Mr. Hyde, um produtor de prestígio que escondia o predador sexual que hoje cumpre pena.

Junto com o irmão mais novo, Bob Weinstein, ele fundou a Miramax Films e mais tarde a The Weinstein Company. O nome Miramax homenageia os pais deles, Miriam e Max, e marcou época como uma das distribuidoras independentes mais premiadas do cinema. Para se ter ideia, em determinado momento, Harvey chegou a figurar em listas de pessoas mais influentes do mundo.

O lobby de Shakespeare

Até hoje muitos ainda engasgam com o Oscar conquistado por Shakespeare Apaixonado, visto por muitos como inferior a concorrentes de peso como O Resgate do Soldado Ryan e Além da Linha Vermelha. O lobby de Weinstein foi decisivo para virar esse jogo, assim como o de Gwyneth Paltrow, que venceu nomes como Fernanda Montenegro, Meryl Streep e Cate Blanchett.

A lista de produções que chegaram à disputa pelo Oscar de Melhor Filme durante o reinado da Miramax é extensa. Foram títulos como Pulp Fiction: Tempo de ViolênciaO Paciente InglêsGênio IndomávelRegras da VidaChocolateO Senhor dos Anéis: A Sociedade do AnelChicagoGangues de Nova YorkO Senhor dos Anéis: As Duas TorresO Senhor dos Anéis: O Retorno do ReiMestre dos Mares: O Lado Mais Distante do MundoO AviadorO LeitorBastardos InglóriosO VencedorO Discurso do ReiO Lado Bom da VidaDjango Livre e Lion: Uma Jornada para Casa. Vários desses levaram a estatueta, embora alguns resultados ainda sejam alvo de polêmicas.

Um novo cinema

A estratégia da Miramax era clara: apostar em cineastas promissores, adquirir filmes marcantes e moldar cada lançamento para brilhar em premiações. Chamas da Morte mesmo foi um exemplo de slasher que fugia da mesmice do subgênero, além de ter sido um dos raros roteiros escritos pelo próprio Weinstein.

Além do sucesso de crítica, a Miramax também conquistou bilheterias sólidas, tornando-se uma força central no boom do cinema independente nos anos 90. A distribuidora acumulou dezenas de prêmios, projetando nomes como Quentin Tarantino e outros que ajudaram a redefinir o cinema daquele período.

A dança dos contratos

Em 1992, a Miramax fortaleceu suas operações ao fechar um acordo para distribuição em vídeo doméstico. Esse tipo de troca de direitos é frequente no setor, com contratos se renovando e migrando de mãos. Um ano depois, a gigante que dominaria o entretenimento global decidiu comprar a Miramax. Para quem ainda não adivinhou: estamos falando da Disney.

Mesmo sob o guarda-chuva da nova dona, Bob e Harvey Weinstein seguiram no comando até deixarem a empresa. Durante esse período, eles mantiveram certa autonomia para conduzir a Miramax à sua maneira, o que garantiu liberdade criativa e uma gestão fora do padrão das demais subsidiárias da Disney.

Hobbits, elfos e uma trilogia que escapou

Um episódio curioso envolve O Senhor dos Anéis. Em 1997, a Miramax se uniu a Peter Jackson para transformar os livros de J.R.R. Tolkien em filme. Porém, a Disney achou o projeto caro demais e exigiu que fosse reduzido a um único longa. Jackson e o produtor Saul Zaentz recusaram, buscando outro estúdio. Assim, a Miramax vendeu os direitos para a New Line Cinema, que topou a ideia de fazer uma trilogia. A Miramax, no entanto, manteve uma pequena participação nos lucros, garantindo aos irmãos Weinstein uma fatia considerável do sucesso.

O fim de uma era

Problemas envolvendo contratos e direitos se acumulavam até que, em 2005, Disney e os Weinsteins decidiram seguir caminhos separados. Os irmãos abriram a The Weinstein Company, levando junto o selo Dimension Films. Já o nome Miramax permaneceu sob o controle da Disney, agora comandada por Daniel Battsek, executivo com longa passagem pela Buena Vista International.

Com o tempo, a Disney reduziu drasticamente a operação da Miramax, limitando lançamentos e cortando grande parte da equipe. Em 2010, a produtora foi totalmente incorporada aos estúdios da Disney, encerrando de vez a fase que a transformou numa potência do cinema independente. 

