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O QUE FOI A NOUVELLE VAGUE JAPONESA

 


A Nouvelle Vague, por essência, representa uma ruptura com os caminhos tradicionais do cinema, e isso aconteceu em diversas partes do mundo. No Japão, não foi diferente. No entanto, ao contrário de outros lugares, os principais cineastas da Nouvelle Vague Japonesa não formavam um grupo coeso nem mantinham ligações diretas entre si, o que impediu o surgimento de um movimento uniforme com traços facilmente reconhecíveis. O que unia esses diretores era a rejeição às normas e convenções do cinema japonês clássico, buscando narrativas e formas mais ousadas e inovadoras.

Emergindo em um período de transformação social, seus filmes abordavam temas considerados tabus, como violência sexual, extremismo político, juventude rebelde, preconceito e os impactos deixados pela Segunda Guerra Mundial.


Cenário...

Os movimentos cinematográficos costumam surgir como resposta a transformações sociais causadas por conflitos. No caso do Japão, além dos efeitos da guerra, o cinema enfrentava uma queda significativa de público por dois motivos principais: o avanço da televisão, que afetou profundamente a arrecadação das bilheterias, e a percepção generalizada de que a era de ouro do cinema japonês havia ocorrido entre os anos 1930 e o fim dos anos 1950. Embora os preços dos ingressos tenham sido reduzidos, isso não foi suficiente para reconquistar o interesse do público.

Para reverter esse quadro, seria necessário transformar a visão do estúdio japonês mais tradicional, o Shōchiku. Entre seus diretores mais renomados estão Yasujirō Ozu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse, Keisuke Kinoshita e Yōji Yamada, considerados os grandes nomes do período clássico. 


Por que fazer um filme sobre algo que se entende completamente? Eu faço filmes sobre coisas que eu não entendo, mas desejo. 
Seijun Suzuki



O estúdio foi fundado em 1895 como uma produtora de kabuki, um estilo teatral japonês marcado por sua expressividade dramática e maquiagem elaborada. Só a partir de 1920 começou a produzir filmes, sendo atualmente o estúdio cinematográfico mais antigo do Japão. O nome original, "Matsutake", surgiu da junção dos nomes dos irmãos fundadores, Matsujirō Shirai e Takejirō Ōtani. Com o tempo, passou a ser conhecido como Shōchiku, nome que carrega até hoje.

O estúdio quase chegou a monopolizar o mercado por conta da vasta rede de cinemas que controlava, o que lhe permitia determinar amplamente o que seria exibido ao público, um modelo que funcionou por muitos anos. É claro que o talento dos diretores teve papel importante nesse sucesso, especialmente os mais brilhantes, mas sempre atuando dentro dos limites impostos pelo estúdio.


Nuberu bagu

No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, o cinema começou a ser duramente criticado por parecer ultrapassado. O público buscava algo novo. Foi nesse contexto que surgiu a chamada Nova Onda, como resposta a essas críticas e também como forma de revitalizar a indústria cinematográfica, inclusive em termos financeiros. A principal inspiração direta veio da Nouvelle Vague Francesa.

Na prática, os filmes passaram a abordar temas mais controversos e conectados com os interesses da audiência da época. Os diretores ganharam maior autonomia criativa, assumindo mais controle sobre as obras que realizavam. Além disso, começaram a empregar recursos narrativos, estéticos e de montagem inovadores. Era comum adotarem uma abordagem provocadora, especialmente em oposição às normas rígidas da sociedade patriarcal japonesa, conhecida por seu conservadorismo.

Um ponto curioso é que, apesar do caráter experimental, os principais filmes desse primeiro momento da Nova Onda foram realizados dentro de grandes estúdios comerciais. Ou seja, mesmo com mais liberdade, os cineastas ainda operavam dentro de certos limites. Alguns nomes se destacaram nesse cenário:


Yasuzo Masumura, que apesar de menos conhecido do público ocidental, ele foi um cineasta de transição da era clássica para a Nova Onda. Fez filmes como A Esposa de Seisaku (1965), Anjo Vermelho (1966), A Esposa do Dr. Hanaoka (1967), Cega Obsessão (1969). Seu primeiro filme foi em 1957 e o último em 1984.

Nagisa Oshima: popular e polêmico, fez alguns filmes extraordinários do período como Canções Lascivos do Japão (1967), O Enforcamento (1968), Diário de um Ladrão de Shinjuku (1969), O Garoto Toshio (1969). Seu primeiro filme foi em 1959 e o último em 1999.

