OS MERCENÁRIOS - SAGA REVIEW
Dispensáveis.
A saga “Mercenários” é, sem dúvidas, mais apreciada por aqueles que acompanharam a evolução (e decadência) de boa parte do elenco. E o título original, "Os dispensáveis", está diretamente relacionado com boa parte dos principais filmes dos atores, bem como o fato de que, por décadas, eram taxados com um valor menor pela crítica (o público do gênero sempre foi fiel, nos cinemas ou alugando VHS).
A jangada que carrega o elenco é Stallone, que joga sobre si a responsabilidade de se reinventar e resgatar companheiros de jornada, algo que ele faz com maestria. Na época, Stallone explicou que procurou principalmente atores que não haviam experimentado sucessos recentes: "Eu gosto de usar pessoas que tiveram um momento e depois talvez tenham passado por alguns momentos difíceis e dar a eles outra chance. Eu gosto desse tipo de cara. Alguém fez isso por mim e eu gosto de ver se posso fazer isso por eles."
Interessante notar também que Stallone consegue demonstrar que de "dispensáveis" eles não tinham nada. E faz isso ao escalar atores e atrizes mais jovens. Curioso que alguns são melhores atores que o elenco principal, mas provam em película que o brilho da velha guarda não se apaga.
Seja por bordões, seja por um tema musical marcante (algo raro hoje em dia no cinema de ação), seja por nomes de personagens que ficam impregnados na memória, não importa, pois “Mercenários” é um achado, e graças ao nosso querido Rocky Balboa.
🔷Os Mercenários (2010)
Na trama, Barney Ross (Sylvester Stallone) é o líder de um grupo de mercenários dispostos a aceitar qualquer missão, desde que a recompensa seja generosa. Seus principais companheiros incluem o especialista em facas Lee Christmas (Jason Statham), o habilidoso em artes marciais Yin Yang (Jet Li) e Gunnar Jensen (Dolph Lundgren), que apresenta sinais de instabilidade emocional e comportamento imprevisível durante as missões.
O grupo recebe a proposta de derrubar o general Garza (David Zayas), ditador da fictícia ilha latino-americana de Vilena. Barney e Lee viajam ao local para reconhecimento e acabam conhecendo Sandra (Gisele Itié), uma jovem local que deseja ver o regime cair. No entanto, eles logo são atacados pelas forças de Garza e de seu aliado, James Monroe (Eric Roberts), um empresário americano que financia o governo e explora a região para seu próprio lucro.
Após escaparem, Barney e Lee decidem abandonar a missão, mas a coragem de Sandra, que prefere ficar e lutar pela liberdade de seu povo, desperta em Barney princípios que ele acreditava ter perdido. A decisão de retornar à ilha para resgatá-la coloca todo o grupo em uma missão suicida, marcada por explosões, combates corpo a corpo e tiroteios intensos.
Bastidores e curiosidades
A produção de Os Mercenários foi marcada por grandes desafios, principalmente na escalação do elenco. O papel de Mr. Church, o misterioso homem que contrata Barney, foi inicialmente oferecido a Arnold Schwarzenegger. Como o ator ainda estava exercendo o cargo de governador da Califórnia, aceitou apenas uma participação especial. A seguir, a oferta foi feita a Kurt Russell, que recusou por não querer integrar um “filme com um grande elenco de estrelas de ação”. Após insistentes buscas, Stallone conseguiu convencer Bruce Willis, seu amigo e ex-sócio no restaurante “Planet Hollywood”, a assumir o papel.
O nome “Church” é uma piada interna: remete tanto ao local onde Barney se encontra com o personagem quanto ao senador Frank Church, responsável pelas famosas “Audiências Church” nos anos 1970, que investigaram operações secretas da CIA. O vilão Monroe também é uma referência à “Doutrina Monroe”, princípio da política externa americana usado historicamente para justificar intervenções na América Latina, um paralelo direto com a trama do filme.
Filmagens perigosas
As gravações foram realizadas em parte no Brasil, na cidade de Mangaratiba–RJ, e no estado da Louisiana, nos Estados Unidos. Stallone optou por cenários reais para dar mais autenticidade, o que aumentou os riscos. Em uma das cenas da batalha final, Steve Austin quase perdeu a perna quando uma explosão ocorreu perto de seu pé. A bolsa que segurava absorveu parte do impacto, evitando ferimentos mais graves.
O próprio Stallone sofreu quatorze lesões durante a produção. Entre elas: fratura no pescoço (que exigiu a colocação de uma placa de metal), rompimento no tornozelo, dente quebrado, além de bronquite e herpes zoster. Apesar disso, ele insistiu em fazer a maioria das cenas de ação sem dublês.
