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MANDINGO - FRUTO DA VINGANÇA (1975) - FILM REVIEW

 

Mandingo.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


A história da humanidade é cheia de momentos vergonhosos e a arte é uma das formas de manter o passado vivo, para conhecê-lo e aprender com os nossos erros. O cinema funciona assim, como uma ferramenta, que pode tanto documentar uma época, como torcer fatos a revelia, conforme a necessidade da obra. Um dos casos que mais marcam a sétima arte, quando são levados às telas, é a escravidão no sul dos EUA.  Há vários elementos em cena que associamos à aquela região: grandes mansões com enormes pilastras, cercadas de vasto terreno; árvores com folhas que lembram uma barba longa e caída; e claro, escravos. Esta identidade visual criada é tão forte, que quando a vemos em cena, já sabemos que o filme possivelmente se trata de escravidão.

Mandingo é um destes casos. A história começa exatamente focada nos elementos acima, em seus primeiros minutos.  A trama se passa no interior de Louisiana, poucos anos antes de explodir a Guerra Civil Americana. James Mason (de Lolita e 20.000 Léguas Submarinas) vive um patriarca que dirige suas fazendas e sua família com mão de ferro. E ali acontecem as tramas e subtramas da história, mostrando um pouco como era a dinâmica de um local como aquele.


Ainda que a história não tenha semelhança nenhuma com outro filme realizado pelo diretor, Os Novos Centuriões, elas tratam de seus temas de forma parecida, com uma linha principal da história acontecendo e outras se desenrolando paralelamente. Ambas focam no dia a dia de pessoas, porém em panos de fundos diferentes. Ainda que muitas sinopses coloquem que a trama gira em torno da história de amantes, não é assim que ocorre. Mas ela é o gatilho para a história entre Hammond, Mede e Blanche.

Hammond Maxwell (Perry King), é um bom moço, mas convive com a pior espécie de pessoas, possível, tem uma relação escondida com uma escrava. Seu pai, Warren Maxwell (James Mason), o pressiona a se casar, então Hammond escolhe sua prima, Blanche, que está desesperada para sair de sua casa para escapar de seu irmão Charles. Está implícito que Charles a estuprou quando ela tinha 13 anos. Depois da noite de núpcias, Hammond tem certeza de que ela não é virgem, algo essencial na época.


Em dado momento, Blanche Maxwell (Susan George, que fez o polêmico "Sob o Domínio do Medo", de Sam Peckinpah), descobre o caso. Paralelamente, Hammond contrata Mede (Ken Norton, que morreu em 2013, aos 70 anos, vitimado por um ataque do coração), um escravo forte, imponente e de personalidade forte. Logo ele se envolve em uma briga e devido ao seu potencial demonstrado, ele acaba virando lutador, como forma do seu patrão tirar uns trocados. 

Com o destaque do escravo, e a ascensão de sua moral (com todas as limitações possíveis, claro), Blanche resolve se vingar de Hammond, e tem um caso com Mede. Mas como diz a frase: "- de tanto bater, meu coração parou", ela engravida e o caos para a cena final está formado. Curioso é que o pôster mostra esta situação, dando o spoiler do que seria o desenrolar da história.

O filme foi um sucesso, apesar de ter saído pouco depois do filme Tubarão, que papou a bilheteria na época. Parte disto talvez se deva ao fato de ser um filme exploitation de grande estúdio e parte pela direção visceral. Fleischer inclusive rejeitou fazê-lo no primeiro momento, e quando o fez, só aceitou se pudesse realizá-lo da forma mais realista e honesta possível. Dito e feito. Já na primeira cena, o cartão de visitas: negros escolhidos, com um ficando de quatro para olharem seu ânus e vasculhar sinais de hemorroidas. Para terem uma ideia, Edwin Edwards, o governador da Louisiana na época, fez uma ponta, mas depois de tudo filmado, pediu para cortar as cenas com medo de arranhar sua imagem devido à violência mostrada.


Ele foi feito e lançado cerca de dezoito anos após, romance que deu origem à produção foi publicada, em 1957. A sequência do filme Drum (1976), do mesmo escritor (Kyle Onstott), foi publicada cinco anos depois, em 1962. Os romances são conhecidos como a série "Falconhurst", que é o nome da propriedade. Os nomes (originais) dos livros são: Mandingo (1957), Drum (1962), Master of Falconhurst (1964), Falconhurst Fancy (1966), The Mustee (1967), Heir to Falconhurst (1968), Flight to Falconhurst (1971), Mistress of Falconhurst (1973), Six-Fingered Stud (1975), Taproots of Falconhurst (1978), Scandal of Falconhurst (1980), Rogue of Falconhurst (1983), Miz Lucretia of Falconhurst (1985), Mandingo Master (1986), e Falconhurst Fugitive (1988).

A continuação foi dirigida em 1976 por Steve Carver (ótimo diretor que tive a honra de fazer amizade) sendo que o elenco base mudou, mantendo Ken Norton, Brenda Sykes e Lillian Hayman apesar de  Norton e Sykes interpretaram personagens diferentes, e só Hayman retornou no papel de Lucretia Borgia.  

Para quem não sabe, o diretor era filho do animador Max Fleischer, criador da famosa Betty Boop. Ele estudou interpretação na Universidade de Yale (após estudar medicina) e logo demonstrou um grande interesse pelo cinema. Eclético, transitou pelos mais diversos gêneros e condições de produção, chegando a assinar séries de filmes B, compilações de filmes mudos e documentários premiados.  Richard Fleischer morreu aos 89 anos, em 25 de março de 2006, de causas naturais e deixou um imenso legado de filmes excelentes, para serem vistos e revistos.


E uma última curiosidade bombástica, eu diria: Sylvester Stallone faz uma ponta como um extra na cena que um escravo é executado (foto). Ele está com um chapéu de cor diferente ao fundo. Ele e Perry King fizeram o filme Os Lordes de Flatbush um ano antes.



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