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A BOLHA ASSASSINA (1958) - FILM REVIEW

 

A bolha.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Há um universo inteiro escondido na nossa mente por trás de uma paranoia. O diretor William Friedkin mostrou isso muito bem na obra-prima Possuídos. Para quem não se lembra, o filme mostrava Agnes White (Ashley Judd), uma garçonete solitária que escapou de seu ex-marido Jerry Gross (Harry Connick Jr.), recém-saído da prisão. Ela vive em um hotel de beira de estrada e é apresentada por R.C. (Lynn Colins), sua colega de trabalho, a Peter Evans (Michael Shannon), um veterano da Guerra do Golfo. Peter é obcecado por insetos e logo se relaciona com Agnes. Porém, ela passa a viver um pesadelo claustrofóbico quando diversos insetos começam a invadir sua vida. 

As sensações reais vividas pelas vítimas dão a devida importância a este lado obscuro da mente, que mente e convence o próprio atacado. O filme "A Bolha Assassina" nasceu de um contexto paranoico vivido pelos americanos. Com o fim da Segunda Guerra em 1945, travada entre os países do Eixo (que eram, basicamente, Alemanha, Itália e Japão) contra os Aliados (resto do mundo...). A vitória (óbvia?) dos Aliados, gerou um virtual novo conflito, novamente pelo poder e controle: a Guerra Fria, entre os vitoriosos EUA e URSS. 

É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as duas superpotências. A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente dos Estados Unidos Ronald Reaganm, chamado de "Guerra nas Estrelas".

A guerra, como dito, não ocorreu. Mas os efeitos da Guerra Mundial e da iminência de um novo conflito geraram pavor, tensão e paranoia na população. E as manifestações artísticas, eram fortemente influenciadas por esta questão. O cinema não ficou de fora, claro. O conflito foi reinterpretado em vários e vários filmes, principalmente nos filmes de ficção. Geralmente tratavam de temas como morte coletiva, monstros radioativos, testes nucleares, bases subterrâneas, mísseis, satélites, supercomputadores e até mesmo o "botão vermelho".

Cuidado com a bolha...

Quando um meteoro cai na terra, o jovem Steve Andrews (Steve McQueen) resolve ver o que aconteceu e descobre que no local da queda está crescendo uma substância gosmenta e rosa. Logo, pessoas começam a desaparecer e a única explicação possível é a bolha rosada assassina, que está sugando a vida de indivíduos para se alimentar, só que ao relatar o ocorrido, ninguém além da namorada de Steve (Aneta Corsaut) acredita nele.

Baseado em fatos reais ou Paranoia?

Um lugar-comum em filmes é a frase “baseado em fatos reais”, que transmite uma insuspeita credibilidade, ainda que desnecessária, já que o importante é o entretenimento. Mandaloriano ou Stranger Things não ficam melhores, ou piores caso fossem baseados em eventos reais.  Na maioria das vezes, um simples recorte de jornal é o fator catalisador de uma boa história. No caso de A Bolha Assassina, em um relatório policial feito na Filadélfia em 1950. Segundo relatos, um dos policiais acabou com pequenas bolhas, que pareciam organismos vivos, presas à pele, ainda que logo depois tenham evaporado. 

Não havia transmissão ao vivo pelo celular na época, portanto, imprima-se a lenda. A matéria afirmava que dois policiais veteranos, Joe Keenan e John Collins, avistaram um objeto misterioso caindo do céu enquanto faziam suas rondas noturnas. Curiosos como qualquer cidadão, eles foram até o local da queda e se depararam com uma “geleia roxa” que pulsava e liberava uma espécie de névoa.

Se for mesmo um organismo vivo vindo do espaço ou apenas uma firma local descartando seu estoque de gelatina, nunca saberemos. E como qualquer "avistamento", não se resumiu a um único caso. Na Austrália, em 1969, cientistas conseguiram coletar e estudar mais de 200 quilos de material gelatinoso após uma chuva de meteoros na área. Há casos mais antigos que o próprio cinema. Um em particular ocorreu em 1846, em que os moradores de Loweville, Nova York, alegaram ter testemunhado um objeto no céu cair no chão. Foi descrito como um “monte de geleia com brilho e cheiro muito ruim” com cerca de um metro e meio de diâmetro. Também evaporou minutos após atingir o solo.

A bolha "real" da ficção

O Bolha do filme era uma mistura de corante vermelho e silicone. Segundo o produtor Jack H. Harris, eles adicionaram corante para torná-lo cada vez mais vermelha depois de ter consumido sucessivas vítimas.

O filme foi parcialmente filmado em Phoenixville, Pensilvânia. O cinema do qual todas as pessoas são vistas correndo é o Colonial Theatre que fica na Rua Bridge, 227. Construído em 1903, o "Colonial Opera House" tornou-se um local de destaque para filmes, shows itinerantes e entretenimento ao vivo ao longo do século XX. 

O filme que está sendo exibido no cinema não foi criado para este filme. Era um filme real originalmente lançado como Demência (1955). As cenas mostradas são da versão recortada intitulada "Daughter of Horror", que teve narração adicionada. A voz que faz a narração é a de Ed McMahon .

Demência foi uma produção tirada de circulação por suas ousadias formais, que não foram compreendidas à época de seu lançamento. Sem nenhum diálogo, o filme de John Parker acompanha as andanças de uma mulher psicótica pelas ruas de uma grande cidade. Demência foi produzido de maneira cooperativada, usando as sucatas de cenários de “A Marca da Maldade”. Depois de um fracassado lançamento comercial, o filme foi relançado com o título trocado e com a introdução de um narrador para "explicar" o inexplicável. Na época, a revista Variety definiu Demência como "o mais estranho filme já mostrado nos cinemas". 

E o efeito do pôster deste filme pode ser visto animado durante abertura de "A Bolha Assassina". 

A fumaça assassina

O filme foi a estreia no cinema estrelado por Steve McQueen (veio da TV), que usava o "n" no final do primeiro nome.  De acordo com o produtor Jack H. Harris, o diretor Irvin S. Yeaworth Jr. conheceu Steve McQueen quando a esposa do ator, Neile Adams, trabalhava em um curta-metragem. 

McQueen fumava cigarros constantemente durante as filmagens, embora ele nunca seja mostrado fumando no filme. Por volta dos 49 minutos do filme, você notará a fumaça subindo atrás de Steve no canto inferior direito. Isso porque ele está segurando um cigarro aceso atrás dele com a mão atrás das costas.

Em 1978, McQueen desenvolveu uma tosse persistente que não passava. Parou de fumar cigarros e foi submetido a tratamentos com antibióticos sem melhora. A falta de ar ficou mais grave e em 22 de dezembro de 1979, depois que ele completou o trabalho em 'Caçador Implacável', uma biópsia revelou mesotelioma pleural, um câncer de pulmão.

McQueen sobreviveu à bolha, mas a fumaça o matou.  Com um tumor que era inoperável e um coração já frágil, arriscou uma viagem para fora do país e tentou a cirurgia mesmo assim. Steve McQueen faleceu em 7 de novembro de 1980, aos 50 anos, após a cirurgia de câncer que foi considerada bem sucedida. 

Voltando para a Bolha...

O filme é um dos melhores do gênero. Imperdível para admirar o bom cinema de uma época que valorizava ideias e diálogos. Com pouca metragem e orçamento menor ainda, o filme mostra que a bolha não perdeu o brilho e nem evaporou, mesmo depois de mais de 50 anos.  


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