CRIMES DA RUA MORGUE / CASA SINISTRA/ GATO PRETO / RAIO INVISÍVEL (CRÍTICAS E DOWNLOAD)
REBOBINANDO CLÁSSICOS traz mais uma vez quatro indicações de filmes de horror da década de 30/40.
Mais uma vez seguem os links para download dos filmes (não gosto de postar, pois os links sempre acabam)
DE 4 - FILMES DE HORROR
ASSASSINOS DA RUA MORGUE
Murders in the Rue Morgue
1932 / EUA / P&B / 61 min / Direção: Robert Florey / Roteiro: Robert Florey (adaptação), Tom Reed, Dale Van Every (baseado na obra de Edgar Allan Poe) / Produção: Carl Laemmle Jr. / Elenco: Bela Lugosi, Sidney Fox, Leon Waycoff, Bert Roach, Betty Ross Clarke
Além do já famoso ciclo de monstros, a Universal foi responsável também por uma série de adaptações livres dos contos de Edgar Allan Poe para o cinema, todas elas com Bela Lugosi no elenco, porém sem o mesmo brilho e assertividade que a parceira entre Roger Corman e Vincent Price nos anos 60. O primeiro dessa safra foi Os Crimes da Rua Morgue.
E posso dizer com toda convicção que Os Crimes da Rua Morgue é o mais fraquinho de todos (Lugosi ainda estrelaria O Gato Preto e O Corvo, ambos junto de Boris Karloff). Bom, começa pelo fato que sou fã confesso de Edgar Allan Poe, mas o conto que deu origem a esse filme nunca me desceu direito. Afinal, um orangotango cometeu o assassinato?
Eu sei, eu sei sobre a importância do conto para as história policiais modernas, e que se não fosse Os Crimes da Rua Morgue, provavelmente Sir Artur Conan Doyle nunca teria criado o famosíssimo detetive Sherlock Holmes. Mas um orangotango? Bom, dá para baixar o conto para ler aqui.
Eu sei, eu sei sobre a importância do conto para as história policiais modernas, e que se não fosse Os Crimes da Rua Morgue, provavelmente Sir Artur Conan Doyle nunca teria criado o famosíssimo detetive Sherlock Holmes. Mas um orangotango? Bom, dá para baixar o conto para ler aqui.

Determinado em provar sua teoria, Mirakle começa a raptar prostituas para suas experiências, de misturar sangue humano com sangue macaco, para ver o que acontece. Isso chama a atenção de Pierre Dupin, que no livro é um homem inteligente, brilhante e com um poderoso senso de dedução que resolve o crime, e aqui só é um cara apaixonado pela doce Camille L’Espanaye, estudante de medicina, pé rapado que vive com um companheiro de quarto insuportável que faz às vezes de mulher preocupada, que começa a suspeitar de Mirakle ser o responsável pelas mortes.
Como seria impossível manter um longa metragem utilizando apenas o conceito original do livro, o ataque do gorila / chimpanzé fica para o terceiro ato. Mirakle apaixonado pela moça, manda o macaco raptá-la do seu quarto, colocando a polícia de Paris e Dupin em seu encalço, apenas depois de ser considerado o principal suspeito. Tudo bem que estamos em 1932, mas o símio é realmente tosco.
Misturando imagens reais com a de um sujeito vestido um traje peludo de macaco (ao melhor estilo Congo), o truque da edição não funciona nem um pouco bem, e se a intenção era chocar, acabou se tornando bem cômico e ridículo. Apesar de haver muita limitação de efeitos visuais na época e o responsável pela maquiagem ser o brilhante Jack Pierce, Frankenstein, O Médico e o Monstro e A Ilha das Almas Selvagens, por exemplo, já haviam nos apresentado um trabalho muito mais satisfatório
Misturando imagens reais com a de um sujeito vestido um traje peludo de macaco (ao melhor estilo Congo), o truque da edição não funciona nem um pouco bem, e se a intenção era chocar, acabou se tornando bem cômico e ridículo. Apesar de haver muita limitação de efeitos visuais na época e o responsável pela maquiagem ser o brilhante Jack Pierce, Frankenstein, O Médico e o Monstro e A Ilha das Almas Selvagens, por exemplo, já haviam nos apresentado um trabalho muito mais satisfatório
A CASA SINISTRA
The Old Dark House
The Old Dark House
1932 / EUA / P&B / 72 min / Direção: James Whale / Roteiro: Benn W. Levy (baseado na obra de J.B. Priestly)/ Produção: Carl Laemmle Jr. / Elenco: Boris Karloff, Melvyn Douglas, Charles Laughton, Lilian Bond, Ernest Thesiger, Eva Moore
A Casa Sinistra é a empreitada da Universal na típica história gótica sobre casarões vitorianos, logo após o lançamento da sua primeira e bem sucedida leva de filmes de monstros: Drácula e Frankenstein, e alguns meses antes de A Múmia.

