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O EXORCISTA (1973) - REBOBINANDO CLÁSSICOS




FICHA TÉCNICA

Dirigido por William Friedkin.
Elenco: Ellen Burstyn, Linda Blair, Jason Miller, Max Von Sydow, Lee J. Cobb, Kitty Winn, Jack MacGowran, William O’Malley, Barton Heyman, Peter Masterson, Gina Petrushka, Robert Symonds, Thomas Birmingham e Mercedes McCambridge (voz).
Roteiro: William Peter Blatty, baseado em livro de William Peter Blatty.
Produção: William Peter Blatty.

MINHA PRIMEIRA VEZ....

Então....foi com uns 12 anos....eu assisti na Tv...na casa de parentes...meia noite! Parece coisa de maluco, mas na verdade era!!
Depois fomos dormir, e reunimos 4 pessoas num quarto para dormirmos juntos, por causa do medo, e uma delas era sonâmbula!!! Traumatizei para sempre, e assim criei o ícone na minha cabeça do MAIOR FILME DE HORROR JÁ FEITO. Exagero? Nem um pouco. O diretor fez cenas propositalmente para incomodar. O cara é bom...
E interessante é que quando minha mãe estava grávida de mim, assistiu o filme no cinema. Eu não podia mesmo ter uma relação tranquila com a produção.

SINOPSE E ANÁLISE

Para algumas pessoas – como eu – poucos temas são capazes de provocar medo como os relacionados aos espíritos. Por isso mesmo, confesso que dos filmes recentes de suspense que eu assisti, os que mais me agradaram tinham este tema em comum (“O Chamado” e “Os Outros”). Em “O Exorcista”, clássico dirigido por William Friedkin, este tema foi explorado com absoluta competência, provocando um frio na espinha da maioria dos espectadores e criando um festival de imagens que são capazes de atormentar a mais incrédula das pessoas.
A atriz Chris MacNeil (Ellen Burstyn) começa a perceber gradativamente que sua pequena filha Regan MacNeil (Linda Blair) está tendo um comportamento bastante estranho. Após frustradas tentativas de curar a garota procurando a ajuda de médicos, psiquiatras e até mesmo através da hipnose, ela se rende à ajuda do padre Karras (Jason Miller), que chega à conclusão de que a menina está possuída pelo demônio e precisa de um ritual que já não é mais utilizado nos dias de hoje, chamado exorcismo.

Friedkin inicia o filme mostrando o cotidiano do experiente Padre Merrin (Max Von Sydow), que está fazendo escavações no Iraque. Durante estas escavações, Merrin acaba se encontrando com uma estátua macabra no alto de um monte. O plano final desta seqüência no Iraque, com o pôr-do-sol avermelhado, remete ao inferno. Em seguida, o diretor nos ambienta profundamente no relacionamento entre Chris e Regan, mostrando imagens das duas brincando e conversando na cama (neste plano vemos o rosto de Regan em close, o que dá a exata noção do contraste quando ela está possuída). Desta forma, ele cria empatia entre o espectador e aquela família, o que aumenta ainda mais o drama quando Regan começa a dar sinais de mudança em seu comportamento. O diretor também é inteligente ao nos situar nos problemas da família, como no plano em que Chris tenta falar com o pai de Regan e discute com a operadora de telefone. A câmera lentamente se afasta até mostrar Regan ouvindo a conversa escondida. A falta do pai seria utilizada como justificativa posteriormente para a mudança de comportamento da garota. Além disso, lentamente Friedkin vai introduzindo elementos que nos mostram sinais do que aconteceria depois, como a cama balançando freneticamente, a reação de Regan nos exames e os palavrões que a garota começa a falar. Finalmente, somos apresentados ao sofrimento do Padre Karras ao ver sua mãe doente, que também terá reflexo no restante da narrativa.


Vale dizer que todo este cuidadoso primeiro ato é mérito também do excelente roteiro de William Peter Blatty (baseado em livro do próprio Blatty). O roteiro desenvolve muito bem os personagens e seus dramas familiares, o que colabora com o nosso envolvimento no filme. É também corajoso ao trabalhar muito bem questões delicadas como a vida pessoal dos padres, normalmente vistos como pessoas acima do bem e do mal, mas que são seres humanos normais, que têm defeitos, medos e enfrentam problemas pessoais como qualquer um. Observe, por exemplo, este trecho de uma das conversas entre Chris e Karras: (Chris: “Padres sabem guardar segredo?” / Karras: “Depende.” / Chris: “Do que?” / Karras: “Do Padre.”). Não é por ser padre que uma pessoa é ou não é confiável, isto depende exclusivamente da pessoa. Blatty conseguiu ainda ilustrar de forma correta o conflito comum entre a medicina e a religião, através do ceticismo dos médicos no início do tratamento da garota. Finalmente, o filme jamais abre espaço para o humor, o que soaria falso e deslocado, a não ser pela repetição da piada sobre o filme que está passando no cinema no final do filme, já quando o espectador está mais relaxado.

