UM HERÓI E SEU TERROR (1988) - FILM REVIEW
O herói e o terror
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Interessante como o cinema recicla ideias em busca de sucesso. "Um Herói e seu Terror" é um filme com o astro e ação Chuck Norris, que saiu numa época em que os atores buscavam acrescentar camadas aos personagens unidimensionais. O principal exemplo é o do filme "Duro de Matar", também de 1988, que mostrava o personagem principal com medo, muitas vezes dependendo apenas da sorte para suas ideias funcionarem.
A produção em questão se arrisca em duas vertentes poderosas: primeiro, os slashers, que estavam em alta. Segundo, o personagem traumatizado, forma mais fácil de demonstrar seu lado humano. Norris demonstra medo, insegurança (algo raro em sua carreira) e até desmaia de tensão (isto mesmo!!!). Na história, o detetive Danny prende um perigoso assassino. Três anos depois, o criminoso foge da prisão, mas sofre um acidente de automóvel e a polícia o dá como morto. Mas certos crimes fazem Danny suspeitar que o assassino está vivo e que eles vão se reencontrar em breve.
O próprio Norris disse na época que o sucesso do filme dependia de como o público veria a fragilidade do personagem e sentiria (ou não) empatia por sua dor. Ele comparou o filme com sua carreira, que basicamente é formada por personagens dentro do campo de batalha. E neste, ele está no mundo "real". "O'Brien é um cara que deve enfrentar seu medo, apesar de se sentir seguro em suas habilidades como policial", disse Norris.
Foi um desafio sem dúvidas. Fugir do lugar-comum e dos maneirismos comuns no gênero é uma “faca de dois gumes”. Como se esquecer do pífio resultado de filmes como "Em Terreno Selvagem", "Guerra Biológica" e "Ameaça Subterrânea", que mostravam personagens vividos por Steven Seagal longe das armas e mais perto de causas sociais, um desejo do próprio ator. Louvável, mas pode dar errado. Em outro polo, Stallone, que engordou horrores em Copland, para fazer um policial surdo e traumatizado, ladeado por uma turma de atores Scorseseanos (Keitel, De Niro, Liotta). E foi um filmaço.
No filme, há 3 coadjuvantes que valem a atenção. Billy Drago, que faleceu em 24 de junho de 2019 devido a complicações causadas por um AVC. Seu papel mais conhecido foi o de Frank Nitti, capanga de Al Capone, no filme "Os Intocáveis", de Brian de Palma. Mas seu rosto vilanesco inconfundível rendeu inúmeros papeis de vilões, inclusive com o próprio Norris em Comando Delta 2; O lutador de boxe Jack O'Halloran, que faz o "Terror", mas ficou mais conhecido pelo papel de Non em Superman 2, um dos três vilões presos na Zona Fantasma que são libertos no início do filme de forma acidental, devido à explosão da bomba que estava no elevador da Torre Eiffel. O ator chegou a lutar com George Foreman, pleitear uma luta com Ali, além de ter ganhado uma medalha de bronze no boxe nos Jogos do Império Britânico.
Por fim, o saudoso Steve James, parceiro de Michael Dudikoff em várias ocasiões e que sucumbiu a um câncer no pâncreas tão cedo, aos 41 anos. Sempre forte, bem humorado, com seu bigode característico, James faz aqui um personagem que encontra seu destino ao encarar o "Terror".
O filme é dirigido por William Tannen, que fez várias obras conhecidas pelo público assíduo nas locadoras de VHS, como Por Trás de um Assassinato (1984), com Kris Kristofferson, lançado na época pela VTI, Ilusão Fatal (1987), que ele co-dirigiu com Larry Cohen e estrelado por Billy Dee Williams além de ter dirigido Norris de novo em Resgate de Risco (2005).
"Um Herói e seu Terror" foi último filme que Menahem Golan produziu com Chuck Norris. Também foi o último filme que Steve James fez com Menaham Golan e Yoram Globus como produtores (mas não com a empresa Cannon, que foi Guerreiro Americano 3 de 1989). O filme foi baseado no romance de Michael Blodgett, de 1982, com o mesmo nome. Blodgett foi um ator, romancista e roteirista americano. Ele atuou em cult movies como Ninho de Cobras (1970) e De Volta ao Vale das Bonecas (de Russ Meyer) além de ter sido roteirista de filmes famosos como Um Tira de Aluguel (de 1987 com Burt Reynolds) e Uma Dupla Quase Perfeita (de 1989, com Tom Hanks). Heather Blodgett, que interpreta Betsy, é filha de Michael.
Curioso como o Jack O'Halloran não fala nem "Ai", nem aqui e nem em Superman. Será que ele só sabia lutar? O seu personagem se aproxima muito de Michael Myers, clássico de John Carpenter. Ambos são grandes, com um ar indestrutível e saem de uma "prisão" atrás de uma pessoa (no caso de Halloween, ele era obcecado com a irmã). Talvez a grande falha do filme seja humanizar demais Norris e transformar o vilão em um personagem apático, sem vida, sem voz. Vilões precisam causar em nossas mentes. Veja alguns casos recentes como o Coringa de Heath Ledger ou Hans Landa de Christoph Waltz. O personagem precisa de força. Até o Jason Voorhees, que faz exatamente o que o "Terror" faz: tem identidade como vilão.
De toda forma, assim como Stallone, Arnold, Van Damme fizeram posteriormente, Norris influenciou-os com um personagem arriscado. E mudar às vezes é preciso. Mesmo que seja para ficar tudo como está.
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