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AD ASTRA: RUMO ÀS ESTRELAS (2019) - FILM REVIEW

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Ad Astra

Interessante como alguns dos filmes mais brilhantes e recentes do cinema que mostram o espaço usam-no como uma ponte para o personagem se reconectar com o passado (ou se livrar dele). Ad Astra segue o mesmo caminho. O cenário de fundo varia conforme o roteiro, mas em todos os casos, as histórias são sobre personagens que buscam no isolamento do espaço um sentido para suas vidas. Interestelar, Gravidade, Primeiro homem são alguns dos casos. 

Ad Astra se passa num futuro talvez não muito distante.  Roy McBride trabalha numa estação que vai do solo ao espaço, e repentinamente, ela é atingida por misteriosas oscilações de energia. Depois de quase morrer no incidente (onde 43 mil pessoas perderam a vida), que é filho do famoso astronauta H. Clifford McBride (Tommy Lee Jones), é informado pelo US Space Command (SpaceCom) de que os surtos foram atribuídos ao "Projeto Lima", criado para pesquisar no limites do Sistema Solar atrás de vida inteligente. Porém o contato foi perdido e eles não sabem o real status da situação.  Informado que Clifford ainda pode estar vivo, Roy aceita uma missão de viajar para Marte para tentar estabelecer uma comunicação com ele, acompanhado pelo antigo associado de seu pai, o coronel Pruitt (Donald Sutherland).


Depois de tomar um voo comercial para a Lua, Roy e Pruitt são escoltados por militares dos EUA para a base da SpaceCom, localizada no lado mais distante da lua. No caminho, em veículos lunares, eles são emboscados por piratas que matam toda a sua escolta. Ao chegar à base, um Pruitt moribundo é colocado em terapia intensiva. Roy parte então para Marte, onde terá grandes surpresas e ainda precisará tomar uma decisão radical caso queira continuar a busca pelo seu pai.

O diretor James Gray comparou a história à outra famosa, Coração das trevas, de Joseph Conrad, que ganhou os cinemas e o mundo em Apocalipse now. Estrelado por Brad Pitt, aqui na sua melhor e mais preciso desempenho da sua carreira, também produz o longa. O ator, aliás, é um produtor de "mão cheia", sempre buscando filmes autorais, vide O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford, A Árvore da vida, O Homem que mudou o jogo, O homem da máfia, 12 Anos de escravidão, Selma: Uma luta pela igualdade, Moonlight: sob a luz do Luar, Z: A cidade perdida, Se a rua Beale falasse, Vice e O último negro em San Francisco.


Curioso como, numa história tão longa de exploração do espaço no cinema (Viagem à Lua de George Meliés é de 1902), Gray explora caminhos nunca antes vistos, por exemplo, a Lua e Marte já são habitáveis e os mesmo erros da humanidade também caminham para o espaço, como saqueadores que mais parecem àqueles piratas da Somália, que vimos em Capitão Phillips, com Tom Hanks.

Mas claro, o roteiro estabelece a estrada apenas, para Roy percorrer durante sua jornada emocional. E, sem dar spoilers, podemos dizer que ele finaliza a obra com soluções inesperadas, mas bem realistas condizendo com a história contada.

O diretor consegue criar narrativas anos luz (não resisti, sorry) das histórias contadas no nosso dia a dia cinematográfico. Gray usa o espaço como um abismo, que Roy precisa ir até o fundo para descobrir seu real propósito. Épico e intimista ao mesmo tempo. É um cinema de primeira que poucos conseguem realizar nos dias de hoje.


O título significa "para as estrelas" em latim. É frequentemente usado como uma abreviação de "Per Aspera Ad Astra"  que significa literalmente, por ásperos (caminhos) até aos astros. O sentido é algo como  "chegar à glória por caminhos difíceis" ou "alcançar o triunfo  por feitos notáveis". 

