O EXTERMINADOR DO FUTURO 2 - O JULGAMENTO FINAL (1991) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
A desconstrução de uma obra
O Exterminador do Futuro foi icônico de muitas formas. Podemos afirmar que mudou os rumos das carreiras dos envolvidos. A obra também desencadeou uma série de eventos e desdobramentos que não é possível mensurar. Por exemplo: quem se lembra das intermináveis filas para assistir ao filme Titanic? Até hoje, o "filme evento" mais poderoso de nosso tempo. Na época, me lembro que nenhum filme jamais reuniu todas as gerações possíveis em um cinema de forma tão contundente. As filas eram compostas por netos, filhos, avós, pais e pessoas que nunca haviam ido a um cinema. Era comum você ver vários ônibus fretados de cidades que não tinham cinemas para cidades próximas, somente para assistir Titanic. "O Exterminador do Futuro" foi o filme que abriu caminho para que Titanic fosse realizado.
Sem contar que solidificou a carreira de Arnold Schwarzenegger (que havia feito os dois Conan, como únicos relevantes até então) e tornou popular nomes como Linda Hamilton (que lançou no mesmo ano, Colheita Maldita), Michael Biehn (que havia feito o ótimo O Fã: Obsessão Cega, 3 anos antes) e Lance Henriksen (cujo filme mais importante, chamado Os Eleitos: Onde o Futuro Começa, foi lançado 1 ano antes).
Dinheiro fácil!!!
Para um filme que custou em torno de 8 milhões de dólares e rendeu perto de 80 milhões, a justificativa para uma continuação já estava nas mãos de Cameron. Com esta breve introdução, poderíamos supor que ela viria, e em escala maior. De fato, isso ocorreu. Porém, James Cameron subverteu sua própria obra e realizou algo impensável na época, desconstruindo o ponto principal do filme: Arnold Schwarzenegger fazendo um exterminador do futuro bom, que não mata ninguém e ainda protege John Connor.
Muitos consideram a obra-prima de Cameron e a melhor versão do Exterminador do futuro no cinema ou TV. Com um orçamento um pouco maior que a receita do filme anterior, o segundo filme rendeu 5 vezes mais (520 milhões), mostrando que Cameron era o cara que os produtores poderiam investir, pois a chance de retorno era grande.
Eis que chegamos a O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final.
Na trama, o jovem John Connor é a chave para a vitória da civilização sobre uma rebelião de robôs do futuro. Por conta disso, ele torna-se alvo de mais um exterminador, agora numa versão com upgrade, que pode assumir a forma que desejar e que foi enviado do futuro para matá-lo. Outro exterminador também é enviado de volta ao passado para proteger o menino.
Exterminador eventualmente se tornou uma franquia, se perdendo completamente entre idas e vindas temporais aliadas a roteiros que tentavam criar o próximo grande "O Exterminador do Futuro". Por isso, as atenções sempre se voltam para o primeiro e o segundo filme, que é o lançamento da Obras-Primas do Cinema em uma edição a altura da obra. Quem ler este texto, tem ela em mãos e sabe do que estou falando.
Hasta la vista, Baby!!!
Lembro na época que os efeitos foram tão inovadores, que diversas matérias na televisão foram veiculadas. A produção venceu quatro dos seis para os quais foi nomeado, se tornando um dos grandes vencedores da noite, atrás apenas de O Silêncio dos Inocentes, que ganhou 5. Para dar uma ideia de como foi a construção das cenas, o gênio dos efeitos especiais Stan Winston (falecido em 2008) e sua equipe estudaram horas de filmagens de testes nucleares para fazer a cena do "pesadelo" de Sarah Connor parecer o mais realista possível.
Uma miniatura de Los Angeles foi feita para simular a cena. Alguns dos materiais usados na miniatura que imitavam toda a alvenaria destruída eram biscoitos Matzos e Trigo Triturado. Depois de cada tomada, demorava em média dois dias para preparar o modelo para filmar novamente. No final de 1991, membros de vários laboratórios de testes nucleares federais dos EUA declararam que esta cena foi "a representação mais precisa de uma explosão nuclear já criada para um filme de ficção".