Misturando terror com doses de humor e esquisitices como só Whale era capaz de fazer (vide os seus próximos trabalhos: O Homem Invisível e A Noiva de Frankenstein), A Casa Sinistra entrega seus elementos do gênero de forma séria, porém intercalando-os com diálogos afiados, situações de pastiche, lutas atrapalhadas e comportamento absurdo da maioria de seus personagens.

Não sei se Lammle e o pessoal da Universal não acreditavam no potencial de diálogo de Karloff, porque mais uma vez, como em Frankenstein, ele faz um personagem que não fala uma palavra sequer o filme inteiro, soltando apenas alguns grunhidos inteligíveis. Mas apesar do papel secundário, a equipe de maquiagem de Jack Pierce mais uma vez caprichou e transformou Karloff num ser feioso, carrancudo e com o rosto cheio de deformações e cicatrizes.

Só que o que fica devendo em A Casa Sinistra são cenas realmente de terror genuíno em uma trama subaproveitada, pois quando você descobre o verdadeiro segredo que vive naquela casa, chega até ser decepcionante, já que Whale vai criando um clima bem misterioso que vai prendendo sua atenção ao filme, mesmo em meio a situações completamente inverossímeis e estapafúrdias, como o desconcertante jantar ou quando Gladys e Penderel saem no meio da tempestade para tomar uma dose de uísque no carro, e voltam perdidamente apaixonados, com ele decidindo pedi-la em casamento e ela dispensando Bill na maior cara de pau, sendo que o corno leva na maior esportiva e ainda faz graça com isso. Oi?
Morgan e Rebecca também são dois personagens mal aproveitados, que poderiam render muito mais à trama, assim como Saul, se suas verdadeiras motivações fossem mais bem explanadas bem como sua insanidade. E ao final, com a noite que parecia sem fim terminando e os raios de sol adentrando a casa, tudo volta ao normal como se nada tivesse acontecido. Mas há de se concordar que a direção de Whale é precisa, além dele ser um excelente diretor de atores e especialista em ludibriar o espectador, entregando algo completamente não usual e fora do inesperado. Uma curiosidade é que A Casa Sinistra ficou fora de circulação muito tempo, pois todas suas cópias haviam se perdido. Somente vários anos depois, na década de 60, que o diretor Curtis Harrington encontrou seus negativos, salvando o filme do esquecimento.
GATO PRETO
The Black Cat
The Black Cat
1934 / EUA / P&B / 65 min / Direção: Edgar G. Ulmer / Roteiro: Peter Ruric (inspirado pela obra de Edgar Allan Poe) / Produção: Carl Laemmle Jr., E.M. Asher (não creditados) / Elenco: Boris Karloff, Bela Lugosi, David Manners, Julie Bishop
Carl Lammle e a Universal proporcionam em O Gato Preto, um deleite para os fãs dos filmes de terror: a junção entre Bela Lugosi, Boris Karloff e Edgar Allan Poe.
Esse é o primeiro e mais célebre filme em que os dois maiores astros do cinema de horror daqueles tempos contracenam juntos (ainda repetiriam a dose em O Corvo, O Raio Invisível e O Filho de Frankenstein). Também o que apresenta uma das tramas mais sinistras em seus temas e implicações.

O inocente casal, bem típico dos filmes de terror, Peter e Joan Allison (respectivamente interpretados por David Manners e Julie Bishop), que inspiraram o casal do filme The Rocky Horror Picture Show, encontram com o enigmático e sofrido Dr. Vitus Werdegast (Lugosi) no trem durante sua viagem de lua de mel pela Hungria.

A situação acaba transformando o casal, junto de Werdegast, em hóspedes forçados no excêntrico castelo modernista de Poelzig, construído sobre a cova coletiva dos soldados que ele mesmo traiu durante a Primeira Guerra. Aos poucos, entende-se que Werdegast está lá na verdade em busca de vingança, que vem sendo elaborada desde que foi preso, deixando mulher e filha nas mãos do rival.
No desenrolar da história, Werdegast descobre que Poelzig tem um inusitado hobby: colecionar mulheres mortas mumificadas em redomas de vidro (incluindo sua falecida esposa) e que o personagem de Karloff é sacerdote de um bizarro culto satânico, sendo que seu livro de cabeceira é “Os Rituais de Lúcifer”.