Shohei Imamura. Se espelhando no mentor Ozu, acabou fazendo um cinema completamente diferente.  Fez filmes na época como Todos Porcos (1961), A Mulher inseto (1963), Desejo Profano (1964), Introdução à Antropologia (1965). Seu primeiro filme foi em 1958 e o último em 2001.

Hiroshi Teshigahara foi um tipo de David Lynch do cinema japonês, trazendo ao público uma visão surrealista das histórias contadas. Suas parábolas existenciais fizeram muito sucesso. Fez obras seminais no período como Pitfall (1962), A Mulher da Areia (1964), A Face do Outro  (1965). Seu primeiro filme foi em 1962 e o último em 1992.


Kaneto Shindō: assistente do aclamado diretor Kenji Mizoguchi, com quem aprendeu a escrever roteiros antes de estrear na direção. Seus principais filmes do período foram  A Ilha Nua (1960), Onibaba - A Mulher Demônio (1964), Paixão e Sangue (1954), O Gato Preto  (1968). Seu primeiro filme foi em 1951 e o último em 2010.

Masahiro Shinoda ganhou destaque justamente por conta da Nova Onda. Filmes como Flor Seca (1964), Assassinato (1964) e Guerra de Espiões (1965) são destaques do período. Seu primeiro filme foi em 1960 e o último em 2003.

Por fim, Seijun Suzuki mesmo que não fizesse parte da Nova Onda, suas ideias revolucionárias casavam perfeitamente com o movimento. Fez filmes marcantes como A Juventude da Besta (1963), Portal da Carne (1964), História de Uma Prostituta (1965), Tóquio Violenta (1966), A Marca do Assassino (1967). Seu primeiro filme foi em 1956 e o último em 2005.


The end

A Nova Onda japonesa seguiu um trajeto semelhante ao de outros movimentos cinematográficos e começou a se dissolver no início dos anos 1970, por uma série de razões: o sistema dos grandes estúdios voltou a entrar em crise; muitos dos principais diretores reduziram sua produção ou migraram para o universo dos documentários e da televisão. 

Ainda assim, alguns nomes do período deixaram obras marcantes, como O Império dos Sentidos (1976) e Furyo: Em Nome da Honra (1983), ambos de Nagisa Oshima, além de A Balada de Narayama, de Shohei Imamura, que inclusive foi premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

A influência da Nouvelle Vague japonesa atravessou gerações dentro do país e continua sendo sentida internacionalmente. Tóquio Violenta (1966), de Seijun Suzuki, teve grande impacto sobre a obra de Nicolas Winding Refn, enquanto Marca do Assassino (1967) ajudou a moldar o estilo visual de Quentin Tarantino.

As tendências cinematográficas, como pode ver, não acabam, apenas se reinventam.. Quando um ciclo chega ao fim, outro tem início, sempre com o mesmo propósito: manter o público conectado a ele.

Confira abaixo 10 filmes importantes para quem quiser iniciar na Nouvelle Vague Japonsea:


➤Direção: Kon Ichikawa

Filipinas, 1945. O Exército Imperial Japonês foi reduzido a um bando de maltrapilhos escondidos nas florestas. Entre eles está o soldado Tamura. A situação vai de ruim a péssima em face às condições extremas que os homens enfrentam, alguns enlouquecem e outros sobrevivem através do assassínio e canibalismo. Em meio a isso tudo, o soldado Tamura tenta sobreviver sem abandonar os seus princípios.

Direção: Shohei Imamura

É entre os camponeses, os miseráveis, os gangsteres e as prostitutas que Imamura encontra terreno fértil. A Mulher Inseto (Nippon Konchuki, 1963), uma de suas obras-primas do período, conta a história de uma camponesa que, tal como um inseto, faz sua escalada da sobrevivência. Tendo atravessado, desde a adolescência, a violência sexual e o incesto, sua mudança para a cidade grande a conduz diretamente à prostituição e afinal ao controle de um bordel, onde passa a praticar toda sorte de atos vis, dos quais antes fora vítima.

