A COISA (1985) - FILM REVIEW
Sempre que escrevo sobre o cinema dos anos 80, percebo como as produções de horror são diferenciadas. Quase como um humor ingênuo. E eles marcaram época, tanto que boa parte dos filmes "B" viraram cult movies.
Larry Cohen era um cineasta que fazia o horror com elementos aterrorizantes. Em 1974, usou um bebê para nos aterrorizar, com Nasce Um Monstro. Em 1990, uma Ambulância. Mas em 1985, usou um sorvete para tocar o terror e de quebra, mostrar as mazelas do capitalismo.
Na trama, David Rutherford (Michael Moriarty) é um espião industrial que foi contratado por executivos da concorrência para descobrir a receita de um produto chamado Coisa - um iogurte com marshmallow que é um tremendo sucesso comercial. De alguma forma, os consumidores parecem estar viciados no produto, o que faz com que os demais fabricantes queiram a fórmula a qualquer custo. Com a ajuda de Nicole (Andrea Marcovicci), a designer responsável pela campanha de divulgação da Coisa, e de Jason (Scott Bloom), um garoto que se recusa a comê-la, apesar de toda a família adorar o produto, David tenta provar que a Coisa, na verdade, é um ser extraterrestre, que deseja se apossar da mente dos humanos para dominar o planeta.
A Coisa vista no filme foi feita a partir de iogurte e sorvete Häagen Däzs. Na cena em que uma avalanche do produto é vista foi usada também espuma de extintor de incêndio. A cena no motel em que o material sai do colchão e travesseiros e ataca o homem na parede e no teto foi filmada em uma sala que poderia virar de cabeça para baixo, permitindo que o material se movesse para cima e para baixo na parede. A cena foi rodada no mesmo quarto em que, em A Hora do Pesadelo (1984), o personagem interpretado por Johnny Depp é engolido e depois regurgitado da cama.
Segundo o próprio Larry Cohen, em algumas cenas em que "A Coisa" persegue personagens, uma espuma feita de espinhas de peixe foi usada. Fedia tanto que, assim que os tiros foram feitos, os atores correram para um rio para se banhar e se livrar do fedor. Cerca de 30 minutos do filme foram cortados na edição final pelo diretor Larry Cohen. Eles traziam principalmente cenas em stop-motion com a coisa. Seu orçamento foi de US$ 1,7 milhão.
Ainda que seja um filme parecido com A Bolha, clássico com Steve Mcqueen e refilmado em 1988, o roteiro era uma história original de Cohen. Ele disse em uma entrevista: "Minha principal inspiração foi o consumismo e a ganância corporativa encontrados em nosso país e os produtos prejudiciais que estavam sendo vendidos. Eu estava constantemente lendo nos jornais sobre vários bens e materiais sendo recuperados porque estavam prejudicando as pessoas. Por exemplo, você teve alimentos sendo retirados do mercado porque eram perigosos para a saúde das pessoas."
O próprio George Romero fez do seu “Despertar dos Mortos”, de 1978, uma referência do gênero quanto ao consumismo. Da mesma forma, John Carpenter em Eles Vivem, em 1988. Ou seja, foram anos em que o cinema, particularmente nos filmes de horror, se mostraram preocupados com os efeitos deste consumismo louco que se alastrava pelo país de forma perigosa. Cohen foi particularmente influenciado pelo grande volume de junk food consumidos diariamente, mesmo que todos fizessem vista grossa para seus efeitos devastadores.
Pela primeira vez na TV...
Lembro exatamente da chamada do SBT, encerrada com uma cena da família olhando a geladeira aos 38 minutos de filme e com o tradicional selo (cena acima). O filme foi exibido no Cinema Em Casa no dia 14 de junho de 1989. O filme também é uma variação de Os Invasores de Corpos, que por sua vez é remake de Vampiros de Almas, de Don Siegel.
O cinema de terror e ficção daquela época retratava basicamente a paranoia da Guerra Fria em seus roteiros, sempre alinhados com monstros, bombas atômicas e ataques alienígenas. Já nos anos 80, que foram dominados pelos slashers, o consumismo foi por vezes focado por aqueles que o enxergavam como vilões dos novos tempos.
O cinema de terror e ficção daquela época retratava basicamente a paranoia da Guerra Fria em seus roteiros, sempre alinhados com monstros, bombas atômicas e ataques alienígenas. Já nos anos 80, que foram dominados pelos slashers, o consumismo foi por vezes focado por aqueles que o enxergavam como vilões dos novos tempos.
Este foi o último filme de Alexander Scourby, que morreu em 22 de fevereiro de 1985. A produção foi lançada 112 dias depois, em 14 de junho, portanto ele entra no hall dos atores que não assistiram ao lançamento de seu derradeiro trabalho.
A Coisa é um verdadeiro desfile de coadjuvantes, alguns fazendo apenas pontas: Eric Bogosian (Talk Radio: Verdades que Matam); Patrick Dempsey (Namorada de Aluguel); Mira Sorvino (Poderosa Afrodite), que participou do filme porque foi visitar o pai, Paul Sorvino, durante suas filmagens; Abe Vigoda (o Tessio de O Poderoso Chefão); Laurene Landon (Maniac Cop); Danny Aiello (Faça a Coisa Certa); Rutanya Alda (Amityville 2: A Possessão); Brooke Adams (Invasores de Corpos); Tammy Grimes (Alguém Matou o Seu Marido) e Clara Peller (Um Trânsito Muito Louco).
O filme todo é muito bem feito, mas algumas (poucas) cenas são particularmente ruins (veja o frame, com 1 hora e 9 minutos, que fiz acima). A empresa Effects Associated foi contratada por Cohen para fornecer algumas das cenas de efeitos especiais. Quando as tomadas foram entregues, Cohen não ficou satisfeito com as explosões dos edifícios industriais e pagou apenas metade do preço acordado para essas tomadas. A Effects Associated intentou uma ação contra Cohen no tribunal para reivindicar uma compensação total. O tribunal decidiu em favor de Cohen. O Tribunal de Apelações confirmou a decisão.
Ou seja, mostra que Cohen sabia mesmo o que estava fazendo, mas que sob uma firma de efeitos especiais meia-boca, comprometeu uma ou duas cenas já em sua meia-hora final. Mas não faz a menor diferença já que seu recado foi muito bem-dado. Inclusive no final, ele explode uma lanchonete que vende A Coisa situada ao lado de um McDonald's. Só não enxerga quem não quer mesmo ver...