MARCELO MILICI - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Formado em Letras pelo Centro Universitário São Camilo, Marcelo concluiu com uma monografia sobre O Horror Gótico nas Literaturas Inglesa e Americana. Marcelo vive o horror desde criança, quando seu pai não tinha receios de exibir para seus filhos clássicos como Drácula, de 79, e Um Lobisomem Americano em Londres, primeiro filme que viu em VHS.
Fundou o "Boca do Inferno" em 2001 e, desde então, vem respirando ainda mais o gênero, tendo sido jurado de vários festivais como CineFantasy (três vezes), SP Terror (duas vezes), Espantomania e até de poesia na Casa das Rosas em São Paulo.
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
M.M.: Influenciado por meus pais. Desde pequeno e me refiro à década de 70 e início da 80, tive contato com produção audiovisual. Meu avô tinha uma câmera Panasonic pesadona, e com ela realizávamos filmagens caseiras, com cada integrante da família interpretando papéis.
Meu pai comprou uma Super 8, e tenho registros de filmagens minhas bem pequeno em brincadeiras na praia. Daí para gostar de horror, pela exibição na parede de Drácula, foi um pequeno salto de uma criatura curiosa. Tínhamos carteirinha em diversas locadoras, e era praxe retirar semanalmente os tijolões para conferência nas noites de sexta e sábado e nas tardes de domingo.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
M.M.: Tenho 5000 DVDs e quase 100 blu-rays. Recebo bastante material das distribuidoras - e recebia também quando eram comuns as "cópias de serviço". Anoto os filmes que vi desde 2005 numa agenda, com uma pequena avaliação sobre cada produção. Nunca parei para contar quantos vi até o momento. Eu conto desde os 6 anos!
M.V.: Conto desde os 6 anos também. E lembro inclusive os primeiros que vi. Eu anoto em cadernos e estou passando por uma luta para modernizar e passar tudo para o Excel. (risos)
3) Criou o site "Boca do Inferno"? Ele nasceu de uma lacuna que você sentia na cobertura de cinema de gênero? E em que momento essa ideia tomou forma?
M.M.: Em 2000, concluí minha faculdade e já comecei a exercer a profissão de professor, carreira que mantenho até hoje. Como fã de horror, eu visitava duas páginas do gênero: Schizophrenia (escrevia de um jeito estranho, não lembro como era) e Galeria Maldita. Mas, elas eram atualizadas uma vez por mês e olhe lá. Então, eu saciava minha curiosidade com sites como Cinema em Cena, mas ficava incomodado pela quantidade de assunto e o descaso dos realizadores dessas páginas.
Uma vez mandei e-mail questionando a falta de atualizações, e recebi como resposta algo como "Você vai me pagar quanto para eu atualizar?". Nessa mesma época, eu participava de grupos do Yahoo a Idade da Pedra das redes sociais e um deles discutia a série Buffy, A Caça-Vampiros.
Era época do lançamento de A Bruxa de Blair, e o marketing utilizado estava em discussão. Um post intitulado "Sobrenatural Existe" copiava a ideia ao trazer uma história fictícia sobre um rapaz que havia invocado o demônio Alus Mabus. O post trazia um site mal feito, cheio de desenhos de visões que a pessoa que havia invocado estava tendo. Achei muito legal a ideia e fui comentar com meu irmão, sem saber que ELE tinha feito o site para brincar com o marketing "real" de A Bruxa de Blair.
Se meu irmão conseguia fazer um site, eu também imaginei ser capaz. Pensei no tema. Como sentia falta das atualizações daqueles dois sites, resolvi fazer um que fosse atualizado pelo menos uma vez por semana. Chamei de Boca do Inferno em referência ao local demoníaco da série Buffy e também devido ao poeta Gregório de Matos, que tinha a língua ácida e escrevia sobre o que pensava sem medir palavras. Entrou no ar no dia 10 de maio e se mantém ativo até o momento.
4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.". Considerando a reflexão, há alguma experiência em sua vida dedicada à arte que foi especialmente marcante?
M.M.: Foram vários, desde a minha atuação como júri de vários festivais de horror, como o encontro com grandes nomes do gênero como José Mojica Marins, Ruggero Deodato e Lloyd Kaufman, entre outros.
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante?
M.M.: Tenho listas que variam semanalmente. Os Melhores de Horror, Os Melhores do Cinema... de categorias específicas como Filmes de Zumbis, Vampiros e Assombrações. Na lista dos meus filmes prediletos de todos os tempos, tem: Donnie Darko, Magnólia, A Hora do Lobo, Nosferatu, Os Inocentes, A Noite dos Mortos-Vivos, Suspiria, Um Lobisomem Americano em Londres, O Exorcista...
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos.
M.M.: Acabei de lançar meu primeiro livro, Medo de Palhaço, e tenho o projeto de mais duas enciclopédias do gênero, além de livros de ficção.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
M.M.: Evitar boicotes. Há aqueles críticos de cinema que passam a odiar determinado cineasta e se recusam a ver qualquer filme que ele faça por conta de uma birra pessoal. Ao invés de citar Rob Zombie, um dos mais criticados da atualidade, vou mencionar um que teve uma melhora substancial: Johannes Roberts.
Vi praticamente todos os seus filmes, sendo que ele teve um início pavoroso com Hellbreeder (2004), Darkhunters (2004), Floresta dos Condenados (2005). Foi melhorando com F (2010), Roadkill (2011) e Storage 24 (2012). Acertou razoavelmente com Do Outro Lado da Porta (2016) e fez um sensacional 47 Meters Down (2016). Se eu tivesse boicotado o diretor lá nos primórdios do Boca do Inferno, não teria visto essa evolução. Quem gosta de cinema tem que estar disposto a observar essas mudanças.
M.V.: É uma grande verdade. Obrigado pela atenção e sucesso.