E é engraçado você ver o embate e os diálogos afiados entre Lugosi e Karloff e você parece que sente a eletricidade entre os dois, como se pudéssemos cortar o ar com uma navalha de tamanha tensão, já que no fundo sabemos que havia sim uma richa entre os dois atores.
O Gato Preto não é um filme fácil de assistir, isso eu tenho que admitir, e passa um pouco do ponto no quesito estranho, sem se entender as verdadeiras intenções dos personagens até o terceiro ato. Isso sem contar a fobia esdrúxula de Werdegast por gatos, sem a menor explicação.
Na verdade a presença do tal gato preto do título do filme é praticamente alegórica e sem necessidade (talvez a única forma encontrada de utilizar o bichano e explorar o efeito mercadológico de levar algo com o nome de Poe para o cinema). Mas apesar dos apesares, o duelo entre o calculista Lugosi e o cínico Karloff é simplesmente fantástico. O que já vale o filme e seu lugar na lista.
RAIO INVISÍVEL
The Invisible Ray
The Invisible Ray
1936 / P&B / EUA / Direção: Lambert Hillyer / Roteiro: John Colton, Howard Higgn e Douglas Hodges (história original) / Produção: Edmund Grainger, Fred S. Meyer (produtor executivo) / Elenco: Boris Karloff, Bela Lugosi, Frances Drake, Frank Lawton, Violet Kemble Cooper
Mais um deleite para os fãs de filmes de terror e ficção-científica, com a já clássica disputa entre Lugosi e Karloff, outra vez um colírio para os nosso olhos. Dessa vez, em O Raio Invisível, os dois maiores astros do cinema de terror de seu tempo são dois cientistas se engalfinhando, destilando diálogos e atuações fantásticas e incendiando mais uma vez a eterna discussão do choque de egos entre os dois e qual deles era o principal astro do gênero (eu continuo achando Karloff muito mais ator que Lugosi).

Nessa trama, Karloff é o brilhante cientista Dr. Janos Rukh, que faz uma mirabolante descoberta, através de um imenso telescópio, que na verdade é uma espécie de máquina do tempo, onde consegue captar imagens do passado na Nebulosa de Andrômeda, que ficam gravadas como um eco pelo tempo espaço contínuo e transmitir essa imagem em uma gigante tela, descobrindo assim que há milhares de anos, um meteoro caiu em algum lugar perdido da África, trazendo consigo uma poderosa nova forma de matéria.

Rukh separa-se da expedição principal e encontra o local da queda, auxiliado pelos nativos, e junto com ele, encontra também um elemento químico desconhecido chamado Radium X, substância poderosíssima que ao mesmo tempo que é capaz de ser usado para destruir, também pode ser utilizado para curar diversos tipos de doença. Só que Rukh acaba sendo envenenado pela radiação do novo elemento e adquire uma bizarra fosforescência que o faz brilhar no escuro, e um toque mortal.

A mente de Rukh começaria a ser afetada, levando-o a loucura. E não dá outra. Preocupados com o poder do Radium X e com o novo sumiço de Rukh que voltou ao acampamento, os Drs. Steves e Benet decidem que o elemento é perigoso demais para ficar nas mãos de uma só pessoa, e resolvem voltar para Paris no intuito de apresenta-lo em um congresso científico, creditando Rukh como o descobridor da substância.
Só que tomado pelo ódio e os efeitos nocivos da radiação, Rukh acredita estar sendo roubado pelos outros cientistas, e como se não bastasse, sua esposa, desprezada, o abandona, e casa-se com Drake (afinal, já diz o velho ditado, que quem não dá assistência abre para a concorrência). É o suficiente para Rukh começar seu maligno plano de vingança e utilizar o mortal poder do Radium X, inclusive aquele em seu toque, para destruir todos os envolvidos, incluindo aí o personagem de Lugosi e sua ex-esposa.

Nisso, Karloff e Lugosi contracenam uma verdadeira antítese de papeis, um obcecado e cego pela vingança, e o outro benevolente que nunca deixou de creditar Rukh pela descoberta. Mas claro que o papel de Karloff é muito maior e ele é o verdadeiro protagonista de O Raio Invisível, sendo Lugosi um coadjuvante de luxo. E mais uma vez, ao meu ver, Boris engole Bela em cena.
Com o sucesso de O Raio Invisível, a Universal que não é boba nem nada, queria já aproveitar a onda e fazer um filme parecido, com a dupla novamente, trocando um homem radioativo por uma criatura elétrica, também vítima de uma experiência científica, baseado na história The Electric Man. Porém o projeto foi abortado quando a Universal começou a perceber o crescente desinteresse do público no gênero, devido ao desgaste das produções já do final da década de 30. Mas esse projeto foi resgatado em 1940 e filmado com o título de Man Made Monster, trazendo a dupla Lionel Atwill e Lon Chaney Jr. nos papeis que seriam de Karloff e Lugosi.