Aliás, o diretor pediu a Winston para dirigir um teaser já que Cameron não queria que o trailer fosse apenas uma filmagem inicial e, portanto, com um orçamento de 150 mil dólares (quase 3 vezes maior que o custo para produzir A Bruxa de Blair), Winston criou um trailer que mostrava uma linha de montagem produzindo cópias de exterminadores, todas parecidas com Arnold Schwarzenegger. Cameron ficou satisfeito com este trailer, já que temia as reações do público aos trailers mostrando Arnold retornando como um Exterminador (depois que o Exterminador do primeiro filme foi claramente destruído).
Quando chegou a hora de rodar o teaser, Stan Winston estava trabalhando com o diretor Tim Burton em Edward Mãos de Tesoura (1990) enquanto Arnold Schwarzenegger estava ocupado gravando Um Tira no Jardim de Infância (1990). Winston e Schwarzenegger concordaram em deixar as duas produções por um dia para filmar o trailer.
Cameron era o cara que construía o mundo ao redor para tornar as cenas mais reais quanto fosse possível. Basta lembrar que na produção de Titanic, ele mandou refazer o navio em tamanho quase real e o afundou quando preciso. Fez a Fox construir um estúdio novo no México, com as especificações que lhe convinha. Em O Exterminador do Futuro 2, há uma cena em que um helicóptero voa sob um viaduto numa perseguição.
Um cineasta ordinário faria tudo com efeitos práticos, mas Cameron utilizou o piloto acrobático chamado Charles A. Tamburro (que interpreta o piloto que é forçado a pular de seu helicóptero pelo T-1000). A cena seria filmada com um carro levando o operador da Steadicam, porém bem perto da aeronave. Mas a equipe se recusou devido à periculosidade. Como pode imaginar, o próprio Cameron filmou a cena, duas vezes (!!).
Rodney King
James Cameron é um diretor muito esforçado. Na realidade, obcecado pelo trabalho. Para quem não sabe ou se lembra, Rodney King foi o cara abordado, algemado e espancado violentamente por policiais de Los Angeles em 3 de março de 1991 e o fato foi filmado por um morador e hoje pode ser encontrado facilmente na internet.
Cameron afirmou que não apenas a cena do bar com os motoqueiros foi filmada do outro lado da rua de onde os policiais espancaram Rodney King, mas eles estavam filmando a noite do espancamento. Desta experiência e após o resultado da sentença de 29 de abril de 1992, Cameron pensou no roteiro para "Estranhos Prazeres (1995)", que seria dirigido por Kathryn Bigelow (sua esposa na época). Aliás, um detalhe bem curioso: tanto Cameron quanto Bigelow dirigiram poucos filmes, mas ambos concorreram ao Oscar no mesmo ano (com Avatar e Guerra ao Terror, respectivamente) e Bigelow levou a melhor. Ela levou dois prêmios (Filme e Direção) e seu filme foi premiado com outros quatro. Já Avatar, ganhou apenas três prêmios, sendo que Cameron não levou nenhum.
O Vingador do futuro
Quando lançado nos cinemas, o clássico de Paul Verhoeven exibiu um teaser que surpreendeu muita gente e por um motivo específico: trazia Arnold Schwarzenegger, que também foi protagonista de O Vingador do Futuro. Curioso, já que o título nacional do filme é bem oportunista (o original é Total Recall) e pega carona justamente em O Exterminador do Futuro.
Mas o teaser não foi exibido por acaso. Enquanto trabalhava em O Vingador do Futuro com Mario Kassar e Andrew G. Vajna (proprietários da Carolco Pictures), Arnold Schwarzenegger soube da intenção de Cameron de fazer o filme, e foi ele quem pediu a Kassar e Vajna que comprassem os direitos da Hemdale Film Corporation, algo que ocorreu em fevereiro de 1990. Cameron havia roteirizado Rambo II: A Missão (filme também produzido pela Carolco).
O resto foi história. O novo O Exterminador do Futuro foi filme de maior bilheteria do ano e o maior sucesso na história da Carolco. E visto de hoje, O Julgamento final continua sendo um filme de encher os olhos.
"Velho. Não obsoleto".