JULIANO CAZARRÉ - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Juliano Cazarré, nascido em 24 de setembro de 1980, em Pelotas, é ator e escritor brasileiro. Filho do jornalista e escritor infantojuvenil Lourenço Cazarré, vencedor do Prêmio Jabuti em 1998, mudou-se com a família para Brasília ainda na infância. É sobrinho-neto dos irmãos Older Cazarré e Olney Cazarré, ambos atores e dubladores. Juliano é formado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília.
E hoje, com vocês, Juliano Cazarré,
Boa sessão:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é um apaixonado por cinema? Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.
J.C.: Eu curto cinema. Mas não sou um cinéfilo que sabe nomes de diretores estrangeiros, que lê biografias. Eu amo ver filmes e, apesar de ser ator, continuo com olhar de público, quero saber da história, do drama, do personagem. Claro que presto atenção em planos, direção de arte, mas meu olhar é de espectador. Eu gosto é da catarse.
2) "Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.", diria Benjamin Button em seu filme. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte como foi seu início de carreira.
J.C.: Fiz alguns curtas-metragens em Brasília enquanto ainda estudava na UnB. E fui pegando gosto. Em um desses curtas, conheci José Eduardo Belmonte, que estava ajudando a diretora do curta, Cibelle Amaral. Belmonte depois me chamou para fazer uma leitura do roteiro de A Concepção e posteriormente me convidou para o filme. Quando A Concepção foi lançado em 2005, comecei a receber convites para testes e fui passando em alguns como Nome Próprio, Magnata, Tropa de Elite 1 e, de lá para cá, venho sempre colocando mais tijolinhos nessa estrada.
3) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
J.C.: Vamos ver. Não tenho essa lista, mas vou citar aqui uns filmes que amo.
A Última Noite. Robert Altman (seu último filme), EUA, 2006.
O Grande Lebowski. Irmãos Cohen. EUA, 1998
Bad Boy Bubby. Rolf De Heer. Australia-1994, IMPERDÍVEL, procurem na internet.
Os Camelos Também Choram. (Documentário) Byambasurem Davaa, Luigi Falorni, 2003.
Sangue Negro. P.T. Anderson, EUA, 2007.
Cidade de Deus. Fernando Meirelles. Brasil, 2002.
O Cachorro. Carlos Sorin, Argentina, 2004.
Enter the Void (Viagem Alucinante - péssimo título em português!!!!). Gaspar Noé, França, 2009.
Pulp Fiction - Quentin Tarantino, EUA, 1994.
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças - Michel Gondry, EUA, 2004.
4) É perceptível sua entrega nos papéis, buscando personagens diferentes, fortes e que provocam discussões, como recentemente, acompanhamos você na novela Regra do Jogo (2015), no papel do Mc Merlô. Às vezes faz um papel pequeno, mas mesmo assim é marcante. Boi Neon, por exemplo, que é considerado por muitos um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos, você tem uma cena bem difícil com a atriz Samya De Lavor… Você vai atrás destes papéis ou eles tendem a aparecer para você?
J.C.: Acho que é um pouco de tudo. Eu gosto de personagens diferentes e gosto de criar personagens diferentes. Eu vou atrás deles, mas eles vêm atrás de mim também. Não precisa ter a ver com nudez ou cenas de sexo, etc. Aliás, cada vez fica mais difícil e penoso para mim fazer certas cenas. Entendo que um ator tem muitas qualidades que pode explorar.
Alguns atores são mais verdadeiros, trabalham muito com a verdade. Outros atores têm um carisma excepcional, que encanta o público imediatamente. E há os atores de construção, que gostam de criar personagens diferentes, trabalhar o gesto, a voz, o olhar, etc.
Claro que isso não é uma ciência, é só uma divisão que eu inventei na minha cabeça, mas obviamente um ator pode ser carismático e verdadeiro, como o Selton Melo, por exemplo. Ou pode ser verdadeiro mesmo construindo fortemente o personagem, Wagner Moura faz isso muito bem. Eu, particularmente, sem abandonar carisma e verdade, gosto mesmo é de criar tipos, figuras, gente que o público veja e reconheça.
M.V.: E tem conseguido fazer isto com maestria.
5) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Se lembra de alguma história divertida que tenha acontecido durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar?
J.C.: A Festa da Menina Morta é um filme do qual tenho um orgulho enorme de ter feito. Matheus Nachtergaele foi o melhor diretor de ator que já tive, além de entender tudo de direção, ritmo, figurino, trilha, direção de arte. Mas o mais incrível nesse trabalho foi mesmo o processo. Fiquei dois meses na Amazônia, andei o Rio Negro de cima a baixo, fui a uma pajelança e me vi entre irmãos com os índios, pesquei, trabalhei como ajudante do Evilásio, um senhor que construía barcos na cidade de Barcelos - AM.
Trabalhar com um elenco de atores e não-atores, todos dirigidos por Matheus em ensaios numa sala nos fundos da igreja de Barcelos, é algo que nunca esquecerei. Foi um tesouro o processo, o filme, a viagem de quase dois meses. Fora que o filme é um escândalo de beleza e dor.
6) Fale um pouco sobre seus próximos projetos…
J.C.: Agora, no segundo semestre, farei uma novela de Walcyr Carrasco na Globo. Vou fazer um garimpeiro de esmeraldas no Tocantins. Acho que vai ser divertido. E estou aguardando ansiosamente os lançamentos de O Grande Circo Místico de Cacá Diegues, Aurora de José Eduardo Belmonte e de Pluft - O Fantasminha 3D de Simone Svartman.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
J.C.: Aprender a ouvir a intuição é fundamental. Perseverança e trabalho duro são imprescindíveis. Um ator também precisa ler literatura, ensaios, filosofia, revistas, poemas, ver filmes, ver teatro, escutar boa música, ir a museus... Não existe ator sem cultura. Ator sem cultura não é ator.
M.V.: Obrigado pela atenção, amigo. Nós vemos nos filmes.