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HONRA DE SELVAGENS (1956) - FILM REVIEW


Não é todo dia que você se depara com um faroeste dos anos 50 que discute pacifismo, bigamia, relacionamento interracial, preconceito, citações bíblicas, humanismo.  Curioso como o filme, digamos, muito melhor e inteligente que a maioria dos seus filmes,  não foi um sucesso nas bilheterias,  atribuído ao fato de que Murphy interpretou justamente um pacifista em vez de um herói de ação. Isso acabou com os planos de Murphy de fazer seu projeto dos sonhos, uma cinebiografia do pintor Charles Marion Russell. Mas certamente, é um dos filmes que mais ganharam com o tempo, pois há muitas discussões que podem ser feitas envolvendo a história, os personagens e o próprio Audie. 

Primeiramente, não há como falar do filme sem mencionar os feitos de Audie Murphy do lado de cá das telas.  Após uma infância difícil, o ano de 1941 foi particularmente decisivo para ele: morria a mãe, seus irmãos pequenos iam para o orfanato e o Japão atacaria Pearl Harbor em 7 de dezembro.  O EUA entram na guerra e com isto, Murphy se alista e mesmo com pouca idade (foi apelidado de Boy-Face), ele consegue. Na guerra, pegou malária duas vezes, foi chefe por improviso devido a inúmeras baixas, feitos heroicos dignos de filmes, foi ferido e teve gangrena na perna, sua foto na capa da revista "Life" e muitas medalhas.

Murphy lutou contra a depressão e os efeitos de explosões violentas que presenciou, passando seus últimos anos como um defensor dos veteranos norte-americanos. Durante uma viagem de negócios em maio de 1971, Murphy pereceu junto com outros cinco passageiros e o piloto Herman Butler no acidente de um avião fretado na Floresta Nacional de Jefferson, perto da cidade de Galax, na Virgínia. Ele tinha 46 anos. 


Para quem passou por tantas situações de perigo extremo, seu fim pareceu indigno, mas seus filmes entraram para a história e até hoje são objeto de desejo dos colecionadores. Foi o soldado mais condecorado do Exército Norte-americano.

Proud lands?

No filme, Murphy interpreta um personagem real, o agente índio John Philip Clum, designado em 1874 para a reserva apache de San Carlos, Arizona. Sua maior façanha foi conseguir a rendição do lendário Gerônimo. Já seu grande sonho que os próprios índios se autogovernassem  somente veio a se tornar realidade oitenta anos depois: em novembro de 1955, finalmente o governo dos Estados Unidos entregou a administração da reserva para os apaches.

O roteiro é baseado em Indian Agent, biografia do agente escrita por seu filho Woodworth Clum em 1936. Jay Silverheels, um indígena canadense filho de um chefe mohawk e mais famoso por interpretar "Tonto" na série de TV Lone Ranger, encarna Gerônimo pela terceira e última vez (as anteriores foram em "Lança partida" e "Levate dos apaches").


A produção mostra John Clum, que chega à reserva apache em San Carlos disposto mais a dialogar que reprimir. Ele deseja que os indígenas assumam a administração do local e começa por implantar uma polícia formada pelos próprios nativos. Ele também consegue capturar Gerônimo e centenas de seus companheiros sem disparar um único tiro. Seus maiores problemas são de natureza doméstica, pois tem que administrar as hostilidades entre Tianay, índia que trabalha em sua casa, e Mary, sua noiva vinda do Leste.

Para quem não sabe....

Gerônimo foi o líder dos apaches chiricahua que, durante muitos anos, guerrearam contra a imposição pelos brancos de reservas tribais aos povos indígenas dos EUA, morreu em 17 de fevereiro de 1909. Ele faleceu na prisão. Guerreiro, ele sempre rejeitou acordos com os estadunidenses. O indígena resistiu heroicamente, mas se rendeu ao ter uma visão de um trem passando em suas terras.

Ele nasceu nasceu em Bedonkohe, próximo a Turkey Creek, atual Novo México (EUA). Apache, se casou com uma Chiricauhua e teve três filhos. Em 5 de Março de 1851, uma companhia de 400 soldados de Sonora, liderados pelo Coronel José Maria Carrasco, atacou o acampamento do indígenas, matando sua família, incluindo a mãe. Acredita-se que ele ganhou o apelido de Gerônimo (seu nome era Goyaałé), por conta de São Jerônimo.


Ele se rendeu em 4 de setembro de 1886 às tropas do General Nelson A. Miles, em Skeleton Canyon, Arizona, colocando um fim no episódio chamado de Guerras Apache. Ele morreu em Fort Hills, Oklahoma, e disse ter se arrependido da rendição. Ele nunca retornou à terra onde nasceu.

Filme incomum

Muito se fala sobre a pobreza de ideias do cinema atual. Mas certamente, isto vem de muitas décadas atrás, refletindo o comportamento do público. Um filmaço como este, que foge de qualquer clichê possível, patinou nas bilheterias, e logicamente isto foi uma resposta do público, que dizia, erroneamente, que queria mais do mesmo.

Grandes obras primas do cinema percorreram este caminho. Alguns filmes, hoje alardeados como "grandes", na época não atraíram o público. Portanto, se hoje chegamos a um "sexto"!!! Transformers, é porque o público paga para ver. 

O filme contou ainda com a belíssima Anne Bancroft em um dos seus primeiros papeis.  Como dito acima, a produção gerou inúmeras discussões, principalmente por conta do pacifismo (as pessoas queriam matança, claro). Se notarem bem, parece que o público deu mais importância à esta característica de Murphy, não se preocupando tanto com o sólido discurso sobre bigamia, machismo (Tianay, em certo momento, diz à esposa de John: duas mulheres podem dividir melhor as tarefas )  e relacionamento entre raças (rivais, para complicar).

É uma obra para ser vista e revista, sem dúvidas.


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