Estrelas que quase participaram
A lista de “quase” participações é longa. Steven Seagal recusou devido a desavenças pessoais com o produtor Avi Lerner. Jackie Chan esteve próximo de assinar contrato, mas conflitos de agenda com outro filme impediram sua entrada. Jean-Claude Van Damme também foi convidado, mas recusou por achar que seu personagem carecia de profundidade, algo que mudou quando ele aceitou participar da sequência em 2012.
Easter eggs e homenagens
Além das referências políticas, o filme traz sutis acenos a outras obras. Stallone inseriu diálogos que brincam com as imagens públicas dos atores. Em uma cena, Schwarzenegger e Stallone trocam provocações sobre “concorrerem ao mesmo trabalho”, uma alusão às disputas por papéis nos anos 1980.
O título original, The Expendables, remete a uma fala de Stallone em Rambo: Programado para Matar (1982), onde seu personagem explica que soldados como ele são “descartáveis”.
Recepção e legado
Lançado em agosto de 2010, Os Mercenários foi recebido com entusiasmo pelos fãs de filmes de ação “old school”, que valorizavam a reunião de grandes nomes do gênero. No entanto, a crítica especializada foi mais dividida. Muitos elogiaram a nostalgia e a química entre os atores, mas criticaram a trama simples, o excesso de diálogos expositivos e a edição confusa nas cenas de luta.
Mesmo assim, o longa foi um sucesso comercial, arrecadando mais de US$ 274 milhões mundialmente, o suficiente para gerar duas sequências diretas e um spin-off. O filme consolidou a ideia de Stallone de criar um “clube dos heróis de ação veteranos” e abriu espaço para que atores dos anos 1980 e 1990 voltassem a brilhar nas telas.
Ao final, Mercenários é o filme menos inspirado dos três, com muitas cenas de discussões, divagações e outras muitas filmadas à noite. As cenas de luta são mal filmadas e a trama envolvendo Dolph Lundgren é mal desenvolvida e confusa. Mas ainda bem que neste caso, a intenção foi mais reconhecida que o resultado final. Esta turma merecia.
🔷Os Mercenários 2 (2012)
No segundo capítulo da franquia, o grupo de mercenários liderado por Barney Ross (Sylvester Stallone) volta à ação em uma missão que mistura dever e vingança. Após a morte de um dos integrantes da equipe, assassinato cometido pelo implacável Vilain (Jean-Claude Van Damme), Ross e seus companheiros partem em uma caçada para fazer justiça. Paralelamente, recebem uma missão de Church (Bruce Willis): impedir que Vilain se apodere de uma enorme quantidade de plutônio enriquecido, suficiente para fabricar diversas armas nucleares e colocar o mundo em risco.
Para essa empreitada, Ross conta com seus leais parceiros Lee Christmas (Jason Statham), Gunnar Jensen (Dolph Lundgren), Hale Caesar (Terry Crews) e Toll Road (Randy Couture). Reaparecem também Trench (Arnold Schwarzenegger) e, para surpresa geral, surge o misterioso Booker (Chuck Norris), que entra em cena como um “lobo solitário” com habilidades letais.
Referências e simbolismo.
A movimentada cena de abertura, em que Trench é resgatado, simboliza mais do que um momento de ação: marca o retorno definitivo de Arnold Schwarzenegger ao cinema após seu período como governador da Califórnia. Paralelamente, Van Damme, astro que construiu carreira como herói de ação, aparece como vilão, quase uma metáfora de sua própria trajetória cheia de altos e baixos. Stallone batizou o personagem de “Vilain” como um trocadilho sofisticado: a sonoridade lembra o nome do poeta francês Paul Verlaine, que teve uma relação conturbada com Arthur Rimbaud (cujo sobrenome se pronuncia “Rambo”). Assim, o duelo final entre Stallone e Van Damme vira uma espécie de “Rimbaud versus Verlaine” no campo da pancadaria.
Bastidores e decisões criativas.
Van Damme havia recusado participar do primeiro filme por não querer perder uma luta para Jet Li, mas o enorme sucesso de bilheteria o fez reconsiderar. Inicialmente, Stallone pretendia dirigir a continuação, mas acabou optando por passar a função para Simon West (Lara Croft: Tomb Raider), acreditando que um novo olhar traria mais dinamismo.
O filme também aproveita para inserir curiosidades biográficas. É revelado que Gunnar Jensen estudou engenharia química antes de se tornar mercenário, um detalhe inspirado na vida real de Dolph Lundgren, que possui formação em química, graduação e mestrado em engenharia química, além de ter trabalhado como guarda-costas para a cantora Grace Jones, então sua namorada.