Tommy

Mesmo com pouco tempo em cena, o pai de Roy, vivido pelo sempre ótimo Tommy Lee Jones, tem tantas camadas, que é um espanto que tanto possa ser dito em tão pouco tempo e com tão poucas palavras. Seu personagem tem uma obsessão por encontrar vida no espaço, mas de forma velada, vemos que ele busca vida em si mesmo, que é uma pessoa destituída de sentimentos (por suas palavras duras, pelo menos).  E paralela à sua busca, ele quase destrói a humanidade (que o representa). Ele se perde querendo se encontrar e como consequência, seu filho se encontra ao sair de casa perdido pela ausência do pai.


Assim como a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) em Gravidade, que precisava dar sentido à sua vida depois de perder sua filha e Neil Armstrong (Ryan Gosling) em Primeiro homem, que precisava também dar sentido à sua vida depois de... perder sua filha, o personagem de Pitt faz aqui uma jornada pessoal parecida. O pai, que sumiu no espaço, virou uma lenda por conta de sua entrega a uma missão aparentemente suicida. Ele motivou muitos a serem astronautas com seu exemplo, e Roy inclusive. Durante boa parte do filme, vemos o personagem se comportando de forma alheia ao seu mundo, como se ele nunca tivesse feito real sentido, até o ponto que é chamado para a missão de tentar contatar seu pai. A partir dali, sua motivação existencial parece tomar forma e descobrimos efetivamente que a grande frustração de sua vida foi crescer sob a sombra de um pai que o abandonou e ainda é considerado por muitos, herói.

Gray explicou que o som misterioso que se repete nas cenas iniciais do filme era na verdade uma gravação alterada e acelerada de Tommy Lee Jones dizendo , "Eu te amo, meu filho" repetidamente. Gray continuou: "Queríamos que estivesse quase inconsciente. Parece quase um ultrassom para um bebê ainda não nascido.".


Não haveria diretor melhor para humanizar a história que James Gray. Em sua filmografia, ele sempre tratou de temas familiares, capacitando o diretor para tratar o tema com maestria e sensibilidade. Certa vez, indagado sobre a excelência de seus trabalhos, Gray disse: "O que estou fazendo é uma tentativa de continuar o melhor trabalho das pessoas que eu adoro - Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Robert Altman e Stanley Kubrick, que são realizadores incríveis cujo trabalho eu cresci admirando”.

4 dos seus 7 filmes até agora foram indicados à Palma de Ouro em Cannes, mostrando que ele sempre esteve no caminho certo.

11 homens e um segredo

Quando Donald Sutherland aparece, fiquei com a sensação de que  Tommy Lee Jones  fazia o mesmo personagem que ficou deixado para trás na Lua em Cowboys do espaço, até porque, uma das fotos antigas do personagem é justamente de Tommy caracterizado de "Hawk Hawkins" para aquele filme. E para dar força à minha sensação, Loren Dean também está nos dois filmes, fazendo personagens similares.


Mas o mais curioso foi a relação do elenco do filme Onze homens e um segredo (e sequências)com o espaço no cinema. Brad Pitt foi para o espaço no filme Ad Astra.  Ele está em (Onze homens e um segredo, Doze homens e outro segredo, Treze homens e um novo segredo); George Clooney (11, 12, 13) esteve em Solaris e Gravidade com Sandra Bullock que por sua vez esteve em 8 mulheres e um segredo; Don Cheadle (11, 12, 13)  foi para Marte em Missão Marte ao passo que Matt Damon (11, 12, 13) foi em Perdido em marte. Damon também fez uma ponta em  8 mulheres e um segredo, porém ela foi cortada .

Coincidência não? Fica a dica para Steven Sodebergh, que sempre flertou em fazer um quarto filme: porque não fazer 11 homens e um segredo no espaço? Experiência, pelos menos, eles já tem. E como andam querendo fazer Duro de matar no espaço faz tempo, a ideia não parece tão absurda...


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