Um filme que marcou o fim de uma era

No fim daquele período, a Disney decidiu se desfazer da Miramax, vendendo a produtora para a Filmyard Holdings. O negócio envolveu um extenso acervo de setecentos títulos, além de livros, projetos em desenvolvimento e, claro, o direito de usar o nome Miramax. Mike Lang, ex-executivo da News Corporation, assumiu como CEO e sinalizou que o foco dali em diante seria explorar o catálogo já existente, embora a ideia fosse seguir com algumas produções originais.

Pouco depois, a Miramax fechou um acordo de distribuição de home vídeo com a Lionsgate e o StudioCanal, garantindo o relançamento de centenas de filmes em DVD e Blu-ray. A Lionsgate ficou responsável pelo mercado americano, enquanto o StudioCanal cuidou da Europa. Dias depois, mais um contrato foi assinado com a Echo Bridge Home Entertainment para relançar mais de duzentos títulos. Em território japonês, a Warner Home Video cuidou da distribuição do catálogo entre 2012 e 2017.

A era do streaming

Em paralelo aos relançamentos físicos, a Miramax entendeu cedo a força do streaming e negociou com as gigantes Netflix, Amazon, Google e Hulu. Assim, em setembro, vários filmes da empresa ficaram disponíveis na América Latina, incluindo Brasil, México e Argentina, dentro de um contrato de longo prazo com a Netflix. No Japão, a parceria se estendeu ao Hulu, enquanto no Reino Unido e na Irlanda, um novo acordo foi firmado com a Netflix para licenciamento digital.

Esse jogo de empurra entre estúdios, distribuidoras e plataformas tornou-se tão complexo que, para quem tenta relançar fisicamente uma obra específica, descobrir onde estão os direitos é quase uma missão impossível. Enquanto uma negociação avança, os direitos podem mudar de mãos e tudo volta à estaca zero.

A queda e o fim de uma farsa

Em julho de 2015, a Miramax voltou ao mercado. Harvey e Bob Weinstein chegaram a demonstrar interesse em recomprar a empresa, que naquele momento já estava completamente descaracterizada de sua proposta original. Mas em 2016 a beIN Media Group, grupo de mídia do Catar voltado para esportes e entretenimento, assumiu o controle da Miramax.

O mundo descobre quem era Harvey Weinstein

Em outubro de 2017, o jornal The New York Times publicou uma reportagem que escancarou o que boa parte da indústria sabia, mas não dizia em voz alta: durante décadas, Harvey Weinstein foi acusado de assediar mulheres, usando sua posição de poder para obter favores sexuais. Atrizes como Rose McGowan e Ashley Judd relataram detalhes dos abusos, incluindo situações em que Weinstein as obrigava a fazer massagens nele ou a vê-lo nu, sempre prometendo impulsionar suas carreiras em troca de submissão.

Dias depois, novas denúncias surgiram na revista The New Yorker, incluindo acusações de estupro. A pressão foi tanta que, em menos de duas semanas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, expulsou Weinstein de seu quadro de membros, afirmando que aquele comportamento não tinha mais espaço na indústria nem na sociedade.

Banido para sempre

Sem ter como se defender das denúncias, Weinstein renunciou ao conselho de administração da produtora que ainda levava seu nome, mas manteve parte das ações. Menos de duas semanas depois, o Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos decidiu bani-lo para sempre. Investigações revelaram que Weinstein contratou investigadores privados para silenciar vítimas e chegou a oferecer pagamentos milionários para abafar as acusações.

No Reino Unido, veio a primeira ação civil. Nos Estados Unidos, o processo criminal avançou até resultar, em março de 2020, na condenação de Weinstein a mais de vinte anos de prisão por estupro e agressão sexual.

“Eu sabia o bastante para ter feito mais do que fiz”, admitiu Quentin Tarantino ao The New York Times, expondo o silêncio cúmplice que muitos mantiveram por medo ou conveniência.

O preço pago pelas que disseram não

Algumas histórias são tão absurdas quanto revoltantes. Mira Sorvino e Ashley Judd, por exemplo, recusaram as investidas de Weinstein e foram sabotadas. Ele espalhou boatos para Peter Jackson, que acabou deixando ambas de fora de O Senhor dos Anéis. Foi assim, por vingança, que um dos maiores produtores de Hollywood destruiu carreiras e vidas, até ser finalmente desmascarado.


Você encontrará 15 pessoas digam que sou um gênio e 15 pessoas que digam que sou um idiota.
Harvey Weinstein


Bom, acho que no final das contas, são menos de 15 que nomeiam ele um gênio. E milhões que sabem que ele é um completo idiota.


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