CAYMAN MOREIRA - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Fábio Moreira de Melo, também conhecido artisticamente como Cayman Moreira e, posteriormente, Fábio Moretti, é um artista multifacetado: desenhista, roteirista, músico, professor e profundo conhecedor de cinema e teatro. Com atuação em instituições como SENAC, FIC e Farias Brito, lecionou artes visuais e histórias em quadrinhos, além de ministrar palestras sobre a sétima arte, como a marcante apresentação no Cine Benfica sobre o Western Italiano e sua influência no cinema moderno. Cinéfilo e escritor desde cedo, desenvolveu sua paixão pela narrativa a partir de leituras de autores como Monteiro Lobato, H.P. Lovecraft e Stephen King, unindo sua vivência cultural a uma sólida trajetória como argumentista e quadrinista.
Na música, encontrou inspiração nos anos 1960 e em grandes nomes da MPB e do folk internacional. Após uma experiência marcante no Mato Grosso do Sul, foi influenciado por Almir Sater a trocar o violão pela viola caipira, instrumento com o qual mantém uma relação de mais de duas décadas. Compositor de mais de cem músicas e arranjador de suas próprias obras, participou de festivais importantes como o 'Chama Cariry', e carrega um estilo musical que mistura o rural brasileiro com o country norte-americano. Para ele, a música transcende fronteiras e rótulos, dividindo-se apenas entre o que é boa ou ruim, sendo a viola, o violão ou a guitarra pontes para qualquer expressão sonora, seja ela baião, blues ou jazz.
Vamos às 7 perguntas capitais:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
C.M.: Eu nasci praticamente dentro de um cinema, quando meu pai e minha mãe se conheceram nos dourados anos 50 e o cinema era sempre a melhor diversão. Ambos eram uma mistura de Marlon Brando em O Selvagem e Kim Novak em Picnic. Um tanto quanto transviados para a época.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
C.M.: Sou colecionador, cinéfilo e videomaker. Eu mesmo edito e faço autoração de muitos filmes de minha coleção.
3) Você se tornou próximo ao universo do personagem Tex. Têm muitos itens relacionados a ele?
C.M.: TEX é um personagem favorito dos quadrinhos de Western para mim, assim como Jonah Hex, desde várias décadas. E eu tenho vários itens do Águia da Noite, sim. Não chega a ser uma grande coleção, porque tenho apenas edições muito especiais para mim, que ultrapassam pouco mais de uma centena.
4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios." Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?
C.M.: Bem, o fato de viver da arte, sou designer, artista plástico, desenhista, argumentista e roteirista de HQs e instrutor de artes e ofícios, além de músico e cantor, já são a minha razão de viver. Ainda mais quando a sétima arte faz parte, e hoje, alguns ídolos do passado são meus amigos, alguns até íntimos, e se não fosse a internet, eles seriam apenas parte do meu acervo visual do passado e do presente, por assim dizer.
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
C.M.: É difícil, porque uma lista de 100 já seria pouco, mas vamos lá:
A um Passo da Eternidade (1953) – Um filme que sempre me leva às lágrimas em vários momentos, partes de um passado que eu vivi.
Rastros de Ódio (1956) e No Tempo das Diligências (1939) – A lembrança de meu pai é clara e evidente aqui. E o Western é meu mundo principal, no cinema.
Três Homens em Conflito (1966) – O Western italiano me conquistou de vez, na minha adolescência. E Sergio Leone não era o precursor do cinema novo, como disseram. Ele era o próprio cinema novo. Eu poderia citar toda a obra de Leone, mas tive que selecionar apenas este a mais, devido ao resto da lista, que engloba mais gêneros e realizadores.
Meu Ódio Será Tua Herança (1969) – Este filme marcou toda uma geração. E se Sam Peckinpah não tivesse feito nada mais, além disso, ainda assim, seria um imortal.
À Beira do Abismo (1946) – O Noir é um gênero que se tornou quase um vício para mim, ainda na minha pré-adolescência. E Humphrey Bogart é um eterno ícone, na longa noite que surgiu no cinema através de filmes como este.
Ben-Hur (1959) – Esta obra é algo particular para mim, até mesmo dentro de minha família.
A Marca da Maldade (1958) – Um filme que me marcou desde a abertura, com a trilha sonora inesquecível de Henry Mancini. Cidadão Kane pode ser o melhor filme de todos os tempos e a melhor coisa que Orson Welles já fez, para a maioria. Mas A Marca da Maldade é superior em tudo, para mim.
Horror de Drácula (1958) – Este filme marcou uma época de minha vida, há décadas. O cinema de horror, a literatura de horror, as HQs de horror, tudo isso constitui grande parte da matéria-prima do meu trabalho visual e acervo pessoal. E uma das minhas maiores alegrias é ter um de meus trabalhos elogiado por Sir Christopher Lee, uma pintura acrílica sobre cartão, para ele, que não queria mais seu nome associado à Drácula, mas me deu um desconto aqui, em seu site pessoal, antes de partir deste mundo, testemunhado por seu genro Juan Aneiros.
Um Corpo que Cai (1958) – Hitchcock fez aqui o melhor suspense de todos os tempos, conforme disse a crítica mundial durante as comemorações de 100 anos de cinema, e eu assino embaixo. Ainda mais com a presença do pau-para-toda-obra James Stewart e a minha musa eterna, Kim Novak.
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos.
C.M.: Bem, entre os projetos para este, estão um livro, vários roteiros e Histórias em Quadrinhos para finalizar - TEX, é claro, é um dos projetos secretos, [risos], além da compilação de meu disco de trilhas sonoras clássicas de Western em inglês e italiano, cantadas por mim.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
C.M.: Já fui chamado de sonhador, várias vezes e qual artista não é um sonhador em essência? Muitas destas vezes eu me senti discriminado e triste, por essa crítica. Hoje, percebo que a maioria que me criticou, é totalmente desprovida de sonhos, esperança, capacidade e coragem para realizar seus projetos de vida e jamais perdoa quem nunca planta "os pés no chão", - "pé no chão" em termos radicais, jamais me levaria à parte alguma - e prefere dar asas à imaginação e à fé na luz, porque só assim, somos capazes de realizar o que quer que seja, ainda que só uma parte, algo melhor que nada. Meu conselho é siga e persiga seus sonhos. Quem segue este caminho será sempre feliz, contra qualquer imposição do destino.
M.V.: Obrigado, amigo. Sucesso sempre.