SERGIO ALPENDRE - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Crítico de cinema, professor, pesquisador, curador e jornalista. Escreve na Folha de S.Paulo desde 2008 (Ilustrada, Mais, Guia Folha e Guia livros, discos, filmes). Doutor em Comunicação/Cinema pela Universidade Anhembi-Morumbi, com bolsa da CAPES (incluindo bolsa sanduíche para onze meses em Portugal). Mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA – USP, com bolsa da CAPES. Edita a Revista Interlúdio e o blog de cinema. Participou como palestrante dos Encontros Cinematográficos, na cidade de Fundão, em Portugal (março de 2015 e maio de 2017).
Ministrou uma Master Class na UBI - Universidade da Beira Interior, em Covilhã, Portugal (março de 2015). Foi coordenador do Núcleo de História e Crítica da Escola Inspiratorium (de 2011 a 2017). Foi curador da edição de 2014 do festival FICBIC – Festival Internacional de Cinema da Bienal de Curitiba. Foi redator do Roteiro Cinesesc, de janeiro a março de 2015. Foi oficineiro do programa Pontos MIS (de 2012 a 2015). Fundou e editou a Revista Paisà, publicação impressa de cinema (de 2005 a 2008). Editou a 4ª edição da Revista da Programadora Brasil (2010). Editou o catálogo da IV Mostra de Cinema Grego.
Já escreveu para importantes veículos de imprensa como UOL, Contracampo, Cineclick, Foco, MOVIE, Taturana, Cinequanon, Revista E, Bravo e Filme Cultura. Participa de seleções e júris em festivais de cinema, além de ministrar cursos de história do cinema e oficinas de crítica por todo o Brasil.
Vamos às 7 perguntas capitais.
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: sou cinéfilo!
S.A.: Surgiu quando meus pais me levaram para ver o desenho animado dos estúdios Disney. Era Robin Wood, mais ou menos em 1974 ou 75. Eu tinha seis anos e fiquei hipnotizado pelo que se passava na tela. Desde então, sempre pedi para meus pais me levarem ao cinema. Vi muitos filmes dos Trapalhões, passando depois para os filmes de ação (Star Wars, Caçadores da Arca Perdida). Mais tarde, veio o interesse em estudar de fato o cinema. Isso já em 1989, quando eu tinha de 20 para 21 anos.
M.V.: Interessante como as histórias de cinéfilos são parecidas. Também comecei por um filme da Disney, 101 dálmatas, e diversos filmes dos trapalhões, como O trapalhão na Arca de Noé (1983) e Atrapalhando a Suate (1983), que curiosamente foi o ano em que eles tiveram uma briga e fizeram estes dois separados.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
S.A.: Coleciono filmes e, principalmente, livros. Não só sobre cinema, mas sobre artes e crítica, e vários outros assuntos (romances, curiosamente, tenho poucos). É desesperador, porque meu apartamento fica cada vez menor.
3) Quando se tornou crítico de cinema? E quando surgiu a ideia da revista Paisà (2005-2008)?
S.A.: Acho que essa pergunta tem duas respostas. Tornei-me crítico, contra a própria vontade, quando entrei para a revista Contracampo, em 2000. Nessa época, eu era comerciante (tinha uma loja de discos) e usava a crítica como hobby, para exercitar minha paixão por cinema. Só em 2005, quando resolvi deixar a loja aos cuidados de meu irmão (meu sócio desde a fundação) e montei a Paisà com um amigo, é que me tornei de fato um crítico. Quer dizer, só então passei a exercer uma crítica, digamos, mais responsável.
Voltei a ler coisas da época da faculdade, fui atrás de textos importantes que eu não conhecia, enfim, pude finalmente botar meu repertório de cinefilia à prova. A Contracampo foi muito importante nesse processo. Fiquei no site até 2010 e aprendi muito com os críticos que por lá passaram.
Mas na Paisà eu passei a escrever sem preocupação alguma. Era mais livre e solto, ainda que na Contracampo eu sempre me considerasse um pouco outsider (era dos poucos, ou até o único, durante algum tempo, que gostava de Fellini, por exemplo).
4) Quem trabalha com arte costuma acumular histórias curiosas e inusitadas. Qual foi a experiência mais marcante que viveu nesse universo?
S.A.: Das mais diversas. Escrever para o blog é uma coisa, para a Interlúdio, outra, e para a Folha, é ainda uma outra experiência. No mais, o professor Sérgio está cada vez mais presente. Dar aulas é algo que eu gosto muito de fazer, pelo contato com os alunos, pelo modo como sinto que algumas de minhas ideias encontram ecos nas ideias de alguns alunos, pelo desejo de passar o que sei, e de aprender com os alunos também.
Enfim, me sinto exercendo a crítica ainda mais nas salas de aula do que nos textos. Sinto-me mais útil. Talvez tenha a ver com a falência da leitura em nossa sociedade. Em tempos de Facebook, em que tudo é textão, não parece haver muito espaço para o conhecimento. Só para informação. E informação não é tudo. E no Brasil parece proibido criticar.
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
S.A.: São tantos que me marcaram e por motivos tão diversos, que a lista muda sempre. Hoje, talvez fosse composta de filmes como Sem Essa Aranha, Satyricon, A Noviça Rebelde, O Anjo Exterminador (Buñuel nunca sai de meu panteão pessoal), O Intendente Sansho, Quando o Amor é Cruel, Peregrinação (de John Ford), Pierrot le Fou, O Leopardo, Num Ano Com Treze Luas, O Homem dos Olhos Frios, Os Pássaros, Alice's Restaurant, Verão Violento (Zurlini)... Estou esquecendo uns tantos...
6) Fale um pouco dos seus próximos projetos.
S.A.: Difícil falar de projetos. Sempre tenho muitos, e alguns deles são frustrados. Mas tenho três livros em andamento, dos quais pretendo terminar ao menos um ainda este ano. O que é difícil com o tempo tão escasso. Tenho convite para dirigir filmes, mas não é muito a minha. Talvez aceite por causa da amizade profunda com quem me convidou, mas tenho muito mais tesão em escrever um livro, por exemplo, ou bolar um novo curso.
Ainda que considere uma experiência interessante filmar um curta, ou um episódio de um longa, ou mesmo um longa inteiro, e talvez por isso acabe aceitando. Mais para ver qual é. Além disso, estou para iniciar mais dois cursos inéditos, o que é sempre estimulante. Pretendo também me dedicar mais ao doutorado, que tem me dado experiências bem interessantes. Quase chega a ser uma trégua com os meandros acadêmicos.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
S.A.: Sem paixão, nada vale a pena. A crítica é ainda incompreendida, ainda mais num país como este, cheio de estrelinhas mimadas. Só um apaixonado pode exercer essa atividade, pois o desgaste é inevitável para quem fizer um trabalho minimamente decente. Desgaste, quando não boicote mesmo. O mundo é sujo, e o do cinema não seria diferente. Mas o importante é dormir com a consciência tranquila. Com sinceridade e franqueza acima de tudo.
M.V.: Obrigado, amigo. Sucesso para você.