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CLÁUDIA ALENCAR - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS

Cláudia Gomes de Alencar (São Paulo, 12 de julho de 1950) é atriz, artista plástica e escritora brasileira. Iniciou sua trajetória na televisão pelas extintas TV Tupi e TV Bandeirantes, até ingressar na Rede Globo, em 1986, onde se consolidou como uma das figuras marcantes das telenovelas, sendo considerada um símbolo sexual nas décadas de 1980 e 1990.

É bacharel e licenciada em teatro pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), onde também iniciou o curso de Ciências Sociais. Além da atuação, dedicou-se ao ensino de artes cênicas durante cinco anos, lecionando para os ensinos fundamental, médio e superior.

Sua relação com as artes começou cedo: em 1964, aos 14 anos.

E hoje, com vocês, Cláudia Alencar.

Boa sessão:


1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é uma apaixonada por cinema? Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.

C.A.: Adorooooooooooooooooooooooo cinema. Pena que nunca fiz um filme que gostasse. Mesmo "Réquiem para Laura Martin" (2013). Todas as cenas que fiz, eu adoreiiii, mas o filme em si..... nem tanto.

2) "Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.", diria Benjamin Button em seu filme. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte como foi seu início de carreira.

C.A.: Como paulistana, eu tinha na década de 80 uma única opção para cinema: pornochanchada. Para fazer cinema, tinha que tirar a roupa. Recusei-me. Enveredei para o teatro, televisão, projetos undergrounds pela cidade.

Meu primeiro filme protagonizei "Doce Delírio" de Manuel Paiva ao lado de Eduardo Tornagh, o galã da época.  Teve uma cena erótica (jamais pornô) onde eu, sozinha, deprimida, passava mel em minhas pernas e ia até a boca. A câmera de Carlão Reinchenbach me acompanhava. 

O filme trocou de nome por causa dessa cena. Depois fiz com Ozualdo Candeias, que era um ser pensante, outro filme, a "Freira e a tortura", que co-protagonizava com Vera Gimenez e o galã das pornochanchadas na época, David Cardoso.

3) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?

C.A.: O melhor trabalho foi com "Réquiem para Laura Martin" de Paulo Duarte, onde entrei como coadjuvante e saí como protagonista, com umas 6 ou 7 cenas. Ganhei o prêmio de melhor protagonista no Festival Nacional de Petrópolis. 

Fui fazendo a cena, encarnando o personagem e o diretor, com a câmera na mão, foi me seguindo, deixando rolar e o set todo chorando. Foi lindo. Mas é um filme que ainda não chegou lá... Sob o meu ponto de vista, claro, mas o diretor foi imbatível, genial.

4) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Se lembra de alguma história divertida que tenha acontecido durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar?

C.A.: Qual experiência que mais me marcou? Foi essa do Laura Martim. Em TV, foi em "Porto dos Milagres", em que entrei para fazer 30 capítulos e morrer, mas não conseguindo me matar, morri no capítulo 100, terminando protagonista e matando todos os vilões - Cassia Kiss e Zé de Abreu. Impressiona-me que sempre encarno as personagens e os papéis crescem e tomam conta da trama.

E o que mais me marcou foi no teatro, nas oficinas de Ariane Mnouchkine, com máscaras. Fiz um velho japonês que ensinava a outro japonês como fazer harakiri. Toda paramentada, depois de 6 dias de ensaios com outros personagens com máscaras, fui fazer esse. Ariane é muito exigente e queria que a máscara falasse... - Como?? Me perguntava... pois o velho japonês começou a falar em japonês e a ensinar 5 maneiras de se fazer harakiri. Eu me via atrás da máscara, ela falava em japonês e via o público rir até não poder mais!!

Fiquei 2 dias em pleno êxtase, vendo tudo brilhar, a aura das pessoas. Passei para a outra dimensão. Isso é atuação. Isso é verdade da arte. Nos meus workshops com meus alunos, há alguns que mudam de dimensão... muito forte!

5) “Éramos musas do sexo em uma época reprimida, moralista e desinformada", disse Nicole Puzzi numa entrevista. Como foi ser uma musa?

C.A.: Musa? Nunca fui musa do cinema. Fiz 11 filmes e não gosto de nenhum... Prefiro os filmes dos outros, os bons filmes. Tarantino, Lars Von Trier, David Lynch, etc. No Rio de Janeiro se faziam bons filmes, mas em São Paulo, não. Em minha opinião... Isso na década de 80 e início dos 90.

Sinto não ser “a” musa do cinema. Mas sou a "musa" do novo cinema paulistano (risos).

6) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante? 

C.A.: Oito e meio de Fellini e O Piano mudaram o rumo de minha vida. Amo Ettore Scola, David Lynch, Lars Von Trier, Tarantino, Roberto Rossellini, enfim… Todos que me fazem pensar.

M.V.: Inclusive, coincidentemente, assisti a uma belíssima cópia em Blu-ray recentemente do filme "O Piano".  

7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?

C.A.: A fundação do ator é a cultura! Ter disciplina, o esforço diário da criação literária, plástica, vocal e corporal. Impossível não ler todos os dias, não assistir a um seriado, a um filme, a um teatro pelo menos 3 vezes por semana. Impossível não ver museus, viajar, ver gente, conversar, se expor e colocar suas ideias.

Prefiro falar o que acho e provocar reações do que calar e engolir, me entupir de lixo anímico. Pago um bom preço por ser o que sou. E cada vez mais sou uma mulher que, como Isadora Duncan, tem como lema: "Sans Limits".

Se vou morrer plenamente, viverei plenamente!

M.V.: Fale um pouco dos seus próximos projetos.

C.A.: Acabei de fazer um filme em Sampa, com Andradina e Diego dirigindo, chamado "30 anos blues" e faço Claudia Alencar, a MUSA dos personagens/diretores que usam o próprio nome. Eles se encantaram com minha atuação no teatro em Sampa com "Vestir o pai" de Mario Viana e se encantaram ainda mais com minha personalidade e conhecimento depois que fomos jantar na casa de Andradina. 

Quiseram-me no filme de qualquer maneira. Inventaram essa cena em que dou uma festa em casa e falo o que quero, como quero, com quem quero, com toda a fauna intelectual paulistana. A câmera me seguia, nunca o contrário. Arrebentamos. Acho que vai ser o primeiro filme de que vou gostar. Nunca aconteceu algo assim no cinema... Pelo menos no cinema nacional.

M.V.: Obrigado e sucesso

C.A.: Adorei suas perguntas.

M.V.: Obrigado pelo elogio e por sua atenção. Grande beijo. 


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