DÉBORA MUNIZ - RESPONDE ÀS SETE PERGUNTAS CAPITAIS
Boa sessão:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é uma apaixonada por cinema? Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.
D.M.: Amo cinema em geral, tendo preferência para filmes de ação e ficção, e também os de suspense. Hoje faço bastante teatro, não tenho ido muito ao cinema. Além de tempo, também acho que está muito caro.
2) "Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.", diria Benjamin Button em seu filme. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte como foi seu início de carreira.
D.M.: Comecei participando de um curso de cinema na Planeta Filmes, produtora do Wilson Rodrigues, em seguida fui para a escola de Cinema do Sr.José Mojica Marins, em 77. A Rosângela Maldonado produziu "A Mulher que Põe a Pomba no Ar", com direção do Sr. Mojica, e foi aí que nasceu Débora, que era o nome da personagem no filme. Meu nome é Maria das Neves, e todos me chamavam de Neves.
3) "Éramos musas do sexo em uma época reprimida, moralista e desinformada", disse Nicole Puzzi numa entrevista. Como foi ser uma musa? Isso te impactou de alguma forma?
D.M.: Cheguei na R. Do Triunfo em 78, trabalhando no escritório do Sr. Mojica, lá conheci produtores e diretores, e tudo foi acontecendo naturalmente. Produzia-se muito na Boca. Cheguei a participar de 4 produções simultaneamente, nem percebi muito o tempo passar, tive muitos amigos queridos, e de certa forma fui muito protegida por esses amigos, então não tive esse impacto porque eu não tinha consciência, apesar de aparentar ser uma mulher super liberal, eu era extremamente ingênua, às vezes recebia cantadas, mas achava que eram brincadeiras, e quando entendia, me fazia de tonta. Foi a forma que usei para me defender, "me fazer de boba", e deu certo.
4) Dos anos 60 até o final dos 80, a produção do cinema da Boca foi muito fértil. São Paulo chegou a ultrapassar a produção carioca, com mais de 100 filmes por ano. A Boca representava uns 80% disso. Fale um pouco mais sobre sua participação neste marcante período.
D.M.: Sinto-me privilegiada por ter passado a minha adolescência na Boca, década de 70, 80, 90, acho que foram décadas muito ricas tanto no cinema quanto na música, e estar no castelo de sonhos chamado "Boca Do Cinema" foi um grande presente, uma grande universidade.
M.V.: E é uma pena que quase não há preocupação em restaurar os filmes.
D.M.: Sim. Acho que fiz aproximadamente 35 longas e 18 curtas. Dos 15 principais diretores da Boca, fui dirigida por 80% deles. Tive muitos pais.
5) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
D.M.: O meu melhor trabalho em cinema foi o curta "Amor Só de Mãe". Fiquei 15 anos longe do cinema e teatro, e Dennison Ramalho me convenceu a voltar. Foi um grande presente voltar a atuar ao lado de atores maravilhosos, uma equipe ímpar, uma direção primorosa e uma personagem intensa, rica.
E foi em Gramado, no ano de 2003, que me conscientizei dessa história de musa. Foi maluco quando cheguei na sala de imprensa e vi vários cartazes meus nas paredes e dois jornalistas que não me lembro quem eram disseram: " - Chegou a musa do festival de 2003 em Gramado". Devo ter ficado muito vermelha, quase saí correndo, mas fiquei. Imagine só, eu estava concorrendo com algumas das minhas divas prediletas, Laura Cardoso e Zezé Motta!!!
É incrível, pois eu nunca tinha sonhado com isso. Foi um sonho que não sonhei, realizado. Quanto ao prêmio, ah, nem ligo, eu estava lá. Tudo que fiz tem um valor muito grande para mim, cada filme, cada momento, as pessoas. Todas representaram e representam muito de mim.
Mas também amei fazer A Mulher que Põe a Pomba no Ar, Perversão, O Mundo Mercado, O Último Cão de Guerra, Mulher Objeto, Borboletas e Garanhões, Colegiais em Sexo Coletivo, Encarnação do Demônio, Dr. Franklin na Clínica das Taras.
6) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante?
D.M.: Vamos aos filmes: Rosas Brancas para Minha Irmã Negra; E o Vento Levou; Casablanca; Luzes da Ribalta; O Campeão; Contatos Imediatos de 3° grau; Janela Indiscreta. E.T. - O Extraterrestre; Os Outros; A Rainha das Trevas.
M.V.: Uma lista bastante eclética.
7) Para finalizar, s se pudesse deixar uma lição do tempo que se dedicou à arte, qual seria?
D.M.: Acho que para quem começa hoje, tem que estudar muito, amar muito as artes em geral, ser persistente, ser humilde, ter respeito pelo outro e não se deixar embriagar pela vaidade.
Tive muitas dificuldades na minha trajetória, pois, além de ter escolhido uma produção complexa, ainda tinha o agravante de a minha família ser completamente contra, mas acho que em qualquer profissão é necessário respeitar o outro, ter meta, ser persistente e o principal, amar o que faz.
M.V.: Fale um pouco dos seus próximos projetos.
D.M.: No momento, estou me dedicando intensamente ao teatro, como atriz e também com figurinos. Estou em cartaz com "O Amor Venceu", estou ensaiando um musical espírita "Esmeralda" baseado no livro de Zibia Gasparetto, com as músicas do Fábio Júnior. Vou atuar e o figurino também é meu.
Em cinema, no momento, não estou fazendo nada. Tenho um longa em vista e 2 curtas. Estou me dedicando mais ao teatro.
M.V.: Obrigado e sucesso para você.