Participações especiais e piadas internas.
Chuck Norris entrou no projeto em grande estilo, trazendo consigo não apenas sua imagem de astro dos anos 1980, mas também os famosos “Chuck Norris Facts” da internet. Por sugestão da esposa do ator, Gena O’Kelly, foi incluída a piada da cobra-naja: “Chuck Norris foi mordido por uma cobra-naja, e depois de cinco dias de dor excruciante… a cobra morreu.”
Outra participação curiosa seria a do tenista Novak Djokovic, que chegou a gravar uma cena no aeroporto, derrotando inimigos com sua raquete. A sequência acabou cortada na edição final, mas as imagens se tornaram raridade entre os fãs.
Momentos dramáticos nos bastidores.
Durante a fase de promoção do filme, Stallone enfrentou um momento pessoal difícil: seu filho Sage Stallone faleceu em julho de 2012, levando o ator a cancelar diversos compromissos de divulgação. Mesmo assim, ele participou de eventos selecionados para garantir que o filme tivesse a atenção merecida.
Recepção e legado.
Lançado em agosto de 2012, Os Mercenários 2 foi um sucesso comercial, arrecadando cerca de US$ 315 milhões mundialmente, superando o primeiro filme. A crítica considerou esta a melhor entrada da franquia até então, elogiando a direção de Simon West, o ritmo mais coeso e a fotografia, especialmente na sequência no vilarejo, considerada um ponto alto visual.
A reunião de ícones da ação no clímax do filme se tornou antológica: Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris dividindo o mesmo tiroteio. Para os fãs, era como ver Rambo, Braddock, Frank Dux, John McClane e o Exterminador do Futuro lado a lado, algo impensável nas décadas anteriores.
Entre o entretenimento e a homenagem.
O longa reforçou a proposta da franquia: mais do que apenas ação, Os Mercenários é uma celebração de um estilo de cinema que dominou os anos 1980 e 1990. O segundo filme elevou a escala, trouxe mais humor autorreferente e deixou espaço para novas participações que seriam exploradas no terceiro capítulo.
Para muitos, Os Mercenários 2 é o auge da saga, equilibrando nostalgia, ação explosiva e carisma de astros lendários. Ao final, o espectador tem a sensação de ter assistido não apenas a um filme, mas a um encontro histórico do cinema de ação, uma reunião que dificilmente se repetirá com tamanha intensidade.
O terceiro capítulo da franquia começa com Barney Ross (Sylvester Stallone) e sua equipe realizando uma missão de resgate. O alvo é Doc (Wesley Snipes), um dos integrantes originais do grupo, preso há oito anos. Sua libertação marca o retorno triunfal de um veterano às fileiras dos Mercenários. Logo em seguida, o time parte para uma nova operação, mas é surpreendido por uma revelação: Conrad Stonebanks (Mel Gibson), cofundador da equipe e ex-parceiro de Barney, está vivo.
Barney acreditava ter matado Stonebanks anos antes, após este se tornar traficante de armas e um alvo perigoso. Agora, o reencontro coloca antigos amigos em lados opostos, levando a um duelo pessoal e mortal. Conforme a trama avança, Barney recruta uma nova geração de mercenários para ajudá-lo, mas o conflito atinge a todos, veteranos e novatos.
Paralelos e simbolismos com filmes anteriores.
Assim como em Os Mercenários 2, o vilão é interpretado por um ator que já teve altos e baixos na vida real. No caso de Mel Gibson, seu histórico de polêmicas o afastou de grandes produções por anos, tornando seu retorno uma surpresa para muitos. A abertura do filme também repete a fórmula de trazer de volta um astro afastado: Wesley Snipes, que havia ficado preso por sonegação de impostos, foi liberto em 2013 e aceitou a proposta de Stallone.
Essa situação é explorada de forma bem-humorada no roteiro. Em uma cena, o personagem de Dolph Lundgren pergunta a Doc pelo que ele foi preso, e a resposta é simples e direta: “evasão fiscal”, arrancando risos do público.
Conexões entre os atores.
Os Mercenários 3 é quase um reencontro cinematográfico de antigos rivais. Dolph Lundgren, Wesley Snipes e Antonio Banderas já haviam interpretado antagonistas em três filmes diferentes de Stallone: Rocky IV (1985), O Demolidor (1993) e Assassinos (1995), respectivamente. Jason Statham e Jet Li já haviam dividido a tela em várias produções, enquanto Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e Stallone foram sócios no restaurante Planet Hollywood.
