PABLO VILLAÇA - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Pablo Villaça é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.
No ano de 2002, Pablo passou a ser o único latino-americano a ser membro da Online Film Critics Society. Ainda publicou colunas em língua inglesa no website Hollywood Elsewhere. Em 2007, foi o único profissional estrangeiro, entre 15 convidados, a participar em Nova York de um seminário sobre Crítica de Cinema promovido pelo The New York Times e pelo Museum of the Moving Image.
Vamos às 7 perguntas capitais.
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: sou cinéfilo!
P.V.: Desde cedo, graças principalmente à minha avó Lourdes, que amava Cinema e nos levava (minha irmã e eu) para assistir aos filmes dos Trapalhões e outros infantis. Ela tinha uma maneira gostosa de alegrar o dia inteiro, fazendo almoços especiais, nos levando para tomar sorvete após as sessões e acho que, com isso, passei a associar o cinema com sensações agradáveis. Uma coisa meio pavloviana, talvez.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
P.V.: Eu não chamaria de "colecionar". Compro muitos filmes, gift sets, boxes, edições especiais, etc., mas também compro livros e não considero coleção. A única coisa que eu diria colecionar são itens relacionados à trilogia O Poderoso Chefão. Tenho cartazes, várias edições em VHS, DVD, BD e até laserdisc (mesmo nunca tendo o aparelho), bonecos, canecas, chaveiros e por aí afora.
M.V.: Eu também tenho laserdiscs dos três filmes. E, curiosamente, também não tenho aparelho.
3) Quando surgiu a ideia do "Cinema em Cena"? O que te motivou a criar e dar continuidade ao site?
P.V.: Eu comecei a escrever sobre Cinema em 1994, depois de criar áreas voltadas para os lançamentos da semana em quase todas as BBSs de Belo Horizonte (Bulletin Board Systems, talvez você se lembre e possa explicar para os seus leitores o que eram). Em 1997, como já tinha acumulado alguns textos e tinha curiosidade sobre produções em andamento, criei o site para publicar algumas críticas e notícias sobre estes novos projetos. O site foi crescendo e completará 20 anos em 2017.
4) Quem trabalha no meio artístico costuma acumular histórias curiosas e inusitadas. Qual foi a experiência mais marcante que viveu nesse universo?
P.V.: Conhecer e tornar-me amigo de Roger Ebert, o primeiro crítico de cinema a vencer um prêmio Pulitzer e a quem comecei a acompanhar ainda na adolescência ao ler suas críticas em um CD-ROM (outra coisa para explicar aos leitores jovens) chamado Cinemania. Em 2010 (acho), para minha surpresa, Roger divulgou um texto que eu havia escrito sobre Frankenstein de Mary Shelley para um site chamado MovieCityNews e enviei um e-mail agradecendo.
Começamos a trocar mensagens, passei a ser colaborador de seu site e me tornei seu amigo, sendo convidado a participar de seu festival, o Ebertfest, em Illinois - onde ele também me deu a honra de mediar alguns debates. Foi uma das melhores pessoas que já conheci, um dos escritores mais talentosos e o melhor crítico de cinema que já existiu. Sinto sua falta tremendamente.
A outra boa experiência foi visitar o escritório de Scorsese, em 2007, e passar algumas horas conversando com ele sobre o cinema mundial.
M.V.: Não consigo imaginar a sua emoção com Scorsese. Sou absolutamente viciado em três dos seus filmes (Taxi Driver, Touro Indomável e Bons Companheiros), além de rever sempre sua filmografia. Scorsese é um grande professor. Seus documentários são sensacionais.
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
P.V.: A trilogia O Poderoso Chefão é a manifestação máxima do cinema.
M.V.: Interessante, pois o terceiro filme nem sempre é bem visto. Eu, particularmente, revi há um mês e achei que ele melhorou demais com o tempo. E depois de ver um vídeo seu explicando pontos do filme, aprendi a amar a produção.
P.V.: Que bacana.
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos.
P.V.: Tenho alguns, mas se conseguir manter o Cinema em Cena vivo, já me darei por satisfeito.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
P.V.: O cinema é o exercício da empatia, que é a melhor qualidade que um ser humano pode ter. Ver o mundo através dos olhos de outras pessoas é uma forma de praticá-la.
Já para os críticos (e aspirantes a), só posso sugerir... não, melhor... pedir que estudem teoria e linguagem cinematográfica e que assistam a muitos filmes (de todos os gêneros, países, épocas, correntes). A crítica é muito mais do que um "gostei ou não", "a fotografia é bonita ou não", "a montagem é legal ou não" - e é obrigação do bom crítico trazer esse olhar aprofundado para o leitor a fim de estimular também a experiência deste e seu amor pelo Cinema.
M.V.: Obrigado, Pablo, pela sua atenção. Vida longa e próspera ao Cinema em Cena. E vou deixar uma frase que virou meu mantra. E a frase é sua.
"Não é papel do crítico formar a opinião de seu leitor, mas sim o de auxiliar na formação de sua própria consciência crítica".