EDU FELISTOQUE - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
Edu Felistoque (nascido em 9 de novembro de 1966) é um cineasta, roteirista e produtor brasileiro com vasta experiência em cinema, TV e publicidade. Dirigiu mais de 2 mil filmes publicitários e diversos longas de ficção e documentários premiados, como Cracolândia, Badi, Zagati, 400 Contra Um, Toro, Cano Serrado e Amado.
Também criou séries como Bipolar e Buscando Buskers. Sua obra já foi reconhecida com prêmios em festivais como Cine PE, Festival de Gramado, Europe Film Festival e Sundance. É um dos nomes mais atuantes do audiovisual brasileiro.
Vamos às 7 perguntas capitais:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
E.F.: Minha paixão pelo cinema está na realização... Claro, amo ver filmes, mas não sou um cinéfilo, acabo sempre esquecendo títulos, nomes de atores, cenas, etc... Antes eu ficava preocupado com essa minha tamanha "falta de memória", depois vi que isso funcionava bem, porque sempre que entrava no set tinha a sensação de estar fazendo algo pela primeira vez, porque não bebia em "referências" e "referências" de outras obras... prefiro chamar os filmes de "inspirações" e não de "referências", já que definitivamente o que me envolve, o que me apaixona, é o desejo de criar, de estar no set, juntar equipe, talentos e contar uma história nova.
2) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
J.C.: "E la Nave Va", de Fellini... Estudei em Cinecita... E adoro uma "melancolia" cinematográfica!
3) O cinema nacional está hoje em um patamar incrível. Tanto esteticamente como de reconhecimento. Há ótimas histórias sendo contadas. Porém, vejo muitos filmes de comédia sendo exibidos com mais ênfase enquanto ótimas obras passam apenas no Canal Brasil ou em festivais. O que acha que precisa evoluir na divulgação e na distribuição do nosso cinema, para o público geral ter uma percepção melhor (e, naturalmente, orgulho) do que é feito no Brasil?
J.C.: Todos os gêneros devem ser colocados na mesa... Porém, precisamos de mais investimentos na distribuição do que na produção... sim, chegou "a conta", não dá para produzir 150 filmes por ano e exibir (sem a estratégia) somente 20 ou 30% desses filmes. Também não dá para imaginar que todos os filmes precisem ser exibidos nas salas de cinema...
Existem outras formas de exibir os filmes, o maior exemplo são as plataformas internacionais de VOD... A tevê Globo já percebeu que a tevê aberta um dia vai perder seu potencial e está investindo na "Globo Play"... Precisamos falar de mercado se estamos pensando em indústria cinematográfica...indústria audiovisual.
Último comentário: Filmes ideológicos precisam existir, mas precisamos também pensar em filmes que não nasçam divorciados do grande público.
4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." Considerando a reflexão, há alguma experiência em sua vida dedicada à arte que foi especialmente marcante?
J.C.: Nossa... são dezenas e dezenas de histórias "interessantes"... posso citar a mais recente... Filmando no meio do Centro-Oeste, Cerrado forte, noite... uma cena em que o Paulo Miklos é enterrado em uma cova... O Paulo não estava nada preocupado, pelo contrário, se divertia com tudo... grande profissional e artista... hummm... o problema era a equipe, toda apaixonada por Milkos, com pena de vê-lo naquela condição... não deu outra, eu me enterrei primeiro... pronto, acabou o medo. (risos).
5) Há decisões em filmes aclamados que podem não ressoar com todos. Qual foi aquele em que você, como diretor, sentiu que uma cena merecia uma solução completamente diferente da que foi feita?
J.C.: Tudo é muito subjetivo... difícil comentar o que eu faria melhor... mas, só por brincadeira, com certeza eu pensaria duas vezes no cabelo de Tom Hanks em "O Código da Vinci".
M.V.: Genial (risos). É curioso como um ator tão bom, que fez alguns dos mais famosos filmes dos últimos tempos como Forrest Gump, Resgate do Soldado Ryan e Náufrago, tenha com este Código da Vinci o maior sucesso da sua carreira.
6) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
J.C.: Sempre lembro do filme mais recente... O mais feliz, "Cano Serrado" de Erik de Castro, onde atuei como diretor de fotografia, produtor e montador... ri muito, não me levando a sério.
M.V.: E quanto a arrependimentos? Ou, caso não tenha, faria algo diferente?
J.C.: O filme menos feliz? Acabei optando por não fazer... (risos) pois percebi que não seria bom e declinei do convite... (A gente deveria colocar nos nossos currículos os filmes que não aceitamos fazer!).
7) Para finalizar, deixe uma frase ou pensamento envolvendo o cinema que representa você.
J.C.: "Cinema... nós realizadores fingimos que o nosso cinema é de verdade... e o público faz sua parte, finge que acredita!"
M.V.: Obrigado amigo. A gente se vê nos filmes.
J.C.: Abração.