Outras ligações são igualmente curiosas: Robert Davi trabalhou com Arnold em Jogo Bruto (1985) e com Bruce Willis em Duro de Matar (1988), enquanto Jet Li foi o vilão de Máquina Mortífera 4 (1998), série de filmes que também contou com Mel Gibson como protagonista. Essas conexões reforçam a ideia de que a franquia é, acima de tudo, uma celebração do cinema de ação e de sua história.
Bastidores e curiosidades.
O tempo reduzido de tela de Terry Crews foi resultado de conflitos de agenda com a série Brooklyn Nine-Nine. Apesar disso, Crews pediu a Stallone que seu personagem não fosse morto, para poder retornar em um eventual quarto filme.
O longa também está repleto de “fan services”, referências diretas às carreiras dos atores. Um exemplo está na cena em que Barney observa Thorn (Glen Powell) escalando e diz: “Eu posso fazer isso.” A fala remete ao filme Risco Total (1993), estrelado por Stallone.
A produção também foi marcada pela entrada de novos nomes, como Ronda Rousey, Kellan Lutz e Victor Ortiz, em uma tentativa de atrair um público mais jovem. Essa estratégia, porém, dividiu opiniões entre fãs que preferiam foco total nos veteranos.
Filmagens e mudanças de tom.
Diferente dos dois primeiros filmes, Os Mercenários 3 recebeu classificação indicativa PG-13 nos Estados Unidos, visando ampliar o público nos cinemas. Isso resultou em cortes na violência explícita, o que desagradou parte dos fãs acostumados ao estilo mais bruto da franquia.
As filmagens ocorreram principalmente na Bulgária, em locações usadas também em Os Mercenários 2. O trabalho de coordenação de cenas de ação foi ainda mais complexo, já que o filme mistura combates corpo a corpo, tiroteios e perseguições envolvendo um elenco ainda maior.
Recepção e impacto.
Lançado em agosto de 2014, o terceiro filme teve desempenho abaixo do esperado, arrecadando cerca de US$ 214 milhões mundialmente, bem menos que o segundo capítulo. Um dos motivos apontados foi o vazamento de uma cópia em alta definição na internet três semanas antes da estreia oficial, o que prejudicou as bilheteiras.
A recepção da crítica também foi mista. Muitos elogiaram a energia de Mel Gibson no papel de vilão e o carisma de Antonio Banderas, mas criticaram a trama genérica e a tentativa de inserir jovens atores sem desenvolver suficientemente seus personagens.
Considerações finais.
Apesar de suas falhas, Os Mercenários 3 mantém o espírito da franquia: reunir lendas do cinema de ação para entregar espetáculo, camaradagem e referências nostálgicas. Quando revisitamos a trilogia, é inevitável lembrar não apenas dos personagens, mas dos ícones que os interpretam.
Seja como Rambo, Rocky, Dutch, John McClane, Braddock ou tantos outros, esses atores construíram um legado que transcende Os Mercenários. A franquia é, no fundo, uma grande homenagem a nomes que jamais serão esquecidos, ainda que em algum momento tenham sido vistos como “descartáveis”.
🔷Mercenários 4 (2023)
A proposta original de Os Mercenários sempre foi clara: reunir em um único filme astros do cinema de ação que, por um motivo ou outro, já não ocupavam o centro das atenções de Hollywood, muitas vezes interpretando personagens “descartáveis” ou “substituíveis” na indústria. Com o tempo, a ideia se expandiu. Nomes como Antonio Banderas, Harrison Ford e Mel Gibson entraram para o elenco, elevando o nível de estrelas envolvidas. No entanto, é difícil não lamentar a ausência de dois ícones que foram fortemente cogitados: Jackie Chan e Steven Seagal.
Na trama do quarto filme, a equipe é enviada à Líbia para impedir que o mercenário Suarto Rahmat (Iko Uwais) roube ogivas nucleares para um misterioso terrorista conhecido como Ocelot. O grupo é liderado por Barney Ross (Sylvester Stallone) e conta com Lee Christmas (Jason Statham), Toll Road (Randy Couture) e Gunner Jensen (Dolph Lundgren), além dos novatos Easy Day (50 Cent) e Galan (Jacob Scipio). A missão, como sempre, envolve traições, ação intensa e um novo vilão implacável.
Produção conturbada.
Quando o protagonista e criador da franquia demonstra pouco entusiasmo pelo próprio filme, já é sinal de que algo não vai bem. Stallone, cansado das longas jornadas de gravação, anunciou que Os Mercenários 4 seria sua despedida não apenas de Barney Ross, mas possivelmente de toda a saga cinematográfica, concentrando-se em trabalhos para a TV, como a série Tulsa King.