Também colabora sensivelmente para o sucesso do longa o talentoso elenco dirigido por Friedkin. Ellen Burstyn e Linda Blair mostram uma boa química no início, o que serve até como comparação para a incrível transformação que ambas sofrerão durante o restante do filme. Regan, sempre sorridente, e Chris, sempre carinhosa, vão lentamente se transformando em pessoas completamente diferentes por razões distintas. Burstyn é extremamente competente, por exemplo, ao demonstrar sua comoção com a notícia da morte de Burke, chorando escandalosamente e com as mãos trêmulas. Seu desespero para tentar curar a filha é tocante, apelando para toda e qualquer ajuda vinda dos médicos, psiquiatras ou até mesmo de um especialista em hipnose. Observe sua reação ao ouvir a sugestão de um médico para procurar o exorcismo (e aqui ele dá uma explicação técnica para o sucesso do ritual, mostrando novamente que a medicina não tolera a explicação religiosa). Ela olha assustada para todos na mesa, mudando o foco do olhar da direita para a esquerda e vice-versa, tentando entender o que era aquilo. 

Finalmente, Burstyn completa sua transformação na cena em que expõe todo seu sofrimento ao gritar para o padre Karras que ela reconheceria sua filha de qualquer jeito (“Aquela coisa lá em cima não é minha filha!”). A atriz é muito competente na transmissão da dor e do desespero de Chris. Da mesma forma, Linda Blair também merece destaque pela excelente performance como Regan MacNeil. Inicialmente meiga e apegada à mãe, a garota lentamente se transforma num verdadeiro monstro, e o desempenho de Blair cresce consideravelmente quando está possuída. Aterrorizante, o resultado final de sua transformação é mérito também da excelente maquiagem e dos sensacionais efeitos sonoros, como podemos observar na primeira vez que a garota fala com a voz alterada. Jason Miller consegue transmitir muito bem o drama vivido pelo Padre Karras, que tem uma vida extremamente complicada. Localizada em um bairro pobre (as ruas pichadas e cheias de lixo mostram o bom trabalho de Direção de Arte), a velha e desorganizada casa reflete seu estado psicológico, seriamente afetado pela doença de sua mãe. A relação com a mãe, aliás, é algo muito importante para Karras. Talvez pelo fato de não ser casado, ela se tornou sua única companheira. Um dos seus bons momentos acontece quando Chris fala sobre exorcismo e ele pergunta espantado: “Como é?”. Completando o elenco principal, Max Von Sydow oferece uma ótima atuação como o experiente Padre Merrin, que encontra o seu destino no quarto de Regan e reforça o primeiro ato do filme, dando um peso maior à forte cena do exorcismo. Sydow é extremamente competente na criação do clima perfeito para o ritual, transmitindo ao espectador o perigo que aquilo representa, por exemplo, quando está rezando no banheiro.

Além do talentoso elenco, “O Exorcista” conta ainda com um apurado trabalho técnico que aumenta ainda mais o clima de suspense. Observe como a fotografia (Direção de Owen Roizman e Billy Williams) começa a escurecer na medida em que Regan começa a dar sinais de estar possuída. Com o passar do tempo, a fotografia se torna ainda mais sombria, ajudada também pela paleta granulada que torna a imagem menos nítida. Friedkin aumenta a sensação de horror ao jogar imagens demoníacas que piscam rapidamente na tela. O ótimo trabalho de som também colabora para criar o clima perfeito, como na cena em que podemos ouvir os barulhos no sótão da casa de Regan. O som ajuda também nos sustos causados na platéia, como na cena em que Chris investiga a origem dos barulhos na casa, além de funcionar perfeitamente nas cenas em que Regan está possuída.

Ao contrário de filmes como “Tubarão”, onde o suspense é muito mais psicológico, “O Exorcista” aposta no visual para causar medo no espectador. De maneiras diferentes, os dois filmes conseguem sucesso. Quando Regan desce as escadas no meio de uma festa, diz uma frase macabra e faz xixi no chão, o espectador percebe o nível das assustadoras cenas que vai presenciar. E a coleção de cenas aterrorizantes é enorme. Regan vira a cabeça completamente para trás, desce a escada de costas com as mãos e os pés apoiados nos degraus (na famosa cena conhecida como a “menina-aranha”), agride sua própria genital com um crucifixo dizendo palavras obscenas, levita sobre a cama e move objetos para tentar agredir quem entra em seu quarto, entre outras cenas impressionantes.

Assustador e repleto de imagens chocantes, “O Exorcista” faz ainda um excelente estudo sobre a perda da fé. Observamos pessoas completamente diferentes e que enxergam a fé de formas ainda mais distantes, alterarem suas vidas após serem atingidos por tragédias particulares. O Padre Karras, completamente modificado após a perda da mãe, enxerga no drama de Chris a possibilidade de se reencontrar com sua fé. Chris, que segundo ela mesma não tem religião, se entrega à fé para tentar salvar sua pequena filha.

E o Padre Merrin, mesmo com toda sua experiência na vida religiosa, tem sua fé realmente testada dentro do quarto de Regan. Extremamente visual sem se descuidar de seu conteúdo, “O Exorcista” é um filme aterrorizante, com imagens fortes e boas atuações. Seu roteiro coeso aborda a complicada possessão da garota de forma lenta, elevando a tensão a níveis extremos de maneira inteligente. Acredite ou não em espíritos ou demônios e, independente de qual seja a sua fé, o espectador jamais sai indiferente ao filme. Goste ou não, é impossível não respeitar a qualidade do trabalho realizado e o resultado alcançado. E a versão do diretor? Esqueça...é uma bobagem como as mudanças que George Lucas fez em Guerra nas estrelas (1977) e nas suas sequências.



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