Direção: Kaneto Shindō

Japão, século XIV. Enquanto Kichi está na guerra, sua mãe (Nobuko Otowa) e sua esposa (Jitsuko Yoshimura) sobrevivem matando guerreiros desorientados e vendendo seus pertences. Quando a nora se encanta com um desertor, a sogra assume uma assustadora identidade para evitar sua partida. O plano, no entanto, reserva terríveis consequências para a família.

Direção: Hiroshi Teshigahara

O entomologista Jumpei Niki (Eiji Okada) realiza pesquisas numa praia isolada. Após perder o ônibus de volta, ele acaba encontrando abrigo numa estranha casa de difícil acesso. Lá vive uma misteriosa e solitária mulher (Kyôko Kishida), que luta diariamente contra a areia. Agora, porém, ela tem uma companhia e um escravo para realizar o árduo trabalho: Jumpei, transformado em seu prisioneiro.
Hiroshi Teshigahara foi o primeiro japonês indicado ao Oscar de melhor diretor.

Direção: Masaki Kobayashi

Produção japonesa contada em quatro histórias. Em "Black Hair", samurai divorcia-se da mulher que ama para se casar com outra pelo dinheiro; em "The Woman in the Snow", lenhador encontra mulher congelada e o espírito dela aparece para revelar detalhes de sua vida, pedindo a ele que jamais conte a ninguém - mas dez anos depois ele esquece a promessa; em "Hoichi the Earless", o jovem e cego Hoichi vive num monastério e passa a cantar para fantasmas do império; e "In a Cup of Tea" fala de um escritor que vê uma misteriosa face refletida numa xícara de chá.

Direção: Masahiro Shinoda

Nesta sofisticada e sedutora joia da New Wave Japonesa, um yakuza, recém-saído da prisão, envolve-se com uma bela e enigmática moça viciada em jogos; o que a princípio parece uma relação redentora termina o afundando ainda mais no submundo do crime. Fascinantemente rodado e editado, e embalado pela trilha sonora de Toru Takemitsu, este romance de gangsteres foi um marco para o idiossincrático Masahiro Shinoda.

Direção: Hiroshi Teshigahara

Na história, um homem, o Sr. Okuyama (Tatsuya Nakadai) fica com o rosto desfigurado e sente desmoronar seu relacionamento com a esposa, interpretada por Machiko Kyo. Aceita, então, experimentar a invenção de um cientista: uma máscara que se molda quase que perfeitamente ao rosto, e que permite uma pessoa assumir uma face diferente. Com a cara nova, o Sr. Okuyama decide testar a fidelidade de sua esposa, e bola um plano para seduzi-la.

Direção: Seijun Suzuki

O longa conta a história de Goro Hanada, o terceiro melhor assassino profissional em atividade, que tem sua vida abalada após um trabalho mal feito. Hanada passa então a ser caçado por outros assassinos enquanto lida com sua esposa e uma mulher misteriosa que cruzou seu caminho.
Após a conclusão deste filme, Suzuki foi despedido de sua produtora - acusado de “fazer filmes que não ganham dinheiro e nem fazem sentido”, voltando ao cinema apenas no final da década de 70.

Direção: Nagisa Ōshima

A obra começa com a tentativa de execução de um jovem de 22 anos de idade, não muito diferente de Ri Chin’u, que vamos conhecer apenas como  R (Yun-Do Yun), e que foi considerado culpado de violação e assassinato de duas jovens quatro anos antes. R é, de facto, enforcado, mas permanece vivo no final do ato, com o pescoço muito intacto. E assim seguimos, de modo muito satírico, os esforços do comité de execução decidirem o que fazer a seguir. R sobreviveu, e perdeu a memória de quem realmente é, e o grupo não é capaz de decidir se é capaz de enforcar uma pessoa que não está ciente das suas capacidades mentais.


Direção: Toshio Matsumoto

O filme relata a história de Eddie, uma travesti excepcionalmente bonita e uma das melhores hostess em um dos mais famosos clubes noturnos do Japão. Eddie tem um amor obsessivo pelo proprietário do clube, que já está envolvido com a "madame" do clube, Leda, uma travesti madura e ciumenta. Eddie tem flashbacks confusos de sua infância: do seu pai sempre ausente e lembranças nebulosas e estranhas de sua mãe. Ela tem uma fotografia escondida em seu apartamento - mas o rosto na foto de seu pai foi queimado por sua mãe há alguns anos. À medida que o filme avança, começa-se a entender melhor a mente de Eddie e a juntar os pedaços da verdade terrível sobre o seu passado violento.
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