O caminho até a estreia foi longo. Os Mercenários 3 chegou aos cinemas em 2014, e já em novembro daquele ano o produtor Avi Lerner confirmou que o quarto filme estava em desenvolvimento. Nos anos seguintes, circularam rumores e confirmações de negociações com astros:
Jackie Chan afirmou que recusou o convite porque não queria aparecer apenas como coadjuvante; Dwayne Johnson manifestou interesse em viver um vilão já em 2014 e voltou a falar sobre isso em 2022; Hulk Hogan disse ter negociado com Stallone para interpretar o principal antagonista.
Apesar de tantas possibilidades, a escalação final ficou muito mais contida do que o imaginado.
Mudanças de rumo e bastidores.
O filme nasceu como um derivado centrado no personagem de Jason Statham, intitulado A Christmas Story. Esse projeto acabou sendo incorporado à linha principal da franquia, com ajustes para incluir outros personagens. Outro spin-off planejado, The Expendabelles, traria um elenco exclusivamente feminino, mas também foi arquivado, em vez disso, Mercenários 4 optou por adicionar mais atrizes ao time, como Megan Fox.
Alguns nomes veteranos ficaram de fora por diferentes motivos. Terry Crews, presente nos três filmes anteriores, se recusou a retornar após um episódio de assédio envolvendo o agente Adam Venit. Bruce Willis, que viveu o misterioso Sr. Church, nos dois primeiros filmes, já havia sido afastado no terceiro por discordâncias salariais. Cogitou-se seu retorno, desta vez como vilão, mas a ideia foi descartada com a contratação de Iko Uwais. Pouco depois, Willis se afastou do cinema devido ao diagnóstico de afasia, revelado em 2022, e posteriormente de demência frontotemporal, em 2023.
Outro detalhe curioso: Mercenários 4 marca a primeira vez que a franquia troca completamente seu núcleo criativo principal. Cada filme da série teve um diretor diferente, Stallone dirigiu o primeiro (2010), Simon West o segundo (2012), Patrick Hughes o terceiro (2014) e Scott Waugh assumiu o quarto. Waugh, vindo de Need for Speed (2014) e 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (como produtor), buscou um tom mais moderno, mas sem perder o espírito de aventura explosiva.
O resultado na tela.
Tecnicamente, o filme não é mal produzido. As cenas de ação são bem coreografadas e, apesar de alguns efeitos visuais discutíveis, mantém-se o padrão básico da franquia. O problema é que o espírito original de resgatar ícones do passado se perdeu. Ao invés de trazer lendas esquecidas, o elenco aposta em rostos mais recentes e reduz o tempo de tela de veteranos como Dolph Lundgren e o próprio Stallone, que aparece bem menos do que o esperado.
Para os fãs, fica a sensação de que a despedida de Barney Ross poderia ter sido mais épica. Enquanto o primeiro filme reunia heróis de ação que raramente dividiam a tela, o quarto carece daquele impacto nostálgico. Ainda assim, há momentos divertidos, especialmente nas interações entre Statham e Lundgren, e algumas referências a filmes anteriores dos atores.
Curiosidades e referências.
Há uma piada interna com 50 Cent: sua presença e atuação limitada acabam funcionando como uma ironia, já que o título original The Expendables significa exatamente “dispensáveis”. Iko Uwais, conhecido por Operação Invasão (The Raid), é o primeiro vilão da franquia com forte histórico em artes marciais no cinema asiático, algo que os fãs pediam há tempos.
A ausência de Jackie Chan foi sentida especialmente porque ele já havia expressado interesse em atuar com Stallone desde os anos 1990, mas as agendas nunca se alinharam.
Megan Fox, que interpreta Gina, traz um frescor ao time, mas divide opiniões entre fãs mais puristas, que esperavam uma escalação mais “raiz” de filmes de ação dos anos 80 e 90.
Conclusão.
Os Mercenários 4 não é um filme ruim, mas também não é o espetáculo que a franquia prometia no início. O projeto que nasceu como um tributo aos brucutus do passado chega ao quarto capítulo sem os grandes nomes que poderiam encerrar a saga com chave de ouro.
O espírito de homenagem ainda existe, mas de forma diluída, e o foco maior em novos personagens pode não agradar aos fãs mais saudosistas. E, por fim, uma pequena observação sobre a atuação de 50 Cent, que resume qualquer frame em que ele aparece: - "Parabéns, muito ruim".
Se bem que ele representa a verdadeira natureza do título original, pois já que é uma figura complementante... dispensável. E, de forma irônica, compõe bem o grupo.